quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Fim

Este blogue encerrou às 24h00 de 31 de Dezembro de 2009, fim do mandato do provedor. Poderá, se o desejar, contactar o ex-provedor para mailtovieira@gmail.com.

Praga de Catual em balanço

Um dos combates que o provedor procurou desenvolver ao longo dos seus dois anos de mandato foi contra a falta de concordância de certos tempos verbais que se seguem à partícula "que", quando esta é sujeito da oração e se refere a um plural retomado da oração anterior. Acontece que no português escrito e falado de hoje existe grande probabilidade de sair asneira: o predicado ser enunciado no singular. Baptizou o provedor este frequente erro como "praga de Catual", a partir de dois versos de Os Lusíadas onde Camões respeita a concordância: "Era este Catual um dos que estavam/ Corruptos pela Maumetana gente" (canto VIII, estrofe 81, negrito do provedor).

O provedor considera o seu esforço nesta matéria em grande parte frustrado, a avaliar por alguns exemplos mais recentes recolhidos da leitura ocasional do PÚBLICO:

“é uma das fotos que mais me impressionou” (P2, 26 de Dezembro, pág. 9);

“lançou um ‘míssil’ daqueles que faz grandes estragos” (P2, 23 Dez., pág. 2);

“um dos deputados que ficou proibido de toda a actividade política“ (13 Dez., pág. 21);

“um dos governos anteriores que assumiu esse compromisso” (8 Dez., pág. 40);

“um dos cancros que mais mata em Portugal” (7 Dez., pág. 8);

“uma das frases que fez história no PSD” (7 Dez., pág. 10);

“Lisboa é uma das cidades que aderiu ao No Berlusconi Day” (5 Dez., pág. 19);

“Genebra é também uma das poucas cidades que tem um minarete” (1 Dez., pág. 18);

“um dos raros intelectuais que assume não apreciar por aí além a obra de Pessoa"; “Beirão foi justamente um dos jurados que deu à Mensagem o prémio” (P2, 1 Dez., pág. 6 - os dois exemplos no mesmo artigo, "Mensagem clonada", onde porém se escreve correctamente: “Um dos que criticaram esta opção de Pessoa foi Casais Monteiro”);

“Uma das peculiariedades que mais contribui para essa perplexidade” (P2, 23 Nov., pág. 10);

“Outro dos momentos que vai ficar para a história da televisão” (P2, 21 Nov., pág. 15);

“Somos uma das sociedades europeias que mais rápida e profundamente se alterou nos últimos anos” (11 Nov., pág. 5);

“Uma nas novidades que mais a impressionou, nestes primeiros dias de parlamento” (16 Out., pág. 8).

Na verdade trata-se de um combate difícil, dada a forma como o vício está entranhado no jornalismo português. Ainda na passada terça-feira, 29 de Dezembro, o provedor ouviu o apresentador das notícias das 13h00 na RTP1 referir-se a “um dos primeiros pontos a ser inundado".

Entretanto, a propósito do tema, o provedor recebeu do leitor João Brandão a seguinte observação:

"Sobre o problema do Catual, em que tem geralmente razão, remeto-o para a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra. Aí, em 'Concordância Verbal', pág 494. e seguintes da minha 5ª edição, vem uma concordância com a posição que tem defendido. Porém, no ponto 3 (pág. 498), admite-se que quando o pronome relativo 'que' vem antecedido de 'um dos ... (+ substantivo), o verbo de que ele é sujeito vai para a 3ª pessoa do plural ou, mais raramente, para a 3ª pessoa do singular'. Apresenta dois exemplos dessa excepção, um deles de Camilo Castelo Branco ['um dos primeiros homens doutos que escrevia em português', adiantando-se ainda outras ocorrências do género, como em Aquilino Ribeiro: 'O bispo de Silves foi um dos que caiu no erro funesto']. Em observação nota: 'O verbo no singular destaca o sujeito do grupo em relação ao qual vem mencionado...'"

O provedor também conhecia esta admissão registada por Celso Cunha e Lindley Cintra (e podia até acrescentar outros exemplos, como Eça de Queirós em Os Maias, capítulo X: "E Carlos, furando, pôde enfim avistar no meio do montão um dos sujeitos que correra no prémio dos Produtos"). Mas considera tratar-se de uma condescendente indulgência de filólogos esmagados perante o peso de celebridades literárias, e não concorda que se admita a razoabilidade de uma excepção que vai contra toda a lógica sintáctica da língua. Rejeita com efeito a ideia de que, porque um escritor consagrado comete um erro idiomático (e tantos existem), esse erro deva ser promovido aos cânones linguísticos. Não é de aceitar, aliás, que, no caso vertente, as duas fórmulas possam estar correctas de acordo com o arbítrio de quem escreve. Porquê "mais raramente" na terceira pessoa do singular, como dizem Cunha e Cintra, que não apresentam para isso qualquer justificação racional (o que é bizarro, temos de concluir)? E como saberá quem escreve em que altura se aplica o "mais raramente"? Deve existir uma regra, e basta decompor analiticamente as frases e verificar quem é o sujeito para se concluir que o tempo verbal terá forçosamente de ser conjugado no plural. Tão simples como isso. É verdade que há vícios de linguagem que tendem a enraizar-se e perpetuar-se, e este é um deles. Também é um facto que certas corruptelas acabam erigidas em regras linguísticas (impostas pelos falantes). Mas não parece ao provedor que possa ser esta a situação. Para que o português não seja uma língua de trapos, deve obedecer a um normativo coerente, defendido pelos seus cultores. É o caso.

Cuidado com a língua

Agradeceria que fosse chamada a atenção dos vossos jornalistas para o seguinte:

Títulos de uma notícia na edição de 26 Junho, no nosso jornal PÚBLICO: "Preço dos combustíveis - Dossier perde-se na Autoridade da Concorrência". Não é grave, mas nada justifica usar-se ainda o vocábulo "dossier" quando já está aportuguesado para "dossiê". Por exemplo, nesta mesma edição, é utilizado (e muito apropriadamente) o vocábulo "robô", que veio substituir "robot". Porquê esta dualidade de critério? Apenas me ocorre que as notícias tenham sido escritas por jornalistas diferentes, um que está atento às alterações linguísticas que foram introduzidas (há bastante tempo, não têm nada a ver com o novo acordo ortográfico) e outro nem por isso.

Geraldes Lino

"Um vendedor dorme perto das suas couves enquanto aguarda pela chegada de compradores num mercado em Taiyuan, na província chinesa de Shanxi... " [PÚBLICO, Novembro de 2008, dia indeterminado]. Não se aguarda "por" - espera-se "por" mas aguarda-se alguma coisa, sem preposição. Embora o erro seja cada vez mais corrente, continua a ser erro, e já bastam as televisões para o difundir...

Ana Luísa Faria

Na edição electrónica de 26 de Maio, está inclusa uma notícia com o seguinte título: "Quinze mil polícias ficam a aguardar pelo descongelamento dos escalões".

A autoria do artigo é de José Bento Amaro, que, eventualmente, não será o autor do título. De facto, é comum redactores, directores e outros responsáveis sublinharem esse aspecto quando há protestos a incidir sobre títulos. Não me parece que isso diminua em nada a gravidade dos erros: o leitor encara o jornal como um produto completo e raramente cura de saber se o erro é deste ou daquela; para ele, é do jornal.

O erro, neste caso, é evidentemente o "aguardar por". De facto, não se aguarda por uma coisa, um acontecimento ou uma pessoa, aguarda-se uma coisa, um acontecimento ou uma pessoa. É um erro muito comum, causado, julgo eu, pela semelhança com o verbo esperar que, esse sim, pede um "por" em alguns casos.

Igualmente habituais, nos jornais em geral e no PÚBLICO em particular, são casos semelhante como "alastrar-se" (por vezes a asneira é aumentada com um "por", como em "alastrar-se pelo País!..."), fórmula corrompida por "espalhar" ou, ainda, "aproximar-se a", letalmente "envenenado" pelo sinónimo "chegar".

São modas (como o inenarrável "o Chipre", que tem ganho o favor de escribas e locutores que, em breve, estarão a referir-se à Angola e ao Portugal, ou o igualmente apatetado "Costa de Caparica" (sei que neste caso ainda se discute...).

Mas, também, que esperar de jornais que publicam, sem corar de vergonha, artigos onde se escreve "numa base de geleia de rosas onde acentam umas doces laranjas", como faz Ana Machado noutra peça da mesma edição do PÚBLICO, intitulada "Hélio Loureiro diz que quem matou D. João VI foi... o cozinheiro".

Sei que os avanços tecnológicos remeteram o revisor, como instituição, para os armazéns de velharias. Mas não haverá forma de ajudar jornalistas para quem a escola não foi muito bem sucedida a não cometerem erros que são grosseiros (apesar de muitas vezes se achar que são "pequenos")?

Augusto Dias

Onde, quem?

Uma das regras básicas do jornalismo consiste em que cada texto deve responder a quatro questões essenciais: o quê? quem? quando? onde? Mas por vezes isso fica esquecido, abrindo-se uma enorma lacuna. Exemplos:

Numa selecção de fotos do ano de 2009, publicada no P2 de 26 de Dezembro, na pág. 9 surge uma “imagem de corpo morto e metido num carrinho de supermercado”. Na detalhada fotolegenda, faltou o "onde".

Notícia na pág. 15 de 5 de Maio: “O Supremo Tribunal dos EUA aceitou um recurso apresentado pelo Governo e ordenou que seja apreciado se a televisão CBS não terá de pagar uma multa de 550 mil dólares por ter permitido que se visse o mamilo da cantora numa emissão em directo em 2004”. Que cantora? Faltou o "quem".

Incongruências

Uma contradição na mesma notícia (PUBLICO.PT, 27 de Maio de 2009):

Título:
"Miguel Portas diz que imposto europeu avançado por [Paulo] Rangel é comentário atrapalhado"
Texto:
“O cabeça-de-lista do BE às europeias, Miguel Portas, recusou terça-feira à noite qualquer novo imposto europeu sobre os cidadãos, considerando que a proposta do candidato do PS [Vital Moreira] foi um 'comentário atrapalhado'.”
PUBLICO.PT, 27/05

Uma contradição na mesma edição, anotada por um leitor:

Na edição do PÚBLICO do dia 25 de Janeiro, domingo, vem na revista "Pública" uma noticia que contraria uma outra noticia publicada no jornal. Esta situação é inaceitável e aconteceu no jornal do mesmo dia que a revista! Jornal, página 30, Desporto, artigo com o título “Bundesliga tirou à Premiership o estatuto de Liga mais rentável”; na linha 17 da segunda coluna a noticia diz: “Uma da perguntas é como é que a Bundesliga roubou à Premiership o estatuto de campeonato mais rentável”. Revista, página 28, Futebol; nas linhas 13 da segunda coluna e 14 da terceira o texto diz: “Há outros sinais de crise no melhor e mais rentável futebol do mundo”, referindo-se ao campeonato inglês (Premiership) e não ao alemão (Bundesliga). A minha questão é como é que no jornal dizem uma coisa e na revista dizem outra. Afinal qual é a liga mais rentável do Mundo?

Eugénio Castro Caldas

NOTA DO PROVEDOR: Será que entre o fecho da edição da "Pública" e a do jornal, que é uns quatro dias mais tarde, mudou o ranking mundial de rendibilidade dos campeonatos de futebol?

Uma opinião contra uma opinião

Na edição impressa de 7 de Maio de 2009 do PÚBLICO, na pág. 37, Helena Matos compara, assemelhando-os, a proibição de voos de e para o México [devido à gripe A], decretada pelo Governo de Havana, com o embargo económico decretado pelo Governo dos Estados Unidos da América contra o mesmo Governo. Ora, as diferenças entre as duas medidas são tantas e de tal ordem que me dispenso de as enunciar. Em resumo: a jornalista poderia invocar muitos argumentos para atacar o governo cubano (como aliás mais à frente no mesmo artigo faz), mas não este.

Escrever artigos não se limita a escrever frases bonitas. Sem rigor não chegaremos se não a desacreditar a imprensa e confundir os cidadãos. O dito não implica que não considere o PÚBLICO como um jornal que tenta acertar, e os jornalistas em causa como interessantes.

António Manuel Paula Saraiva

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A nacionalidade de um satélite

Em virtude da notícia publicada online no PÚBLICO de 29 de Julho de 2009 intitulada “Empresa portuguesa entre os proprietários de um satélite de observação da Terra”, venho denunciar a publicidade gratuita, para não falar em falsidades, que a notícia contém, começando pelo tí­tulo e em frases como: “Pela primeira vez, uma empresa portuguesa, incluída no grupo aeroespacial espanhol Deimos, vai lançar o seu próprio satélite de observação da Terra.”

A Deimos Engenharia não é uma empresa portuguesa, é sim uma subsidiária de uma empresa espanhola. Sendo que a casa mãe, Deimos Espanha, é que é dona do satélite.

É uma pena que jornais como o PÚBLICO, tido como de referência, publiquem uma notícia destas sem pelo menos investigar o que a fonte, Deimos Eng., afirma, aceitando tudo como verdade absoluta.

Isto não é jornalismo, é comunicado à imprensa por parte da Deimos.

Cristina Azevedo

Resposta da autora da notícia

A empresa Deimos Engenharia é de facto uma empresa portuguesa e não uma subsidiária espanhola. Foi fundada em Portugal em 2002, contribui para o tecido empresarial português e, além disto, tem realmente capital português entre os seus accionistas.

É considerada uma empresa participada e não uma subsidiária: embora tenha uma maioria de capital estrangeiro, do grupo aeroespacial espanhol Deimos, tem também a participação de capital português. Segundo o director da Deimos Engenharia, Nuno Ávila Martins, o capital português atinge os dois dígitos.

Em organizações internacionais, como a Agência Espacial Europeia (ESA), a Deimos Engenharia é identificada como uma empresa portuguesa.

Por fim, também não digo que a empresa portuguesa é a proprietária do satélite. Digo que se encontra entre – e sublinho a palavra “entre” – os seus proprietários, por ter precisamente uma participação de capital espanhol. E, para que não restassem dúvidas, procurei logo na primeira frase da notícia deixar claro que a Deimos Engenharia faz parte do grupo espanhol Deimos.

Portanto, a notícia não contém “falsidades”, nem é “publicidade gratuita”, como sou acusada de ter feito.

Teresa Firmino

Os constantes erros de concordância

“A diferença entre as sondagens e o resultado do referendo na Suíça provam que ‘há uma discussão oficial sobre o islão e uma discussão subterrânea’” (26 Dez. 2009, pág. 25);

“o número de assinantes de televisão paga (...) atingiram um novo máximo superior a dois milhões e meio de assinantes” (passe a redundância da palavra assinantes) (P2, 6Dez., pág. 18);

“A atmosfera que imprimiu ao seu programa redefiniram os talk-shows americanos” (P2, 21 Nov., pág. 15);

“a cobertura dos temas do PSD estão muito aquém do esperado” (11 Nov., pág. 13);

“As filmagens, a iniciar em Setembro desse ano, não estava dependente da contratação de alojamento hoteleiro para o pessoal técnico e artístico” (10 Nov., pág. 10);

“O discurso solto e simpático denunciam-lhe a juventude” (10 Nov., pág. 35);

“a música – todas as artes – transformam-se em esqueletos esvaziados e inúteis” (P2, 28 Out., pág. 3);

“As exumações requeridas por outros, que a família García Lorca não quer prejudicar, alterou os dados do problema” (P2, 25/10, pág. 10);

“...e o preço das casas caem inesperadamente” (subtítulo, 20 Out., pág. 21).

Cuidado: "avalanche"!

Tal como Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa, que escreveu "A minha pátria é a língua portuguesa"), defensor intransigente do idioma luso, ouso questionar qual o motivo de a jornalista Isabel Gorjão Santos ter utilizado, na página 14 do PÚBLICO de 06.08.08 nada menos de 7 (sete!) vezes o galicismo/anglicismo "avalanche" em vez do português "avalancha".

João Chambers

RESPOSTA DO PROVEDOR: O Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de João Pedro Machado (Amigos do Livro, 1981), aceita as duas grafias, embora admitindo que a palavra original ("avalanche") é francesa.

RÉPLICA DO LEITOR:

Não tendo concordado com as explicações dadas em relação ao galicismo "avalanche", abusivamente utilizado nas páginas do PÚBLICO, consulto o HOUAISS, Edição de 2002, do Círculo de Leitores, e verifico, então, o seguinte:
- "avalanche" (escrito em itálico)- substantivo feminino (confira Francisco Solano Constâncio - "Novo diccionario critico e etymologico da lingua portugueza (sic), Paris 1836") ver AVALANCHA.
- avalancha - substantivo feminino (confira Cândido de Figueiredo "Novo Diccionário da Língua Portuguesa (sic), Lisboa 1939, 5.ª edição") - (entre outras hipóteses) Geologia - queda rápida e violenta de grandes massas de neve ou gelo pela encosta de
montanhas altas. Forma histórica 1836 avalanche, 1899 avalancha.

Como defensor intransigente da língua portuguesa ouso, então, questionar porquê, num jornal que se pretende de referência, a utilização insistente e repetitiva de um estrangeirismo quando, para a mesma palavra, existe um termo bem português? É que no artigo a que aludi o termo foi utilizado nada menos de sete vezes!

A bem da língua portuguesa.

João Chambers

Que é uma "porção de fruta"?

Escrevo porque gostaria que um jornal como o PÚBLICO continue a ser uma referência em termos de qualidade da informação mas também de cuidado na linguagem e na escrita. Ora, no que concerne às traduções a partir da língua inglesa, dois artigos consecutivos da revista "Pública" de 24.08.2008 merecem alguns reparos. No artigo "A Venezuela volta à ribalta da beleza", para além de algumas gralhas ("Sozsa" em vez de "Sousa") e falta de pontuação ("andarem, falarem dançarem"), parece-me que em português se diz "exprimirem" em vez de "expressarem". No penúltimo parágrafo a palavra "even", nem sequer foi traduzida.

Já no artigo "A longevidade em números", opta-se por se escrever "pacientes", quando em linguagem médica corrente se diz "doentes". A palavra "ibuprofen" mostra falta de esforço em investigar que existe uma tradução portuguesa, "ibuprofeno", que aliás é um medicamento bem conhecido dos portugueses. Para além disso, faz-se no artigo referência a "porções de fruta". Ora este conceito foi desenvolvido nos Estados Unidos e a maioria dos portugueses não sabe que "fruit or vegetable serving" corresponde a meia chávena de fruta ou legumes ou a uma chávena de verduras como o espinafre ou a alface, segundo definição do Departamento de Agricultura dos EUA. Este esclarecimento teria sido útil no artigo. De um modo geral, parece-me que este último artigo careceu de revisão por alguém com conhecimentos na área da saúde. É que traduzir é também ter em atenção a população a que o texto se destina.

Isabel Santos Cruz (médica)

As duas fórmulas são aceitáveis

Sou uma criança de dez anos que ficou um tanto confusa pelo facto de, na edição de 10-09-08, no artigo do P2 que falava sobre uma princesa japonesa que não seria imperatriz, o PÚBLICO ter optado por "imperadora" em vez de "imperatriz".

Renato Pedro da Costa Marques

O autêntico dióxido de carbono

Mais uma vez o PÚBLICO, um dos poucos jornais portugueses com conteúdos científicos, insiste em escrever erradamen-
te a fórmula química do composto dióxido de carbono. Escrever CO2 sem que o algarismo 2 seja posto em índice (“subscript”) em relação às duas letras que o antecedem é erro grave. Ao abrigo das convenções científicas, este algarismo é um índice que indica a existência de dois átomos de oxigénio e é assim que se escreve, e não de outra forma qualquer. Como o PÚBLICO escreve, titula e até põe na primeira página, pode mais justamente ser lido como duas moléculas de monóxido de carbono (embora escrito de forma não canónica, pois um algarismo escrito à mesma altura das fórmulas químicas indica o número de moléculas e não o número de átomos de cada elemento que a constituem).

Percebo [que tecnicamente seja difícil escrevê-lo], mas imagino também que noutros jornais terão o mesmo problema. Tem de se ter atenção redobrada. No El País vejo sempre o dióxido de carbono bem notado. Cabe aos editores chamar a atenção dos gráficos de cada vez que se tem de escrever índices ou expoentes. Não vejo como é que isso possa não fazer parte das suas competências.

Embora o PÚBLICO não seja particularmente preocupado com a revisão do português - isso é notório -, imagino que ninguém no jornal ficará satisfeito por ver publicado um erro ortográfico. Para quê insistir em cometer um erro científico por falta de atenção à necessidade de seguir a finalização das páginas durante mais um bocado. Mais grave quando muitas vezes vem em chamada de primeira página ou em título.

Nuno Magalhães

Um leitor atento

Li no passado fim-de-semana, e lamento não poder situar melhor o que li porque me "subtraíram" o exemplar do PÚBLICO que eu gostaria de citar, que "o" vacatio legis demasiado curto (ao contrário do que acontecia no passado ) é obstáculo à correcta aplicação das leis de recente elaboração ou alteração.

Não desejando entrar na polémica jurídica (para a qual não me sinto preparado), gostaria de me fixar no uso do masculino "o" para reger a expressão latina "vacatio legis". Curto e directo, acho que devia ser "a" e não "o", porque "vacatio" é um substantivo feminino. E não me venham com as desculpas à Rodrigues Lapa (inveterado poético desculpador...) de que o artigo masculino não rege a "vacatio" que lá está mas sim um qualquer conceito expresso num masculino que teremos de adivinhar...

É uma pena que o Houaiss não acompanhe o registo da expressão latina "vacatio legis" (vol. XVI, p. 8059) das iniciais s.f. que dedica a todos os substantivos femininos. Uma simples incursão no clássico dicionário de latim do Torrinha (grande mestre...) tiraria todas as dúvidas. E bons tempos eram esses, quando os candidatos a juristas aprendiam uns rudimentozitos de latim no 6º e no 7º anos do liceu. Ao menos, quando chegavam a Coimbra, já não ficavam de cara à banda perante o "cum grano salis" com que os mestres os mimoseavam...

José Maria M. P. Rocha (24 de Março de 2009)

Gostaria de referir o excelente artigo de Desidério Murcho, intitulado "Pensar outra vez", dedicado ao "nacionalismo" de Fernando Pessoa, expresso na afirmação tão citada "Minha Pátria é a lingua portuguesa". E gostaria de assinalar a seguinte construção usada pelo jornalista: "...com o mesmo horror ao português mal escrito que um patriota à invasão..." (PÚBLICO, 24 de Março de 2009, P2, p. 3).

Como se fica com a impressão de aquele "que" estar um pouco "desapoiado", eu gostaria de perguntar ao senhor jornalista se concorda que teria sido melhor português escrever "de" em vez de "que", assim: "o mesmo horror... de um patriota... ". Assim se dispensava a redundância de uma construção "correcta" que seria "com o mesmo horror... com que um patriota reagiria à invasão do...". Horrível, claro, mas correctíssimo...

É verdade que o português, às vezes, é muito difícil. E então, quando o queremos tornar mais simples...

José Maria M. P. Rocha (25 de Março)

Ando há "um ror de tempo" para escrever sobre este assunto, e hoje deparou-se-me a oportunidade que reputei de ideal, embora pudesse haver melhor, claro... Afinal, qual será melhor português? "...nos últimos três anos" (PÚBLICO, 30 de Março de 2009, p. 32, col. 4) ou "...nos dois primeiros lugares" (id., id., p. 23, col. 1). Há sociedades europeias que exigem que os seus alunos aprendam a diferença entre "os dois primeiros" e "os primeiros dois", ou "os últimos três" e "os três últimos".

José Maria M. P. Rocha (30 de Março)

1. Terça-feira, 31 de Março, PÚBLICO, P2, p. 2, col. 4 - Por que motivo é que o "i" de "judaizaram" recebeu acento agudo? aquele "i" não é a sílaba tónica...

2. Quarta-feira, 1 de Abril, PÚBLICO, p. 1, col. 4 - O Eurojust está "sedeado" em Haia (há quem prefira "na Haia")? Não seria melhor "sediado"? Vd. "Houaiss", tomo XVI, p. 7241 "sedear" (limpar com escova de seda...) e p. 7243 "sediado" (com sede, (em algum lugar)).

3. Quinta-feira, 2 de Abril, PÚBLICO, p. 4, col. 1 - "Um iPod, sua Majestade" - que está ali aquele "sua" a fazer? É para traduzir o mais que provável "Your Majesty!" ( com "!") que o presidente Obama terá usado ao falar com a rainha Isabel II? Em português devia estar "Majestade!", com "!" e sem "sua", que é grossa asneira.

José Maria M. P. Rocha (2 de Abril)

1. Verifiquei, com agrado, que a minha observação sobre a diferença entre "os dois primeiros" e "os primeiros dois" estava, aparentemente, a produzir efeito, não fosse o deslize do redactor Escobar de Lima (PÚBLICO, 30 de Março, p. 23, col. 1): "...uma equipa conseguiu colocar dois pilotos nos dois primeiros lugares." Milagres acontecem...

2. Gostaria de insistir no anómalo "o mesmo do que", com que a redactora Ana Dias Cordeiro (PÚBLICO, 4 de Abril, P2, p. 11, col. 1), talvez por andar lá nas maravilhosas lonjuras das Comores, nos mimoseou. Citando: "Agora, os habitantes querem ter os mesmos benefícios do que qualquer outro cidadão francês,..." Então eles não querem ter "os mesmos benefícios que (tem) qualquer outro ..."

3. Se ainda estiverem com disposição para me aturarem, gostaria de perguntar por que motivo o PÚBLICO aderiu à nova fórmula de indicar os resultados no futebol. Então, quando uma equipa ganha em casa é por 1-0 e quando ganha fora é por 0-1? Repito que esta anómala forma de indicar os resultados "ganhadores" (ganhar por 0-1...) não é exclusiva do PÚBLICO, mas gostaria de saber se em A Bola de há 40 anos se falava assim de qualquer clube. Quando se ganhava era sempre por 1-0 e nunca por 0-1. Por 0-1 perde-se, ou não será assim? (Atenção, este resultado de 0-1/1-0 é irrelevante. Pode ser 1-2/2-1 ou qualquer outro diferente de empate.)

4. A terminar: ainda acerca do "Majestade/Sua Majestade", etc., gostaria de chamar a atenção dos senhores redactores do PÚBLICO para o programa "Diga lá, Excelência" (e nunca, que nunca foi, "Sua Excelência"), umas vezes com a vírgula no sítio certo, outras vezes nem por isso... E, claro, (e que pena...) sem o "!" que deve acompanhar os vocativos. Os redactores do PÚBLICO deviam ler o PÚBLICO... e escrever "Diga lá, Excelência!"

José Maria M. P. Rocha (8 de Abril)

Não, não lhe venho falar do recente qui pro quo de as más notas em exames de matemática terem sido atribuídas à influência negativa dos jornais, televisões, professores, etc.

Queria só perguntar o que é que está a fazer a palavra "mil" na expressão "...até ao valor de 44.800 mil euros...", na notícia referente à legalização do Oceanário do Porto (PÚBLICO, 16 de Julho, p. 28 , Local).

Assim, os estudantes aprendem asneira...

José Maria M. P. Rocha (16 de Julho)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Alá é grande e Maomé é o seu profeta?

Sou, desde início, leitora assídua do PÚBLICO, e já por diversas vezes hesitei em escrever algum feedback em resposta a situações que me levantam perplexidade, mas desta feita, talvez pelo acumular de alguma tensão relacionada com situações limítrofes à que motiva este contacto, fá-lo-ei.

Referem-se estas palavras a uma notícia assinada pela jornalista Maria João Guimarães [24 de Dezembro, pág. 12]. Nela, intitulada "Relatos de confrontos entre polícia e manifestantes em duas cidades iranianas", surge a expressão, e cito-a, "profeta Maomé". A pergunta que faço, desdobrada em algumas interrogações derivadas, é extremamente simples: "profeta"? Como? Para quem?

Por outras palavras: posso estar enganada, mas apelidar alguém de "profeta" é: a) reconhecer a validade da sua pretensão em se afirmar como tal; b) reconhecer a autenticidade da sua mensagem, neste caso de origem divina, pois é-se, neste caso, profeta de uma divindade; c) reconhecer tal tratamento como adequado tal como o fazem os seus seguidores; d) etc.

Não me parece que tal, por mais que o possa parecer, seja uma realidade com implicações anódinas e inócuas. Não se vê a escrever-se "o Deus Jesus", tal como foi indirectamente reivindicado por Jesus, nem como é directamente afirmado pelo cristianismo histórico. Claro que, à primeira vista, esta última denominação parece implicar uma "afirmação de fé", mas a verdade é que, e sem desejar estar a condicionar a resposta que gostaria de poder acreditar que receberei às questões que mais acima coloco, chamar a Maomé "profeta" também o é.

Maria Manuela d’Orey Sant’ana

Escrevi "o profeta Maomé" no contexto da explicação de uma celebração religiosa xiita, portanto a sua descrição – personagens e acontecimentos – foram todos feitos do ponto de vista da narrativa do islão.

Se a leitora quiser, pode reparar que é como faz toda a imprensa internacional de referência, desde o israelita Jerusalem Post até ao americano New York Times, passando pela BBC, três exemplos entre muitos mais.

Alguns links, para verificar:
http://www.jpost.com/servlet/Satellite?cid=1261364519891&pagename=JPost%2FJPArticle%2FShowFull
http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/8432114.stm
http://thelede.blogs.nytimes.com/2009/12/27/iranian-militia-halts-speech-by-former-president-in-tehran-mosque/

Maria João Guimarães

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Tradutore, traditore

A propósito da velha questão da tradução de textos, designadamente daqueles que são originários da área da anglofonia, muitas vezes, não chegando, no âmbito em questão, a haver exactamente erro, verificam-se, ainda assim, circunstâncias em que, mais uma profunda e grave imprecisão do que, volto a dizer, propriamente um erro deturpam significativamente o conteúdo da mensagem original. Quem tem por profissão lidar com a língua inglesa (para ensiná-la, desde logo, como é o meu caso) conhece perfeitamente uma 'família' de termos designados em jargão genericamente por "false friends", que são palavras ou mesmo expressões que, FORMALMENTE muito semelhantes a outras portuguesas, delas se afastam todavia muito pelos respectivos significados. Palavras e expressões como "eventually" (que significa, na verdade, "mais tarde" ou "posteriormente", "ulteriormente"), "presently" ("a dada altura", "futuramente" ou mesmo "depois") e por aí fora. Ora, acontece que, além dos que referi, um termo há "amigo" de dar igualmente lugar a maiores ou menores confusões - circunstância essa perfeitamente ilustrada, aliás, por um artigo do PÚBLICO (suplemento "Economia" de 24 de Abril de 2009) onde a tradução de "outrage" por "ultrage" cria, a dado passo, um equívoco perfeitamente reconhecível no texto de Steven Pearlstein "Deponhamos as armas". No texto em causa, se escreve, com efeito, a dado passo o seguinte: "Existe o perigo de este ULTRAJE chegar ao ponto de enfraquecer o esforço para conter a crise financeira". Antes, falou-se das medidas de recapitalização intensiva de uma série de instituições financeiras privadas (especificamente de duas) postas à beira da implosão ou da falência técnica totais em resultado de (na melhor e mais generosa das hipóteses...) sérios erros das respectivas gestões, assim como da mais do que discutível política remedial a que a medida anda, como refere o texto, associada e que envolve, como é evidente, uma drenagem mais ou menos consistente e substantiva de fundos públicos, usados para dar cobertura às disfunções geradas por aquela má gestão. Assim sendo, seria, também muito fácil ser-se levado a supor que o "ultraje" em causa residiria aí, no recurso a tão debatível recurso económico-financeiro/político (até porque, no texto, um pouco atrás se identifica este tipo preciso de prática política exactamente com um ultraje: "o verdadeiro ultraje", diz expressamente o texto, jogando com dois significados da palavra inglesa). Sucede, todavia, que no caso da expressão atrás citada e no ponto preciso referido, o termo "ultraje" é usado na acepção (também possível) de "indignação", "reacção escandalizada" ou "ofendida", "indignada" e refere-se, portanto, não à tal política de recapitalização persistente e substantiva dos privados com fundos públicos, como poderia supor-se, mas à reacção escandalizada de partes significativas da sociedade norte-americana e mundial relativamente a ela. Seria, de resto, essa a tradução a fazer na circunstância, ou seja: "existe o perigo de tal indignação chegar ao ponto de poder pôr em causa, enfraquecendo-o, o esforço para conter a crise financeira". Seria, repito, assim que eu traduziria, evitando a ambiguidade e (chamemos-lhe assim:) a declarada "fuga" deste ponto do texto para o previsível equívoco ou (literalmente...) completo quiproquó.

[Por outro lado], na edição do PÚBLICO de 10 de Março de 2009 há um cartoon (cuja legenda faz, de resto, nesse caso, parte do desenho) em que se diz textualmente: "And I thought YOU were lending to US". Ora, este é um caso paradigmático de uso ideal d(e uma d)as chamadas expressões "de realce", ou seja, no caso: "E eu que julgava que ERAM VOCÊS QUE nos estavam a emprestar a nós!...", em lugar do neutro e insípido "E eu pensei que nos emprestavam [quem?] a nós...!" (sic).

Carlos Machado Acabado

Ainda, e sempre, o rigor

A propósito da notícia com o título de primeira página "O-
bama no-
meia juíza latina [So-
nia Soto-
mayor] pa-
ra o Supre-
mo" (27 de Maio), es-
creveu o leitor Mesquita Alves:

"Mais uma vez o PÚBLICO errou. Mais uma vez, o que é grave, errou na primeira página. Em primeiro lugar, o Presidente Obama não nomeia. Propõe a nomeação ao Senado. Em segundo lugar, a 'nomeada', não é latina, mas latino-americana. Lembro que a senhora nasceu nos Estados Unidos".

O problema dos comentários

Mais uma vez lhe escrevo, a relatar o reiterado abuso com que o sistema informático ou quem dele se aproveita leva a impedir os meus comentários às notícias do PÚBLICO on-line. Tentei, sem sucesso, por cerca de dez vezes, publicar o comentário que abaixo transcrevo. Após leitura do artigo do Ípsilon on-line "Caderno de Memórias Coloniais - Isabela Figueiredo: 'O colonialismo era o meu pai'" (24 de Dezembro), não consegui que o meu comentário fosse publicado. Tentei o envio cerca das 21:45h de 28/12/2009 até às 22:30h. Constatei que outros comentários ao artigo foram publicados, mas o meu (ou as sucessivas cópias do mesmo), nunca chegou a ser publicado. Suponho que o meu IP, mail ou identificação pessoal estejam a ser filtrados pelo sistema. Este procedimento é possível mas desonesto para os leitores, caso esteja a acontecer. Agradeço, portanto, que averigue ou mande averiguar tais irregularidades, as quais só podem ser feitas por intervenção humana.

A minha identificação nos comentários é sempre a mesma:
Von Paulus, Socratik TugaLand.

O texto que pretendia colocar como comentário era o seguinte:

"Vim de Angola com idade semelhante à da escritora entrevistada. E não tenho o mesmo conceito desta. Sempre convivi com colegas de côr, na escola primária, sem complexos de parte a parte. Os meus pais sempre tiveram colegas de cor, na sua profissão, sem constrangimentos por isso. Estávamos a viver numa casa alugada, em que o senhorio era de cor; como habitávamos em casa geminada com o senhorio, brincávamos com os seus netos, também de cor. E, tal como o senhorio, tínhamos também empregados de cor. A lavadeira, de cor, trazia por vezes a sua filha e brincávamos com ela. Quando tivemos de sair de Angola houve despedidas comovidas de parte a parte. Havia racismo nas ex-colónias? Provavelmente havia, tal como há hoje entre as classes mais abastadas e o povo mais humilde e iletrado desses países. Os exploradores do povo, esses mudaram... mas continua a haver exploradores e racistas hoje, nas ex-colónias. Ambos da mesma cor. Acredito que este livro provavelmente vá ter sucesso comercial, pois é enquadrado num discurso politicamente correcto. Mas espero que não enverede por generalizações, o que, neste caso, seria extremamente desonesto!"

Não me parece que o texto tenha qualquer comentário ofensivo; constatei que outros comentários podem, esses sim, ter algum teor ofensivo ou menos próprio.

Von Paulus

NOTA DO PROVEDOR: Ao longo do seu mandato, o provedor recebeu inúmeras reclamações semelhantes a esta. As explicações que sempre lhe foram dadas pelos responsáveis do PUBLICO.PT foram no sentido de que, se os comentários não apareciam, é porque alguém havia accionado o comando "denunciar este comentário", pelo que estariam a aguardar pela respectiva aprovação do parte da redacção. Não será o sistema ideal, porque pode desta maneira boicotar-se (temporariamente, pelo menos) comentários inócuos e por outro lado permitir-se a publicação de comentários ofensivos. Mas parece que ainda não se descobriu melhor sistema, que o provedor deseja que seja rapidamente alcançado.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Teorias da conspiração

Fiquei atónito ao ver duas páginas (6 e 7) do P2 de 20 de Abril de 2008 (“Ahmadinejad não é o único a achar o 11 de Setembro ‘suspeito’”) dedicado a uma teoria da conspiração e a um filme (Loose Change) que advoga que o 11 de Setembro foi "organizado pela direita americana". Não se vislumbra no artigo, assinado por João Pedro Pereira, qualquer sinal de cepticismo sobre o filme e ninguém foi entrevistado para demonstrar o ridículo dessa teoria. Pelo contrário, foram ouvidos como "peritos" portugueses um arquitecto e um realizador que obviamente apoiam essa "teoria" infundada. Qualquer estudo mais profundo sobre os eventos do dia 11 de Setembro desmonta rapidamente esse filme, que apresenta versões sucessivas com correcções.

Que se seguirá? Outro artigo advogando que o Homem nunca foi à Lua e que foi tudo filmado em barracões secretos do exército americano? Ou que em Roswell estão guardados restos mortais de extraterrestres? Ou que Elvis está vivo?

Já tudo é possível no PÚBLICO, pelos vistos.

José Paulo Andrade

Carta aos jornalistas do PÚBLICO

Ao fim de dois anos a falar para os leitores, o provedor despede-se dirigindo a última crónica à redacção


Enfrentem a realidade: o público está a emigrar em massa para a informação via digital e não irá fazer marcha atrás




Sei o que sentiram. Não é agradável para um jornalista escrever com alguém a vigiar por sobre o seu ombro. E certamente perguntaram: “Porquê ele?” Que autoridade tinha eu, jornalista como vocês, para mais sem a cultura do PÚBLICO, para me pôr a criticar o vosso trabalho? Será que não pratiquei também erros idênticos enquanto exerci a profissão? Como me atrevia agora a apontar-vos o dedo?

Confesso que muitas vezes me coloquei no vosso lugar, ao denunciar faltas que eu no passado podia ter cometido ou deixado cometer. Imaginei-me aliás, em caricatura, na pele de Walter Burns, o obstinado director de jornal que na versão fílmica assinada por Billy Wilder da comédia The Front Page (Primeira Página, 1974), após um percurso repleto de golpes baixos para bater a concorrência na obtenção da cacha ou do exclusivo, acaba a sua carreira a ensinar ética jornalística na universidade.

Mas uma das vantagens do lugar de provedor é que podemos aprender com a função, obrigando-nos a assentar ideias sobre matérias acerca das quais, na lufa-lufa do quotidiano profissional, pouco havíamos ainda reflectido. E quanto à assunção do cargo confiei em quem em mim confiara ao convidar-me, detectando-me de algum modo perfil para o papel (espero que não tenha ficado desiludido). Verifiquei afinal, com agrado, que, na esmagadora maioria, vocês entenderam também dar-me o benefício da dúvida, já que, com raríssimas excepções, quiseram colaborar comigo dando resposta às questões que vos fui colocando (e podiam não o ter feito). Por isso vos estou grato, já que se tratou de uma ajuda preciosa para o desempenho do lugar.

Claro que houve atritos entre nós – mas sem eles eu consideraria insatisfatória a minha actuação como provedor. Entendo aliás ser inerente à actividade a diferença de pontos de vista entre escrutinador e escrutinado. Não reivindico ter tido sempre razão – considero até que não se trata tanto de ter razão, mas sim de encarar de formas diferentes a prática jornalística e o reforço da sua credibilidade (e não, nesta área do mercado o cliente nem sempre tem razão).

Posso mesmo, numa ou noutra ocasião, ter sido desmedido no grau de exigência ou praticado excesso de zelo – admito-o. Não percebi logo, por exemplo, a especificidade do jornalismo desportivo, reclamando um tratamento da arbitragem idêntico ao que os media independentes devem dar aos magistrados judiciais, sem aceitar que a observação directa ou o vídeo permitem com frequência o julgamento sumário do acerto das decisões arbitrais – a mão de Thierry Henry que levou a França à fase final do Mundial na África do Sul será sempre mão, mesmo que o juiz da partida não a tenha assinalado, e os jornalistas nunca a poderão escamotear (não abordei a questão na altura, é apenas um exemplo).

Mas, no caso que acabou por marcar este mandato de provedor agora no fim – a questão das notícias acerca da alegada vigilância de S. Bento sobre Belém –, continuo a julgar ter dito o que devia dizer: lançar um sério aviso sobre o que, procurando decidir em total independência e autonomia, entendi como desvio aos valores editoriais em que se fundou este jornal, um copo que eu via cheio há já algum tempo e que transbordou com essa enorme gota de água. Sei que muitos de vós se sentiram ofendidos no brio profissional quando questionei a existência no jornal de uma agenda oculta, mas não se tratava de pôr em causa toda a redacção. Só que numa orquestra afinada basta um dos seus elementos perder o tom (para mais numa posição de chefe de naipe ou de concertino), para que todo o conjunto desafine (imagine-se então se é o maestro a dirigir com outra partitura).

Tendo estudado com alguma profundidade o PÚBLICO ao longo destes dois anos e auscultado os anseios dos seus leitores, permito-me deixar-vos uma apreciação resumida dos principais problemas que detecto no jornal, condensados num conjunto de cinco recomendações apresentadas com a pretensão de contribuir, embora modestamente, para a sua evolução:

1. Pensar nos leitores antes de decidir a publicação de cada matéria. Julgo o PÚBLICO afectado por certo grau de presunção. Muitas das suas matérias e da sua linguagem são elaboradas em função da superioridade intelectual que os seus jornalistas julgam de bom tom manter, mas será que se interrogam por um momento sobre se estão a comunicar para o público generalista que é o conjunto de leitores do jornal (e que desejavelmente deveria alargar-se a camadas mais vastas)? Fará sentido ocupar três e quatro páginas com certos temas de reportagem ou entrevistas que pouco ou nada dirão à esmagadora maioria? Percebo que os fundadores do jornal tenham querido inscrever na sua matriz uma atitude vanguardista, capaz de se distinguir do convencionalismo de outra imprensa e de contribuir para o desenvolvimento cultural da sociedade portuguesa (e concordo até que esse seja um dos mais nobres objectivos dos media), mas será que uma vanguarda não acompanhada pela massa cumpre a sua missão? Acho que sim num projecto artístico ou literário, mas não num jornal diário, investimento demasiado dispendioso para se dar ao luxo de alienar o público que é a razão de ser da sua existência e da sua viabilidade económica. Nesse sentido deve também ouvir-se os leitores e incrementar a sua participação nas páginas do jornal, sobretudo agora que se tornou obrigatória a interactividade entre o público e os media de grande expansão.

2. Dosear a agenda entre temas de interesse público e de interesse do público. Esta recomendação decorre da anterior. O jornal pensa muito no que julga ser em prol da comunidade, mas pouco no que pode cativar a curiosidade dos leitores. Reflexo disso é, por exemplo, a escassa atenção concedida aos casos de polícia, entendidos como matéria sensacionalista excluída de investigação e desenvolvimento. O crime, momento extremo da condição humana, inspiração de monumentos que vão de Dostoieveski a Raymond Chandler, passando pos alguns dos momentos supremos do cinema, é tido pelo PÚBLICO como actividade menor. Não se trata de abordar ou não abordar, mas de como abordar. E nada do que é humano deve ser estranho a um diário generalista.

3. Cumprir as regras da produção jornalística, atender ao rigor dos factos e respeitar a língua. As normas profissionais não existem por capricho, mas porque reforçam a credibilidade dos jornalistas e dos respectivos órgãos de informação. Os factos consagrados (como os acontecimentos históricos, as datas, os nomes e os números) devem ser respeitados. Quanto à qualidade do vocabulário e sintaxe idiomáticos, os media podem ser o último reduto na sua defesa (embora entendida num sentido dinâmico e não estático), pelo que nesse campo cabem especiais responsabilidades aos jornalistas. Senti porém como baldados os esforços que procurei desenvolver nestas áreas. No domínio da técnica jornalística, preocupa-me sobremaneira o desrespeito pelas normas da citação de fontes de informação. O Livro de Estilo do PÚBLICO contém directivas que conviria respeitar melhor, mas dever-se-ia também pensar na sua própria actualização.

4. Considerar também a fotografia como elemento de informação. A edição fotográfica do PÚBLICO utiliza muitas vezes a imagem de forma conceptual (um detalhe, uma silhueta, uma sombra, uma mancha, uma forma geométrica, uma sugestão, um enigma), que terá tudo a ver com estética mas pouco com jornalismo. Não se devia desperdiçar tanto e tão precioso espaço para pouco ou nada informar os leitores. E também as legendas deveriam ser mais explícitas, dando conta das circunstâncias específicas das fotos a que dizem respeito.

5. Entender o PÚBLICO não como um jornal em papel com um site agregado mas como uma marca de informação englobando os mais diversos suportes. Enfrentem a realidade: os jornais generalistas estão sob ameaça de morte, e eventualmente já condenados. O público está a emigrar em massa para a informação via digital e não irá fazer marcha atrás. É certo que o PÚBLICO investiu já consideravelmente no PUBLICO.PT, mas não o suficiente, na medida em que, na estrutura organizativa da redacção e até em grande parte nos conteúdos, o site continua a ser tributário da edição em papel. Basta constatar que o próprio modelo gráfico do jornal, com títulos e fotos estendidos por páginas duplas, não se adequa ao seu visionamento através da internet. Teria de ser maior a aposta no on-line, pois reside aí o futuro. E não só: também noutros suportes digitais, já criados ou a criar. O PÚBLICO deveria por isso deixar de estar associado basicamente ao papel para se tornar, com toda a credibilidade que possui, numa fiável marca multimédia. A democracia precisará sempre do jornalismo, mas vai deixar de precisar dos jornais.

Considero que a minha actuação visou sobretudo procurar ajudar-vos a reflectir sobre vossa própria prática profissional. Se em alguma coisa contribuí para a sua melhoria, valeu a pena.

Votos de bom trabalho, em prol de um PÚBLICO cada vez melhor, e até sempre.

CAIXA:

2.500 reclamações

Findo o seu mandato (não renovável por compreensível exigência do respectivo estatuto), este provedor cessará funções no próximo dia 31, sendo esta, por conseguinte, a sua derradeira crónica. Não tendo sido possível atender directamente cada uma das cerca de 2.500 reclamações recebidas dos leitores ao longo destes dois anos, o provedor procurou deixar no seu blogue referência a todas aquelas que considerou pertinentes sem as abordar nesta página. Até ao fim de Dezembro, o blogue continuará activo, e os leitores poderão continuar, se o desejarem, a comunicar com o provedor.

A todos os que participaram e deram fundamento a esta função, o provedor agradece da mais penhorada das formas. E expressa também um sincero reconhecimento aos restantes, pela atenção que deram às suas considerações, fosse nesta coluna, fosse no blogue. O seu maior desejo é que cada um se reveja cada vez mais no PÚBLICO como o seu órgão de informação.

Publicada em 27 de Dezembro de 2010

sábado, 26 de dezembro de 2009

A favor da necrologia

Como “não há bela sem senão”, estou a indicar uma falta que sinto no PÚBLICO. A continuar assim – com desgosto – acabo por mudar de jornal. O assunto é a chamada necrologia, ou seja, a necessidade que alguns leitores têm de comunicar e outros de conhecer as ocorrências que lhes dizem respeito.

Claro que vivo muito bem sem me lembrar das ocorrências, o pior é que hoje os leitores estão a contar com a divulgação dos jornais - já não se avisam parentes nem amigos do falecimento e funeral, de porta em porta. As famílias confiam na comunicação pelo jornal. Mas não pelo PÚBLICO!

Quando, tarde e más horas, sabemos, por outros meios, que “faltámos”, sentimos revolta e perguntamos: "Por que compro eu este jornal?" A primeira impressão que se tem é de revolta, e apercebemo-nos então da necessidade de mudar de jornal.

A par disso, e por não se sentir por aí essa necessidade, sente-se que alguém se rege por outros parâmetros, à revelia dos interesses do jornal. Parâmetros quanto a mim errados, pois vários semanários que recebo permitem-me ver como aproveitam os réditos dos anúncios em si, ao mesmo tempo que dão provas de se interessar por melhor informar os seus assinantes, que por isso ficam gratos. Nos semanários foi visível essa mudança de proceder, que além do mais lhes carreia anúncios. Entre os diários não é necessário esperar muitos dias sem que deparemos com três páginas de anúncios.

O segredo do comércio é SERVIR! A imprensa não pode fugir disso. Esta minha carta é uma reclamação ao vosso modo de “servir”. Este termo SERVIR no Dicionário da Porto Editora, 7ª edição, pág. 1646, tem muitos significados: por ex. "ter préstimo", ou seja, “ser útil”. Ignorar aquilo que os leitores reconhecem como importante afecta o “préstimo” do jornal, e as lacunas por falta de "préstimo" não são favoráveis ao futuro de nada.

Se me permitissem, sugeria que publicassem uma lista sintética, mas completa, com informes quanto a horários e locais, semelhante à lista da Bolsa, dos funerais que vos fossem comunicados pelas agências, serviço gratuito, durante um tempo reduzido, onde os leitores pudessem, de relance, aperceber-se daquilo que lhes interessava.
Estou convencido de que os movimentos das “Acções na Bolsa” teriam menos visitas que teria a informação sobre necrologia.

M. C. Santos Leite

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A eterna saga dos números

Escreveu-se na pág. 39 do PÚBLICO de 4 de Novembro (secção de Desporto) que “foi há 30 anos, em Abril de 1989”, que se deu uma vitória por 5-0 do Milan sobre o Real Madrid. Das duas uma: ou foi há 20 anos ou foi em 1979.


Um título na pág. 21 de 20 de Março diz: “Revelada actual imagem de Charles Manson”. O texto afirma, correctamente, que Manson (líder de uma seita assassina) está "preso desde 1971" e que "vinte e oito anos de prisão deixaram-no (quase) irreconhecível”. Outra conta errada.





A entrada de um notícia na pág. 16 de 23 de Fevereiro fala na “aprovação do orçamento estadual, que inclui uma subida de impostos no valor de 12.500 dólares”, enquanto o texto menciona “uma subida de impostos no valor de 12.500 milhões de dólares”. Pequena diferença.

A atente-se a esta mensagem do leitor Vasco Rodrigues: "Verifiquei na pág. 13 do suplemento 'Fugas' de 15/08/2009 [artigo 'C. Equinox - Elegância nos mares, esplendor na relva'], que a velocidade de cruzeiro indicada está claramente errada. No lugar de '24 mm/h', deveria estar '24 Km/h'!" Claro, um paquete de luxo a uma velocidade de caracol?

É diferente a insegurança vista de dentro

Escrevo no seguimento do artigo de 15 de Março de 2009 do PÚBLICO intitulado "Os bairros de Lisboa onde mandam as armas" [págs. 20-21].

Moro num dos bairros focados nesse artigo. E, confesso a minha estupefacção, moro no bairro mais perigoso de Lisboa: o Casalinho da Ajuda. Ora, segundo o polícia entrevistado, não identificado, neste mesmo bairro o tiroteio é muito. Segundo este mesmo polícia, não identificado, volto a dizer, no Casalinho da Ajuda, passo a citar, "é raro o dia em que a polícia não é lá chamada para tentar identificar alguém; são tiros de toda a espécie e feitio, de caçadeira, de pistola, até de pistola-metrelhadora..."

Então eu pergunto a este polícia porque é que eu, moradora do bairro, não vejo polícia nenhuma no bairro. Nem quando chego do trabalho, nem quando saio de manhã, nem aos fins-de-semana, nem nas minhas férias. Onde pára a polícia que não policia um bairro tão cheio de armas? Como é que os moradores têm ainda armas, de tantas vezes que a polícia, segundo o agente entrevistado, foi lá chamada? Porque, analisemos, se até há tiros de metralhadora como é possível o Ministério da Administração Interna não ter intervindo?

A ideia que dá este PSP entrevistado é que tudo se resume a problemas raciais porque nos bairros em foco na notícia se encontram negros e ciganos. Mas neste bairro específico não moram só ciganos nem negros. A grande maioria, atrevo-me a dizer 90% da população, não é negra nem cigana, é caucasiana. E neste bairro há gente muito honesta, trabalhadora, esforçada, empenhada, correcta, que também são ciganos e negros. Gente que sai para trabalhar todos os dias, que são contribuintes neste país e nesta Lisboa onde se insere este bairro muito complicado.

Sejamos sensatos na análise dos factores. Não é por serem negros ou ciganos. São pessoas culturalmente diferentes a quem se atribuiu alojamento, em forma de despejo de problemas para o Estado, sem nunca serem ensinados a viver em comunidade diferente da deles. A quem é dado um rendimento mínimo garantido que funciona como um emprego sem ser nada exigido em troca. E aqui não são só os ciganos e os negros que o recebem.

O que faz falta nestes bairros são assistentes sociais activos, que se empenhem no acompanhamento destas famílias, destes jovens, para os formar para serem responsáveis, activos e úteis na sociedade.

Isabel Lopes

No dia 1 de Março de 2009, o PÚBLICO publicou uma notícia intitulada "Crime violento desertifica pelo medo as noites de Setúbal" [págs. 18-19].

Sendo habitante em Setúbal e não conseguindo descortinar nenhuma relação entre a notícia e a realidade que constato, gostaria de convidar V. Exa. a vir almoçar a Setúbal, terra onde se come um bom peixe assado, como é difícil encontrar noutro lado, ou o típico choco frito.

Teria o maior gosto em lhe oferecer a referida refeição e propor-lhe de seguida um pequeno passeio pela baixa e por alguns dos bairros mais signficativos, incluindo a própria mal-afamada Bela Vista, para que pudesse constatar directamente que nada do que foi escrito na referida notícia corresponde à verdade.

Se preferir jantar, terei todo o gosto em o levar ainda à zona principal dos bares de Setúbal, onde poderá ver centenas ou milhares de jovens em convívio nas ruas.

Em lado nenhum, lhe garanto, terá oportunidade de verificar "os seus habitantes com receio de sair à rua".

Obviamente, a zona comercial da baixa de Setúbal tem tendência a esvaziar-se de pessoas a partir das 19 horas, quando o comércio fecha, como acontece em Lisboa e em qualquer outra cidade de Portugal ou da restante Europa, pois esta é uma característica comum à quase totalidade das cidades desenvolvidas.

As zonas históricas estão desabitadas, vivendo apenas do comércio, com lojas no rés-do-chão e armazéns nos andares superiores, pelo que à noite, depois do comércio encerrar as portas, as ruas ficam desertas. Isto não está relacionado com a insegurança nem é característica exclusiva de Setúbal.

Assim, pergunto qual terá sido o objectivo da publicação de texto tão fabricado de falsidades?

Pedro Brinca

No PÚBLICO de 17 de Julho 2008, na pág. 3, um artigo de José Bento Amaro tem a ilustrá-lo uma imagem de meia página [mapa da região de Lisboa] que contém uma “inverdade” que pela sua gravidade deve merecer correcção e pedido de desculpas aos leitores.

O título da imagem é "Os bairros mais problemáticos da região de Lisboa e da Margem Sul do Tejo". São identificados [no mapa] mais de uma dezena de bairros em diversos concelhos. Em relação ao concelho de Sintra, pode ler-se: ”Cacém (toda a cidade)”. Toda a cidade? Um imenso aglomerado de bairros problemáticos?

A fonte da imagem não é suficientemente elucidativa ("PSP; PÚBLICO"). O critério ou critérios adoptados para as respectivas identificações como “problemáticos” não são também especificados. No corpo da notícia o Cacém não é referido. Mas tamanho fenómeno (toda a cidade é "problemática") deveria merecer pelo menos um parágrafo.

Habito no Cacém há umas dezenas de anos. Tenho assim assistido às transformações profundas (boas e más) que ocorrem e ocorreram na agora cidade. A classificação encontrada por José Bento Amaro só pode vir de alguém profundamente ignorante desta realidade suburbana. Faria bem em informar-se para informar.

Elsa Fontainha

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Este problema é real

Vejo com frequência os comentários que o PÚBLICO online permite que leitores anónimos insiram na página web. Em geral, são um nojo de cobardia anónima, insultos soezes, sectarismo partidário inimaginável, calúnias. Ninguém os modera, ficam dias e dias expostos a toda a gente até que a notícia seja retirada por desactualização. É uma vergonha para o jornal e uma cumplicidade objectiva com essas coisas, que até podem muitas vezes ser consideradas como difamação.

Outros jornais também permitem comentários online, mas já comprovei experimentalmente que exigindo identificação (e-mail comprovado) dos comentadores, com login obrigatório.

João V. Costa

Até quando a Direcção do jornal irá permitir os inqualificáveis "comentários dos leitores" às notícias publicadas, que mais não são que um permanente destilar de ódio, racismo e pregação da violência?

Podem naturalmente argumentar que não sou obrigado lê-los. Mas como os responsáveis pelo jornal nem sequer os colocam num sítio próprio, mas sim colados às notícias, torna-se impossível não deparar com as barbaridades que ali se escrevem.

Qual o objectivo do jornal? Gerar tráfego? Jogar para as estatísticas, ainda que estas se alimentem de neonazis e estalinistas fanáticos sempre a vociferar as suas cantilenas impregnadas de ódio?

É esse o jornal que querem?

Não seria a altura de acabar de uma vez por todas com isso permitindo um verdadeiro debate democrático entre os leitores sérios?

Alexandre Monteiro

Consulto diariamente, com interesse, o vosso jornal online, mas há algo que me vem desagradando profundamente: o nível dos comentários dos leitores, que piora de dia para dia. Por isso, deixei de procurar ler os comentários mas, em muitos casos, eles são-nos dados pelo próprio jornal. Julgo que se justifica uma análise cuidada aos comentários que têm vindo a ser produzidos ultimamente e a tomada de uma atitude que passe, pelo menos, pela não exibição de comentários sem que o leitor tenha de aceder propositadamente a eles.

Manuel Afonso Dias

Faço um apelo a que o PÚBLICO tome medidas drásticas no sentido de acabar com a publicação da grande maioria dos comentários. Entre comentários xenófobos, retrógrados, injúrias e insultos e muita estupidez, não vejo qual seja a utilidade de o PÚBLICO alojar estes espaços.

Nao me parece de todo que o PÚBLICO esteja a fazer um bom serviço à liberdade de expressão dando abrigo a estes comentários. Leio frequentemente a zona de comentários de outros jornais online (Guardian e Times, principalmente) e nunca vi as barbaridades que leio diariamente no PÚBLICO.

A minha sugestão será então que o PÚBLICO feche a zona de comentários ou em alternativa apenas permita que comentários previamente lidos por alguém da redacção sejam publicados.

Tiago Barros

Sou assíduo leitor do PUBLICO.PT, o qual faz parte do meu arranque na internet. Comento as notícias sempre dentro da maior educação e civismo. Vejo com tristeza que o PÚBLICO optou por automaticamente publicar os comentários às notícias. Acho errado, e o resultado está à vista. Poucos, como eu, cumprem os requisitos exigidos. Desde nicks ordinários e mesmo pornográficos aos comentários insultuosos e mesmo ordinários, tudo se lê agora. Peço que sejam revistos os critérios de publicação, para evitar este resvalar para a ordinarice que já está a acontecer.

Rolf

Quero saber por que não apagam as mensagens difamatórias, de mau carácter, que violam os princípios escritos nas regras de critérios de publicação: "são inaceitáveis comentários que contenham acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência ou que preconizem violações dos direitos humanos".

Assim peço que sempre que a denúncia se confirmar, isto é, sempre que os comentários dos leitores não respeitem os critérios estabelecidos, o comentário será retirado.

Ana Paula Lopes

Nos comentários a este artigo encontra-se um que termina assim:

"Os franceses são um povo que não se sabe governar. Ao longo da sua longa história, os melhores governantes, de Carlos Magno a Napoleão, não eram de raça francesa. Agora têm o que merecem: UM JUDEU HÚNGARO." [28.04.2009 - 16h49 - António Neves, Oeiras, Portugal].

Passaram 24 horas desde o seu aparecimento e, mesmo que mais ninguém tenha feito uso do botão para "Denunciar este comentário", eu fi-lo hoje pelas 08h00 da manhã. E ali continua.

Deveria ser "Denunciar e talvez um dia venha a ser retirado"?

Leitor anónimo

Por favor, retirem os comentários dos vossos artigos online. Compreendo que sejam interessantes do ponto de vista interactivo, mas, face aos seus conteúdos e à facilidade com que os lemos no seguimento de uma notícia, é desprestigiante para um jornal como o vosso ter certas barbaridades lá escritas. Ao menos coloquem-nos numa zona menos legível.

Nuno Novais Dias

Por solicitação sua, o provedor recebeu de António Granado, responsável do PÚBLICO.PT, as seguintes explicações:

O PÚBLICO recebe actualmente cerca de 2.100 comentários por dia. Desde há uns meses para cá decidiu mudar a sua política de filtragem de comentários, optando pela moderação a posteriori, pois essa é a única maneira de permitir a participação de todos os leitores, sem tempos de espera inaceitáveis, que reduziriam as possibilidades de um debate saudável e rápido.

Durante todo o dia, várias pessoas do PÚBLICO participam na filtragem dos comentários impróprios e analisam as denúncias que nos são feitas pelos leitores, através do botão que foi colocado ao lado de cada comentário. Essa filtragem nem sempre é feita com a velocidade desejável, pelo que muitas vezes os comentários impróprios estão visíveis no site mais tempo do que gostaríamos.

Temos tentado, na medida das nossas possibilidades, melhorar a gestão dos comentários, mas temos consciência de que não estamos a conseguir resolver os problemas com a celeridade que seria expectável num site de referência como o PÚBLICO. Optar pelo registo prévio não seria suficiente para resolver o problema: primeiro, porque limitaria muito a participação dos leitores e de todos aqueles que realmente estão interessados num debate civilizado num espaço de um jornal; segundo, porque de forma nenhuma evitaria a criação de personas falsas, com e-mails legítimos, que continuariam a boicotar o trabalho jornalístico e a tentar prejudicar a liberdade de expressão de todos os outros.

Manter este espaço de debate aberto é a melhor resposta aos que o tentam usar de forma ilegítima. Apagar os comentários impróprios, mesmo que muita horas depois de terem sido feitos, é a demonstração que "o crime não compensa" e que não podem ser alguns a estragar o espaço que é de todos.

António Granado

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Ruído na mensagem

"Caixa Geral de Depósitos justifica outlook negativo de agência de rating"

É este um título de um jornal PORTUGUÊS?

As cabeças dos 'jornalistas' e 'editores' de hoje não dão para conhecer os equivalentes em português de palavras estrangeiras?

Vergonhoso.

Carlos A. Coimbra
Toronto

"Muitas vezes não se consegue fazer tudo"

João Castro Neves, que se declara "jurista contratado a recibo verde por uma Câmara Municipal", reenviou em tempos ao provedor, com pedido de explicação para "a aparente diversidade de critérios que o meu comentário documenta", a seguinte mensagem que havia remetido ao jornalista do PÚBLICO José António Cerejo (que conhecia de contacto profissional por telefone):

"Suponho que se lembrará de eu lhe ter falado na questão levantada pela famigerada Lei 12-A 2008, saída em Fevereiro, sobre prestadores de serviços. Você disse-me que não teria disponibilidade para se debruçar sobre o assunto, mas que iria passá-lo ao seu colega João Ramos de Almeida, se eu lhe mandasse os documentos. Envio-lhe o seu e o meu mail (com que enviei os tais documenmatos) para lhe recordar. O PÚBLICO acabou por não publicar nada sobre o assunto (pelo menos que eu tenha reparado) e eu achei sinceramente que se tratava de critérios editoriais, que eu não conheço. Não pude deixar de pensar que a questão afectava sobretudo juristas, que são provavelmente considerados elementos privilegiados da nossa sociedade, em que há tantos privilegiados, de modo que o espaço do jornal deveria ser utilizado em temas mais úteis. E assim, embora com algum desgosto (devo confessá-lo), aceitei aquilo que era, para mim, uma omissão informativa óbvia do jornal.
Agora, imagine a minha surpresa quando, hoje de manhã (como todas as manhãs, desde o primeiro número do PÚBLICO), abro o jornal e vejo a chamada, no canto inferior esquerdo, para uma notícia da pág. 15, sobre 'Juristas a recibo verde arriscam desemprego'. A surpresa transformou-se em espanto quando, na pág. 15, verifiquei que a notícia ocupava toda a página e que era... precisamente sobre o assunto de que trata a lei 12-A/2008, a saber: a pretensa luta do Governo contra os 'recibos verdes' (digo 'pretensa' porque, além de ser mentirosa, não existe luta nenhuma, e, se existisse, não iria lá com as medidas de má qualidade tomadas.) Ao espanto, juntou-se uma nota de ironia: a notícia é redigida pelo mesmo João Ramos de Almeida...
É claro que respeito os critérios editoriais do PÚBLICO, além do mais porque sei pouco ou nada sobre a matéria. No entanto, como leitor fiel do jornal (que, está implícito, aprecio desde o primeiro número), creio que mereço que me seja explicado por que razão o PÚBLICO publica uma notícia sobre uma questão que, nos termos da própria notícia, afecta 30 juristas (cujos interesses são merecedores de todo o respeito) e acha que não tem interesse discutir (nem que fosse para concordar com a lei, mas assim permitir a discussão do assunto na praça pública) os interesses de centenas de juristas que trabalham a recibos verdes nas Câmaras Municipais, nas Juntas de Freguesia e em muitíssimos departamentos da Administração Central.
Se Você souber e tiver tempo e pachorra para me explicar, eu ficar-lhe-ia muito agradecido.

Valongo, 19.08.2009
João Castro Neves."

O provedor solicitou a José António Cerejo esclarecimentos, tendo-lhe o jornalista reenviado a carta de resposta a João Castro Neves:

"Cheguei hoje de férias e só agora vi o seu mail. Compreendo perfeitamente o seu desagrado, mas garanto-lhe que, em relação à não abordagem do tema que nos propôs há meses, não se tratou de qualquer opção editorial. Quem está de fora pode não perceber, mas é mesmo assim.
O meu colega João Ramos de Almeida não pegou no assunto - e ainda não falei com ele desde que cheguei - por uma de duas ou três razões tão simples como isto: não teve oportunidade, na altura, para estudar a sua abundante documentação e depois nunca mais se lembrou; leu em diagonal e não percebeu o interesse; leu, achou interessante, e pensou tratar do assunto quando tivesse tempo, e depois nunca mais o teve ou esqueceu-se..., etc.!
Você pode perguntar: 'E então quando agora fez esta notícia não se lembrou do material que mandei?' Se não o leu, ou não percebeu, é normal. Se leu e percebeu, aí já é mais difícil de entender. Como não falei com ele não sei.
Em todo o caso posso dizer-lhe que o João Ramos de Almeida começou a trabalhar comigo no Diário de Lisboa e, com as suas características próprias, é daqueles que, nomeadamente no noticiário sobre questões laborais, se destacam pela sua atitude de independência.

José António Cerejo."

O provedor solicitou entretanto a João Ramos de Almeida um comentário ao facto de ter relatado o problema particular de um grupo mas não o mesmo problema afectando um grupo muito maior. Eis as suas explicações:

"O leitor em causa sublinha, em síntese, duas questões essenciais:
1) Por que razão o PÚBLICO esqueceu uma questão sugerida por um leitor jurista, que presta serviços à administração pública, mas acabou por a abordar meses mais tarde, embora relacionada com outros juristas? E questiona-se se essa razão foi: a) critérios editoriais discutíveis; b) opção do jornalista João Ramos de Almeida.
2) Por que razão o PÚBLICO preferiu uma situação que afecta 30 juristas e esqueceu a situação de centenas de juristas que trabalham para a administração pública?
Ora, o leitor engana-se nas duas questões colocadas.
A questão abordada no artigo escrito por mim não é, de todo, a mesma questão sugerida pelo leitor.
A lei 12-A/2008 referida pelo leitor estabelece os regimes de vinculação, de carreiras e de remunerações dos trabalhadores que exercem funções públicas e, ao que parece, obriga também a administração pública à contratação de profissionais independentes através de sociedades em detrimento da contratação individual.
O artigo do PÚBLICO referia-se à contratação de juristas a 'falsos recibos verdes' pelo organismo público que tinha por obrigação zelar pelo cumprimento da lei laboral – a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT). O mesmo organismo, cujo primeiro responsável sugerira publicamente, em Abril de 2008, no âmbito da discussão da revisão da legislação laboral, ao arrepio do Governo, a criminalização do uso abusivo de 'falsos recibos verdes'. Os referidos 30 juristas, quase a totalidade dos juristas nessa situação, redigiram uma carta, enviaram-na aos diversos grupos parlamentares e desencadearam uma luta pela regularização da sua situação laboral. Uma luta que teve o apoio precisamente da associação portuguesa dos inspectores de trabalho, que reúne a grande maioria dos inspectores de trabalho da ACT. Era a primeira vez que funcionários da ACT questionavam a legalidade das práticas da própria inspecção que afirma condenar todos os casos semelhantes que se lhe deparem nas empresas e que propunha que a lei fosse alterada – como o foi no Código do Trabalho de 2008 –, porque, tal como estava, não permitia a sua sanção efectiva.
Não é preciso ser jornalista para entender que 30 juristas nesta situação têm um interesse público que extravasa o seu número. O facto de a ACT 'entender' as práticas ilegais das empresas quanto ao uso de 'falsos recibos verdes' pode explicar o fracasso no combate a esse fenómeno. Aliás, essa foi uma das questões que o artigo suscitou no Parlamento.
Dito isto, é de referir que o assunto sugerido pelo leitor tem interesse. O José António Cerejo passou-me os elementos enviados pelo leitor, mas muitas vezes não se consegue fazer tudo.

João Ramos de Almeida."

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Repórter sem carteira

Muito me espanta a primeira parte da sua última crónica, onde analisa a minha queixa sobre a identificação do crítico de dança Tiago Bartolomeu Costa como jornalista nas páginas do PÚBLICO.

Diz o senhor que os responsáveis do PÚBLICO reconhecem a "capacidade jornalística" de Tiago Bartolomeu Costa, mas não cita nenhum deles a dizer isso. Além disso, tanto quanto sei esse reconhecimento não é feito pelos responsáveis pelos jornais, é feito pela comissão da carteira de Jornalista e pela Entidade Reguladora para a Comunicação.

Diz o senhor que o PÚBLICO "já poderia ter promovido a inscrição" de Tiago Bartolomeu Costa na comissão da carteira. Mas isso agora é assim? Qualquer um se inscreve na comissão da carteira? A lei que está disponível no site da comissão diz claramente que é preciso um estágio antes de se passar a ser considerado jornalista.

O senhor provedor desvaloriza a minha queixa, e para a desvalorizar faz tábua rasa das leis do país e das instituições que regulam uma profissão central da vida democrática.

A queixa inicial dizia respeito à identificação errada de uma pessoa nas páginas do PÚBLICO. E o provedor com esta crónica só confirma que a minha queixa tinha razão. Pena é que depois tente disfarçar. O grave disto tudo é que o senhor diz que Tiago Bartolomeu Costa não é de facto jornalista, mas acha bem que, não o sendo, ele continue a assinar reportagens num jornal de referência como o PÚBLICO.

O meu problema não é com Tiago Bartolomeu Costa, o meu problema, e foi para ele que quis chamar a sua atenção, é não saber quantas mais pessoas assinam reportagens no PÚBLICO sem estarem habilitadas para isso. É lamentável e só descredibiliza o jornal.

Leitor que pede para não ser identificado

RESPOSTA DO PROVEDOR: O leitor resume bem a crónica em causa: Tiago Bartolomeu Costa não possui o título de jornalista profissional mas o provedor não objecta a que assine reportagens no PÚBLICO. Como se explica no texto, essa liberdade é-lhe garantida pela Constituição da República Portuguesa, que é uma lei que prevalece sobre todas as leis ordinárias. E, que o provedor saiba, Tiago Bartolomeu Costa não incorre em nenhuma das incompatibilidades que o impedem, se o solicitar, de receber a carteira profissional de jornalista (o tempo em que já colaborou no PÚBLICO seria mais do que suficiente para o estágio). Sendo o jornal privado, escreve nele quem os seus responsáveis entendam convidar. E se o fizeram no caso vertente é porque reconhecem capacidade jornalística à pessoa em questão. Esclarecimento adicional: a Entidade Reguladora para a Comunicação não emite carteiras profissionais para jornalistas.

Leituras instrutivas

Lido no P2 de 22 de Novembro, pág. 18:
“(...) na linha da Provença e da Toscânia (...)” (P2, 22/11, pág. 18) (erro comum na imprensa nacional: em português escreve-se "Toscana" e não "Toscânia").

Lido na edição de 26 de Outubro, pág. 16:
“ (...) lê-se na carta enviada que enviou aos três juízes do colectivo”.

Título lido na edição de 16 de Agosto, pág. 4:
“Romarias populares com menos música devido crise" (e títulos com menos preposições).

Título a quatro colunas lido na edição 23 de Maio, pág. 23:
“Medvedev ruma para Leste e Oriente para assinar acordos energéticos” (e, já agora, também para Nascente, Este e Levante).

Título lido na edição de 21 de Abril, pág. 20:
“Peniche vai vendar [sic] peixe na Internet a partir do final do mês”.

Lido no P2 de 9 de Março, pág. 15:
“(...) dedica-lhe uma canção onde se retrata das muitas infidelidades cometidas” (deverá ser "retracta").

Lido na edição de 29 de Outubro de 2008:
"'As decisões que se tomarem nos próximos meses poderão moldar o mundo e uma geração'.
Martin Wolf, comunista [sic] do Financial Times"

domingo, 20 de dezembro de 2009

Um título inexplicável

Ao iniciar este meu protesto, tenho a afirmar que não sou militante do PS e não me situo na sua area de influência, mas não posso deixar de repudiar que na primeira pagina do PÚBLICO de hoje [20 de Dezembro] venha inserido um titulo de uma noticia desenvolvida na pagina 14 em que diz que o lider do PS pertence ou tem ligações com a um gang ["Justiça: Líder do PS esteve ligado a gang, diz Relação"].

Todos os leitores das primeiras paginas dos jornais, e são imensos, ligam imediatamente a noticia a José Socrates. Nada desculpa esta intenção de muito mau tom do jornal. Não é com este tipo de jornalismo que o PÚBLICO de se afirma.

António Correia

NOTA DO PROVEDOR: A notícia é sobre Ricardo Rodrigues, deputado e vice-presidente da bancada parlamentar do PS, e não esclarece que qualidade de líder é a sua (talvez do gang?). Este é um título que obviamente não devia ter existido.

Portugal não é Lisboa

Por vezes os jornalistas do PÚBLICO parecem escrever apenas para os habitantes de Lisboa. Veja-se por exemplo a notícia com o título “Sindicato empresta dinheiro a polícia para representar a PSP”, na pág. 9 da edição de 30 de Novembro, onde se diz: “O polícia veio para a capital a expensas do sindicato a que pertence”. Como Portugal é um pouco mais do que a sua capital (mesmo que para Eça fosse apenas paisagem), não deveria ser “O polícia foi para a capital a expensas do sindicato a que pertence”?

Na mesma linha, Miguel Esteves Cardoso Crónica escreveu a sua crónica de 2 de Março acerca do Bairro Alto sem nunca referir que se trata de um bairro da capital. Será que os leitores de Trás-os-Montes ou da ilha Graciosa têm a obrigação de o saber?

O leitor Albano Pereira de Assunção observou algo idêntico:

"Submeto à apreciação do provedor a formulação de uma parte da notícia acerca da nomeação de Júlio Magalhães para director de informação da TV [de 9 de Setembro]. Escreve-se que 'o jornalista, actualmente a dirigir a TVI no Porto, virá para Lisboa'. Em certas notícias Lisboa parece passar a ser a cidade onde vivem todos os portugueses, incluindo os que moram no estrangeiro".

Ou ainda, cerca de um ano antes, o leitor Fernando Cardoso:

Concordo com a opinião de Rui Tavares na "Crónica sem dor" de hoje (17 de Setembro de 2008). Só não acho correcto que durante toda a primeira metade da crónica se refira a "centro da cidade", "Rua da Madalena", "Baixa" e ainda "Graça" sem ter o cuidado de esclarecer de que cidade está a falar. É da "baixa" do Porto ou de Coimbra? É do "centro" de Faro ou de Braga? E "Graça" é uma zona de Bragança ou Lisboa? Num jornal de cariz nacional os seus jornalistas deveriam deixar de olhar para o umbigo e ver mais longe: ter sempre presente que estão a escrever para o país inteiro!

Porquê publicar estas notícias em páginas separadas?

PÚBLICO de 12 de Novembro:
Na pág. 6, com o título “A Humanidade e o Cosmos reúne cientistas no Porto” (sobre “o que será dos homens depois da descoberta da vida extraterrestre”);
na pág. 17, com o título “Vaticano: Vida extraterrestre não contradiz a fé cristã”.

PÚBLICO de 4 de Fevereiro:
Na pág. 10, com o título “Portugal acolherá até oito prisioneiros [de Guantánamo]”;
na pág. 13, com o título “Portugal deveria recolher presos de Guantánamo, diz Reprieve”.

PÚBLICO DE 1 de Setembro de 2008:
Na pág. 9, com o título “Dois homens cometem homicídio em Sesimbra e sequestram vizinho da vítima”;
na pág. 17, com o título “Homem ferido a tiro na Rua do Século durante a tarde”.

Quem pergunta quer resposta

NOTA: Por lapso esta crónica não foi colocada na devida altura no blogue, o que se faz agora. A crónica hoje publicada pode ser lida mais abaixo.

Nas respostas aos jornal, deve prevalecer não o formalismo legal mas dar aos leitores esclarecimentos tão cabais quanto possível

O TGV é uma das principais polémicas que hoje agitam o país, e sempre foi apanágio do PÚBLICO dar o máximo de contributos aos debates cruciais

“Lista de perguntas a que era bom dar resposta” - assim se intitulava o editorial de José Manuel Fernandes saído no PÚBLICO de 17 de Junho, elencando uma série de questões a que “era bom que, ao menos, [o ministro das Obras Públicas] Mário Lino e a sua equipa pudessem responder (...) para esclarecer algumas das muitas dúvidas que o projecto do TGV levanta”. As perguntas básicas eram seis, mas, à maneira das bonecas russsas, casa uma encerrava outras, pelo que no total o director do PÚBLICO endereçava às autoridades governamentais 22 questões sobre os planos relativos ao comboio de alta velocidade.

No final, José Manuel Fernandes rematava: “Poder-se-ia continuar indefinidamente, multiplicando as questões a que não responde a muita papelada distribuída pela RAVE [Rede Ferroviária de Alta Velocidade, S.A., a empresa de capitais públicos à qual compete a implantação do TGV] e pelo ministério. Sendo assim, quem assina por baixo?”

Pelo menos uma pessoa resolveu assinar por baixo, o administrador da RAVE Carlos Fernandes, que dois dias depois remetia a José Manuel Fernandes uma carta onde respondia às 22 perguntas suscitadas. O jornal não tomou a iniciativa de publicar a carta, alegando que era demasiado longa (12.500 mil caracteres – sendo que a crónica desta página tem um tamanho médio de 10 mil caracteres), pelo que explicou José Manuel Fernandes ao provedor: “[Uma secretária da direcção do PÚBLICO] entrou em contacto com uma secretária da administração da RAVE, que a passou a alguém que não sabe identificar pela função, mas que presumo ser do departamento de comunicação. Colocou oralmente o problema de um artigo com aquela dimensão, para além de chegar em papel e não por mail, o que coloca problemas de composição (não temos ninguém para essas funções), ser impossível de paginar no P1. Indicou-lhe a dimensão ideal do texto e ele ficou de dizer qualquer coisa”.

O provedor não conseguiu apurar se o PÚBLICO recusou taxativamente a publicação da resposta. A regra que José Manuel Fernandes enunciou é o seguinte: “Habitualmente o que fazemos é sugerir que se reduza para o tamanho de um texto de opinião (que, com raras excepções, não deveriam ultrapassar os 5 mil caracteres)”.

“Recusa” ou “sugestão”, a verdade é que a empresa aceitou a atitude do jornal como imposição inapelável, e formulou nova carta, dentro do espaço exigido/sugerido, esclarecendo incluir apenas “as respostas aos três primeiros grupos de perguntas, sendo informados os leitores do PÚBLICO de que o conteúdo integral do esclarecimento às questões colocadas pelos jornal pode ser lido no site da RAVE: www.rave.pt”. Na carta, a RAVE historiava também o atribulado processo de resposta ao editorial de José Manuel Fernandes: “O senhor director do PÚBLICO entendeu que, para ser publicada, essa resposta não deveria exceder 5 mil caracteres. Obviamente, se o que se pretende é, acima de tudo, contribuir para um bom esclarecimento público, não é possível responder de forma minimamente completa e clara a 22 perguntas sobre temas complexos nesse espaço (...). Pelos vistos, não é esse o entendimento [de José Manuel Fernandes], vendo-se assim a RAVE limitada no seu legítimo direito de resposta às perguntas colocadas no referido editorial”.

A nova resposta foi publicada na secção “Cartas do Director” de 4 de Julho, mas com uma nota onde José Manuel Fernandes dizia: “Sugere-se nesta carta que o PÚBLICO teria limitado à RAVE o direito de esclarecer os nossos leitores. O PÚBLICO limitou-se a dizer que as dimensões da carta não permitiam que esta fosse publicada, na íntegra, na edição em papel, e deu como referência o tamanho do texto a que ela respondia, fazendo-o nos termos da lei. A RAVE preferiu ocupar quase um terço desse espaço a atacar a decisão do PÚBLICO em vez de responder a mais uma das 22 questões.”

A empresa entendeu então queixar-se ao provedor, em carta assinada pelo mesmo administrador, onde se concluía: “Pelas razões expostas, a RAVE reafirma que se considera limitada no seu legítimo direito de resposta às perguntas colocadas no editorial de 17 de Junho”.

A questão não escapou também ao leitor João Garcia, que reclamou junto do provedor: “Não posso deixar passar o que considero mais uma machadada no direito à informação dos leitores do PÚBLICO. (...) Afinal José Manuel Fernandes queria respostas às suas perguntas ou apenas levantar poeira para os olhos dos leitores? Afinal José Manuel Fernandes queria informar os leitores ou apenas formá-los em função das suas opções? Será que o PÚBLICO tem medo do contraditório? Sinceramente não tenho, ainda, uma opinião formada acerca da construção do TGV, pelo que estou aberto a toda a informação a favor ou contra. O PÚBLICO prestaria um bom serviço ao publicar toda a informação disponível. O argumento ridículo de que não tinha espaço para a publicação da resposta não faz qualquer sentido. Na mesma edição, são gastas oito páginas, com chamada a metade da 1ª página, com propostas utópicas para o Terreiro do Paço (...). Não estou contra esta iniciativa, mas remeter a discussão da linha de alta velocidade para uma mera ‘carta ao director’, como se de um assunto menor se tratasse, é não respeitar o direito à informação dos leitores. Mais grave, ainda, é a nota do director: criticar a RAVE por fazer um enquadramento da sua resposta e, portanto, não responder às suas 22 questões é, no mínimo, de uma petulância e um despudor que não vão bem com um jornal que se pretendia de referência”.

Respondeu José Manuel Fernandes à interpelação do provedor sobre este caso: “Se a RAVE fazia questão numa explicação mais detalhada podia ter feito o mesmo que nós fizemos: pegar no telefone e propor, por exemplo, a publicação em duas partes, ou na internet. Alguém teria falado comigo ou com alguém da direcção, como sucedeu dezenas de vezes no passado tendo-se chegado à melhor solução (e atenção que esse tipo de negociações até já envolveu textos de ex-Presidentes da República, por exemplo). A RAVE não disse mais nada e voltou a enviar a resposta por carta, que teve de ser passada para computador por uma secretária. Face a esta resposta à nossa sugestão oral, demos o assunto por encerrado e publicámos a carta mais curta”.

O provedor entende dever criticar a atitude do PÚBLICO. Evidentemente que a RAVE “fazia questão numa explicação mais detalhada”, se não não teria enviado a primeira carta. É sabido de que uma resposta, em regra, é mais longa do que a pergunta que a motiva. Se o provedor perguntar qual é a receita do bacalhau à Gomes de Sá, não espera obviamente que lhe respondam com o mesmo número de palavras com que se designa o prato. E quem pergunta de boa fé quer obter uma resposta. Logo, o jornal deveria não só congratular-se pela resposta da RAVE às 22 questões de José Manuel Fernandes como procurar maneira de a acomodar na sua edição em papel. Isto é, deveria ter uma atitude pró-activa, propondo à RAVE a solução que o director acha que competia à empresa.

Para mais, está-se perante uma das principais polémicas que hoje agitam a sociedade portuguesa, e sempre foi apanágio editorial do PÚBLICO dar o máximo de contributos aos debates cruciais para o país, não varrê-los para debaixo da carpete.

Argumentos como o PÚBLICO não ter pessoal para teclar as cartas da RAVE são de mau pagador e nem deviam ser invocados. Se não tem, que arranje (até arranjou). O provedor também passa ao computador as cartas de leitores que lhe chegam em papel (felizmente poucas), e não pede suplemento de honorários por isso. Aliás, no caso da RAVE, bastou-lhe pedir à empresa que enviasse por e-mail toda a longa correspondência antes recebida por carta, o que logo foi feito, pelo que a alegação de José Manuel Fernandes não possui qualquer razoabilidade e evidencia até alguma má vontade perante quem reclama.

Também não colhe invocar “os termos da lei” para rejeitar a publicação da primeira carta da RAVE, como fez o director na resposta à segunda. A questão não se colocava na circunstância, porque a RAVE não havia respondido ao abrigo do direito de resposta, e o provedor entende que em situações idênticas o que deve prevalecer não são os formalismos legais mas sim fornecer aos leitores esclarecimentos tão cabais quanto possível. Aliás, José Manuel Fernandes nem deveria ter comentado a forma como a RAVE geriu o seu “direito” aos 5 mil caracteres, já que a empresa é inteiramente livre de o fazer.

A RAVE andou bem neste caso, o PÚBLICO não.

CAIXA:

A fasquia dos 20 por cento

"Pela primeira vez em Portugal, a 7 de Junho os partidos à esquerda do PS obtiveram juntos mais de 20 por cento dos votos” – assim iniciava São José Almeida a sua crónica semanal da passada sexta-feira, intitulada “Os nós da esquerda”. “O pior é que muitos comentadores, editorialistas e redactores de notícias têm escrito semelhante falsidade, como se não fosse essencial, quando se escreve uma coisa, verificar se ela é verdadeira perante os factos”, comenta o leitor João Carlos Lopes. “Quem se habituou à exigência de rigor do PÚBLICO não entende como os seus jornalistas não se põem a coberto de erros desta natureza. Acontece que nas eleições de 1975, os partidos à esquerda do PS obtiveram 20,59% dos votos. Nas legislativas de 1979, o seu peso eleitoral ascendeu a 23,5% (só a APU [coligação comunista] teve 18,8%). No ano seguinte, 1980, tiveram 21,2%., com a APU a fixar-se, sozinha, nos 16,8. Não vale a pena procurar mais casos. Somam-se, nestas contas, os votos de todos os pequenos partidos, os de extrema-esquerda. Mas são partidos. E São José Almeida fala de partidos. (...) Convinha que o PÚBLICO não deixasse de ser um jornal com memória, isto é, que legitimasse o que nele se escreve em argumentos sólidos de respeito pela verdade”.

Explica a jornalista: “O que o leitor diz é verdade e é rigoroso, mas o que eu digo também é verdade e rigoroso. Como é percebido por quem ler o texto, trata-se de partidos com expressão parlamentar. Eu não falo do MEP ou do MRPP e dos outros partidos que concorrem às eleições. E cito os valores percentuais em causa do PCP e do BE, o que torna claro do que estou a falar”.

O provedor lamenta desiludir São José Almeida, mas só um dos dois é rigoroso, e trata-se do leitor: em 1979, os votos da APU e da UDP (que elegeu um deputado) totalizaram 21%.

Publicada em 16 de Agosto de 2009

Notícias em néon

NOTA: Por lapso esta crónica não foi colocada na devida altura no blogue, o que se faz agora. A crónica hoje publicada pode ser lida mais abaixo.

Seria desejável que as notícias do PÚBLICO não se confundissem com marketing, mas às vezes acontece

Se a jornalista considera o Kindle vantajoso é admissível que o reconheça sem constran-
gimentos





A chamada da pág. 1 dizia: “Leitor de e-books. Cuidado, o novo Kindle vicia”. A capa do P2 anunciava: “Rendidos ao Kindle 2, o novo leitor de livros electrónicos”. E a entrada do artigo propriamente dito, nas págs. 4-6 do P2 de 30 de Junho, relatava que a autora, a jornalista Isabel Coutinho, “está completamente rendida pelo leitor de livros electrónicos da Amazon [empresa de venda de livros online]”. O texto não deixava lugar a dúvidas: “Quando se tem um Kindle nas mãos mais do que cinco minutos fica-se apaixonado por ele (...). Não queremos mais saber de outros leitores de e-books. (...) Foi isso que me aconteceu”.e

O leitor Nuno Brandão não apreciou esta linguagem: “À medida que ia lendo o artigo já não sabia se se tratava de um texto publicitário ou jornalístico, tal o tom elegíaco adoptado por quem assina. Passagens há que se assemelham à ficha técnica do produto (...). Contava que no final se escrevesse qualquer coisa como ‘viagem patrocinada pela Amazon’, mas nem isso aparece”. E questionou: ”O teor deste artigo coaduna-se com os deveres de isenção e de distanciamento comercial? Deveres esses que, presumo, são impostos pela deontologia jornalística e seguramente constam do Livro de Estilo do PÚBLICO”.

Numa primeira impressão, o provedor sentiu o mesmo desconforto do leitor, com todas as setas de néon, desde a primeira página, a apontarem para a excelência de um produto comercial. Mas Isabel Coutinho esclareceu-o: “Que fique muito claro que no final de Maio fui aos Estados Unidos de férias (viagem paga do meu bolso), comprei um Kindle 2 através do site da Amazon (pago do meu bolso) e nunca tive nenhum contacto com qualquer director de marketing ou com seja quem for da Amazon para fazer este trabalho. O texto (...) é um relato na primeira pessoa da minha experiência com o Kindle que comprei por minha iniciativa. Não é a primeira vez que no PÚBLICO escrevo sobre o Kindle ou outros aparelhos que servem para ler livros electrónicos. Mas foi a primeira vez que escrevi sobre este aparelho depois de o usar diariamente. Tenho aliás um outro aparelho para ler livros em formato electrónico, um Sony Reader, que também comprei (pago com dinheiro do meu bolso), e por isso tenho termo de comparação. Sei quais são as vantagens do Kindle em relação aos seus concorrentes e quais as desvantagens na óptica do utilizador. (...) Apesar do meu entusiasmo – que é genuíno – , vou referindo essas desvantagens no meu texto (...). Na minha coluna Ciberescritas (...) tenho escrito sobre estes aparelhos (alguns desses textos estão acessíveis no blogue Ciberescritas). Em 1 de Dezembro de 2007, escrevi o tema de capa do suplemento ‘Digital’ onde se discutia ‘se o futuro do livro passa pelo Kindle’ e fazia uma cronologia sobre todos os outros leitores de e-books (vantagens e desvantagens). Quem acompanha o meu trabalho sabe as reservas que sempre tive em relação ao Kindle, mas depois de o comprar e utilizar todos os dias mudei de opinião”.

Mais do que uma opinião, o provedor considera o artigo, na verdade, um testemunho de quem testa um produto comercial e fornece um ponto de vista individual sobre as suas virtudes e os seus defeitos (no caso vertente, mais aquelas do que estes). Sendo assim, é admissível que, se a jornalista considera o produto vantajoso, o possa reconhecer sem constrangimentos e sem perder a isenção, no âmbito do registo pessoal utilizado.

Ao contrário do que pressupõe o leitor, nem o Livro de Estilo do PÚBLICO nem o Código Deontológico dos jornalistas portugueses contêm disposições limitando este estilo de escrita, que alguns considerarão “promocional” se a apreciação for positiva, mas que poderá ser demolidora se o jornalista achar o teste decepcionante.
É claro que existem disposições sobre objectividade jornalística (“pluralidade das fontes, investigação cuidada” – estipula o Livro de Estilo) e que o artigo em causa se baseia sobretudo na subjectividade da repórter, que não confronta a sua experiência com a de outros utilizadores do aparelho. Mas, aplicada à letra, essa regra eliminaria o género de jornalismo testemunhal que pode enriquecer os media. O tema não se esgota no texto de Isabel Coutinho, e o PÚBLICO poderá cumprir tal desiderato procurando outros pontos de vista e acompanhando a evolução do sector.

De um artigo extenso para uma notícia de um parágrafo, mantém-se o risco de se confundir marketing e jornalismo. É o caso da nota não assinada inserida na pág. 15 de 3 de Julho anunciando que "a Visão Junior, da Impresa, única revista nacional dedicada à faixa etária 6-14 anos, é a primeira publicação periódica a integrar o Plano Nacional de Leitura [PNL]". Para a leitora Claudia S. V., a notícia “está completamente errada”, por três razões: “1. Esta revista não é nem nunca foi a única revista nacional dedicada ao público infanto-juvenil; posso pelo menos mencionar seis títulos, dedicados ao mesmo target (...). 2. Por mais abrangente que se queira ser (...), quem é que não acha estranho que uma revista seja direccionada a um target de 6 aos 14 anos? (...) Os interesses em comum entre estas idades são zero (...). 3. Lamento informar, mas esta revista não é a primeira publicação periódica a ter o apoio do PNL. Acredito que seja bom querer passar a mensagem de que foram os primeiros, mas outros (...) já o fizeram anteriormente. A primeira publicação periódica foi um suplemento do jornal O 1º de Janeiro, ‘O Janeirinho’, dirigido a crianças, e das revistas (...) foi a Giggle, para o target juvenil”.

Ana Fernandes, que editou a notícia, explica que se tratava de um versão sintética da que fora difundida na véspera pelo PUBLICO.PT: “Como tive de a reduzir muito (...), cortei um dado essencial, como se pode ver comparando com o original: ‘Única revista nacional de informação dedicada à faixa etária 6-14 anos’. Este dado muda muito (...). O erro foi meu, assumo-o e lamento. (...) Em relação aos outros dois pontos, não me parece que a leitora tenha razão – o target é definido pela Visão Júnior, não temos nada a ver com isso (lembro-me que a Tintin se apresentava como uma revista para um público dos 7 aos 77) (...)”.

Quanto ao suposto pioneirismo da revista visada, esclarece Ana Machado, a autora das duas notícias (online e papel): “Sobre o facto de ser a primeira, é verdade, uma vez que a tal Giggle é uma publicação exclusivamente electrónica, dedicada a crianças e famílias, coisa que a leitora não refere. E sobre o ‘Janeirinho’ não é uma revista, é um suplemento”.

Se toda a gende lesse notícias pelo Kindle, talvez o problema não se colocasse, já que se dispensava o resumo da notícia. De todo o modo, tanto na versão electrónica como na impressa o provedor detecta dois problemas: assume-se como facto que a revista se destina mesmo ao público dos 6-14 anos (o que não passará de um slogan comercial, tal como os 7-77 da antiga Tintin) e não existe a necessária menção à fonte ou fontes que transmitiram os dados, o que salvaguardaria melhor a posição do jornal.


CAIXA:

A síndrome da bica

Por que será que, tão amiúde, os jornalistas não acertam na concordância entre sujeito e predicado em casos de género (masculino/feminino) e quantidade (singular/plural)? Parece que suspenderam a frase a meio para tomar um café ou fumar um cigarro e, no regresso, continuaram a escrever sem ler o que estava atrás. Casos recentes do PÚBLICO: “a forma como reagiu ontem (...) às notícias sobre as trapalhadas do recenseamento eleitoral mostram que mantém o estilo” (13 de Julho, pág. 32); “A derrota dos socialistas nas eleições para o Parlamento Europeu levaram o secretário-geral do PS, José Sócrates, a tomar uma decisão inédita” (6/7, pág. 1); “A leitura das primeiras páginas desse livro lembraram-lhe a descrição da Belém do Pará” (P2, 6/7, pág. 4); “O mediatismo à volta das acções da mãe de Martim podem ter pesado” (legenda, 1/7, pág. 6); “As imagens do vaivém Atlantis a ser transportado por um avião no Centro Espacial Kennedy chocou o Vaticano” (Inimigo Público, 11/6, pág. 6); “o alargamento definitivo dos passeios e a redução do trânsito na Praça do Comércio tem sido elogiada” (2/6, pág. 23); “os Verdes, presididos por Daniel Cohn-Bendit, que reforçaram fortemente a sua presença no PE com 52 deputados, defendeu pelo contrário uma frente ‘anti-Barroso’” (9/6, pág. 9); “BPN e envolvimento do PSD volta em força ao discurso socialista” (título, 2/6, pág. 8); “O paradigma da sociedade da abundância e do desperdício, do consumo fácil, (...) não trouxeram a felicidade” (P2, 15/5, pág. 3); “Críticas à lei do financiamento incomoda socialistas” (título, 7/5, pág. 6); “A intensificação dos atentados e o aumento significativo do número de vítimas mortais da violência em Abril no Iraque mostra um regresso em força da insurreição sunita” (4/5, pág. 12); “Suspeitas de maus tratos e de alegada negligência médica leva Ministério Público a levantar corpo da urna” (entrada, 18/4, pág. 18); “o cariz de intervenção e alerta social marcaram sempre presença” (15/4, pág. 6); “Novas regras de colocação de professores faz crescer procura de diplomas de Espanhol” (título, 30/3 pág. 7); “O primeiro-ministro José Sócrates, acompanhado pelo ministro da Economia Manuel Pinho, visitaram ontem a Energie” (P2, 25/3, pág. 2); “Cada vez mais o nosso destino pessoal e de nossos filhos (...) estão da dependência do Estado” (26/3, pág. 33); “Os julgamentos na praça pública, feitos através da comunicação social que dá voz apenas aos intervenientes que decide defender, tornou-se um hábito em Portugal” (26/3, pág. 34); “Livre-trânsito de 23 quadros de serviço de informações foram reproduzidos num sistema acessível a centenas de pessoas” (entrada, 14/2, pág. 6); “as reacções do treinador a cada um dos falhanços dos avançados mostrava a todos os que seguiam o jogo o estado de espírito dominante” (P2, 13/2, pág. 2); “A Media Capital viu os seus lucros cair 36 por cento” (13/2, pág. 33); “para ver se algum voto de protesto e o prestígio local de muitos presidentes de câmara safa o partido” (13/2, pág. 37); “o apelo, em campanhas eleitorais, ao voto emanadas de organizações religiosas” (P2, 12/2, pág. 3); “manjava conquilhas com um à-vontade que fariam James Bond parecer um matarruano” (10/2, pág. 35). Mas que fazer, se o próprio Livro de Estilo do jornal está afectado da mesma síndrome: “A capa dos suplementos e da Pública não incluirão publicidade” (pág. 172)?

Publicada em 19 de Julho de 2009