domingo, 24 de agosto de 2008

Bem prega o provedor!

Acabado de ler a página do provedor no jornal de hoje [24 de Agosto], qual não é o meu espanto por verificar que a famigerada "praga de Catual", de tão comum que é, atingiu já... o próprio provedor! Assim sendo, no último parágrafo do texto, dignou-se escrever, e passo a citá-lo: "Entende, contudo, que iniciativas como a deste blogue, com cidadãos, individualmente ou em grupo, constitui (?) ainda a forma mais eficaz..."

Creio que quaisquer comentários adicionais serão desnecessários!

Ouso, apenas, questionar se V. Ex.a se dignará publicar esta minha observação daqui a quatro semanas, aquando do seu regresso às páginas do meu jornal diário.

João Chambers

NOTA DO PROVEDOR: O provedor só pode, claro, enfiar humildemente a carapuça, embora deste modo se prove mais uma vez a necessidade de revisão, para o que já por várias vezes alertou.

sábado, 23 de agosto de 2008

Os pobres e a inflação

A propósito da crónica que se publica este domingo (24 de Agosto), o provedor retoma um caso envolvendo o mesmo leitor (Miguel Carvalho) e o mesmo jornalista (Sérgio Aníbal), que não abordou em crónica porque entretanto a reclamação já havia sido publicada no blogue A Pente Fino:

Carta de Miguel Carvalho:

"Os mais pobres sofrem mais com a inflação", diz a capa do PÚBLICO de 21 de Abril em letras gordas [não é manchete]. Ainda na capa: "As famílias portuguesas com rendimentos mais baixos são as que mais estão a sentir os efeitos da inflação, conclui um relatório do INE". Lá dentro, na secção de Economia (pág. 38), temos: "Cálculos feitos pelo PÚBLICO...".

O facto de os dados usados serem baseados num relatório do INE não dá o direito ao PÚBLICO de dizer que as conclusões são do INE. Para lá desta inverdade, há ainda a questão de saber se o INE teria tantas certezas como o PÚBLICO parece ter.

Antes de mais um fenómeno paranormal nos resultados do Sérgio Aníbal, que lhe deveria ter saltado à vista. TODAS as classes de rendimento sofreram, segundo ele, inflações iguais ou acima da inflação! Ou seja, teremos a média (feita sobre os rendimentos) acima da média. Algo como a média de 10, 9, 8, 7, 6 e 5 ser... 5! O que já mostra que as suas contas estão certamente erradas.

Apesar de ter que reconhecer que Sérgio Aníbal se deu ao trabalho de fazer algo que provavelmente poucos fariam, não se pode tirar as conclusões que ele tira. Mais uma vez, e bem, ele próprio reconhece isso dizendo: "A análise feita pelo PÚBLICO não leva em conta esse nível de desagregação da despesa familiar..." Mas logo a seguir
estraga tudo mostrando bem o seu facciosismo, quando diz: "Ainda poderia acentuar as disparidades do impacto da inflação sobre os diferentes tipos de famílias". Dou-lhe razão, mas não há razão nenhuma para acreditar que seja para cima ou para baixo. Por que será que não escreveu o oposto, que poderia diminuir e até inverter as disparidades do impacto da inflação? Não dava jeito. Como exemplo, posso indicar os legumes, que desceram 15%, o que mostra quão difícil é tirar o tipo de conclusões que Sérgio Aníbal quer tirar, com os poucos dados disponíveis que existem.

Outro aspecto que mostra quão forçadas são as suas conclusões é o facto de ele chegar ao valor de 3,1% de inflação para as famílias ricas e 3,6% para as pobres. A diferença é ridiculamente baixa e insignificante~, dados os problemas de agregação. Mais, esta pequeníssima diferença que foi medida em Março (0,5pp) pode pura e simplesmente inverter-se em Abril, já que a inflação dentro de cada classe de produtos é altamente volátil (com variações de mais de 1pp de mês para mês em termos anuais).

Por último, o texto atribui a culpa aos "bens essenciais" que têm subido acima da inflação. É preciso ter muito cuidado com o nível de agregação quando falamos em "bens essenciais". Primeiro - e como já disse - termos alimentação a subir pode dever-se aos caviares e patas negras, logo é complicado chamar "bem essencial" à classe alimentação. Segundo, a este nível grande parte das classes são bens essenciais! Descontando cinco das 12 classes, temos Alimentação, Vestuário, Habitação, Produtos correntes para a Habitação, Saúde, Transportes, Educação, que julgo serem todos "bens essenciais". Pois bem, três delas estão abaixo da inflação. É sempre fácil pegar na que subiu mais destas sete (estatisticamente haverá uma acima da inflação, em 99,99999% dos casos) e em tom sensacionalista clamar bem alto que os "bens essenciais" sobem acima da inflação.

Miguel Carvalho

Resposta de Sérgio Aníbal:

"Os mais pobres sofrem mais com a inflação", diz a capa do PÚBLICO de 21 de Abril em letras gordas. Ainda na capa: "As famílias portuguesas com rendimentos mais baixos são as que mais estão a sentir os efeitos da inflação, conclui um relatório do INE". Lá dentro, na secção de Economia, temos: "Cálculos feitos pelo PÚBLICO...". O facto de os dados usados serem baseados num relatório do INE não dá o direito ao PÚBLICO de dizer que as conclusões são do INE. Para lá desta inverdade, há ainda a questão de saber se o INE teria tantas certezas como o PÚBLICO parece ter.

O leitor tem toda a razão. Na primeira página nunca deveria ter sido escrito que as conclusões surgem num relatório do INE, é falso. No meu texto isso nunca é afirmado, os cálculos são meus, utilizando dados do INE.

"Antes de mais um fenómeno paranormal nos resultados do Sérgio Aníbal, que lhe deveria ter saltado à vista. TODAS as classes de rendimento sofreram, segundo ele, inflações iguais ou acima da inflação! Ou seja, teremos a média (feita sobre os rendimentos) acima da média. Algo como a média de 10, 9, 8, 7, 6 e 5 ser... 5! O que já mostra que as suas contas estão certamente erradas."

Não há qualquer fenómeno paranormal. Como é explicado no texto, o cálculo da inflação por classes de rendimento que é feito utiliza os pesos na despesa familiar obtidos no inquérito aos orçamentos das famílias 2005/2006. O INE utiliza ainda os pesos obtidos no inquérito de 2000. Por isso, como penso que é referido no texto, e como escrevi num anterior artigo meu, o valor da inflação global usando os orçamentos 2005/2006 é superior à taxa de inflação oficial declarada pelo INE.

"Apesar de ter que reconhecer que Sérgio Aníbal se deu ao trabalho de fazer algo que provavelmente poucos fariam, não se pode tirar as conclusões que ele tira. Mais uma vez, e bem, ele próprio reconhece isso dizendo: "A análise feita pelo PÚBLICO não leva em conta esse nível de desagregação da despesa familiar..." Mas logo a seguir estraga tudo mostrando bem o seu facciosismo, quando diz: "Ainda poderia acentuar as disparidades do impacto da inflação sobre os diferentes tipos de famílias". Dou-lhe razão, mas não há razão nenhuma para acreditar que seja para cima ou para baixo. Por que será que não escreveu o oposto, que poderia diminuir e até inverter as disparidades do impacto da inflação? Não dava jeito. Como exemplo, posso indicar os legumes, que desceram 15%, o que mostra quão difícil é tirar o tipo de conclusões que Sérgio Aníbal quer tirar, com os poucos dados disponíveis que existem."

Estou convicto (foi por isso que escrevi e não por facciosismo, como diz o leitor mostrando como assume que qualquer jornalista está, por princípio, sempre pronto a aldrabar) que, mesmo desagregando, as famílias mais pobres poderiam sair mais prejudicadas. O leitor dá o exemplo dos legumes, mas a verdade é que as maiores subidas (pão, arroz, leite, ovos, massas) são tudo bens a que com toda a probabilidade as famílias mais pobres dão maior importância no seu orçamento. De qualquer forma, compreendo a crítica, deveria estar mais claro que é apenas uma convicção do jornalista. Esta questão tem, no entanto, pouca importância na conclusão principal do texto.

"Outro aspecto que mostra quão forçadas são as suas conclusões é o facto de ele chegar ao valor de 3,1% de inflação para as famílias ricas e 3,6% para as pobres. A diferença é ridiculamente baixa e insignificante~, dados os problemas de agregação. Mais, esta pequeníssima diferença que foi medida em Março (0,5pp) pode pura e simplesmente inverter-se em Abril, já que a inflação dentro de cada classe de produtos é altamente volátil (com variações de mais de 1pp de mês para mês em termos anuais)."

Não considero a diferença ridiculamente baixa e insignificante.

"Por último, o texto atribui a culpa aos "bens essenciais" que têm subido acima da inflação. É preciso ter muito cuidado com o nível de agregação quando falamos em "bens essenciais". Primeiro - e como já disse - termos alimentação a subir pode dever-se aos caviares e patas negras, logo é complicado chamar "bem essencial" à classe alimentação. Segundo, a este nível grande parte das classes são bens essenciais! Descontando cinco das 12 classes, temos Alimentação, Vestuário, Habitação, Produtos correntes para a Habitação, Saúde, Transportes, Educação, que julgo serem todos "bens essenciais". Pois bem, três delas estão abaixo da inflação. É sempre fácil pegar na que subiu mais destas sete (estatisticamente haverá uma acima da inflação, em 99,99999% dos casos) e em tom sensacionalista clamar bem alto que os "bens essenciais" sobem acima da inflação."

O objectivo principal do texto foi o de comparar qual a inflação registada para uma distribuição da despesa de uma família de baixo rendimento e de outra de elevado rendimento. Os números mostram que ela é maior para os mais pobres, precisamente porque estas famílias gastam proporcionalmente mais em alimentação e habitação, classes em que os preços têm subido mais. Há sempre limitações neste tipo de cálculos, mas penso que as conclusões são correctas e não contêm qualquer tipo de sensacionalismo, que nunca foi o objectivo do texto quando decidimos realizá-lo.

Sérgio Aníbal

Pontos de vista sobre a crise

É legítimo que o PÚBLICO não se limite à apresentação seca da notícia, mas faça também a sua análise, com uma interpretação própria

“Principais problemas da economia portuguesa são internos, diz o FMI” – e isto dizia por sua vez o PÚBLICO em manchete publicada a 18 de Julho. O conteúdo da notícia, apontando para razões estruturais da economia portuguesa, e não para a conjuntura internacional, como principal motivo da crise que o país atravessa, suscitou uma chamada de atenção do leitor Miguel Carvalho, alegando que as análises do FMI (Fundo Monetário Internacional) invocadas não permitiam tal conclusão.

Explanava o texto da pág. 1 do PÚBLICO: "A crise internacional não é a principal causa para o ritmo de crescimento lento que Portugal irá continuar a apresentar neste ano e no próximo, ao contrário do que tem vindo a ser defendido pelo Governo. A garantia é dada pelo FMI". A fonte era o mais recente relatório sobre Portugal elaborado pela instituição financeira. A ideia-base reforçava-se no desenvolvimento publicado na secção de Economia (pág. 37), sob o título “FMI garante que principais problemas da economia portuguesa são domésticos”, com autoria do jornalista Sérgio Aníbal.

Defende porém o leitor que “não há contradição nenhuma entre o relatório do FMI e o que o Governo diz sobre o abrandamento este ano da economia”. E “para que fique claro” o que afirma, cita a “visão do FMI”: "O crescimento abrandará provavelmente em 2008 para cerca de 1,25 por cento e para cerca de 1,00 por cento em 2009, por influência do fraco crescimento dos países parceiros, da turbulência financeira internacional e da subida do preço das mercadorias”. Conclui Miguel Carvalho: “Não há mais referência nenhuma no relatório sobre este abrandamento de curto prazo. Agora repare: todos os pontos que o FMI refere são externos. A contradição é portanto inventada”.

Existe aqui uma nuance: a questão do curto prazo. Alega o leitor que é isso que está em causa (ou seja, o que se passará neste ano e no próximo) e que para esse período o FMI não aponta outros factores na evolução da situação nacional: “O Governo tem-se queixado de questões conjunturais externas para explicar o abrandamento este ano da economia, o próprio texto da capa refere a quebra de curto prazo”, explica, adiantando que o problema seria diferente se a perspectiva fosse o longo prazo, pois, a esse nível, sim, “o FMI refere-se a questões estruturais (que por definição explicam comportamentos num horizonte temporal largo, e não de apenas um ano) internas.”

Mas são precisamente as mesmas razões apontadas pelo FMI que levam Sérgio Aníbal a defender o que escreveu, em particular este período do relatório da instituição, que cita na notícia (aqui traduzido pelo provedor de forma um pouco diferente, se bem que sem alterar o sentido): “A deterioração do ambiente económico global está a obstaculizar a retoma portuguesa, mas os problemas fundamentais condicionando a economia do país são de natureza doméstica: elevados défices externo e público; endividamento muito alto das famílias, das empresas e do Estado; e um substancial desnível em matéria de competitividade”.

Conclui por isso o jornalista, solicitado pelo provedor a esclarecer o assunto: “Assim, o FMI considera que, apesar de haver problemas conjunturais (externos) a afectar Portugal, são os problemas estruturais (internos) que mais estão a limitar o crescimento da economia. O Governo, por seu lado, tem salientado no seu discurso que os problemas estruturais (internos) estão a ser resolvidos pelas políticas postas em prática e que são os problemas conjunturais (externos) o principal entrave ao crescimento da economia. ‘Estamos agora melhor preparados para enfrentar a crise’, tem sido a frase mais utilizada pelos membros do Governo. Foi aqui, quando escrevi o artigo, que encontrei a contradição. E, ao citar aquela frase do relatório, referi igualmente a existência de problemas conjunturais externos, ao contrário do que diz o leitor. Admito que, em questões de análise de discurso político, outras interpretações sejam possíveis, porventura até mais correctas do que a minha. Mas gostava de deixar claro que procuro não inventar quando escrevo os meus artigos, coisa que o leitor, de forma injusta, rapidamente concluiu”.

Em suma, acerca do mau momento que estamos a viver (e que, na verdade, não sabemos se é a curto prazo, já que o sofremos desde quase o início do século XXI), a conjuntura externa só terá vindo agravar ainda mais uma situação já de si difícil de sustentar devido aos problemas estruturais do edifício económico e financeiro nacional.

Poderá não ser esta a perspectiva que mais agradará às autoridades portuguesas, mas é uma leitura que, quanto ao provedor, não só é possível extrair do relatório do FMI como é legítimo que o PÚBLICO faça, dado que a sua função como jornal não se limita à apresentação seca da notícia, mas também ao seu desenvolvimento analítico: “A informação complementar e diferente, o background e protagonização da notícia, a análise e a interpretação indispensáveis à sua compreensão integram e distinguem o estilo do PÚBLICO”, lê-se no seu Livro de Estilo, a abrir o subcapítulo “Os factos e a opinião”.

Claro que teria sido interessante exercer-se o contraditório com uma fonte oficial (preferencialmente do gabinete do primeiro-ministro ou do ministro das Finanças), até para satisfazer o ponto 15 dos “Princípios e normas de conduta profissional” do mesmo Livro de Estilo (“Qualquer informação desfavorável a uma pessoa ou entidade obriga a que se oiça sempre o ‘outro lado’ em pé de iguladade e com franqueza e lealdade”) – e, na verdade, não parece que tenha sido sequer esboçada uma tentativa nesse sentido.

O que não elimina o mérito do jornalista em procurar aprofundar a informação. Mas que, na óptica do provedor (embora não sendo objecto da queixa apresentada), importa sublinhar, uma vez que se observa frequentemente a fuga ao contraditório na atitude de muitos jornalistas do PÚBLICO, aqui se deixando a recomendação para o cumprimento escrupuloso desse princípio.

Miguel Carvalho tem sido um leitor atento deste jornal, adiantando regularmente observações críticas que, com frequência, o provedor considera pertinentes. Mais do que isso, é o principal animador do blogue “A Pente Fino” (http://apentefino.blogs.sapo.pt), onde um grupo de pessoas se dedicam a registar o que consideram “disparates” dos órgãos de informação.

Nem sempre o provedor tem atendido às reclamações de Miguel Carvalho, enviadas após divulgação no blogue, pois, em regra, prefere dar voz a queixas originais e não àquelas já colocadas no espaço público (a não ser que sejam incontornáveis no diagnóstico às questões editoriais do jornal). Entende, contudo, que iniciativas como a deste blogue, com cidadãos, individualmente ou em grupo, escrutinando a actividade dos jornalistas, constituem ainda a forma mais eficaz de regulação dos media, os quais nunca deixarão de estar atentos ao feedback que recolhem por parte da sociedade civil. Afinal de contas, garantida a liberdade de expressão, cada sociedade tem a informação que merece.

CAIXA:

Bota e perdigota
Há uma semana, o provedor recenseava algumas das últimas manifestações da “praga de Catual” nas páginas do PÚBLICO. Mas esta frequente falta de concordância entre sujeito e predicado não é a única situação em que, na escrita do jornal, a bota muitas vezes não dá com a perdigota. Outros casos comuns têm a ver com falta de correspondência no género ou na flexão de número. Exemplos recentes: “O temas negros e obscurantistas da sua poesia, muita dela enraizada em lendas sérvias, gerava estranheza” (23 de Julho, pág. 5); “A colagem ao discurso oficial e à propaganda do Governo continuam a render” (antetítulo de artigo de opinião, 17 de Julho, pág. 33); “A inflação e a alta de juros colocou ainda mais famílias em dificuldade” (entrada de artigo, 10 de Julho, pág. 4); “A qualidade dos produtos do mar foram uma surpresa para mim” (“Pública”, 22 de Junho, pág. 38); “A decisão por parte da Estónia de banir os símbolos do martelo e da foice e da cruz suástica foi descrito pela Rússia, na altura, como uma ‘blasfémia’” (18 de Junho, pág. 19); “Mais de metade ‘fica ansioso’ se não tiver o telemóvel” (título de notícia sobre um inquérito à juventude, 3 de Junho, pág. 10); “Os berros do speaker da Volta a Portugal em bicicleta não deixou ninguém dormir” (“Inimigo Público”, 15 de Agosto, pág. 2); “A vontade que o Presidente francês mostrou em acalmar os ânimos no conflito russo-georgiano são meritórios” (13 de Agosto, pág. 36); “As diferenças entre o que é dito e a realidade é ainda maior do que aquela que separa os homens das mulheres" (5 de Agosto, pág. 35); "O resultado das peritagens efectuadas ontem pela PJ ainda não são conhecidos" (8 de Julho, pág. 22); "O ex-investigador da PJ, cujo afastamento das funções de coordenador das investigações foram atribuídas pelos responsáveis da Judiciária a declarações prestadas” (5 de Julho, pág. 14). O leitor José Oliveira, que detectou as últimas cinco ocorrências, pergunta “se é isto que nos dão em troca dos oito euros semanais que damos, com esforço, pelo jornal”. Dão-nos muito mais (e o público também dá mais: 8,7 euros), mas, de qualquer modo, volta a recomendar-se mais atenção aos jornalistas e (quando existem) revisores.

Publicada em 24 de Agosto de 2008

NOTA: Não se publicará a crónica do provedor nas próximas três semanas.

Ouvindo os leitores

Alguns comentários do público, que podiam motivar reflexões com vista a melhorar o PÚBLICO

O provedor julga que se os responsáveis dos media prestassem maior atenção a algumas das críticas feitas pelo público muita coisa podia melhorar na forma como a informação é prestada e apreciada. Aqui se seleccionam observações pertinentes de leitores que o PÚBLICO faria bem em escutar.

J. Barbosa chama a atenção para o facto de, na edição de 2 de Agosto, um artigo sobre «três pontes no Douro» vir inserido na secção Local Porto (e só reproduzido na edição dessa cidade), ao passo que um outro sobre «carros na Baixa pombalina» aparece na edição nacional. E interroga o leitor: “Carros na Baixa pombalina não é uma questão eminentemente local? As pontes sobre o Douro são menos importantes para o País do que uma ideia (mais uma ideia megalómana...) para retirar carros da Baixa pombalina?”

É preciso esclarecer que o primeiro texto é de carácter noticioso, elaborado por um jornalista do PÚBLICO, enquanto o segundo é um artigo de opinião, da autoria de um especialista do tema focado. Mas o leitor toca uma corda muito sensível: no momento de escolher entre o âmbito regional e o âmbito nacional para a colocação de certas matérias, não haverá, por proximidade geográfica do centro de decisão, uma tendência para privilegiar a Grande Lisboa (e o Sul) em detrimento do Grande Porto (e o Norte)? Comungarão todos os leitores das mesmas afinidades face ao jornal, não se sentindo alguns discriminados em função da distância? A questão é importante na medida em que o PÚBLICO se pretende um diário de carácter e expansão nacionais.

João Sousa André alerta para uma permanente dor de cabeça da imprensa: como transliterar nomes originalmente escritos noutros alfabetos. “Por altura da morte de Aleksander Soljenitsine, reparei que ao longo de diversos meios de comunicação social se iam multiplicando as formas de escrita, no alfabeto latino, do nome do antigo escritor russo”, observa. “Desde a repetição da grafia anglo-saxónica (Solzhenitsyn) até uma grafia portuguesa que poderia ou não ter o ‘e’ no fim do nome [o PÚBLICO tem escrito ‘Alexandre Soljenitsin’]. Sendo o alfabeto russo cirílico e com uma base mais fonética do que o latino/português, fica a dúvida se não deveria haver uma forma mais uniformizada de escrever aqueles nomes”.

O russo nem será o caso mais complicado: “Uma questão semelhante é a que sucede quando se escreve o nome de Radovan Karadžić. A forma que utilizei é a correcta para escrever o nome, usando a versão latina do alfabeto servo-croata. Esta questão não é menor, uma vez que os alfabetos servo-croatas (tanto a versão latina como a cirílica) são eminentemente fonéticos, com cada símbolo a ter apenas uma correspondência fonética (...). Neste caso, o nome, a ser escrito de forma foneticamente mais próxima do original mas no alfabeto português, deveria surgir semelhante a ‘Radovan Karadjitch’. Como se vê, o som é completamente diferente [o PÚBLICO tem escrito ‘Radovan Karadzic’]. Da mesma forma que não me agrada ver os nomes portugueses a serem mudados no estrangeiro (o til em ‘Durão Barroso’ é frequentemente omitido, por exemplo), também gosto que os nomes estrangeiros sejam correctamente escritos. Apesar de isto ser frequentemente pacífico em muitos casos, pergunto se existe alguma convenção definida para os restantes. (...) Um nome deve ser pronunciado correctamente por quem lê uma notícia na televisão ou na rádio, mas também por quem a lê num jornal. E, caso se opte por não se transcrever o nome de forma fonética (causaria problemas com nomes mais simples, como os ango-saxónicos ou francófonos), o ideal seria utilizar a simbologia original para os escrever, sempre que possível. Claro que isto não seria o caso de alfabetos exclusivamente cirílicos, mas aí já temos os exemplos russos, que podem ser seguidos”.

Não existe em Portugal nenhuma convenção que os jornais sigam a este respeito (veja-se o caso de "Gorbachev", ou "Gorbatchev", ou "Gorbachov", ou "Gorbatchov"). Mas o provedor recomenda que, nas transliterações, o jornal consagre para cada nome a forma fonéticamente mais aproximada em português, e não siga a mera grafia usada na imprensa anglo-saxónica, que é o que mais se pratica (tal como antes se seguia a francófona).

No seguimento das recentes crónicas do provedor sobre a edição de imagens, Nuno Barreto faz alguns curiosos comentários acerca do actual modelo gráfico do PÚBLICO. “Sou daqueles que aprovaram genericamente as alterações introduzidas na última renovação gráfica que o jornal fez”, começa por esclarecer. Mas não deixa por isso de fazer “reparos”.

O primeiro é este: “O jornal é impresso com um tipo [de letra] demasiado pequeno. Nem todos os leitores serão jovens adultos com olhos de lince. Muitos usam óculos e outros já ultrapassaram a idade de máxima acuidade visual. Consegue-se ler, é certo, mas exige maior esforço visual e melhor iluminação, tanto mais que o jornal é impresso a cinzento – e não a preto – sobre um papel de cor pardacenta. Curioso é notar que a direcção reservou para o seu editorial o privilégio de um tipo maior, como que a premiar quem o queira ler. Mais ou menos na mesma altura em que o PÚBLICO renovou o seu grafismo, o Expresso também o fez, mas teve o bom senso de aumentar ligeiramente o tamanho dos seus tipos para facilitar a leitura e, portanto, a vida aos seus leitores”.

Segue-se o tema das fotos: “As fotografias não têm legendas que descrevam, situem, datem e nomeiam o que nelas se representa. Ao contrário do que se poderia esperar de um jornal objectivo, o PÚBLICO reproduz fotografias acompanhadas de frases que são uma espécie de subtítulos, epígrafes, lemas e reminders [chamadas]. Não se dá ao trabalho de referir a data aproximada, o local e o contexto. Tem que se ler o artigo para se fazer uma ideia do que se mostra (...). Habituei-me ao exemplo dos jornais ingleses, do Times Magazine, do antigo L’Express francês, e parece-me que eles têm a fórmula adequada. Podem fazer todos os comentários às imagens, mas nunca deixam de identificar o seu conteúdo, sem esquecer a data e o local, mesmo que sejam fotos de arquivo. (...) Ao fim e ao cabo, as fotos num jornal diário devem ser documentos de actualidade e não meramente elementos decorativos. (...) Ainda por cima, [as legendas] são colocadas a ‘morder’ o assunto, num caso muito recente a tocar na cara do fotografado. Sou totalmente contra esta moda de colocar a legenda dentro da fotografia. (...) Respeitem a legibilidade”.

Mais ainda: “As legendas das fotografias e muitos subtítulos espalhados pelo jornal são impressos em tons desbotados de vermelho ou laranja, diminuindo assim a clareza e legibilidade, que deviam ser valores acima de qualquer outro no projecto gráfico (...). Calculo que os propósitos do autor do grafismo do PÚBLICO fossem mais bem sucedidos se a impressão fosse sobre papel de maior qualidade (...). Mas não é”.

E, por último: “O jornal usa frequentemente grandes fotografias, a quatro ou cinco colunas (...). Costumam colocar essas fotos no centro de duas páginas abertas. A 3 de Agosto, era Rafael Nadal nas págs. 2/3. A 4, uma médica (ou uma enfermeira, ou uma auxiliar, enfim…) nas págs. 6/7; mais adiante, um notável do PS nas págs. 16/17. Será por desinteresse ou sadismo do grafista, mas, quase sempre, nestas grandes fotos a cara do retratado cai em cima da dobra das folhas e a cabeça aparece dividida (...). Algum respeito pela identidade do retratado deveria merecer outro tratamento”.

Problemas sem resposta única, que porém deveriam suscitar reflexão por parte do PÚBLICO.

CAIXA:

A praga

O leitor que acompanha esta crónica deverá ter lido já referência àquilo que o provedor designou como “a praga de Catual”, pelo que sem mais explicações passa-se à recolha de recentes contaminações no PÚBLICO: “Porter é um desses insiders que toda a vida escreveu sobre Hollywood” (“Ípsilon”, 15 de Agosto, pág. 7); “um dos dois homens que seguia na carrinha” (14 de Agosto, pág. 8); “um dos edifícios que ainda resiste” (P2, 14 de Agosto, pág. 8); “uma das pessoas que melhor conheceu a fadista” (P2, 13 de Agosto, pág. 5); “um dos arrumadores que trabalha há vários anos na Praça do Município” (“Inimigo Público”, 8 de Agosto, pág. 4); “uma das pessoas que visitou o seu apartamento” (P2, 4 de Agosto, pág. 5); “um dos poucos que ficou foi Lori Sell” (2 de Agosto, pág. 16); “Somos dos raros países europeus que não generalizou as vantagens da descentralização” (29 de Julho, pág. 36); “uma das medidas que tinha sido adoptada” (27 de Julho, pág. 1); “O meu pai foi um dos que pegou na bandeira” (P2, 27 de Julho, pág. 8); “uma das coisas que me faz desconfiar da democracia” (27 de Julho, pág. 12); “foi um dos 11 arguidos que abandonou as instalações judiciais” (19 de Julho, pág. 3); “uma das coisas que nos move” (destaque de artigo, P2, 18 de Julho, pág. 8); “uma das perguntas que ficou no ar” (23 de Junho, pág. 5); e “uma das situações que terá começado a levantar suspeitas às autoridades” (19 de Junho, pág. 9). A praga pode manifestar-se até mais do que um vez na mesma frase: “O Campeonato Europeu de Futebol viveu ontem um daqueles momentos que não passa pela cabeça de ninguém, um jogo impróprio para cardíacos, um daqueles momentos de futebol que deixa meio estádio num pranto e a outra metade com uma vontade incontrolável de saltar para a relva e celebrar com os seus heróis” (16 de Junho, pág. 8). E dela não estão livres os membros da direcção: “Foi um dos que diabolizou a União Europeia” (editorial de Paulo Ferreira, 22 de Junho); “É um dos criminosos que saiu com uma das penas mais leves” e “um dos generais que cumpriu as ordens do comandante supremo” (ambos os casos no editorial de José Manuel Fernandes de 23 de Julho).

Publicada em 17 de Agosto de 2008

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Sol mas não solar

Na última parte do (excelente) artigo sobre as recentes mortes ocorridas no K2
(página 4 do P2 de 5 de Agosto), Luís Francisco escreve: "...Um dia solarengo e calmo...". É este o equívoco que, frequentemente, ocorre nas páginas do PÚBLICO, à semelhança de um outro que, há bem pouco, o levou a citar Os Lusíadas.

A bem da língua portuguesa,

João Chambers~

NOTA: Solarengo - relativo ou pertencente a solar (casa ou herdade nobre); soalheiro - exposto ao sol; que tem sol; de sol.

Hiper-sensibilidade

Há leitores que revelam uma hiper-sensibilidade para com falhas ou diferenças de orientação, mas não se importam de chamar "triste personagem" [aqui] a alguém de que não gostam, sem que o provedor faça qualquer reparo a esse facto. Agora o leitor é que diz que fotografia é que deve ser publicada?

M. Emílio Carvalho

Déjà vu

Parece-me desadequado que na edição de 21 de Julho, em dois textos de dois colunistas, venha exactamente a mesma fotografia de Luís Filipe Menezes: na crónica de Frei Bento Domingues (pág. 38) e na de Vasco Pulido Valente (pág. 40)! São miudezas, mas...

Augusto Küttner de Magalhães

domingo, 10 de agosto de 2008

Imagem, texto e contexto

Há muito mais responsabilidade na escolha de uma fotografia para publicação do que por vezes julgam os jornalistas

O provedor regressa ao tema da fotografia.

“Pela primeira vez se dirige” M. Malaca ao provedor, apesar de já “ter ficado indignado com certas coisas publicadas” neste diário – só que a edição de 23 de Abril “ultrapassa tudo, e o [seu] sentimento é de nojo”. Quais as razões para tanta repulsa? “Quase metade da primeira página é preenchida com uma foto de uma triste personagem segurando um chapéu de chuva e ao lado direito uma janelinha na qual se chama a atenção para uma figura MAIOR da Cultura Universal e que deveria merecer mais respeito por parte do jornal, até pelos termos usados para noticiar o evento”. A “triste personagem” é Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do Futebol Clube do Porto, a entrar na véspera para o Tribunal de Gondomar, em mais um episódio da novela judicial que o envolveu, sob o título “Apito Dourado: Pinto da Costa e Carolina Salgado vão defrontar-se em tribunal”. A “figura maior da cultura universal” é o Nobel da Literatura José Saramago, numa imagem de arquivo ao lado do título “O escritor que subverteu a pontuação numa mega exposição em Lisboa”.

Já na anterior crónica o provedor abordara as orientações para escolha da foto maior de capa, mas vale a pena atender a uma explicação mais substanciada do director do PÚBLICO: “Só por excepção recorremos a fotos de arquivo, se bem que isso seja (...) mais fácil de escrever do que de concretizar se desejamos uma foto forte. As fotos devem ser do dia ou resultar de um trabalho publicado naquele dia. (...) A escolha das fotos de capa é uma das principais responsabilidades da direcção e da direcção de arte, podendo ocupar várias horas por dia”.

O princípio exposto por José Manuel Fernandes, aplicável à situação em análise, justifica-se num diário que dá primazia à actualidade. Ao contrário do rosto de Saramago, a foto de Pinto da Costa era do dia, com a vantagem de fornecer à primeira página uma solução gráficamente mais interessante e atractiva. Acresce que o jornal não está obrigado à ordenação das notícias segundo uma qualquer escala de relevo (sempre subjectiva) dos protagonistas. Estipula aliás o seu Estatuto Editorial que o “PÚBLICO estabelece as suas opções editoriais sem hierarquias prévias entre os diversos sectores de actividade, numa constante disponibilidade para o estímulo dos acontecimentos e situações que, quotidianamente, são noticiados e comentados”.

Problema mais sensível, ainda a ver com portuenses fotografados na capa, foi suscitado por Angelina Carvalho a propósito da reportagem “Tráfico de droga deslocalizou-se para o bairro social do Cerco”, publicada apenas na secção Local da edição Porto de 10 de Junho (com síntese na edição Lisboa mas sem as componentes questionadas).

Reclamou a leitora: “Na primeira página, no canto superior direito, aparece uma fotografia: em primeiro plano um jovem cigano e em segundo plano um senhor de boné e barba. Acontece que logo no início do texto se refere que entre os indivíduos que nunca saem do bairro há ‘um homem de barba e boné que vende prata’ (para preparar a heroína fumada). Por coincidência infeliz, a pessoa fotografada, deputado da Assembleia da Junta de Freguesia, membro de várias associações locais, com um trabalho comunitário reconhecido, esteve com a equipa de reportagem, a pedido desta, para estabelecer contactos (...). A sua fotografia foi tirada sem autorização, e, relacionada com o texto atrás referido, pode levar, para quem não o conhecer, a conotações pouco agradáveis. Dando de barato que foi um acaso, revela ainda assim pouco cuidado (...) e merece, da parte do jornal, um esclarecimento e pedido de desculpas”.

Tal pedido parece ter existido, mas de forma peculiar, de acordo com a explicação conjunta de Amílcar Correia, subdirector para a edição Porto, e Ana Cristina Pereira, autora da reportagem, defendendo apesar de tudo a opção do jornal: “Todas as pessoas fotografadas deram a sua autorização (...). Todas as fotografias foram tiradas durante o dia, pelo que nos pareceu evidente que nenhuma retrata o movimento nocturno de tráfico reportado no texto (...). O jornal foi informado de que uma das duas pessoas retratadas na fotografia (...) estava descontente. Achava que poderia haver alguma má interpretação (...). Decidiu-se telefonar às duas pessoas a pedir desculpa e republicar essa fotografia como ‘Foto da semana’, rubrica que sai ao sábado [só na edição Porto]. Na legenda torna-se a explicar que ‘de dia o Bairro do Cerco do Porto é quase pacato’. E afirma-se que nem esta nem as outras fotografias publicadas [na reportagem] representam o universo do tráfico de droga. Apanham momentos da vida do Cerco do Porto a meio da tarde. Há imagens dos rapazes que jogam à malha junto ao ringue, (...) de uma alcoólica que se passeia de garrafa na mão”.

Mas também acerca da foto da “alcoólica” protestou Angelina Carvalho: “[É] identificada com o seu próprio nome (Rosa) e [dela] se diz (...) que ‘a alcoólica Rosa passeia entre [os prédios]’. Não se trata de ‘Rosa, que é alcoólica’ mas da ‘alcoólica Rosa’. Ou seja, a sua identificação passou a ser, não o nome, mas a sua qualidade de alcoólica. A senhora em questão pode ter dado o consentimento para a sua fotografia (...) mas, como é evidente, dada a condição de alcoólica que a reportagem refere, as condições psíquicas, cognitivas e emocionais tornarão esse consentimento pouco fiável. Além disso, a utilização de alguém em estado de vulnerabilidade nada acrescenta ao conhecimento do que é tratado, revela crueldade para com aquela pessoa e significa que o jornal se sentiu protegido, (...) porque esse alguém não se pode defender, (...) não tem os meios, os instrumentos ou os dispositivos para o fazer. (...) Depois de se saber que a reportagem saiu, todo o bairro a lê e comenta, reforça-se a imagem de degradação daquela pessoa (...) e humilha-se ainda mais a família”.

Os jornalistas admitem neste caso o erro: “Não devíamos publicar rostos de pessoas embriagadas, como não devemos publicar rostos de pessoas que consumiram outras drogas. O fotógrafo pôs em linha sem pudor, talvez porque a senhora não só deu consentimento (...) como posou para a fotografia”. Defendem porém a menção à personagem: “Não parece que a referência à sua existência, no texto, seja ofensiva. (...) Toda a gente no Cerco conhece aquela senhora, sabe o seu nome, a sua história. Usamos apenas um nome próprio, prática comum na referência a pessoas que não queremos tornar identificável ao exterior”. (Mas é claro que uma foto – “escusada”, reconhecem os jornalistas – identifica mais uma pessoa perante a sociedade do que a publicação integral dos dados do seu bilhete de identidade).

Não ficam por aqui os problemas com fotos desta reportagem. Observa ainda Angelina Carvalho: “Porque conheço o bairro posso dizer que também a fotografia dos jovens legendada com ‘o clima de tensão tem vindo a agravar-se’ está incorrectamente referenciada. Basta olhar para essa fotografia para se perceber que neste grupo não há tensão. São jovens que têm fortes redes de sociabilidade e estavam a jogar quando aceitaram ser fotografados”.

Explicação dos jornalistas: “O trabalho engloba três textos: um sobre o movimento (nocturno) do tráfico de droga, um com opinião de especialistas acerca da transferência dos fluxos de tráfico (...) para o Cerco, outro com reacções dos moradores sobre o facto de o presidente da Câmara [Rui Rio] ter admitido a hipótese de ‘demolir um bloco se for aconselhável ao nível urbanístico’ (...). Todas as fotografias foram tiradas quando se estava a fazer a reportagem sobre a eventual demolição de algum bloco, e, de forma automática, as pessoas falavam sobre a tensão no bairro associada ao tráfico”.

Parecem razoáveis, aos olhos do provedor, as respostas e a admissão de faltas por parte dos responsáveis pela edição. Espera-se que alertem para pontos cruciais mas que os jornalistas tendem muitas vezes a menosprezar.

CAIXA:

Uma questão de sensibilidade

Duas reclamações recebidas em 20 de Maio no espaço de menos uma hora, ambas de endereços electrónicos da Universidade de Harvard, mostram que as imagens difundidas pelo PÚBLICO on-line afectam particularmente a sensibilidade de pelo menos um par de portugueses expatriados no Massachusetts (EUA). “Tenho vindo a notar que as fotos (...) estão a aumentar em agressividade”, escreveu Maria Sá. “A do braço de uma criança morta nos escombros do recente terramoto na China representa um desses exemplos. A que neste momento se encontra, do olhar de um zimbabueano em sofrimento, é, na minha opinião, tão chocante que não deveria invadir e ferir desta forma a sensibilidade de uma pessoa que vos tem como homepage. (...) Concordo que faz parte do trabalho de um jornalista dar a conhecer o drama humano, mas talvez seja possível criar uma página separada para fotos e/ou filmes deste nível emocional tão forte, para, pelo menos, preparar os leitores”. Ao que José Antão acrescentou: “Tenho vindo a notar (...) maior frequência na inclusão de fotos com conteúdos mais duros e susceptíveis de chocar (...). No ano passado, aquando da explosão numa refinaria na Nigéria, o PÚBLICO – sensatamente – questionou os leitores acerca da inclusão de uma imagem do acidente na primeira página da edição impressa. (...) Manifestei-me contra, visto ser muito mais violência gratuita do que jornalismo. O mesmo se pode aplicar a estes casos”. Segue-se idêntica sugestão, com remissão, a título de exemplo, para a página da BBC News.

As explicações do editor do PUBLICO.PT Sérgio B. Gomes: “Não existe (...) nenhuma mudança editorial ou intenção deliberada no sentido de mostrar na homepage fotografias ‘chocantes’, ‘agressivas’ ou ‘duras’. Os dois principais critérios que norteiam a selecção de fotografias para a secção ‘Foto do dia’ são a importância noticiosa (...) e a qualidade estética e técnica (...). O PÚBLICO on-line pondera sempre que está perante uma fotografia que dá apenas o horror pelo horror (...). Mas não tem pudor de publicar uma fotografia com inegável importância noticiosa só porque o seu conteúdo pode chocar alguns leitores. Haverá sempre imagens que chocam mais uns leitores do que outros. A realidade em que vivemos é muitas vezes chocante. O PÚBLICO on-line luta por não ser o espelho de um mundo asséptico, expurgado de imagens que mostram acontecimentos na sua faceta mais imediata e crua. A sugestão dos leitores que aponta para uma personalização da homepage de modo a atirar para outro local da página as imagens mais susceptíveis não nos parece plausível. Isso pressuporia criar uma página com diferentes ‘níveis de choque’”.

Em todo o caso, apenas por uma questão de bom senso e bom gosto, julga o provedor que seria de ponderar o processo seguido pela BBC na sua página noticiosa.

Publicada em 10 de Agosto de 2008

DOCUMENTAÇÃO COMPLEMENTAR

Carta de leitor sobre fotos de primeira página

Desde que o PÚBLICO nasceu e que o leio já me aconteceu ter ficado indignado com certas coisas publicadas no jornal, porém hoje ultrapassa tudo e o meu sentimento é de nojo. Quase metade da primeira página é preenchida com uma foto de uma triste personagem segurando um chapéu de chuva e ao lado direito uma janelinha na qual se chama a atenção para uma figura MAIOR da Cultura Universal e que deveria merecer mais respeito por parte do jornal, até pelos termos usados para noticiar o evento.

Depois daquele episódio bastante lamentável do Sr. António Barreto com a pseudo carta do Almirante Rosa Coutinho, não há dúvida de que o PÚBLICO nos está cada vez mais a tomar-nos por tolos.

Mas lendo o editorial do Director no mesmo número talvez se perceba melhor por que é que estas coisas acontecem.

É esta a indignação de um leitor que ao longo de muitos anos de leitura do PÚBLICO pela primeira vez se dirige ao Sr. Provedor e que nem sequer pretende ter razão, mas sinto-me chocado por uma primeira página que não vi imitada em mais nenhuma publicação.

M. Malaca

Explicações do director sobre os critérios de selecção de fotos para capa

De uma forma geral, prefere-se uma foto do dia boa, seja na primeira página, seja em qualquer das páginas mais informativas do jornal. Mas como há assuntos de que não há foto do dia, ou a foto do dia não é boa, recorre-se muitas vezes a fotos que queremos que sejam mais do que ilustrativas, sejam fotos que sustentem as páginas e tenham impacto gráfico quando são paginadas com grande dimensão. Há mesmo soluções (como no plano sobre os Jogos Olímpicos da edição de sexta-feira, 1 de Agosto) em que a fotografia mais importante das duas páginas é uma foto-legenda forte que não tem a ver directamente com o tema concreto do artigo de abertura.

Na primeira página, só por excepção recorremos a fotos de arquivo, se bem que isso seja, sobretudo nalguns períodos do ano, mais fácil de escrever do que de concretizar, se desejamos uma foto forte. As fotos devem ser do dia ou resultar de um trabalho publicado naquele dia. Por exemplo: na última semana, só nos dias 29 de Julho e 2 de Agosto recorremos a fotos de arquivo. Nos outros cinco dias, em quatro eram fotos do dia e a 28 de Julho uma foto realizada especialmente para um trabalhado, editado nesse dia, sobre a comunidade cigana.

A escolha das fotos de capa é uma das principais responsabilidades da direcção e da direcção de arte, podendo ocupar várias horas por dia e implicar encomendas especiais (exemplo: a fotografia de dia 1 de Agosto, feita num restaurante em que se estava a assistir à comunicação do Presidente).

José Manuel Fernandes

Carta de uma leitora sobre as fotos da reportagem acerca do Bairro do Cerco (Edição Porto)

O silêncio dos indefesos

Dirijo-me ao Provedor do Leitor por causa da reportagem do vosso jornal de 10 de Junho de 2008 “Tráfico de droga deslocalizou-se para o Bairro social do Cerco”.

Esta reportagem apresenta algumas questões que me parece que devem ser objecto de atenção por parte da direcção desse jornal e que me parece que resultam não só do texto mas também da forma como este interage com as fotos e legendas apresentadas.

1 – Aparece uma fotografia de uma senhora identificada com o seu próprio nome (Rosa) e de quem se diz, no texto ao lado, que “a alcoólica Rosa passeia entre eles [prédios]”. Não se trata de “Rosa, que é alcoólica…” mas da “alcoólica Rosa…”. Ou seja, a sua identificação passou a ser, não o nome, mas a sua qualidade de alcoólica.
A senhora em questão pode ter dado o seu consentimento para a sua fotografia ser utilizada mas, como é evidente, dada a condição de alcoólica que a reportagem refere, as condições psíquicas, cognitivas e emocionais tornarão esse consentimento pouco fiável. Além disso, a utilização de alguém em estado de vulnerabilidade nada acrescenta ao conhecimento do que é tratado, revela crueldade para com aquela pessoa e significa que o jornal se sentiu protegido face à exposição pública de alguém. Sente-se protegido porque esse alguém não se pode defender. É alguém que não tem os meios, os instrumentos ou os dispositivos para o fazer. Dirão que “aquilo em nada alterou a vida daquela pobre mulher”. Não tenho tanta certeza disso, uma vez que, depois de se saber que a reportagem saiu, todo o bairro a lê e comenta, reforça-se a imagem de degradação daquela pessoa que se expôs publicamente e humilha-se ainda mais a família.

Aquela mulher está indefesa perante a comunicação social, mesmo quando os mais elementares direitos estão em causa; o seu silêncio e passividade são garantidos quer pela identificação do grupo social de pertença quer pela sua condição de dependente, e o jornal sabe que está perante alguém indefeso que não representa qualquer perigo.

2 – Porque conheço o bairro, posso dizer que também a fotografia dos jovens legendada com “o clima de tensão tem vindo a agravar-se no bairro do Cerco” está incorrectamente referenciada. Aliás, basta olhar para essa fotografia para se perceber que neste grupo não há tensão. Eles são jovens que têm fortes redes de sociabilidade e estavam a jogar quando aceitaram ser fotografados. Fizeram-no também sem saber que iriam ser utilizados para exemplificar uma “forte tensão”. Também eles oferecem a garantia do seu silêncio pelo desconhecimento e incapacidade de defesa no terreno da comunicação social.

3 – Na primeira página do jornal, no canto superior direito, aparece uma fotografia: em primeiro plano um jovem cigano e em segundo plano um senhor de boné e barba.
Acontece que logo no início do texto se refere que entre os indivíduos que nunca saem do bairro há “um homem de barba e boné que vende prata” (para preparar a heroína fumada).

Por coincidência infeliz a pessoa fotografada, deputado da Assembleia da Junta de Freguesia, membro de várias associações locais, com um trabalho comunitário reconhecido, esteve com a equipa de reportagem, a pedido desta, para estabelecer contactos e apresentar as pessoas com quem falaram. A sua fotografia foi tirada sem autorização e, relacionada com o texto atrás referido, pode levar, para quem não o conhecer, a conotações pouco agradáveis. Dando de barato que foi um acaso, revela ainda assim pouco cuidado na escolha dos materiais e merece, da parte do jornal, um esclarecimento e pedido de desculpas.

Não deixo de reconhecer que a abordagem à problemática da deslocalização de problemas de um bairro para outro e das contradições e tensões que daí decorrem está efectuada com sensibilidade e perspicácia.

Angelina Carvalho

Explicações do subdirector para a Edição Porto e da autora da reportagem

O trabalho engloba três textos: um sobre o movimento (nocturno) do tráfico de droga, um com opinião de especialistas acerca da transferência dos fluxos de tráfico do Bairro São João de Deus para o Cerco, outro com reacções dos moradores sobre o facto de o presidente da Câmara [Rui Rio] ter admitido a hipótese de “demolir um bloco se for aconselhável ao nível urbanístico para criar um jardim ou abrir uma rua”.

Todas as pessoas fotografadas deram a sua autorização para serem fotografadas. Todas as fotografias foram tiradas durante o dia, pelo que nos pareceu evidente que nenhuma retrata o movimento nocturno de tráfico reportado no texto principal. Todas as fotografias foram tiradas quando se estava a fazer a reportagem sobre a eventual demolição de algum bloco e, de forma automática, as pessoas falavam sobre a tensão no bairro associada ao tráfico.

O jornal foi informado de que uma das duas pessoas retratadas na fotografia publicada no canto superior direito da primeira página estava descontente. Achava que poderia haver alguma má interpretação, isto é, que poderia ser conotada com o tráfico.

O assunto foi debatido e concluiu-se que fazer um “O PÚBLICO errou” não resolveria o problema. Decidiu-se telefonar às duas pessoas a pedir desculpa e republicar essa fotografia como “Foto da semana”, uma rubrica que sai ao sábado [só na Edição Porto]]. Na legenda torna-se a explicar que “de dia o Bairro do Cerco do Porto é quase pacato”. E afirma-se que nem esta nem as outras fotografias publicadas na [reportagem] representam o universo do tráfico de droga. Apanham momentos da vida do Cerco do Porto a meio da tarde. Há imagens dos rapazes que jogam à malha junto ao ringue, do presidente do clube de pesca que se cruza com o rapaz que mora com a esposa numa carrinha, de uma alcoólica que se passeia de garrafa na mão.

Sobre o uso de uma fotografia da senhora Rosa: esta fotografia não devia ter saído. Não devíamos publicar rostos de pessoas embriagadas, como não devemos publicar rostos de pessoas que consumiram outras drogas.

O fotógrafo pôs em linha sem pudor, talvez porque a senhora não só deu consentimento para ser fotografada como posou para a fotografia. A leitora considera que a referência a esta pessoa não acrescenta nada ao conhecimento do que é tratado. Não parece que a referência à sua existência, no texto, seja ofensiva. Ela faz parte da imagem do Cerco. Há roupa a secar nas paredes dos prédios, bandeiras de Portugal a esvoaçar, aquela senhora a passear de garrafa na mão, grávidas e mães adolescentes entretidas num carro preto... Toda a gente no Cerco conhece aquela senhora, sabe o seu nome, a sua história. Usamos apenas um nome próprio, prática comum na referência a pessoas que não queremos tornar identificável ao exterior. A foto sim, era escusada.

Amílcar Correia/Ana Cristina Pereira

Protestos de dois leitores sobre as fotografias do PUBLICO.PT

Sou assinante do PÚBLICO há vários anos (ultimamente so da versão on-line porque resido fora do Pais) e é com grande pena que escrevo estas linhas. Tenho vindo a notar que as fotos (quase sempre de grande qualidade, por sinal) seleccionadas para a página digital do PÚBLICO estão a aumentar em agressividade. A do braço de uma crianca morta nos escombros do recente terramoto na China representa um desses exemplos. A que neste momento se encontra, do olhar de um zimbabueano em sofrimento, é, na minha opinião, tao chocante que não deveria invadir e ferir desta forma a sensibilidade de uma pessoa que vos tem como homepage. Não creio que seja uma pessoa particularmente sensível, e concordo que faz parte do trabalho de um jornalista dar a conhecer o drama humano, mas talvez seja possível criar uma página separada para fotos e/ou filmes deste nível emocional tão forte para, pelo menos, preparar os leitores para o que se segue.

Maria Sá

Tenho vindo a notar nos últimos tempos uma maior frequência na inclusão de fotos com conteúdos mais duros e susceptíveis de chocar algumas (ou muitas) pessoas no vosso site.

Acredito que tais materiais devem estar acessíveis para toda a gente, e é bastante importante que essa forma de jornalismo se mantenha no site. No entanto, parece-me desnecessário e inapropriado que fotos desta natureza sejam incluídas em grande formato na vossa página inicial, onde qualquer pessoa que procura apenas notícias é obrigatoriamente confrontada com estas visões.

No ano passado, aquando da explosão numa refinaria na Nigéria, o PÚBLICO - sensatamente - questionou os leitores acerca da inclusão de uma imagem deste acidente na primeira página da edição impressa. Eu vi essa imagem e, como tantas outras pessoas, manifestei-me contra, visto ser muito mais violência gratuita do que jornalismo. O mesmo se pode aplicar a estes casos que se vêm verificando com as fotos do site.

Sugiro que haja um nivel de protecção, que permita aos leitores aceder a estes documentos seguindo um link, em vez de aparecerem automaticamente quando se abre a página, ou que usem um sistema de personalização para o site, em que os leitores possam programar as suas preferências e incluir apenas os materiais que mais lhes interessem (vide a pagina da BBC, por exemplo).

José Antão

Resposta de um editor do PUBLICO.PT

Não existe no PÚBLICO on-line nenhuma mudança editorial ou intenção deliberada no sentido de mostrar na homepage fotografias “chocantes”, “agressivas” ou “duras”. Os dois principais critérios que norteiam a selecção de fotografias para a secção “Foto do dia” são a importância noticiosa de um assunto e a qualidade estética e técnica das imagens. O PÚBLICO on-line pondera sempre que está perante uma fotografia que dá apenas o horror pelo horror e que não acrescenta nada à notícia. Mas não tem pudor de publicar uma fotografia com inegável importância noticiosa só porque o seu conteúdo pode chocar alguns leitores. Haverá sempre imagens que chocam mais uns leitores do que outros. A realidade em que vivemos é muitas vezes chocante. O PÚBLICO on-line luta por não ser o espelho de um mundo asséptico, expurgado de imagens que mostram acontecimentos na sua faceta mais imediata e crua. A sugestão dos leitores que aponta para uma personalização da homepage de modo a atirar para outro local da página as imagens mais susceptíveis não nos parece plausível. Isso pressuporia criar uma página com diferentes “níveis de choque”.

Sérgio B. Gomes

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Mil palavras pela fotografia

É duvidoso que o PÚBLICO resolva os seus problemas com imagens sem uma linha editorial clara

Após sete meses dedicados ao texto do PÚBLICO, é tempo de o provedor abordar outra componente do processo informativo do jornal: a fotografia. Têm-se acumulado neste capítulo situações que merecem reflexão. Se, como soe dizer-se, uma fotografia vale por mil palavras, aqui estão, nesta crónica, mil palavras dedicadas à fotografia.

“O PÚBLICO – estabelece o seu Livro de Estilo – atribui à fotografia uma importância fundamental na definição do estilo informativo e gráfico do jornal”. Mas será que se verifica a “relação dinâmica permanente e intensa” entre fotografia e texto preconizada no mesmo documento? Se bem que, por opção gráfica, o PÚBLICO edite fotos em grandes dimensões, é preciso saber se elas adiantam ao leitor novos elementos informativos ou se, muitas vezes, não passam dos “tapa-buracos” desaconselhados pelo Livro de Estilo. Vejamos exemplos.

O único artigo da pág. 10 de 28 de Maio, “MNE passa a usar endereços de e-mail em inglês e diplomatas não estão contentes”, é ilustrado por uma foto ocupando meia página – uma vista do andar superior e beiral de um edifício –, assim legendada: “O recurso ao inglês contraria a afirmação da língua portuguesa no mundo, dizem alguns diplomatas”. Não não se relaciona legenda e imagem e os leitores não são informados de que esta é um pormenor do Palácio das Necessidades, sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que a esmagadora maioria do público não identifica.

A crónica de Francisco Teixeira da Mota de 15 de Março é acompanhada da foto de um indivíduo não identificado (trata-se de um dos dois protagonistas do caso abordado no texto, mas, não sendo figuras públicas em Portugal, o leitor não adivinha).
Uma notícia sobre uma gigantesca explosão natural ocorrida há um século na floresta siberiana, na Rússia, publicada na pág. 20 de 30 de Junho, é ilustrada, sem legenda, pela foto de uma cratera no Arizona, EUA: os especialistas podem perceber a correlação, mas falta explicá-la ao grande público.

O leitor José Manuel de Carvalho Oliveira reclamou há mais de um mês ao provedor acerca do tratamento dado pelo PÚBLICO à imagem da ministra da Saúde, Ana Jorge: “Não pude deixar de notar (...) que ela aparece repetidamente com a mesma fotografia, olhando de soslaio (...). Ora, o olhar de soslaio, que todos nós fazemos de vez em quando, pode dar a ideia de pessoa menos franca, o que é algo desagradável.” O provedor tem vindo a confirmar a constatação: ainda na passada quarta-feira essa foto surgia duas vezes, nas págs. 9 e 48 (o que aliás contraria as regras básicas de produção de um jornal).

Em todas estas ocorrências a direcção do PÚBLICO, confrontada pelo provedor, reconhece erros de edição. No caso do protagonista da crónica judiciária, “devia haver, ao longo do texto, na primeira vez em que fosse citado, entre parêntesis recto, algo como ‘ver foto’ ou ‘na foto’”, esclarece o director. Quanto à explosão siberiana, atribuída hipoteticamente à queda de um asteróide, José Manuel Fernandes (J.M.F.) escreve: “Apesar de a foto ser pequena e também representar o que se julga ser o impacto de um meteorito de grandes dimensões, isso tinha de estar explicado no texto. Erro do PÚBLICO.” Sobre a ministra, explica J.M.F., desmentindo qualquer intenção depreciativa por parte do jornal: “O leitor tem razão, mas isso passa-se sobretudo com as fotos que habitualmente designamos como ‘micros’, grandes planos a meia coluna (...). No arquivo do jornal a que os gráficos têm acesso directo, há apenas três caras de Ana Jorge em boas condições de reprodução (...). Essa é a melhor, mas é pouco. Esta última semana, em que houve mais noticiário de saúde, foi pedido à editoria de fotografia que disponibilizasse mais fotos (...)”. Quanto à imagem das Necessidades, “já depois desse exemplo, e de outros, foi feita (...) uma norma [interna] sobre princípios de legendagem que obriga a identificar as fotografias”.

Todas estas situações são de “tapa-buracos”, recurso aliás inevitável num jornal. Ele não só existe no PÚBLICO como tem carecido de regras para a sua edição. Ou então elas não são cumpridas, como esta do Livro de Estilo: “Sempre que sejam tiradas fotografias em momento diferente daquele a que se refere o texto, deve ser utilizada a palavra ‘Arquivo’ para que esse facto seja claro aos olhos dos leitores”.
Mesmo na primeira página, em princípio vocacionada para uma imagem “forte” relativa a uma notícia da véspera, prefere-se por vezes o “tapa-buracos” (em regra rostos ou fachadas), embora esse expediente seja minoritário (segundo a estatística do provedor, num quarto das edições de Maio e Junho últimos e em 35 por cento das de Julho).

Estas questões foram objecto recente das preocupações do jornal, já que, informa J.M.F., se criou em 25 de Julho normas internas “destinadas a melhorar a qualidade das imagens editadas”, remetendo rostos e fachadas para a dimensão “micro”. Mas o problema comum aos casos suscitados, que permanece, é que o PÚBLICO não possui uma linha editorial coerente e uniformizada sobre escolha e tratamento de fotos. É o próprio director quem o admite: “O trabalho de selecção de imagens tende a ser feito em conjunto pelo editor da secção e pelo editor de fotografia (...). Mas há muitas fotografias encomendadas directamente pelos editores ou conseguidas pelos jornalistas (...). Ou seja, há muitos caminhos diferentes para que a foto chegue à página”.

Como entende o jornal afinar o modelo? “Para melhorar a qualidade das imagens seleccionadas – prossegue J.M.F. – , temos vindo a criar processos que permitam que mais pessoas tenham acesso ao que está disponível e ao que está a ser escolhido (...), que os pedidos de serviços ou de imagem de arquivo sejam mais exactos e rigorosos e que o circuito de tratamento e colocação em página seja simultaneamente rápido e rigoroso”.

É porém duvidoso que o caso se resolva apenas com mais gente a mexer na massa, sem política editorial clara quanto aos critérios a adoptar, até porque a questão não tem apenas a ver com a “qualidade” das imagens.

A verdade é que a fotografia vale muito mais do que mil palavras, pelo que o provedor tenciona regressar ao tema.

CAIXA:

Quem é o dono das imagens?

O director-geral de Arquivos, Silvestre Lacerda, protestou junto do provedor contra a forma de edição e a “insuficiência ou ausência de créditos” de três fotos fornecidas pelo Arquivo Nacional da Torre do Tombo (AN/TT) para integrar um artigo sobre Moses Amzalak, antigo dirigente da comunidade judaica portuguesa, publicado nas págs. 8/9 do P2 de 14 de Março.

Silvestre Lacerda não só fazia considerações genéricas sobre a edição de imagens pelo jornal (“tem-se verificado nos últimos tempos que os documentos solicitados pelo PÚBLICO, não só textuais como fotográficos, carecem, na sua publicação, da menção correcta, quando existe, aos créditos necessários à obrigatória identificação da proveniência dos mesmos”) como reclamava, quanto ao caso em apreço: “Para além de as fotografias estarem unicamente mencionadas com a designação ‘Torre do Tombo’ [na realidade, o crédito, aposto apenas junto de uma delas, dizia “AN/TT”], encontram-se ‘cortadas, por iniciativa do jornal, com uma legenda. As imagens fotográficas constituem também documentos que não podem ser alterados. Neste caso concreto é particularmente chocante o desrespeito pelo trabalho do fotógrafo, ao ‘enxertar’ as legendas no meio das imagens”.

Numa resposta conjunta com Lucinda Canelas, editora do P2, José Manuel Fernandes esclarece que os créditos “foram os acordados [pelo AN/TT] com a autora do texto, Maria José Oliveira” e que é linha do jornal não repeti-los no mesmo artigo: “Quando o crédito é único (seja um fotógrafo ou uma instituição) só o escrevemos uma vez, partindo do princípio de que é perceptível para o leitor que todas as fotos têm o mesmo autor ou a mesma origem. Nunca esta prática suscitou dúvidas ou reclamações”. (Para estes casos, o provedor recomenda, seguindo um normativo habitual, que se indique entre parêntesis o número de imagens abrangidas pelo mesmo crédito).

Quanto à “intromissão” das legendas, consideram os reponsáveis do PÚBLICO: “Compreendemos o desconforto de Silvestre Lacerda – ele vê a fotografia como documento integral –, mas trata-se de uma opção que deriva do grafismo do jornal. Temos sempre a preocupação de que a opção de colocar as legendas numa zona neutra das fotografias não as comprometa enquanto documentos, não cortando nada que consideremos significativo nem as desequilibrando do ponto de vista estético. (...) Não nos foi dada qualquer indicação por Silvestre Lacerda de que devíamos respeitar a integralidade das imagens como, por absurdo, numa exposição. Num jornal as imagens devem formar um conjunto coerente e agradável com o texto e os restantes elementos gráficos, mas só em casos excepcionais são tratadas como obras de arte singulares que não podem, por exemplo, ser reenquadradas, servir de base a uma infografia ou a um recorte (...)”.

Apesar de perceber as preocupações subjacentes à reacção de Silvestre Lacerda, entende o provedor que o AN/TT não é proprietário (muito menos autor) dos espólios fotográficos à sua guarda, que são património nacional (ou seja, pertencem a todos nós). As referidas fotos (de autor aliás anónimo – um fotojornalista) não foram criadas com intenção artística – em cujo âmbito poderiam ser tidas em conta as objecções de Silvestre Lacerda –, mas sim como reportagem de imprensa, isto é, sujeitas, como sempre aconteceu (e acontecerá), desde que os jornais imprimiram as primeiras imagens, a processos de edição jornalística. O mesmo sucede com os documentos escritos depositados na AN/TT, de onde os investigadores apenas retiram passagens que correspondem aos objectivos do seu trabalho. Obrigar à sua publicação integral seria uma posição abusiva e, no caso das fotografias, uma limitação da liberdade de escolha editorial e da criatividade gráfica dos órgãos de informação.

Publicada em 3 de Agosto de 2008

DOCUMENTAÇÃO COMPLEMENTAR

Carta de um leitor

Já tenho pensado várias vezes em escrever-lhe devido à repetição sistemática da fotografia da actual ministra da Saúde no PÚBLICO. Não tenho nada contra nem a favor da senhora, mas não pude deixar de notar, como leitor diário do jornal, que ela aparece repetidamente com a mesma fotografia, olhando de soslaio, como se pode ver mais uma vez no topo da página 11 do caderno principal de hoje, 21 de Junho. Ora, o olhar de soslaio, que todos nós fazemos de vez em quando, pode dar a ideia de pessoa menos franca, o que é algo desagradável. Como se sabe, a preferência das pessoas vai para o olhar frontal. O olhar de lado, pelo contrário, prenuncia uma pessoa de segundas intenções, que ataca traiçoeiramente – como os bispos no jogo de xadrez (e por alguma razão alguém escolheu os bispos para atacarem dessa forma).

Faço este reparo na esperança de que o jornal passe pelo menos a alternar esta foto da ministra com uma outra em que ela apareça mais descontraída e confiante. Não nos esqueçamos, afinal, do clássico conceito de que uma fotografia vale mil palavras. Se repetida ad nauseam como até aqui, passará mesmo possivelmente a valer algo mais.

José Manuel de Carvalho Oliveira

Carta do director-geral dos Arquivos

Tem-se verificado nos últimos tempos que os documentos solicitados pelo PÚBLICO, não só textuais como fotográficos, carecem, na sua publicação, da menção correcta, quando existe, aos créditos necessários à obrigatória identificação da proveniência dos mesmos. A última situação ocorreu no número de 14 de Março, com a publicação de um artigo dedicado a Moses Amzalak. Para além de as fotografias estarem unicamente mencionadas com a designação "Torre do Tombo", encontram-se "cortadas", por iniciativa do jornal, com uma legenda.

As imagens fotográficas constituem também documentos que não podem ser alterados. Neste caso concreto é particularmente chocante o desrespeito pelo trabalho do fotógrafo, ao "enxertar" as legendas no meio das imagens. O respeito pelo trabalho destes profissionais exige que as imagens fornecidas não sejam alteradas por duvisosos critérios, que nada têm a ver com o rigor jornalístico.

De forma a que estas situações não voltem a ocorrer, privando os cidadãos da correcta identificação dos documentos, aqui se regista o facto do provedor dos leitores do referido jornal.

Silvestre Lacerda

Explicações do director do PÚBLICO


Antes do mais, um esclarecimento: a edição de fotografia do jornal não é um trabalho centralizado e dependente apenas de um editor, ou de uma equipa de editores.

O trabalho de selecção de imagens tende a ser feito em conjunto pelo editor da secção e pelo editor de fotografia ou por quem o substitui, sobretudo para as fotografias dos fotógrafos da casa e vindas das agências. Mas há muitas fotografias que são encomendadas directamente pelos editores ou conseguidas pelos jornalistas (quando são imagens antigas, ou reproduzidas a partir de livros, de colecções privadas, ou encontradas na internet). No on-line e nos suplementos a participação dos editores de fotografia nas escolhas ainda é mais distante. Ou seja, há muitos caminhos diferentes para que a foto chegue até à página. E o número de imagens processadas diariamente no jornal aproxima-se, entre os diferentes suportes, das 250 aos dias de semana e das 150 ao fim-de-semana.

Para melhorar a qualidade das imagens seleccionadas, temos vindo a criar processos que permitam que mais pessoas tenham acesso ao que está disponível e ao que está a ser escolhido (o que significa que os editores podem ver as fotografias que chegaram das agências e fazerem buscas directas no arquivo), que os pedidos serviços ou de imagem de arquivo sejam mais exactos e rigorosos e que o circuito de tratamento e colocação em página seja simultaneamente rápido e rigoroso.

Apenas para dar uma ideia da preocupação da direcção com a qualidade das fotografias, reproduzo a seguir um conjunto de instruções colocadas no dia 25 de Julho na intranet da redacção e destinadas a melhorar a qualidade das imagens editadas:

"Para pedir melhores fotos:
Há as fotos do dia, incontornáveis, o Obama em Berlim, o Chávez com o Sócrates ou o jogo de futebol. Mas há muitas fotos, todos os dias, que não são do dia. Nessas, o ideal é pedir uma foto sobre o tema e pôr a cara do protagonista para 'micro'. Uma foto não tem que ser a ilustração da notícia. Não queremos uma fachada de uma universidade para uma noticia sobre universidades, nem uma foto da fachada da Câmara da Moita porque a noticia é sobre a Câmara da Moita. A notícia da Câmara da Moita é sobre o quê? Sobre se o TGV vai ou não passar lá? Então a foto pode ser um comboio. É sobre terem pedido dinheiro para pagar dívidas? E que dividas são? Às empresas que limpam os jardins, aos que pintam as passadeiras? Então a foto pode ser um jardim ou uma passadeira. A história é sobre a Sonangol, mas é sobre quê? O tema é a banca ou petróleo. E a foto deve ser uma das duas. Não o presidente Santos Ferreira a três colunas a posar ao lado do logo do Millenium. A cara dele é uma 'micro'. A regra: a cara dos protagonistas da noticia é a 'micro' e a foto grande é o tema. É claro que muda se houver um belíssimo retrato dos protagonista.

Passando agora ao que consegui apurar sobre os casos concretos que suscitaram reclamações:

[Torre do Tombo]:

No essencial, uma das editoras do P2, a Lucinda Canelas, esclarece bem o que se passou. Passo a reproduzir, com ligeiros esclarecimentos adiccionais:

A) Os créditos que colocámos numa das fotos (Fotos: AN/TT) foram os acordados com a autora do artigo, a Maria José Oliveira (são simplesmente as iniciais de Arquivos Nacionais/ Torre do Tombo). Em conversa telefónica com Silvestre Lacerda – que ligou à Maria José mal saiu o artigo, sendo ela a aconselhá-lo a escrever ao provedor, caso se sentisse incomodado com a situação –, a Maria José percebeu que ele acha que o crédito está correcto, mas que preferia que tivesse sido colocado em cada uma das fotografias. Ora, essa não é a nossa política. Quando o crédito é único (seja um fotógrafo ou uma instituição) só o escrevemos uma vez, partindo do princípio de que é perceptível para o leitor que todas as fotos têm o mesmo autor ou a mesma origem. Nunca esta prática suscitou dúvidas ou reclamações.

B) Quanto à legenda sobre as fotos, compreendemos o desconforto de Silvestre Lacerda – ele vê a fotografia como um documento integral –, mas trata-se de uma opção que deriva do grafismo do jornal. Temos sempre a preocupação de que a opção de colocar as legendas numa zona neutra das fotografias não as comprometa enquanto documentos, não cortando nada que consideremos significativo nem as desequilibrando do ponto de vista estético. Além disso, naquele caso concreto, uma das legendas tem uma informação forçosamente tão detalhada que não caberia num formato mais tradicional de legenda por baixo da foto. O formato das legendas no P2 é conhecido dos leitores e não nos foi dada qualquer indicação por Silvestre Lacerda de que devíamos respeitar a integralidade das imagens, como, por absurdo, numa exposição.

C) Num jornal as imagens devem formar um conjunto coerente e agradável com o texto e os restantes elementos gráficos, mas só em casos excepcionais são tratadas como obras de arte singulares que não podem, por exemplo, ser reenquadradas, servir de base a uma infografia ou a um recorte. Há um respeito pela imagem e procura-se que esta seja valorizada, mas prevalecem as regras gráficas e jornalísticas, naturalmente distintas das que se aplicam, por exemplo, na montagem de uma exposição. No caso concreto, a solução encontrada pareceu-nos a melhor, sendo que não tínhamos conhecimento das preocupações de Silvestre Lacerda. Caso isso tivesse sucedido, poderíamos, eventualmente com a sua colaboração mais próxima, encontrar outra solução.

[Ministra da Saúde]:

O leitor tem razão, mas isso passa-se sobretudo com as fotos que habitualmente designamos como “micros”, grandes planos a meia coluna com um pequeno destaque ao lado. No arquivo do jornal a que os gráficos têm acesso directo há apenas três caras de Ana Jorge em boas condições de reprodução com ela sozinha. Essa é a melhor, mas é pouco. Esta última semana, em que houve mais noticiário de saúde, foi pedido à editoria de fotografia que disponibilizasse mais fotos, mesmo que isso implicasse realizar serviços apenas para fazer fotos para o arquivo.

[Cratera]

Apesar de a foto ser pequena e também representar o que se julga ser o impacto de um meteorito de grandes dimensões, isso tinha de estar explicado no texto. Erro do PÚBLICO.

[Crónica judiciária]

A queixa tem fundamento parcial. A cara é de Serge July, antigo director do Libération, citado explicitamente no artigo. Mas devia haver, ao longo do texto, na primeira vez em que fosse citado, entre parêntesis recto, algo como “ver foto” ou “na foto”. Não houve o cuidado de o fazer na edição da página, mas julgo que lendo o artigo percebe-se quem é o “homem na crónica”.

[Palácio das Necessidades]

A queixa tem fundamento. Já depois desse exemplo, e de outros, foi feita para constar da intranet da redacção uma norma sobre princípios de legendagem que obriga a identificar as fotografias.

[Fotos de primeira página]

Parte da resposta está dada na nota de recomendação que reproduzi acima, e que se limita a concretizar a linha do jornal para quando se pedem fotos de arquivo.

De uma forma geral, prefere-se uma foto do dia boa, seja na primeira página, seja em qualquer das páginas mais informativas do jornal. Mas como há assuntos de que não há foto do dia, ou a foto do dia não é boa, recorre-se muitas vezes a fotos que queremos que sejam mais do que ilustrativas, sejam fotos que sustentem as páginas e tenham impacto gráfico quando são paginadas com grande dimensão. Há mesmo soluções (como no plano sobre os Jogos Olímpicos da edição de sexta-feira, 1 de Agosto) em que a fotografia mais importante das duas páginas é uma foto-legenda forte que não tem a ver directamente com o tema concreto do artigo de abertura.

Na primeira página só por excepção recorremos a fotos de arquivo, se bem que isso seja, sobretudo nalguns períodos do ano, mais fácil de escrever do que de concretizar se desejamos uma foto forte. As fotos devem ser do dia ou resultar de um trabalho publicado naquele dia. Por exemplo: na última semana, só nos dias 29 de Julho e 2 de Agosto recorremos a fotos de arquivo. Nos outros cinco dias, em quatro eram fotos do dia e a 28 de Julho uma foto realizada especialmente para um trabalho, editado nesse dia, sobre a comunidade cigana.

A escolha das fotos de capa é uma das principais responsabilidades da direcção e da direcção de arte, podendo ocupar várias horas por dia e implicar encomendas especiais (exemplo: a fotografia de dia 1 de Agosto, feita num restaurante em que se estava a assistir à comunicação do Presidente).

José Manuel Fernandes