sábado, 23 de agosto de 2008

Ouvindo os leitores

Alguns comentários do público, que podiam motivar reflexões com vista a melhorar o PÚBLICO

O provedor julga que se os responsáveis dos media prestassem maior atenção a algumas das críticas feitas pelo público muita coisa podia melhorar na forma como a informação é prestada e apreciada. Aqui se seleccionam observações pertinentes de leitores que o PÚBLICO faria bem em escutar.

J. Barbosa chama a atenção para o facto de, na edição de 2 de Agosto, um artigo sobre «três pontes no Douro» vir inserido na secção Local Porto (e só reproduzido na edição dessa cidade), ao passo que um outro sobre «carros na Baixa pombalina» aparece na edição nacional. E interroga o leitor: “Carros na Baixa pombalina não é uma questão eminentemente local? As pontes sobre o Douro são menos importantes para o País do que uma ideia (mais uma ideia megalómana...) para retirar carros da Baixa pombalina?”

É preciso esclarecer que o primeiro texto é de carácter noticioso, elaborado por um jornalista do PÚBLICO, enquanto o segundo é um artigo de opinião, da autoria de um especialista do tema focado. Mas o leitor toca uma corda muito sensível: no momento de escolher entre o âmbito regional e o âmbito nacional para a colocação de certas matérias, não haverá, por proximidade geográfica do centro de decisão, uma tendência para privilegiar a Grande Lisboa (e o Sul) em detrimento do Grande Porto (e o Norte)? Comungarão todos os leitores das mesmas afinidades face ao jornal, não se sentindo alguns discriminados em função da distância? A questão é importante na medida em que o PÚBLICO se pretende um diário de carácter e expansão nacionais.

João Sousa André alerta para uma permanente dor de cabeça da imprensa: como transliterar nomes originalmente escritos noutros alfabetos. “Por altura da morte de Aleksander Soljenitsine, reparei que ao longo de diversos meios de comunicação social se iam multiplicando as formas de escrita, no alfabeto latino, do nome do antigo escritor russo”, observa. “Desde a repetição da grafia anglo-saxónica (Solzhenitsyn) até uma grafia portuguesa que poderia ou não ter o ‘e’ no fim do nome [o PÚBLICO tem escrito ‘Alexandre Soljenitsin’]. Sendo o alfabeto russo cirílico e com uma base mais fonética do que o latino/português, fica a dúvida se não deveria haver uma forma mais uniformizada de escrever aqueles nomes”.

O russo nem será o caso mais complicado: “Uma questão semelhante é a que sucede quando se escreve o nome de Radovan Karadžić. A forma que utilizei é a correcta para escrever o nome, usando a versão latina do alfabeto servo-croata. Esta questão não é menor, uma vez que os alfabetos servo-croatas (tanto a versão latina como a cirílica) são eminentemente fonéticos, com cada símbolo a ter apenas uma correspondência fonética (...). Neste caso, o nome, a ser escrito de forma foneticamente mais próxima do original mas no alfabeto português, deveria surgir semelhante a ‘Radovan Karadjitch’. Como se vê, o som é completamente diferente [o PÚBLICO tem escrito ‘Radovan Karadzic’]. Da mesma forma que não me agrada ver os nomes portugueses a serem mudados no estrangeiro (o til em ‘Durão Barroso’ é frequentemente omitido, por exemplo), também gosto que os nomes estrangeiros sejam correctamente escritos. Apesar de isto ser frequentemente pacífico em muitos casos, pergunto se existe alguma convenção definida para os restantes. (...) Um nome deve ser pronunciado correctamente por quem lê uma notícia na televisão ou na rádio, mas também por quem a lê num jornal. E, caso se opte por não se transcrever o nome de forma fonética (causaria problemas com nomes mais simples, como os ango-saxónicos ou francófonos), o ideal seria utilizar a simbologia original para os escrever, sempre que possível. Claro que isto não seria o caso de alfabetos exclusivamente cirílicos, mas aí já temos os exemplos russos, que podem ser seguidos”.

Não existe em Portugal nenhuma convenção que os jornais sigam a este respeito (veja-se o caso de "Gorbachev", ou "Gorbatchev", ou "Gorbachov", ou "Gorbatchov"). Mas o provedor recomenda que, nas transliterações, o jornal consagre para cada nome a forma fonéticamente mais aproximada em português, e não siga a mera grafia usada na imprensa anglo-saxónica, que é o que mais se pratica (tal como antes se seguia a francófona).

No seguimento das recentes crónicas do provedor sobre a edição de imagens, Nuno Barreto faz alguns curiosos comentários acerca do actual modelo gráfico do PÚBLICO. “Sou daqueles que aprovaram genericamente as alterações introduzidas na última renovação gráfica que o jornal fez”, começa por esclarecer. Mas não deixa por isso de fazer “reparos”.

O primeiro é este: “O jornal é impresso com um tipo [de letra] demasiado pequeno. Nem todos os leitores serão jovens adultos com olhos de lince. Muitos usam óculos e outros já ultrapassaram a idade de máxima acuidade visual. Consegue-se ler, é certo, mas exige maior esforço visual e melhor iluminação, tanto mais que o jornal é impresso a cinzento – e não a preto – sobre um papel de cor pardacenta. Curioso é notar que a direcção reservou para o seu editorial o privilégio de um tipo maior, como que a premiar quem o queira ler. Mais ou menos na mesma altura em que o PÚBLICO renovou o seu grafismo, o Expresso também o fez, mas teve o bom senso de aumentar ligeiramente o tamanho dos seus tipos para facilitar a leitura e, portanto, a vida aos seus leitores”.

Segue-se o tema das fotos: “As fotografias não têm legendas que descrevam, situem, datem e nomeiam o que nelas se representa. Ao contrário do que se poderia esperar de um jornal objectivo, o PÚBLICO reproduz fotografias acompanhadas de frases que são uma espécie de subtítulos, epígrafes, lemas e reminders [chamadas]. Não se dá ao trabalho de referir a data aproximada, o local e o contexto. Tem que se ler o artigo para se fazer uma ideia do que se mostra (...). Habituei-me ao exemplo dos jornais ingleses, do Times Magazine, do antigo L’Express francês, e parece-me que eles têm a fórmula adequada. Podem fazer todos os comentários às imagens, mas nunca deixam de identificar o seu conteúdo, sem esquecer a data e o local, mesmo que sejam fotos de arquivo. (...) Ao fim e ao cabo, as fotos num jornal diário devem ser documentos de actualidade e não meramente elementos decorativos. (...) Ainda por cima, [as legendas] são colocadas a ‘morder’ o assunto, num caso muito recente a tocar na cara do fotografado. Sou totalmente contra esta moda de colocar a legenda dentro da fotografia. (...) Respeitem a legibilidade”.

Mais ainda: “As legendas das fotografias e muitos subtítulos espalhados pelo jornal são impressos em tons desbotados de vermelho ou laranja, diminuindo assim a clareza e legibilidade, que deviam ser valores acima de qualquer outro no projecto gráfico (...). Calculo que os propósitos do autor do grafismo do PÚBLICO fossem mais bem sucedidos se a impressão fosse sobre papel de maior qualidade (...). Mas não é”.

E, por último: “O jornal usa frequentemente grandes fotografias, a quatro ou cinco colunas (...). Costumam colocar essas fotos no centro de duas páginas abertas. A 3 de Agosto, era Rafael Nadal nas págs. 2/3. A 4, uma médica (ou uma enfermeira, ou uma auxiliar, enfim…) nas págs. 6/7; mais adiante, um notável do PS nas págs. 16/17. Será por desinteresse ou sadismo do grafista, mas, quase sempre, nestas grandes fotos a cara do retratado cai em cima da dobra das folhas e a cabeça aparece dividida (...). Algum respeito pela identidade do retratado deveria merecer outro tratamento”.

Problemas sem resposta única, que porém deveriam suscitar reflexão por parte do PÚBLICO.

CAIXA:

A praga

O leitor que acompanha esta crónica deverá ter lido já referência àquilo que o provedor designou como “a praga de Catual”, pelo que sem mais explicações passa-se à recolha de recentes contaminações no PÚBLICO: “Porter é um desses insiders que toda a vida escreveu sobre Hollywood” (“Ípsilon”, 15 de Agosto, pág. 7); “um dos dois homens que seguia na carrinha” (14 de Agosto, pág. 8); “um dos edifícios que ainda resiste” (P2, 14 de Agosto, pág. 8); “uma das pessoas que melhor conheceu a fadista” (P2, 13 de Agosto, pág. 5); “um dos arrumadores que trabalha há vários anos na Praça do Município” (“Inimigo Público”, 8 de Agosto, pág. 4); “uma das pessoas que visitou o seu apartamento” (P2, 4 de Agosto, pág. 5); “um dos poucos que ficou foi Lori Sell” (2 de Agosto, pág. 16); “Somos dos raros países europeus que não generalizou as vantagens da descentralização” (29 de Julho, pág. 36); “uma das medidas que tinha sido adoptada” (27 de Julho, pág. 1); “O meu pai foi um dos que pegou na bandeira” (P2, 27 de Julho, pág. 8); “uma das coisas que me faz desconfiar da democracia” (27 de Julho, pág. 12); “foi um dos 11 arguidos que abandonou as instalações judiciais” (19 de Julho, pág. 3); “uma das coisas que nos move” (destaque de artigo, P2, 18 de Julho, pág. 8); “uma das perguntas que ficou no ar” (23 de Junho, pág. 5); e “uma das situações que terá começado a levantar suspeitas às autoridades” (19 de Junho, pág. 9). A praga pode manifestar-se até mais do que um vez na mesma frase: “O Campeonato Europeu de Futebol viveu ontem um daqueles momentos que não passa pela cabeça de ninguém, um jogo impróprio para cardíacos, um daqueles momentos de futebol que deixa meio estádio num pranto e a outra metade com uma vontade incontrolável de saltar para a relva e celebrar com os seus heróis” (16 de Junho, pág. 8). E dela não estão livres os membros da direcção: “Foi um dos que diabolizou a União Europeia” (editorial de Paulo Ferreira, 22 de Junho); “É um dos criminosos que saiu com uma das penas mais leves” e “um dos generais que cumpriu as ordens do comandante supremo” (ambos os casos no editorial de José Manuel Fernandes de 23 de Julho).

Publicada em 17 de Agosto de 2008

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