É duvidoso que o PÚBLICO resolva os seus problemas com imagens sem uma linha editorial clara
Após sete meses dedicados ao texto do PÚBLICO, é tempo de o provedor abordar outra componente do processo informativo do jornal: a fotografia. Têm-se acumulado neste capítulo situações que merecem reflexão. Se, como soe dizer-se, uma fotografia vale por mil palavras, aqui estão, nesta crónica, mil palavras dedicadas à fotografia.
“O PÚBLICO – estabelece o seu Livro de Estilo – atribui à fotografia uma importância fundamental na definição do estilo informativo e gráfico do jornal”. Mas será que se verifica a “relação dinâmica permanente e intensa” entre fotografia e texto preconizada no mesmo documento? Se bem que, por opção gráfica, o PÚBLICO edite fotos em grandes dimensões, é preciso saber se elas adiantam ao leitor novos elementos informativos ou se, muitas vezes, não passam dos “tapa-buracos” desaconselhados pelo Livro de Estilo. Vejamos exemplos.
O único artigo da pág. 10 de 28 de Maio, “MNE passa a usar endereços de e-mail em inglês e diplomatas não estão contentes”, é ilustrado por uma foto ocupando meia página – uma vista do andar superior e beiral de um edifício –, assim legendada: “O recurso ao inglês contraria a afirmação da língua portuguesa no mundo, dizem alguns diplomatas”. Não não se relaciona legenda e imagem e os leitores não são informados de que esta é um pormenor do Palácio das Necessidades, sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que a esmagadora maioria do público não identifica.
A crónica de Francisco Teixeira da Mota de 15 de Março é acompanhada da foto de um indivíduo não identificado (trata-se de um dos dois protagonistas do caso abordado no texto, mas, não sendo figuras públicas em Portugal, o leitor não adivinha).
Uma notícia sobre uma gigantesca explosão natural ocorrida há um século na floresta siberiana, na Rússia, publicada na pág. 20 de 30 de Junho, é ilustrada, sem legenda, pela foto de uma cratera no Arizona, EUA: os especialistas podem perceber a correlação, mas falta explicá-la ao grande público.
O leitor José Manuel de Carvalho Oliveira reclamou há mais de um mês ao provedor acerca do tratamento dado pelo PÚBLICO à imagem da ministra da Saúde, Ana Jorge: “Não pude deixar de notar (...) que ela aparece repetidamente com a mesma fotografia, olhando de soslaio (...). Ora, o olhar de soslaio, que todos nós fazemos de vez em quando, pode dar a ideia de pessoa menos franca, o que é algo desagradável.” O provedor tem vindo a confirmar a constatação: ainda na passada quarta-feira essa foto surgia duas vezes, nas págs. 9 e 48 (o que aliás contraria as regras básicas de produção de um jornal).
Em todas estas ocorrências a direcção do PÚBLICO, confrontada pelo provedor, reconhece erros de edição. No caso do protagonista da crónica judiciária, “devia haver, ao longo do texto, na primeira vez em que fosse citado, entre parêntesis recto, algo como ‘ver foto’ ou ‘na foto’”, esclarece o director. Quanto à explosão siberiana, atribuída hipoteticamente à queda de um asteróide, José Manuel Fernandes (J.M.F.) escreve: “Apesar de a foto ser pequena e também representar o que se julga ser o impacto de um meteorito de grandes dimensões, isso tinha de estar explicado no texto. Erro do PÚBLICO.” Sobre a ministra, explica J.M.F., desmentindo qualquer intenção depreciativa por parte do jornal: “O leitor tem razão, mas isso passa-se sobretudo com as fotos que habitualmente designamos como ‘micros’, grandes planos a meia coluna (...). No arquivo do jornal a que os gráficos têm acesso directo, há apenas três caras de Ana Jorge em boas condições de reprodução (...). Essa é a melhor, mas é pouco. Esta última semana, em que houve mais noticiário de saúde, foi pedido à editoria de fotografia que disponibilizasse mais fotos (...)”. Quanto à imagem das Necessidades, “já depois desse exemplo, e de outros, foi feita (...) uma norma [interna] sobre princípios de legendagem que obriga a identificar as fotografias”.
Todas estas situações são de “tapa-buracos”, recurso aliás inevitável num jornal. Ele não só existe no PÚBLICO como tem carecido de regras para a sua edição. Ou então elas não são cumpridas, como esta do Livro de Estilo: “Sempre que sejam tiradas fotografias em momento diferente daquele a que se refere o texto, deve ser utilizada a palavra ‘Arquivo’ para que esse facto seja claro aos olhos dos leitores”.
Mesmo na primeira página, em princípio vocacionada para uma imagem “forte” relativa a uma notícia da véspera, prefere-se por vezes o “tapa-buracos” (em regra rostos ou fachadas), embora esse expediente seja minoritário (segundo a estatística do provedor, num quarto das edições de Maio e Junho últimos e em 35 por cento das de Julho).
Estas questões foram objecto recente das preocupações do jornal, já que, informa J.M.F., se criou em 25 de Julho normas internas “destinadas a melhorar a qualidade das imagens editadas”, remetendo rostos e fachadas para a dimensão “micro”. Mas o problema comum aos casos suscitados, que permanece, é que o PÚBLICO não possui uma linha editorial coerente e uniformizada sobre escolha e tratamento de fotos. É o próprio director quem o admite: “O trabalho de selecção de imagens tende a ser feito em conjunto pelo editor da secção e pelo editor de fotografia (...). Mas há muitas fotografias encomendadas directamente pelos editores ou conseguidas pelos jornalistas (...). Ou seja, há muitos caminhos diferentes para que a foto chegue à página”.
Como entende o jornal afinar o modelo? “Para melhorar a qualidade das imagens seleccionadas – prossegue J.M.F. – , temos vindo a criar processos que permitam que mais pessoas tenham acesso ao que está disponível e ao que está a ser escolhido (...), que os pedidos de serviços ou de imagem de arquivo sejam mais exactos e rigorosos e que o circuito de tratamento e colocação em página seja simultaneamente rápido e rigoroso”.
É porém duvidoso que o caso se resolva apenas com mais gente a mexer na massa, sem política editorial clara quanto aos critérios a adoptar, até porque a questão não tem apenas a ver com a “qualidade” das imagens.
A verdade é que a fotografia vale muito mais do que mil palavras, pelo que o provedor tenciona regressar ao tema.
CAIXA:
Quem é o dono das imagens?
O director-geral de Arquivos, Silvestre Lacerda, protestou junto do provedor contra a forma de edição e a “insuficiência ou ausência de créditos” de três fotos fornecidas pelo Arquivo Nacional da Torre do Tombo (AN/TT) para integrar um artigo sobre Moses Amzalak, antigo dirigente da comunidade judaica portuguesa, publicado nas págs. 8/9 do P2 de 14 de Março.
Silvestre Lacerda não só fazia considerações genéricas sobre a edição de imagens pelo jornal (“tem-se verificado nos últimos tempos que os documentos solicitados pelo PÚBLICO, não só textuais como fotográficos, carecem, na sua publicação, da menção correcta, quando existe, aos créditos necessários à obrigatória identificação da proveniência dos mesmos”) como reclamava, quanto ao caso em apreço: “Para além de as fotografias estarem unicamente mencionadas com a designação ‘Torre do Tombo’ [na realidade, o crédito, aposto apenas junto de uma delas, dizia “AN/TT”], encontram-se ‘cortadas, por iniciativa do jornal, com uma legenda. As imagens fotográficas constituem também documentos que não podem ser alterados. Neste caso concreto é particularmente chocante o desrespeito pelo trabalho do fotógrafo, ao ‘enxertar’ as legendas no meio das imagens”.
Numa resposta conjunta com Lucinda Canelas, editora do P2, José Manuel Fernandes esclarece que os créditos “foram os acordados [pelo AN/TT] com a autora do texto, Maria José Oliveira” e que é linha do jornal não repeti-los no mesmo artigo: “Quando o crédito é único (seja um fotógrafo ou uma instituição) só o escrevemos uma vez, partindo do princípio de que é perceptível para o leitor que todas as fotos têm o mesmo autor ou a mesma origem. Nunca esta prática suscitou dúvidas ou reclamações”. (Para estes casos, o provedor recomenda, seguindo um normativo habitual, que se indique entre parêntesis o número de imagens abrangidas pelo mesmo crédito).
Quanto à “intromissão” das legendas, consideram os reponsáveis do PÚBLICO: “Compreendemos o desconforto de Silvestre Lacerda – ele vê a fotografia como documento integral –, mas trata-se de uma opção que deriva do grafismo do jornal. Temos sempre a preocupação de que a opção de colocar as legendas numa zona neutra das fotografias não as comprometa enquanto documentos, não cortando nada que consideremos significativo nem as desequilibrando do ponto de vista estético. (...) Não nos foi dada qualquer indicação por Silvestre Lacerda de que devíamos respeitar a integralidade das imagens como, por absurdo, numa exposição. Num jornal as imagens devem formar um conjunto coerente e agradável com o texto e os restantes elementos gráficos, mas só em casos excepcionais são tratadas como obras de arte singulares que não podem, por exemplo, ser reenquadradas, servir de base a uma infografia ou a um recorte (...)”.
Apesar de perceber as preocupações subjacentes à reacção de Silvestre Lacerda, entende o provedor que o AN/TT não é proprietário (muito menos autor) dos espólios fotográficos à sua guarda, que são património nacional (ou seja, pertencem a todos nós). As referidas fotos (de autor aliás anónimo – um fotojornalista) não foram criadas com intenção artística – em cujo âmbito poderiam ser tidas em conta as objecções de Silvestre Lacerda –, mas sim como reportagem de imprensa, isto é, sujeitas, como sempre aconteceu (e acontecerá), desde que os jornais imprimiram as primeiras imagens, a processos de edição jornalística. O mesmo sucede com os documentos escritos depositados na AN/TT, de onde os investigadores apenas retiram passagens que correspondem aos objectivos do seu trabalho. Obrigar à sua publicação integral seria uma posição abusiva e, no caso das fotografias, uma limitação da liberdade de escolha editorial e da criatividade gráfica dos órgãos de informação.
Publicada em 3 de Agosto de 2008
DOCUMENTAÇÃO COMPLEMENTAR
Carta de um leitor
Já tenho pensado várias vezes em escrever-lhe devido à repetição sistemática da fotografia da actual ministra da Saúde no PÚBLICO. Não tenho nada contra nem a favor da senhora, mas não pude deixar de notar, como leitor diário do jornal, que ela aparece repetidamente com a mesma fotografia, olhando de soslaio, como se pode ver mais uma vez no topo da página 11 do caderno principal de hoje, 21 de Junho. Ora, o olhar de soslaio, que todos nós fazemos de vez em quando, pode dar a ideia de pessoa menos franca, o que é algo desagradável. Como se sabe, a preferência das pessoas vai para o olhar frontal. O olhar de lado, pelo contrário, prenuncia uma pessoa de segundas intenções, que ataca traiçoeiramente – como os bispos no jogo de xadrez (e por alguma razão alguém escolheu os bispos para atacarem dessa forma).
Faço este reparo na esperança de que o jornal passe pelo menos a alternar esta foto da ministra com uma outra em que ela apareça mais descontraída e confiante. Não nos esqueçamos, afinal, do clássico conceito de que uma fotografia vale mil palavras. Se repetida ad nauseam como até aqui, passará mesmo possivelmente a valer algo mais.
José Manuel de Carvalho Oliveira
Carta do director-geral dos Arquivos
Tem-se verificado nos últimos tempos que os documentos solicitados pelo PÚBLICO, não só textuais como fotográficos, carecem, na sua publicação, da menção correcta, quando existe, aos créditos necessários à obrigatória identificação da proveniência dos mesmos. A última situação ocorreu no número de 14 de Março, com a publicação de um artigo dedicado a Moses Amzalak. Para além de as fotografias estarem unicamente mencionadas com a designação "Torre do Tombo", encontram-se "cortadas", por iniciativa do jornal, com uma legenda.
As imagens fotográficas constituem também documentos que não podem ser alterados. Neste caso concreto é particularmente chocante o desrespeito pelo trabalho do fotógrafo, ao "enxertar" as legendas no meio das imagens. O respeito pelo trabalho destes profissionais exige que as imagens fornecidas não sejam alteradas por duvisosos critérios, que nada têm a ver com o rigor jornalístico.
De forma a que estas situações não voltem a ocorrer, privando os cidadãos da correcta identificação dos documentos, aqui se regista o facto do provedor dos leitores do referido jornal.
Silvestre Lacerda
Explicações do director do PÚBLICO
Antes do mais, um esclarecimento: a edição de fotografia do jornal não é um trabalho centralizado e dependente apenas de um editor, ou de uma equipa de editores.
O trabalho de selecção de imagens tende a ser feito em conjunto pelo editor da secção e pelo editor de fotografia ou por quem o substitui, sobretudo para as fotografias dos fotógrafos da casa e vindas das agências. Mas há muitas fotografias que são encomendadas directamente pelos editores ou conseguidas pelos jornalistas (quando são imagens antigas, ou reproduzidas a partir de livros, de colecções privadas, ou encontradas na internet). No on-line e nos suplementos a participação dos editores de fotografia nas escolhas ainda é mais distante. Ou seja, há muitos caminhos diferentes para que a foto chegue até à página. E o número de imagens processadas diariamente no jornal aproxima-se, entre os diferentes suportes, das 250 aos dias de semana e das 150 ao fim-de-semana.
Para melhorar a qualidade das imagens seleccionadas, temos vindo a criar processos que permitam que mais pessoas tenham acesso ao que está disponível e ao que está a ser escolhido (o que significa que os editores podem ver as fotografias que chegaram das agências e fazerem buscas directas no arquivo), que os pedidos serviços ou de imagem de arquivo sejam mais exactos e rigorosos e que o circuito de tratamento e colocação em página seja simultaneamente rápido e rigoroso.
Apenas para dar uma ideia da preocupação da direcção com a qualidade das fotografias, reproduzo a seguir um conjunto de instruções colocadas no dia 25 de Julho na intranet da redacção e destinadas a melhorar a qualidade das imagens editadas:
"Para pedir melhores fotos:
Há as fotos do dia, incontornáveis, o Obama em Berlim, o Chávez com o Sócrates ou o jogo de futebol. Mas há muitas fotos, todos os dias, que não são do dia. Nessas, o ideal é pedir uma foto sobre o tema e pôr a cara do protagonista para 'micro'. Uma foto não tem que ser a ilustração da notícia. Não queremos uma fachada de uma universidade para uma noticia sobre universidades, nem uma foto da fachada da Câmara da Moita porque a noticia é sobre a Câmara da Moita. A notícia da Câmara da Moita é sobre o quê? Sobre se o TGV vai ou não passar lá? Então a foto pode ser um comboio. É sobre terem pedido dinheiro para pagar dívidas? E que dividas são? Às empresas que limpam os jardins, aos que pintam as passadeiras? Então a foto pode ser um jardim ou uma passadeira. A história é sobre a Sonangol, mas é sobre quê? O tema é a banca ou petróleo. E a foto deve ser uma das duas. Não o presidente Santos Ferreira a três colunas a posar ao lado do logo do Millenium. A cara dele é uma 'micro'. A regra: a cara dos protagonistas da noticia é a 'micro' e a foto grande é o tema. É claro que muda se houver um belíssimo retrato dos protagonista.
Passando agora ao que consegui apurar sobre os casos concretos que suscitaram reclamações:
[Torre do Tombo]:
No essencial, uma das editoras do P2, a Lucinda Canelas, esclarece bem o que se passou. Passo a reproduzir, com ligeiros esclarecimentos adiccionais:
A) Os créditos que colocámos numa das fotos (Fotos: AN/TT) foram os acordados com a autora do artigo, a Maria José Oliveira (são simplesmente as iniciais de Arquivos Nacionais/ Torre do Tombo). Em conversa telefónica com Silvestre Lacerda – que ligou à Maria José mal saiu o artigo, sendo ela a aconselhá-lo a escrever ao provedor, caso se sentisse incomodado com a situação –, a Maria José percebeu que ele acha que o crédito está correcto, mas que preferia que tivesse sido colocado em cada uma das fotografias. Ora, essa não é a nossa política. Quando o crédito é único (seja um fotógrafo ou uma instituição) só o escrevemos uma vez, partindo do princípio de que é perceptível para o leitor que todas as fotos têm o mesmo autor ou a mesma origem. Nunca esta prática suscitou dúvidas ou reclamações.
B) Quanto à legenda sobre as fotos, compreendemos o desconforto de Silvestre Lacerda – ele vê a fotografia como um documento integral –, mas trata-se de uma opção que deriva do grafismo do jornal. Temos sempre a preocupação de que a opção de colocar as legendas numa zona neutra das fotografias não as comprometa enquanto documentos, não cortando nada que consideremos significativo nem as desequilibrando do ponto de vista estético. Além disso, naquele caso concreto, uma das legendas tem uma informação forçosamente tão detalhada que não caberia num formato mais tradicional de legenda por baixo da foto. O formato das legendas no P2 é conhecido dos leitores e não nos foi dada qualquer indicação por Silvestre Lacerda de que devíamos respeitar a integralidade das imagens, como, por absurdo, numa exposição.
C) Num jornal as imagens devem formar um conjunto coerente e agradável com o texto e os restantes elementos gráficos, mas só em casos excepcionais são tratadas como obras de arte singulares que não podem, por exemplo, ser reenquadradas, servir de base a uma infografia ou a um recorte. Há um respeito pela imagem e procura-se que esta seja valorizada, mas prevalecem as regras gráficas e jornalísticas, naturalmente distintas das que se aplicam, por exemplo, na montagem de uma exposição. No caso concreto, a solução encontrada pareceu-nos a melhor, sendo que não tínhamos conhecimento das preocupações de Silvestre Lacerda. Caso isso tivesse sucedido, poderíamos, eventualmente com a sua colaboração mais próxima, encontrar outra solução.
[Ministra da Saúde]:
O leitor tem razão, mas isso passa-se sobretudo com as fotos que habitualmente designamos como “micros”, grandes planos a meia coluna com um pequeno destaque ao lado. No arquivo do jornal a que os gráficos têm acesso directo há apenas três caras de Ana Jorge em boas condições de reprodução com ela sozinha. Essa é a melhor, mas é pouco. Esta última semana, em que houve mais noticiário de saúde, foi pedido à editoria de fotografia que disponibilizasse mais fotos, mesmo que isso implicasse realizar serviços apenas para fazer fotos para o arquivo.
[Cratera]
Apesar de a foto ser pequena e também representar o que se julga ser o impacto de um meteorito de grandes dimensões, isso tinha de estar explicado no texto. Erro do PÚBLICO.
[Crónica judiciária]
A queixa tem fundamento parcial. A cara é de Serge July, antigo director do Libération, citado explicitamente no artigo. Mas devia haver, ao longo do texto, na primeira vez em que fosse citado, entre parêntesis recto, algo como “ver foto” ou “na foto”. Não houve o cuidado de o fazer na edição da página, mas julgo que lendo o artigo percebe-se quem é o “homem na crónica”.
[Palácio das Necessidades]
A queixa tem fundamento. Já depois desse exemplo, e de outros, foi feita para constar da intranet da redacção uma norma sobre princípios de legendagem que obriga a identificar as fotografias.
[Fotos de primeira página]
Parte da resposta está dada na nota de recomendação que reproduzi acima, e que se limita a concretizar a linha do jornal para quando se pedem fotos de arquivo.
De uma forma geral, prefere-se uma foto do dia boa, seja na primeira página, seja em qualquer das páginas mais informativas do jornal. Mas como há assuntos de que não há foto do dia, ou a foto do dia não é boa, recorre-se muitas vezes a fotos que queremos que sejam mais do que ilustrativas, sejam fotos que sustentem as páginas e tenham impacto gráfico quando são paginadas com grande dimensão. Há mesmo soluções (como no plano sobre os Jogos Olímpicos da edição de sexta-feira, 1 de Agosto) em que a fotografia mais importante das duas páginas é uma foto-legenda forte que não tem a ver directamente com o tema concreto do artigo de abertura.
Na primeira página só por excepção recorremos a fotos de arquivo, se bem que isso seja, sobretudo nalguns períodos do ano, mais fácil de escrever do que de concretizar se desejamos uma foto forte. As fotos devem ser do dia ou resultar de um trabalho publicado naquele dia. Por exemplo: na última semana, só nos dias 29 de Julho e 2 de Agosto recorremos a fotos de arquivo. Nos outros cinco dias, em quatro eram fotos do dia e a 28 de Julho uma foto realizada especialmente para um trabalho, editado nesse dia, sobre a comunidade cigana.
A escolha das fotos de capa é uma das principais responsabilidades da direcção e da direcção de arte, podendo ocupar várias horas por dia e implicar encomendas especiais (exemplo: a fotografia de dia 1 de Agosto, feita num restaurante em que se estava a assistir à comunicação do Presidente).
José Manuel Fernandes
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Mil palavras pela fotografia
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