domingo, 5 de julho de 2009

O combate dos economistas

Responder a opiniões antes de as noticiar soa ao provedor como as guerras preventivas de George W. Bush























A manchete, já difundida na véspera pelos meios electrónicos, sabia a requentada

A manchete que desencadeou o caso hoje em análise deixou o provedor algo perplexo. “Parem. E estudem”, dizia o título principal do PÚBLICO de sábado 20 de Junho, sobre o recente manifesto de 28 economistas questionando os grandes projectos de obras públicas planeados pelo governo.

Havia várias razões para a perplexidade: o sabor a requentado da notícia, difundida na véspera pelas rádios, as televisões e a internet; o tom imperioso da manchete, como se representasse uma adesão implícita do jornal à mensagem do documento; a maquete, com a retrato de 26 dos subscritores (e os dois ausentes substituídos por uma silhueta negra), esteticamente muito inferior à habitual linha gráfica do PÚBLICO; a «descodificação», em toda a terceira página, de partes substanciais da declaração, à maneira de uma pitonisa do oráculo de Delfos; a ausência de opiniões contrárias, que os jornalistas não cuidaram de recolher; e a publicação integral do próprio manifesto na quinta página como publicidade paga (apenas uma coincidência - acredita o provedor -, mas que não deixava de causar desconforto a quem lesse o jornal).

Toda esta enorme redundância, para além do seu tom inegavelmente promocional (um “frete”, como se diz na gíria jornalística), soou ao provedor como jornalismo pífio, muito abaixo dos padrões a que o PÚBLICO habituou os leitores. Mas sabemos bem que a actividade informativa é feita de altos e baixos, e que nem sempre se consegue a manchete bombástica com que os editores da imprensa sonham todos os dias.

As complicações vieram depois. Na semana seguinte, 51 economistas e académicos de orientação oposta difundiram outro manifesto de clara réplica ao primeiro onde, pelo contrário, defendiam as virtudes do investimento público no combate à crise. O PÚBLICO impresso não deu dele notícia quando seria lógico fazê-lo, em 27 de Junho (outro sábado), mas nesse dia saía um editorial assinado pelo director, José Manuel Fernandes, desancando o novo documento que os leitores desconheciam e, por comparação, enaltecendo a proposta de debate apresentada pelo primeiro.

Mais estranho ainda, a notícia – sintética – do segundo manifesto aparecia apenas na pág. 19 da edição seguinte, de forma algo envergonhada (se a primeira era requentada, esta eram restos da véspera retirados do congelador). Ou seja, os leitores souberam primeiro dos argumentos de José Manuel Fernandes contra o manifesto e só um dia depois do seu conteúdo.

Um dia mais tarde, Rui Tavares, na sua crónica da última página, polemizava com José Manuel Fernandes pelo seu editorial e com o próprio jornal pela desigualdade na abordagem dos dois manifestos. Mas duas páginas antes, na mesma edição, José Manuel Fernandes replicava já em editorial ao colunista do PÚBLICO. Ou seja, de novo os leitores souberam primeiro dos argumentos de José Manuel Fernandes contra Rui Tavares do que dos que lhes haviam dado origem.

O director desculpará, mas estas atitudes soam ao provedor como as guerras preventivas de George W. Bush: “Vamos arrasá-los já, antes que façam qualquer coisa”. Não resultou na ordem internacional. Fará sentido num jornal que advoga a imparcialidade, a objectividade e a pluralidade de pontos de vista?

Evidentemente, não se discute aqui os méritos ou deméritos de cada manifesto – a que se juntou esta quinta-feira um terceiro, também "obreirista", de economistas e empresários, desta vez (por rebate de consciência?) noticiado na pág. 1 do PÚBLICO – com o competente editorial de José Manuel Fernandes, anunciando a abertura pelo jornal na internet de um espaço de debate sobre os três documentos. O provedor reconhece até que, em termos puramente jornalísticos, o primeiro manifesto mereceria maior destaque, pois a iniciativa foi dos autores, limitando-se os outros a uma atitude reactiva. Mas houve um nítido desequilíbrio de tratamento que não se coaduna com a linha editorial do PÚBLICO.

Assim o sentiram muitos leitores, que reagiram em grande número. Há longos meses, aliás, que o provedor não recebia tantas reclamações a propósito de um só caso. Seriam necessárias pelo menos quatro páginas para albergar aqui a totalidade dos protestos e das explicações de José Manuel Fernandes, que entretanto o provedor solicitou. Por isso se remete a documentação integral para o blogue do provedor e se aconselha a sua leitura, já que este debate ajuda a reflectir sobre como o PÚBLICO está a aplicar o seu estatuto editorial.

“O tratamento desigual dado aos dois manifestos causou-me, confesso, algum transtorno”, escreveu por exemplo Hélio Paulo Lopes. “A intromissão opinativa de José Manuel Fernandes em editorial (...) mostra algo que me transtornou: os leitores do PÚBLICO ainda não viram a opinião dessas 51 pessoas no papel de jornal mas já estão a ser inoculadas contra ela”, disse por seu lado Eunice Ferreira. E Luís Filipe Lopes considerou: “Foram consagradas páginas da edição impressa (...) a um dos documentos e não ao outro; essas páginas tinham mesmo uma feição exegética, explicativa, das teses defendidas”.

“A diferença de destaque parece-me tão desproporcionada que não é suficientemente explicada por razões de ordem noticiosa, pressupondo razões editoriais que depois são tornadas claras em editorial”, defendeu Sandro Mendonça, docente universitário de Economia (não subscritor de nenhum manifesto). “Ao ‘manifesto dos 28’ são dados ténis para esta corrida, enquanto os outros 51 têm de correr descalços e por sua própria conta”.

“O director do PÚBLICO ultrapassou neste episódio os limites do aceitável”, acusa José Castro Caldas, um dos subscritores do segundo manifesto. Outro deles, Pedro Adão e Silva, afirma: “O que me parece questionável é o facto de o manifesto ter relevância para ser objecto de um editorial mas não para ser tratado como notícia. Esta assimetria teve consequências: negou, por um lado, o acesso a uma notícia factual sobre o conteúdo do manifesto e, por outro, impossibilitou que os leitores tomassem conhecimento com o assunto de que tratava o editorial”.

“O director sentir-se-á confortável em comentar dois textos que tiveram tratamento tão desigual no seu jornal?”, pergunta João Miguel Geirinhas Rocha. “Ou ele espera que os leitores comprem dois jornais para terem acesso a todas as notícias? Ou terá José Manuel Fernandes a ideia de que os seus leitores já dispensam as notícias e se contentam com os seus comentários sobre as mesmas? Estaremos condenados a ver o jornalismo substituido por um catecismo?” E João Sousa André explica a sua insatisfação: “Não discuto a opinião de José Manuel Fernandes, que a deve ter e a deve transmitir, mas considero a sua forma de abordar o debate, pela via pessoal e da desvalorização pessoal, como indigna de um director de um jornal como o PÚBLICO, (...) [a quem se ] exige respeito e educação. José Manuel Fernandes não demonstrou nenhuma destas qualidades”.

José Manuel Fernandes justifica o maior destaque dado ao manifesto dos 28: “Era assinado por menos pessoas mas por economistas muito mais conhecidos do que os académicos que assinam o segundo (...). A força dos nomes e o facto de ser o primeiro levar-nos-iam sempre a dar-lhe mais destaque. Mas essa questão nem se colocou, apesar de a repercussão pública dos dois manifestos ter sido radicalmente diferente: um suscitou inúmeras reacções políticas, o outro (...) passou quase despercebido”.

O director explica que houve combinações prévias com os autores dos dois manifestos e que “os representantes do [segundo] actuaram de forma, no mínimo, mais confusa”, além de ter ocorrido um imprevisto: “O valor-notícia do manifesto ficou prejudicado entretanto, pois chegou às mãos do i, que lhe deu grande destaque. A novidade perdera-se, nunca seria possível dar-lhe o mesmo tratamento que se dá a um exclusivo”.

“Apesar de as regras terem sido quebradas, decidimos manter a combinação original”, continua José Manuel Fernandes, e aqui ter-se-á dado um imponderável: “[Um membro da direcção] fez seguir o texto para a secção de Economia, onde deveria ser tratado, mas não acompanhou mais o caso (...). Na secção de Economia (...) não foi entendida a urgência da publicação, pelo que deixaram o tema para a edição de domingo. Foi uma avaliação errada, porventura derivada de algum equívoco na transmissão da mensagem. Para além disso, os editores (...) não sentiram a urgência jornalística. Sexta à noite, depois de escrever o editorial e já bastante tarde, pedi para me indicarem em que página saía o texto e qual era o link na internet. Para minha surpresa, não tinha sido paginado nenhum texto nem o manifesto tinha sido colocado online. (...) No editorial mantive a chamada de atenção para a publicação integral na internet e tratei eu próprio de (...) colocar o texto online. Está lá desde as 00h09 de sábado. (...) No domingo fez-se uma notícia e remeteu-se de novo para o nosso site (onde, esclareça-se, o outro manifesto nunca foi reproduzido na íntegra)”.

O provedor interroga-se sobre se a falha relatada por José Manuel Fernandes não terá sido potenciada por falta de “vontade política”, isto é, aconteceu com o manifesto dos 51 mas nunca aconteceria com o dos 28. E isso diz do grau de empenho do jornal numa notícia e na outra, ou seja, da opinião que, sem o declarar, o PÚBLICO expressa sobre os manifestos.

Quanto à resposta antecipada de José Manuel Fernandes a Rui Tavares, explana o director: “Não por acaso, abri o ponto 2 desse editorial assim: ‘Tenho por regra não responder a colunistas no dia em que estes escrevem, e procuro mesmo nunca lhes responder’. Ou seja, ao responder ia abrir uma excepção. Porquê? Porque soube por acaso do conteúdo do texto de Rui Tavares (ele não me telefonou, como é regra os colunistas fazerem, e eu não estava a fechar o jornal) (...). Daí ter entendido responder logo, sob pena de aceitar uma discussão que laborava num equívoco: a de que tinha havido uma intenção censória do jornal”. E com uma nota suplementar: “Os nossos estudos indicam que a maioria dos leitores dos textos de opinião começa a lê-los pela última página (...). Não me parece provável que se possa demonstrar que (...) a maioria dos leitores leu o editorial antes da crónica de Rui Tavares” (basta que alguns leitores o façam – como aliás o provedor – para esta explicação não ser aceitável).

O jornal reconhece a existência de erros neste processo e tem procurado emendar a mão, dando agora o mesmo relevo aos três manifestos no seu site (que José Manuel Fernandes defende ser tendencialmente mais lido do que a edição em papel – embora todos saibamos que o jornal impresso ainda é o espaço de referência por excelência). O problema é que não existe segunda oportunidade para se causar uma boa primeira impressão.

Publicada em 5 de Julho de 2009

DOCUMENTAÇÃO COMPLEMENTAR:

Carta do leitor Sandro Mendonça

Escrevo-lhe pela primeira vez. E faço-o na qualidade de leitor, mas também de cidadão com profissão de economista. Refiro este último aspecto para ligar a minha motivação de lhe escrever a uma polémica recente que o Director do PÚBLICO abraçou na avaliação e comparação que fez entre os recentes manifestos "de economistas".

PONTO 1.
Desejo partilhar com o Provedor do Leitor a minha estranheza por ver, recorrentemente, o espaço do Editorial a ser utilizado como se se tratasse um normal espaço de opinião de um colunista residente. Seria mais convencional, admitiria eu, o Director do PÚBLICO ter o seu próprio espaço de opinião, se o seu fim é tão somente ter uma via para canalizar as suas opiniões pessoais naquele que é um espaço cimeiro no jornal.

No pressuposto de um "Editorial" não ser exactamente o mesmo que "coluna de opinião", eis a minha pergunta: quais são os fins e os deveres concretos da apropriação do Editorial por parte de quem é o Director?

PONTO 2.
A estranheza que relato acima está associada à incomodidade que sinto pela permanente tensão que perpassa no espaço Editorial. O Director do PÚBLICO já, em ocasiões passadas, teve oportunidade de dizer que a sua visão do jornalismo passa pela metáfora watchdog. Permita-me pegar nesta metáfora para dar conta da minha apreensão na mesma linguagem:

- parece-me que a ideia do "cão de guarda" é útil para lembrar que o papel dos órgãos de imprensa na esfera pública é garantir que os poderes (o poder público e os poderes privados) são colocados sob escrutínio e vigilância para que os cidadãos não sejam ultrapassados nos seus direitos e na informação de que dispõem em relação aos factos

- a metáfora do "cão de guarda" está a ser ultrapassada quando o órgão de informação decide ultrapassar o papel de vigilante (descrever e relatar o que se passa) para começar a "morder" (julgar e prescrever tomando o lado de determinadas forças que pretendem ler a realidade de determinada maneira).

Questão: um "jornal de referência" deve tentar abrir o leque do transparente para discussão na sociedade civil ou por auto-recriação perseguir activamente linhas de debate específicas que condicionam os parâmetros do debate e minam a confiança do leitor?

PONTO 3.
Tudo isto para enquadrar a minha profunda perplexidade sobre as insistentes posições e escolhas editoriais sobre a actual questão dos "manifestos". É sobretudo enquanto leitor-economista que me sinto na obrigação de:

- transmitir ao Provedor a minha percepção sobre o desequilíbrio no tratamento dos dois manifestos (“manifesto dos 28” e “manifesto dos 51”) em questão, pois:

- esse desiquilíbrio é mensurável pela chamada à primeira página do primeiro manifesto (com uma peça sobre a mesma matéria na página 2 e página 3 no mesmo dia 20 de Junho de 2009) em contraste com a chamada a hiper-ligação no website do jornal do segundo manifesto...; a diferença de destaque parece-me tão desproporcionada que não é suficientemente explicada por razões de ordem noticiosa, pressupondo razões editoriais que depois são tornadas claras em editorial;

- outro desiquilíbrio claro está na carga valorativa associada aos manifestos quando em editorial se representa o primeiro manifesto como “um grupo economistas de variadas sensibilidades políticas propõe que se discuta melhor um conjunto de investimentos públicos” e o outro como “um conjunto de académicos propõe uma política económica radicalmente ancorada à esquerda” (Editorial, 27 de Junho).

Pergunto ao Provedor: num importante debate público, como reconhece o Director do PÚBLICO, será este o modo mais amplo e equilibrado de permitir que um debate leal e competitivo se inicie?

Enquanto não-subscritor de nenhum manifesto já publicado ou em circulação, e leitor frequente do PÚBLICO, tenho de demonstrar a minha preocupação: parece-me que ao “manifesto dos 28” são dados ténis para esta corrida, enquanto os outros 51 têm de correr descalços e por sua própria conta. Temo que o PÚBLICO não esteja a conseguir contribuir para o esclarecimento das questões de fundo que afectam a economia portuguesa.

Sandro Mendonça
(docente no Departamento de Economia do ISCTE; fui colunista no suplemento de Economia do PÚBLICO enquanto ele existiu, e sempre fui muitíssimo bem tratado pelo jornal)

Carta do leitor Pedro Adão e Silva

Foi com espanto que li a edição do PÚBLICO do passado sábado [27 de Junho], nomeadamente o editorial do director. Não tanto pelo conteúdo do mesmo, que não só não me espantou como acho que faz parte de opções editoriais absolutamente legítimas, mas porque era exclusivamente dedicado a um tema que o jornal na sua edição impressa pura e simplesmente ignorava: o manifesto pelo emprego de que – devo fazer uma declaração de interesses – fui um dos subscritores.

Ao contrário do que tem sido sugerido, não me parece que apenas por um anterior manifesto ter sido manchete do PÚBLICO, uma semana antes, este devesse automaticamente ter tratamento similar. Respeito os critérios editoriais e parece-me legítimo que o segundo manifesto não fosse motivo de notícia. O que me parece questionável é o facto de o manifesto ter relevância para ser objecto de um editorial, mas não para ser tratado como notícia. Esta assimetria teve consequências: negou, por um lado, o acesso a uma notícia factual sobre o conteúdo do manifesto e, por outro, impossibilitou que os leitores tomassem conhecimento com o assunto de que tratava o editorial.

A questão que coloco é, por isso, simples: tendo em conta que o texto foi apenas conhecido naquele dia, e aliás divulgado por vários jornais, é aceitável que os leitores do PÚBLICO não tenham tido acesso a nenhuma notícia sobre o mesmo, mas, ainda assim, o jornal dedique o editorial ao assunto, oferecendo apenas o que é uma leitura simultaneamente legítima e subjectiva feita pelo seu director?

Pedro Adão e Silva (subscritor do "manifesto dos 28")

Carta do leitor João Miguel Neves Geirinhas Rocha

Sou um leitor do Publico desde a primeira hora, mas venho constatando que o "meu" jornal nos últimos tempos está a perder isenção e imparcialidade, atributos que reputo indispensáveis para uma imprensa que se requer de referência.

Sei que não é da nossa tradição os jornais fazerem declarações de apoio ou de oposição a governos ou tendências ideológicas, preferindo os mesmos jornais apresentarem-se perante a opinião pública como formalmente não envolvidos no jogo e na disputa política. No caso do PÚBLICO, o que observamos porém, na linha das posições que o seu director, José Manuel Fernandes, tem tomado nos textos que escreve no jornal e nas decisões editorias que implementa, é uma clara e sistemática valorização de todas as notícias, factos e acontecimentos que se julgam prejudiciais para o actual governo e para o presente primeiro-ministro e, por outro lado, uma clara desvalorização daqueles que lhe poderiam ser positivos. Não está em causa o dever de escrutínio da imprensa sobre os actos e omissões do poder político. Mas a ideia que dá lendo o PÚBLICO todos os dias é que existe uma "agenda" politica de feroz oposição a esta solução governativa ainda em funções.

O recente editorial em que José Manuel Fernandes "analisa" os dois manifestos dos economistas sobre os grandes investimentos do Estado é, a esse propósito, um caso paradigmático. José Manuel Fernandes comenta os dois manifestos e manifesta a sua opinião a favor de um deles, enquanto arrasa as sugestões do manifesto oponente. Até aqui, tudo normal, já que se trata afinal de um texto de opinião. O problema é que eu compro o PÚBLICO todos os dias e fiquei com curiosidade de ler no meu jornal afinal o que dizia o manifesto dito de "esquerda". E não é que não encontrei? Nem o texto, nem a notícia, nem o resumo. Apenas as referências indirectas de alguns textos que falavam do manifesto mas nunca sobre o manifesto em si. O director sentir-se-á confortável em comentar dois textos que tiveram tratamento tão desigual no seu jornal? Ou ele espera que os leitores comprem dois jornais para terem acesso a todas as notícias? Ou terá José Manuel Fernandes a ideia de que os seus leitores já dispensam as notícias e se contentam com os seus comentários sobre as mesmas? Estaremos condenados a ver o jornalismo ser substituído por um catecismo?

João Miguel Neves Geirinhas Rocha

Carta da leitora Eunice Ferreira

Trabalho no sector das telecomunicações há mais de 30 anos, uma área da economia que, como se sabe, depende continuamente de fortes investimentos de capital. Embora sem ser economista, creio que a minha experiência me habilita a dois comentários sobre mais recente polémica encabeça pelo Director do PÚBLICO. Refiro-me aos manifestos escritos por várias individualidades do mundo da economia.

- a partir dos seus Editoriais, José Manuel Fernandes lamentavelmente promove uma estrutura interpretativa que é sistematicamente negativa em relação a investimentos públicos;

- José Manuel Fernandes esquece que o investimento opera mutações no tecido produtivo que tornam cálculos custo-benefício feitos a priori necessariamente limitados;

Neste momento há uma certeza: o mercado desregulado implodiu. Neste momento há uma esperança: o Estado, como mobilizador de accção colectiva, pode (deve) reverter o declínio. A situação actual, parece-me, exige humildade perante as actuais incertezas económicas. O valor desejável parece-me ser o pragmatismo, enquanto a intolerância intelectual parece-me ser um obstáculo.

A intromissão opinativa de José Manuel Fernandes em Editorial no último sábado, 27 de Junho (em que apareceu uma nova posição de 51 individualidades), mostra algo que me transtornou, ou seja, os leitores do PÚBLICO ainda não viram a opinião dessas 51 pessoas no papel de jornal mas já estão a ser inoculadas contra ela.

Não só do ponto de vista comunicacional isto é confuso como, aparentemente, temos aqui uma situação que importa esclarecer:

- o Director tira partido de acesso privilegiado a esse texto (inside trading, segundo a gíria dos economistas) e contra-ataca a opinião desses 51 antes que esta tenha de facto hipótese de vir a terreno;

- a ser assim, isto não terá sido a primeira vez.

Mais: A falta de perspectiva, a diminuição do pluralismo e a diminuição de qualidade parecem estar também associadas ao cancelamento do suplemento de Economia [do PÚBLICO] justamente quando a economia é o assunto do dia.

Sem dar oportunidade a outras opiniões no PÚBLICO, o jornal não está a contribuir para dissipar a confusão sobre a realidade e sobre a estratégia nacional num dos piores momentos vividos pela economia portuguesa.

Eu compro o PÚBLICO e sinto-me lesada por perdas de qualidade que afectem o produto quando o trago para casa. Agradeço esclarecimento sobre o que terá realmente acontecido ultimamente no processo de produção do jornal (por exemplo, no último sábado) que explique a actual falta de várias perspectivas sobre o estado da economia actual nas suas páginas.

A crise moral na liderança editorial do PÚBLICO, que me parece ter antecido as eventuais dificuldades financeiras do jornal, continua a agravar-se. Como posso continuar a pagar o mesmo por um jornal cuja qualidade está a diminuir a olhos vistos precisamente na altura mais crítica?

Eunice Ferreira

Carta do leitor Hélio Paulo Lopes

Noto que enquanto Provedor se tem preocupado com a identificação dos erros factuais que o jornal vai publicando. Imagino que seja bem mais delicado ao jornal confrontar-se com o problema dos erros de conduta da sua chefia operacional - refiro-me à pessoa do Director do PÚBLICO. Mas o espaço do Editorial também é espaço jornalístico, e por isso mais cedo ou mais tarde este assunto tem de ser encarado de frente

Mais do que qualquer outro factor recente (a emergência da internet, a concorrência dos jornais gratuitos, etc.), deve-se a José Manuel Fernandes a crescente quebra de ligação entre os leitores e o jornal. A razão é fácil de determinar: a posição sempre doutrinal do Director, que já não discute argumentos mas antes posições contra ou a favor.

Não se pede neutralidade nos Editoriais, mas há qualquer coisa de sistematicamente negativo em relação ao papel da política pública, a que só posso dar o nome de ideologia. Por que razão haverão os leitores de ser incomodados com as opções pessoais e simpatias políticas do Director?

O caso mais recente é o ataque cerrado, mas velado, ao manifesto dos 51 economistas e outros profissionais preocupados com a economia. Leio no Livro de Estilo do jornal que é dever do mesmo "informar sem manipular, difamar ou intoxicar". O tratamento desigual dado aos dois manifestos de economistas causou-me, confesso, algum transtorno. Vide vários Editoriais desde Sábado passado [20 de Junho].

Gostaria de confrontar o Provedor com uma dúvida, para a qual muito agradecia resposta: É prerrogativa do Director do PÚBLICO ser ele o único a ferir de morte esta norma orientadora do Livro de Estilo? Tem ele direito a sugerir implicitamente que uns são mais economistas que outros, ou que uns são mais respeitáveis que outros?

Hélio Paulo Lopes

Carta do leitor José Castro Caldas

Nada como os procedimentos do PÚBLICO relativamente aos dois manifestos económicos para justificar a necessidade de uma provedoria num jornal.

Primeiro (no sábado, 27 de Junho) um editorial do Director desvalorizando um texto de que não era dada notícia no corpo do jornal. Depois (no domingo) uma notícia breve sobre o texto omitido na véspera sem aproveitar para corrigir o erro. Por último (na segunda-feira), de novo o Director, com uma referência inexacta a algo que teria sido “combinado com os subscritores” mas que efectivamente não foi. Em contrapartida, um colunista, Rui Tavares, a quem o absurdo da situação não passou desapercebido.

Não comentaremos aqui as opiniões do Director ao texto não divulgado, porque os procedimentos são o que agora mais importa. O Director do PÚBLICO ultrapassou neste episódio os limites do aceitável. A questão que lhe deixamos é simples: que pode um provedor num caso como este?

José Castro Caldas (subscritor do "manifesto dos 28")

NORA DO PROVEDOR: O provedor não possui, logicamente, qualquer poder executivo, o que seria uma intromissão na liberdade editorial da redacção. Limita-se a lançar alertas para certas situações e a emitir recomendações, que os jornalistas são livres de ter ou não em consideração.

Carta do leitor Luís Filipe Lopes ao director, com conhecimento ao provedor

O Editorial da edição de hoje [29 de Junho] continua a não me satisfazer quanto á razão que justificou a disparidade de tratamento dado pelo seu jornal aos dois "manifestos" de economistas divulgados recentemente. A verdade é que foram consagradas páginas da edição impressa (que é a mais importante e de maior difusão, não sendo o PÚBLICO, que eu saiba, um jornal digital) a um dos documentos e não ao outro; essas páginas tinham mesmo uma feição exegética, explicativa, das teses defendidas.

Quanto ao outro documento, só o seu Editorial se lhe referia - aliás, em termos críticos, que são legítimos -, remetendo a consulta para um linque digital. Quem não tenha lido o Editorial poderá ter ignorado a existência do "manifesto", pelo menos no imediato. Foi o meu caso: só a leitura de blogues me revelou, dias depois, a sua existência.

Há, então, uma distribuição de notícias e temas por suportes diferentes (papel, digital)? Nesse caso, qual é o critério dessa distribuição? Não aceito obviamente uma explicação do tipo "falta de espaço" na edição de papel, pois o PÚBLICO tem multiplicado ultimamente a ocupação de espaço com trivialidades e futilidades, em detrimento de coisas importantes - tendência geral dos media portugueses, claro. A sua afirmação de que a edição digital do jornal contém linque para o documento "ocultado" e não para o primeiro não me satisfaz. Os leitores tiveram a possibilidade de ler integralmente o "dos 28", inserido como publicidade, e de o mastigar adicionalmente na exegese preparada pela redacção. E tal não sucedeu com o outro. Porquê?

Luís Filipe Lopes

Carta do leitor João Sousa André

Escrevo motivado pelo editorial de hoje [2 de Julho], da autoria do Director, José Manuel Fernandes. O motivo que me leva a escrever é a questão dos três manifestos, como os denomina José Manuel Fernandes, "sobre política económica e investimentos públicos". Estes manifestos têm recebido da parte da comunicação social (na qual englobo os blogues) um dose elevada de atenção nas últimas semanas. A forma como o PÚBLICO e o seu director trataram o segundo dos manifestos levantou até uma polémica, considerando muitos (onde me incluo, embora com menos veemência) que José Manuel Fernandes procedeu de forma incorrecta quanto à forma como o noticiou e comentou. Não vou, contudo, entrar agora por este caminho. A única nota que deixo prende-se com a forma como decidiu responder ao seu próprio colunista Rui Tavares, na edição onde este atacava a situação. Isso demonstrou falta de respeito, de coragem e até de cultura democrática.

Aquilo que desencadeou este comentário, no entanto, é o tratamento dado aos manifestos (agora três) dado por José Manuel Fernandes no seu editorial. Escreve a dada altura: "O importante é centrar o debate nas propostas feitas e não em quem as formula, mesmo sabendo que uma foi avançada por economistas de vários espectros políticos, outra por académicos que se situam entre a ala esquerda do PS e a esquerda radical e esta por um grupo de pessoas de diferentes proveniências que procuram, sobretudo, apoiar as escolhas do Governo".

Ou seja, apesar de José Manuel Fernandes pretender não centrar o assunto nas pessoas, acaba por o fazer à partida. Aponta o segundo manifesto à esquerda radical (presumo que qualquer partido à esquerda do PS seja "radical"). Pior, a "académicos", ou seja, usa um termo que é identificado frequentemente com pessoas desligadas da realidade, que se sentam nos seus gabinetes e analisam abstractamente os textos e relatórios escritos por outras pessoas como eles. Ou seja, gente que vive num outro microcosmos. Não é esta a interpretação de português mas é, sem ingenuidades, esta a intepretação que lhe é dada.

Já o terceiro manifesto virá de pessoas que poderão ser de diversas proveniências mas que serão essencialmente pessoas ligadas ao governo (em si não desqualifica nada). O pior é que, antes, cola este manifesto ao lobby das obras públicas, ao escrever: "[O manifesto preenche o espaço de] alguns empresários ligados às obras públicas: (...) [o] actual presidente da Associação Nacional de Empreiteiros de Obras Públicas está entre os seus subscritores".

Comparemos isto com o primeiro manifesto, subscrito por "economistas de vários espectros políticos", formulação sóbria, "respeitável" (peçamos emprestada a formulação de Vítor Constâncio) e neutra, que certamente só quererão o bem do país.

Em resumo, temos que o primeiro manifesto é bom, o segundo é mau e o terceiro menos mau. Não discuto a opinião de José Manuel Fernandes, que a deve ter e a deve transmitir, mas considero a sua forma de abordar o debate, pela via pessoal e da desvalorização pessoal, como indigna de um director de um jornal como o PÚBLICO.

Ao longo dos anos tenho visto o PÚBLICO a ser um espaço de debate aberto, plural e desassombrado. Recordo o editorial de Vicente Jorge Silva, quando inaugurou a expressão "geração rasca" para se referir a uma geração da qual faço, tangencialmente, parte. Não tenho, mesmo hoje, razão para me incomodar com aquele editorial. Foi escrito em face de factos e com uma argumentação. Discorde-se ou não, era correcto e assumia uma postura de acordo com o que defendia no texto.

Não é o caso do que tem surgido no PÚBLICO, jornal que tem publicado cada vez mais textos de opinião de qualidade duvidosa, com critérios editoriais que seguem o mesmo caminho (recordo que, no passado, questionei a razão de ser do destaque dado a um livro de João Carlos Espada, conhecido liberal, opinião partilhada por José Manuel Fernandes). Admito, são avaliações pessoais. Já o editorial de hoje não o é. É um editorial que propõe fazer algo, não pessoalizar uma discussão, e faz de imediato o oposto. Tem uma atitude que, mais do que indigna, é vergonhosa, para mais quando surge no seguimento de uma polémica sobre o mesmo tema. A um director do PÚBLICO (de um jornal em geral, mas falo do PÚBLICO por ser o "meu" jornal há década e meia) exige-se respeito e educação. José Manuel Fernandes não demonstrou nenhuma destas qualidades, antes as descartou completamente.

Pois bem, esta terá sido a gota de água. A minha assinatura do PÚBLICO online (com acesso ao PÚBLICO em PDF) expira nos próximos dias. Não a renovarei. Custa, é verdade, deixar de comprar o jornal que leio há tanto tempo, mas quando o jornal deixa de ser "o meu jornal" creio que é a melhor atitude. Continuarei a lê-lo, mas não mais a assinar. Será indiferente para os senhores, apenas uma gota no oceano, mas é para mim um acto simbólico (e não é pelo dinheiro, o qual posso facilmente dispensar). Lamento fazê-lo, mas o declínio na qualidade e a falta de respeito do director do PÚBLICO para com as pessoas sobre quem escreve, para com os seus leitores ou simplesmente para com quem não está no mesmo campo ideológico leva-me a tal decisão.

As melhores felicidades para um PÚBLICO que espero que entre por outros caminhos.

João Sousa André

PS - uma pena que tenha que escrever este texto quando no próprio editorial surgia um conjunto de ideias com o qual geralmente concordava.

Explicações do director do PÚBLICO, José Manuel Fernandes

Não por acaso, abri o ponto 2 do Editorial [de segunda-feira 29 de Junho] assim: "Tenho por regra não responder a colunistas no dia em que estes escrevem, e procuro mesmo nunca lhes responder". Ou seja, ao responder ia abrir uma excepção. Porquê? Porque soube por acaso do conteúdo do texto de Rui Tavares (ele não me telefonou, como é regra os colunistas fazerem, e eu não estava a fechar o jornal) e, depois, verifiquei que o tema andava por todo o lado na internet. Daí ter entendido responder logo, sob pena de aceitar uma discussão que laborava num equívoco: a de que tinha havido uma intenção censória do jornal. Apesar de muitos não terem aceite a explicação, ela ficou dada.

(Pequena nota: apesar de o editorial sair numa página anterior do jornal, os nossos estudos indicam que a maioria dos leitores dos textos de opinião começa a lê-los pela última página, que é de resto uma página mais nobre do que qualquer página interior; não me parece provável que se possa demonstrar que com aquele alinhamento a maioria dos leitores leu antes o editorial do que a crónica de Rui Tavares, só porque esta vinha antes).


Quanto aos critérios editoriais:

1. Não vale a pena disfarçar: o primeiro manifesto que publicámos, para além de ser o primeiro, era assinado por menos pessoas mas por economistas muito mais conhecidos do que os académicos que assinam o segundo (basta olhar para as respectivas listas). A força dos nomes e o facto de ser o primeiro levar-nos-iam sempre a dar-lhe mais destaque. Mas essa questão nem se colocou, como se verá, apesar de a repercussão pública dos dois manifestos ter sido radicalmente diferente: um suscitou inúmeras reacções políticas, o outro, mesmo noticiado no sábado nas edições em papel de vários jornais e colocado na íntegra no nosso online, passou quase despercebido.

2. Representantes de ambos os manifestos contactaram o jornal sobre o nosso interesse em publicá-los. Só que o fizeram de forma muito diferente. Os do primeiro comunicaram que iriam publicar anúncios em vários de órgãos de informação a partir de sábado dia 22, dizendo que estavam disponíveis para nos entregar o manifesto com antecedência para o tratarmos jornalisticamente, o que só fariam com o Expresso. Quando recebemos o texto e vimos a sua contundência e lista de assinaturas, percebemos de imediato que ter junto aquele grupo de pessoas para dizer aquelas coisas era uma grande notícia. Assim a tratámos.

Já os representantes do outro manifesto actuaram de forma, no mínimo, mais confusa. Primeiro propuseram publicar o texto nas páginas de opinião, mas assumindo que o iriam fazer no mesmo dia noutros jornais. Ora, nas páginas de opinião editamos textos exclusivos para Portugal, não textos partilhados. Passou-se então para outra alternativa, que seria colocar o texto na íntegra no nosso site e noticiá-lo no mesmo dia. Porém o valor-notícia do manifesto ficou prejudicado entretanto, pois chegou às mãos do i, que lhe deu grande destaque. A novidade perdera-se, nunca seria possível dar-lhe o mesmo tratamento que se dá a um exclusivo ou, se se preferir, um exclusivo partilhado a dois, como sucedera com o PÚBLICO e o Expresso no caso do primeiro manifesto.

3. Mesmo assim, apesar de as regras terem sido quebradas, decidimos manter a combinação original. Assim, na sexta-feira, [o membro da direcção que ficara responsável por tratar deste tema] recebeu o seguinte email do primeiro subscritor do segundo manifesto, José Reis: ”Envio-lhes o texto de que falei (...), a propósito do debate sobre o investimento público. O que temos combinado com os jornais aos quais o estamos a dar é que o publicarão amanhã e não antes online. É isso que gostaríamos igualmente de fazer com o PÚBLICO, até por ser um dos jornais que mais atenção têm dado a este debate. Como não estamos a fazer uma difusão generalizada, pressupomos que isso possibilita que cada jornal lhe dê mais atenção”.

4. O [referido membro da direcção, que o director pede para não ser noemado] fez seguir o texto para a secção de Economia, onde deveria ser tratado, mas não acompanhou mais o caso, pois saiu antes do fim do dia para ir de férias. Na secção de Economia, apurei na segunda-feira, não foi entendida a urgência da publicação, pelo que deixaram o tema para a edição de domingo. Foi uma avaliação errada, porventura derivada de algum equívoco na transmissão da mensagem. Para além disso, os editores, não sendo o essencial do conteúdo do manifesto novo (as suas linhas gerais haviam sido divulgadas pelo i), não sentiram a urgência jornalística.

5. Sexta à noite, depois de escrever o editorial e já bastante tarde, pedi para me indicarem em que página saía o texto e qual era o link na internet. Para minha surpresa, não tinha sido paginado nenhum texto nem o manifesto tinha sido colocado online. Que fazer, estando o jornal quase fechado e ninguém da secção presente? Tratar de mitigar a falha. Foi o que fiz. No editorial mantive a chamada de atenção para a publicação integral na internet e tratei eu próprio de fazer o que não tinha sido feito: colocar o texto online. Está lá desde as 00h09 de sábado. Mais: fiz uma chamada na homepage do jornal, em lugar destacado, e como manchete da página de Economia. No domingo fez-se uma notícia e remeteu-se de novo para o nosso site (onde, esclareça-se, o outro manifesto nunca foi reproduzido na íntegra).

6. Em síntese: um conjunto de erros de que me apercebi tarde de mais levaram a que, sábado, dia 27, a notícia não fosse editada em papel nem tivesse chamada de capa, como estava previsto. De qualquer das formas, mesmo que esse erro não tivesse ocorrido, a actualidade do dia e o facto de a existência do manifesto e as suas linhas gerais já serem conhecidas nunca permitiria que tivesse na primeira página destaque semelhante ao do primeiro manifesto. A aposta informativa nesse sábado foi o follow-up da morte de Michael Jackson, tema que continuou a dominar as primeiras páginas dos grandes jornais internacionais. Se Jackson tivesse morrido uma semana antes, teria sido o outro manifesto a ser prejudicado, mas por certo ninguém sugerirá que o timing da morte foi por mim determinado para que o segundo manifesto passasse despercebido. E digo isto porque, nos blogues, já me têm apelidado de tudo.

7. Pelo explicado se percebe que o atraso de um dia na notícia na edição papel do segundo manifesto se deveu a um erro, mas o resto do compromisso foi cumprido online, dando-lhe mesmo mais destaque do que ao anterior manifesto. Não houve qualquer opção editorial de carácter político relativamente aos manifestos. Mas, mesmo se não tivesse havido esse erro, puros critérios jornalísticos (actualidade do dia no desenho da primeira página e força dos nomes que subscreviam os dois manifestos) levariam sempre a que, no papel, fossem tratados com destaques diferentes.

José Manuel Fernandes

Nota adicional do director

Na semana passada, também por erro dos editores e distracção dos directores, o PÚBLICO foi o único diário, incluindo os gratuitos, que no papel não noticiou a entrevista de Manuela Ferreira Leite à SIC, ao contrário do que fizera com o primeiro-ministro. Por esta lógica, também fazemos feroz oposição a Ferreira Leite...
Houve motivação política? Não, houve erro, até porque a notícia foi escrita e saiu online.

José Manuel Fernandes

Segunda nota adicional do director

Já agora, um dado interessante: só uma das muitas notícias online que fizemos sobre a morte de Michael Jackson teve mais de 56 mil pageviews. Não há nenhum dia da semana em que o jornal venda 56 mil exemplares. Por outras palavras: sem querer desculpar a falha da falta de notícia em papel no sábado, hoje o número de leitores únicos do PÚBLICO online aproxima-se, se é que já não ultrapassou, o número dos leitores em papel, mesmo considerando que cada exemplar é lido por mais de uma pessoa. Mas repito que não é uma desculpa para o erro, apenas uma chamada de atenção para uma realidade nova.

José Manuel Fernandes

Terceira nota adicional do director

Chamo a atenção para o facto de, quando saiu o terceiro manifesto (que fora anunciado pelo i ao mesmo tempo que o segundo), colocámos os três em linha numa página destinada ao debate público online (isto além da notícia que, dessa vez, não falhou sobre o manifesto. Pode-se ver os três textos aqui.Há também uma chamada a rodar no topo da homepage.

José Manuel Fernandes

Troca de emails entre o provedor e o director

Presumo que o manifesto dos 28 ter aparecido em publicidade paga na pág. 5 da edição que o noticiou nas pgs. 1, 2 e 3 terá sido coincidência, não?
Joaquim Vieira

Ter saído na pág. 5 foi coincidência, e a direcção editorial desconhecia. Não vemos as páginas inteiras de PUB, que seguem directas para a gráfica. Já agora, a ideia da nossa capa [de 20 de Junho], com as caras, começou a ser trabalhada de antevéspera, para podermos procurar as fotos, e não a alterámos mesmo quando também descobrimos que a Rádio Renascença estava a dar uma pequena notícia sobre o manifesto.
José Manuel Fernandes

E já que tiveram tanto tempo para preparar a notícia sobre o manifesto dos 28 não seria normal procurar ouvir opiniões contrárias?
Joaquim Vieira

Havia o compromisso do embargo, que era partilhado com o Expresso e a Renascença, que tinham o documento em exclusivo. Ir pedir opiniões contraditórias implicava correr o risco de quebrar o embargo, pois esse conceito é mal entendido fora da profissão (basta ver que nem um dos subscritores teve cuidado de manter o segredo…). Mas a partir de domingo [28 de Junho] quase todos os dias publicámos textos, ora na opinião, ora nas cartas, ora nas páginas de noticiário, onde se dava voz às críticas. Chegou mesmo a ser preparado um destaque sobre aqueles investimentos públicos, mas depois tivemos de desviar os recursos que temos para a polémica que estalou em torno da venda da TVI. É um destaque que não está esquecido, mas que a sucessão de outros eventos ainda não nos permitiu montar, com os elementos gráficos, as peças explicativas e as opiniões contraditórias que planeámos.
José Manuel Fernandes

Mas se a existência do manifesto já tinha sido noticiada na véspera nos meios electrónicos, como é possível falar-se na manutenção do embargo?
Joaquim Vieira

Por motivo idêntico ao que nos levou a divulgar só depois da meia-noite o manifesto dos 51 apesar da notícia do i: uma coisa é um texto onde se cita brevemente um documento com base no que dizem os seus autores, outra é divulgá-lo na íntegra. O tema foi discutido e, após assegurarmo-nos de que a Rádio Renascença não o faria, guardando as peças mais desenvolvidas para sábado, decidimos manter a programação original, pois assim as televisões poderiam citar apenas essas notícias que remetiam para o desenvolvimento no papel. Ficou combinado recolher as reacções no sábado.
José Manuel Fernandes

1 comentário:

Tiago Alves disse...

Não me parece estranho que um jornal assuma posições. Nos países livres isso acontece.