domingo, 7 de junho de 2009

Particularidades linguísticas



Kuznhetsova ou Kuznetsova?

Gostei de ler hoje a crónica do provedor em relação à questão do uso de estrangeirismos no PÚBLICO. Gostei particularmente da forma como deixa, de certa forma, ao critério do autor do texto o uso dos estrangeirismos mas, ao mesmo tempo, critica (e bem) o uso de frases noutras línguas por parte de certos jornalistas (como nos casos em que fala dos suplementos Ípsilon e Pública).

Gostaria apenas de deixar algumas notas.

1. Quando refere o comentário do leitor Odílio Lopes, deixa (ou deixou o leitor na ocasião) passar em claro um pormenor. O leitor dizia: "Basta ver como se chama o comboio de alta velocidade em Portugal: TGV ['train à grande vitesse' - comboio de alta velocidade]! Não podia ser CAV? Não, tinha que ser em francês. Em Espanha é AVE, na Alemanha é ICE e em Portugal, claro, TGV". Infelizmente deixou-se passar em claro o facto de o termo alemão, ICE, se referir a "Inter-City Express". Aceitando que "Express" pode ser usado em alemão (o que não é linear, para mim), o termo "City" é inglês, e não alemão. O termo deveria então ser "ISE", ou "Inter-Stadt Express".

2. É dado o caso de Espanha, onde traduzem tudo. Uma passagem interessante é "'a rainha Sofia voa em low cost" (traduzindo do espanhol: 'La reina Sofía vuela en bajo coste')". Este exemplo faria sentido não fosse o hábito espanhol de traduzir tudo. Ou não fosse comum ouvir espanhóis a pedirem uma "siete up" para poderem beber uma 7Up ou a dizerem que gostam de ouvir "Las Piedras Rolantes" ou "Las Chicas Picantes" em referência a "The Rolling Stones" e "The Spice Girls" (juro que ouvi isto várias vezes). Ou seja, o exemplo espanhol não é o mais indicado.

3. Temos também a questão de quais os termos a usar em certas situações quando se trata de cidades estrangeiras. Falamos de Londres e Berlim ou Colónia, mas deixamos passar Frankfurt (referida diversas vezes como Francoforte), Newcastle (cujo nome português deveria ser, creio, Novocastro), etc. Este é também um ponto que deveria ser levado em conta.

4. Temos por fim a questão dos nomes estrangeiros e de como os escrever em português. Já referi isto no passado (e o provedor teve a amabilidade de dedicar uma crónica a este assunto), mas nunca vi qualquer alteração ou resposta por parte da direcção editorial do jornal sobre a questão. Isto para referir essencialmente o problema de nomes eslavos (russos em particular) ou asiáticos (chineses em particular). É excessivamente frequente ler os nomes escritos usando a grafia inglesa, em particular o uso de "zh" para o fonema que em português é representado por "j". Este é um exemplo, mas muitos outros existem. Deixo apenas um caso. A tenista que ganhou ontem o torneio de Roland Garros chama-se Svetlana Kuznhetsova e não Svetlana Kuznetsova. Pelo menos é isso que me é dito por alguém que lê e fala russo. Estes pormenores deveriam contar.

João Sousa André
Maastricht (ou Mastrique ou Travessia do Mosa)

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