Na edição do PÚBLICO de 9 de Abril, na pág. 13 (secção "Mundo") surge uma notícia, assinada por Jorge Heitor, com o título "Os desalojados pelo sismo de L'Aquila estão a fazer 'campismo', segundo Berlusconi". Já no texto em si surge a passagem "(...) Silvio Berlusconi (...) [disse] que os habitantes da cidade de L'Aquila vítimas do sismo de segunda-feira devem encarar a experiência 'como se fosse um fim-de-semana de campismo'", o que é algo diferente do título em si. Num caso diz-se que os desalojados estão a fazer campismo, afirmação claríssima. Noutro diz-se que devem encarar a experiência como se fosse um fim-de-semana da campismo, uma afirmação mais relativa e delimitada temporalmente. Um pouco mais à frente, o jornalista escreve: "[Berlusconi] afirmou (...) que os habitantes do Abruzzo 'têm tudo do que necessitam. Cuidados médicos, comida quente... Claro que os alojamentos actuais são um pouco temporários. Mas devem ver isso como se estivessem a fazer campismo'". Sendo que a citação de Berlusconi vem entre aspas, assume-se que é verbatim do que disse. Infelizmente, também na passagem anterior que refiro surge uma afirmação entre aspas que deveria ser verbatim mas é diferente desta última.
Ou seja, temos um título que dá a ideia de uma citação diferente daquela que terá sido proferida, o que é um erro, e há depois discordância entre duas citações supostamente verbatim, o que é outro erro (a não ser que Berlusconi se tenha repetido, o que deveria vir referido na notícia). Atendendo ainda a que a citação original apresente um período delimitado no tempo e que refere a situação como uma relativização da situação dos desalojados de L'Aquila, a sensação que dá é que o jornalista terá tentado colocar um peso negativo ainda maior nas afirmações de Berlusconi, o que é mau.
Não sou, de todo, um admirador de Berlusconi, note-se. Ainda assim, não me parece que seja função do jornalista, ao noticiar algo, tentar induzir um juízo de opinião ao leitor. Por isso este comentário.
João Sousa André
PS - No passado escrevi ao Provedor a referir a questão da escrita de nomes estrangeiros, nomeadamente de nomes que usam símbolos diferentes dos portugueses ou alfabetos diferentes dos latinos. No caso referi-me aos nomes sérvios e russos. Na sua coluna dos domingos, o Provedor concordou comigo e deu recomendação nesse sentido. Noto, passados estes meses, que a mesma recomendação não foi seguida. Mesmo sabendo que uma recomendação do Provedor do Leitor não tem força executiva, pergunto se não terá havido receptividade por parte da Direcção do PÚBLICO ao assunto.
PPS - Ainda na sequência do que escrevi acima, noto que o Director do Público, José Manuel Fernandes (JMF), escreve frequentemente o nome do Presidente dos EUA como "Barak Obama". Considerando que o site da Casa Branca escreve o nome como "Barack Obama" e que nas notícias do jornal é assim que o nome surge escrito, pergunto se saberá qual a razão para tão bizarra escolha. Mesmo que JMF optasse por uma escrita mais fonética, seria mais natural, parece-me, escrever "Baraque Obama". Da forma que surge é um pouco estranho.
NOTA DO PROVEDOR: Dentro das regras de simplificação de títulos sem atraiçoar o conteúdo dos textos respectivos, julga o provedor que a formulação aí usada no caso referido é aceitável. Já quanto à discrepância na citação de Berlusconi, parece-lhe pertinente a crítica do leitor.
sexta-feira, 10 de abril de 2009
Estão ou é como se estivessem?
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