segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Guerra e paz


Reacção à última crónica do povedor:

Li também eu o editorial do director do PÚBLICO de 5 de Janeiro ("Lutar por essa palavra proibida: vitória"). E a mesma frase, sobre o "muito cuidado e precisão" do exército israelita, chocou-me como um murro no estômago, especialmente tendo em conta que a capa da mesma edição destacava o número já então extremamente elevado de vítimas civis, incluindo muitas crianças.

Nestes momentos - já não é a primeira vez -, sinto repugnância pelo jornal. Leio o PÚBLICO desde que nasceu e sei que tem alguns excelentes jornalistas, mas custa-me estar a contribuir para um projecto dirigido por alguém com opiniões que para mim são profundamente revoltantes. Repare-se que não há aqui razões ideológicas: não me considero de direita nem de esquerda, não acho que a violência de uns seja mais desculpável que a de outros (embora matar cerca de 700 pessoas, como já fez Israel, seja quantitativamente mais grave do que matar 13, que foi tudo o que conseguiu o Hamas, certamente por falta de meios). Choca-me sobretudo a falta de empatia com o sofrimento causado a tantos inocentes por um conflito destes.

Já lhe aconteceu ver marchas pela Paz, concertos pela Paz, vigílias pela Paz, apelos à Paz e, dada a aparente consensualidade, pensar: mas então se somos todos pela Paz por que é que há tantas guerras? A verdade é que não somos todos pela Paz. Há pessoas que acham que a melhor maneira de resolver alguns problemas é uma boa guerra, seja ela no Iraque ou na Palestina. Há pessoas que acham que as missões de Paz da ONU são um estorvo à resolução dos problemas (leia-se o mesmo editorial de José Manuel Fernandes). E, falemos claro, José Manuel Fernandes é uma dessas pessoas.

Pergunta o Provedor se esses textos, mesmo assinados, não poderão comprometer ideologicamente o próprio jornal. Para mim é claro que comprometem, já que o seu autor é nada menos que o director do mesmo. E protesto à minha modesta maneira: evito comprar o jornal e já cancelei a minha assinatura da versão electrónica há muitos anos (aquando da guerra do Iraque).

No fundo, há duas coisas tristes: que alguns excelentes jornalistas que há no PÚBLICO fiquem associados a esta imagem (mas se calhar também têm culpa, por não se demarcarem claramente da situação, que sei eu...); e que o panorama da imprensa portuguesa seja tão pobre que um jornal supostamente de referência possa alardear posições tão facciosas em editorial, coisa impensável nos mais prestigiados títulos da imprensa internacional, de direita e de esquerda.

De qualquer forma, queria agradecer-lhe ter chamado a atenção para o problema.

Manuel Leal (Bruxelas)

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