Permita-me que lhe dê os parabéns pela sua nova função, de cujo desempenho o "melhor jornal da paróquia" - como com humor lhe chamou, há tempos, um leitor - irá tirar profícuos resultados. E de que bem carecido anda. Como a edição de 13/01/08, a mais escatológica de que me recordo, demonstra logo na manchete ["Portugal ainda tem 656 celas onde reclusos fazem dejectos num balde"]. Razão por que vou sobre ela (manchete) tecer alguns comentários, espero que menos mal cheirosos do que o tema para que remete. De facto, para além do insólito deste (e não está em causa a pertinência da matéria que versa), há algo na expressão "fazer dejectos" que desaconselharia, de imediato, a sua utilização, até porque com vantagem substituída por "dejectam" ou "defecam" (ou, não obstante desaconselhado nos títulos, mas que aqui seria o menor dos males, o uso do artigo: "fazem os dejectos"). Hesitação que o próprio jornalista parece ter tido (ou não?), pois na pg. 6, no primeiro parágrafo, grafa: "têm de depositar os seus dejectos em baldes". Escatológica ainda por, mal refeitos da surpresa, depararmos de novo, ao cimo da pg. 15, com a mesma matéria (salvo seja!) e uma afirmação não menos inusitada: "Se calhar as pessoas não gostam do cocó porque ele não é às cores", a remeter para a pg. 46, onde a crónica de Paulo Moura (por sinal nada mal cheirosa, mas antes bem conseguida) aproveita para título a última descoberta científica à dimensão paroquial: "Cocó às cores"! Terá esta súbita propensão do PÚBLICO para a coprologia (ele que por norma é pouco proclive a estes devaneios) sido inspirada ou, no mínimo, algo que ver com os acontecimentos políticos relevantes da semana ora finda? Se subliminarmente quis prestar homenagem a tão brilhantes ideias/decisões (mormente a justificação de um secretário de Estado para o pagamento em 14 prestações suaves das pensões dos abastados reformados), então dou-lhe os parabéns, porque foi na mouche.
Mas, escatologia à parte, e sem entrar em minudências - não vá alguém apodá-lo também de "provedor dos pormenores", um aspecto sobre o qual penso dever recomendar mais atenção é o que respeita à recorrência de repetições, passe a redundância, aspecto um tanto descurado, e disso são apodixe as pgs. 14 (cinco títulos, três dos quais com o verbo querer (Menezes quer esclarecimentos / PS não quer Narciso / PS quer emissões) mais um na pg. 15 (Ministério da Cultura quer rever) e a pg. 26, em que os dois títulos maiores usam também o mesmo verbo (Região do Alto Minho aposta / Empresa de Viana do Castelo aposta).
Mário Pinto
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Edição escatológica
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