sábado, 5 de dezembro de 2009

Um colunista em campanha eleitoral


No final da sua crónica na "Pública" de 20 de Setembro, Daniel Sampaio publicou a seguinte nota: "Em campanha eleitoral e a uma semana das eleições, a reflexão serena e objectiva deverá guiar o nosso voto. Os debates mostraram que Sócrates não tem rival em eficácia televisiva: combativo, bem informado, acutilante na crítica e seguro na defesa. Ferreira Leite não convenceu: propostas pouco clares (saúde, segurança social), expressões de gosto duvidoso (matar o pai e ficar órfão), considerações pouco oportunas (espanhóis). Sendo esclarecedores, os debates não foram decisivos, pelo que o voto deverá depender da resposta à questão: quem oferece mais garantias? A continuação do governo ou a mudança para o PSD? Pela minha parte, não tenho dúvidas: o governo cometeu erros (alguns denunciei aqui), mas merece uma segunda oportunidade".

Alguns leitores não apreciaram este apelo ao voto de um colunista que se dedica a escrever sobre psicologia infantil e juvenil. O leitor João Silva escreveu ao provedor: "Solicito opinião de V. Exa. acerca da 'nota' do artigo do Prof. Daniel Sampaio. Pela minha parte - sendo apreciador de há longa data de muitas das publicações do Prof. Daniel Sampaio, tendo assistido com gosto a várias intervenções públicas suas (de entre as quais me recordo, com enorme gosto, de uma tertúlia no espaço do IPJ de Viana do Castelo), acho que escusava de, como diz o povo, secundar o senhor Presidente da República e 'borrar a pintura toda'. Que pensa o senhor provedor do leitor do PÚBLICO, que foi tão acutilante e (com razão) 'malhou' no jornalista e director do PÚBLICO no caso das 'alegadas escutas'?

O próprio Daniel Sampaio, duas semanas depois, viu-se obrigado a esclarecer noutra nota final: "Alguns leitores manifestaram surpresa com a minha tomada de posição: mas há algum limitação sobre o que podem escrever os colunistas desta revista? Não existem colegas de escrita que exprimiram o seu sentido de voto?" (Na mesma nota, de resto, o cronista acentuava ainda o pendor da sua opção eleitoral: "Os resultados eleitorais mostraram de forma inequívoca que José Sócrates deve continuar como primeiro-ministro. Este é o dado mais importante do passado domingo: numa campanha centrada pela oposição na crítica sistemática à pessoa do chefe do Governo, os portugueses quiseram manifestar-lhe o seu apoio. Saúdo esse resultado como toda a satisfação: ao contrário do que afirmou M.F. Leite, havia nas ruas quem apoiasse o PS...").

O provedor, que desconhece se Daniel Sampaio foi contratado pelo PÚBLICO para escrever sobre psicologia, sobre política ou sobre qualquer assunto que deseje, não pode nem deve intervir sobre o conteúdo dos artigos de opinião, a qual é expressa livremente. Mas interroga-se sobre se não seria lógico que o PÚBLICO estabelecesse previamente com cada colunista, no momento em que é contratado, uma espécie de código de conduta que o inibisse, por exemplo, de fazer apelos directos ao voto, coisa que o próprio jornal se abstém de praticar.

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