terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Os feitos de James Watson


James Watson nasceu um menino prodígio e fez-se um cientista arrogante e pouco escrupuloso.

Dito isto, acrescento porque acho, um pouco diferente do Provedor, que a atitude racista de Watson não é de somenos importância e vem somar-se a outros defeitos humanos não menos lamentáveis.

Na história da descoberta do ADN, Watson está na linha de comportamento de Alfred Mirsky, que obstruiu a atribuição do Nobel a Oswald Avery, canadiano brilhante, que foi o primeiro a provar que o ADN era o agente hereditário (1944).

Mais tarde Linus Pauling (1950) esteve a um passo de descobrir a arquitectura do ADN, e só não o conseguiu porque imaginou-o constituído por uma hélice tripla e não dupla como se revelou ser. Mas Pauling foi pioneiro na cristalografia por raios X, técnica sem a qual a descoberta do ADN pela equipa de Watson não teria sido possível. Essa técnica, que todos os membros do grupo donimavam mal, foram obtê-la por "furto/espionagem" ao trabalho de Rosalind Franklin.

A James Watson junta-se [Francis] Crick, 12 anos mais velho. Nenhum dos dois era formado em bioquímica. Na época havia no King´s College, em Londres, uma equipe formada por dois académicos, [Maurice] Wilkins e Rosalind Franklin, muito mais adiantada e pertencente a uma organização concorrente, o que não impediu Wilkins de se aliar ao grupo e passar a espionar a colega, que, obviamente, se furtava a entregar o fruto do seu trabalho. O filho de Linus Pauling trabalhava na altura nos laboratórios de Cavendish e muito inocentemente ia dando notícias dos trabalhos do pai a Watson e a Crick.

Ambos pensaram, Watson e Crick, que se determinassem o formato de uma molécula de ADN poderiam observar como ele fazia as coisas que fazia. Mas ambos queriam conseguir a proeza com o mínimo de esforço, não importando os meios que empregassem.
Watson declarou no seu livro The Double Helix: "Era minha esperança que o gene pudesse ser descoberto ser ter de aprender química". De facto essa não era a sua formação académica.

O resultado acabou por ser conseguido de forma fortuita (para usar o eufemismo da escritora Lisa Jardine), isto é, apropriando-se dos trabalhos de Rosalind sem autorização. O simples facto de Watson ver as imagens de raios X de cristais de ADN conseguidas por Rosalind teria sido suficiente para fazer saltar a centelha que faltava a este grupo extremamente inteligente, concentrado no objectivo e pouco escrupuloso. De notar que apenas participaram na ponta final da dupla hélice Crick e Watson.

De facto, apenas dois dias, a melhor estimativa, mediaram entre tê-las visto e a montagem de uma estrutura por Crick e Watson que reproduzia a dupla hélice. Os três cientistas receberam o prémio Nobel, tendo deixado no esquecimento Rosalind Franklin.

Piorando as coisas, Watson escreve no seu livro The Double Helix acerca de Rosalind: "Não era particularmente feia caso tivesse algum gosto nas roupas que vestia"; "Não usava bâton e a sua sensibilidade indumentária revelava a imaginação de uma adolescente sabichona inglesa".

A sabichona morreu de cancro pouco passava dos 50 anos por se ter exposto, por amor à ciência, às radiações para obter as radiografias do ADN cristalizado, sem as quais o prémio Nobel muito duvidosamente teria sido ganho pelos pouco escrupulosos cientistas: não quiseram honrar o nome de Rosalind, sabendo que a fama e o proveito que conseguiram eram devidos a ela, pelo menos em grande parte.

Manuel Cruz Fernandes

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