[AS NOVAS ENTRADAS ESTÃO NO FIM]
O provedor descobriu na net um dos "velhinhos" habituais frequentadores do Restelo
Algumas reacções à última crónica do provedor:
O fim da crítica tal como a conhecemos. Aconselho a leitura deste texto a propósito do caso João Bonifácio vs. Os Belenenses.
André Gomes
É com muita pena que noto a cedência, por parte do provedor do Público, perante os que não aceitam que a crítica musical, tal como todos os artigos de opinião publicados no PÚBLICO e restantes media, necessita de uma componante opinativa e parcial para ser verdadeiramente honesta e relevante.
A única coisa que o crítico João Bonifácio fez, no seu texto, foi confessar que não gostava dos Killers. E no entanto isto não o impediu de admitir que tinham dado um bom espectáculo. Pergunto, agora, qual será a política do PÚBLICO no futuro. Garantir que o crítico gosta da banda a priori? Recrutar alguém de fora caso não se encontre ninguém dentro de portas? Não enviar ninguém? Fazer reportagens "objectivas", que digam apenas que a banda tocou a música A e B, a quantidade de pessoas presente, e o ruído dos aplausos? Como amante devoto de música que sou, e como leitor atento de crítica musical há 18 anos, será com muita pena que verei isso acontecer. Espero que a sua menção de "necessária objectividade" não venha pôr em causa tudo aquilo que torna uma crítica interessante para quem aprecia o acto de exprimir a paixão pela música por palavras, para quem, mais do que uma opinião que corrobore a sua, quer ver uma opinião pessoal bem expressada e fundamentada.
Desejo, sinceramente, que o PÚBLICO não ceda aos interesses mesquinhos e mentes fechadas de muitos, abrindo um precedente perigosíssimo que poria em causa toda a liberdade de opinião que tanto parece defendida pelo sub-director Nuno Pacheco, em casos onde a sua defesa é mais que justificada.
Nuno Proença
Venho por este meio manifestar o meu desagrado e indignação com a posição oficial do jornal PÚBLICO perante toda a situação despoletada pelo artigo do jornalista João Bonifácio sobre o festival Super Bock Super Rock no Estádio do Restelo.
Mais do que a reverência ao poder que o futebol exerce no nosso país, mais do que a falta de lealdade ao não defender o vosso jornalista quando o Belenenses o insulta taxativamente, indigna-me sobremaneira o modo como o PÚBLICO se vergou a um ataque à liberdade de imprensa daquela forma tão quadrada e curta de vistas.
Se a falta de sentido de humor ou a falta de aptidão para ler um texto para além do seu significado literal são capacidades que o PÚBLICO evidentemente não controla nos seus leitores, a atitude que demonstra em reacção às acções que estas despoletam já estão sob o seu domínio. E é entristecedor e ultrajante que o jornal se obrigue a apresentar um pedido de desculpas a um clube de futebol por pura exigência do mesmo - exigência essa em modos grosseiros e insultuosos - com base num artigo sobre música que menciona, de nenhuma forma ofensiva, o clube e a fraca audiência do seu estádio.
Fiquei muito e desagradavelmente surpreendido por esta atitude por parte do PÚBLICO, tanto que - como no caso das gravuras de Maomé ou dos interesses obscuros de Mário Soares em Macau - sempre vi no jornal opções que considerei correctas e com as quais me identifiquei.
Espero que esta pequena reclamação seja entendida como uma crítica construtiva, e que o PÚBLICO coloque os valores de liberdade de imprensa e expressão acima dos poderes instalados na sociedade portuguesa, com informação isenta e críticas e opiniões mordazes que fujam da visão quadrada tão comummente divulgada.
Miguel Veríssimo
Algo vai muito mal quando é uma parte do público (leitores) a ter de pressionar um jornal para não se deixar arrastar pelo instituído lado aceitável da força.
Sem pensamento divergente arrasa-se com qualquer arremedo de pensamento crítico, no fundo de qualquer capacidade para pensar. Essa deveria ser a primeira função do jornal, pôr à vista os ataques ao pensamento divergente, dos mais explícitos aos mais insidiosos. O contrário é autofágico.
Não admira que andem como tontos, mundo fora, a tentar descobrir como regular a net, essa espécie de último reduto sem editores que recuam face ao cheiro da mínima turbulência.
Paulo Azevedo
Ao ler o seu texto no PÚBLICO de hoje fiquei muito admirada por o senhor mencionar as cartas que alguns sócios do Belenenses escreveram a atacar o crítico João Bonifácio, e não mencionar, por exemplo, a carta que o meu marido (aliás sócio do Belém) e outros nossos conhecidos enviaram, a defendê-lo dos ignóbeis ataques a que foi sujeito.
O senhor não acha que um provedor, tendo como função arbitrar determinado conflito — cumprindo pois a função de uma espécie de juiz — deveria ser absolutamente exacto quando dita o seu veredicto, relativamente aos factos na origem da contenda?
Supondo que não é abusivo da minha parte depreender que a sua resposta é afirmativa, passarei a expor-lhe algumas das minhas dúvidas:
1. Como se explica que o seu texto se inicie logo com uma inexactidão, ao dizer que o episódio decorreu da crítica a um concerto de uma banda ao invés de especificar que se tratava de um festival em que participaram várias bandas. Esse festival, caso o senhor não tenha estado atento, é conhecido como Super Bock Super Rock e é organizado por uma produtora chamada Música no Coração. Vou esclarecê-lo ainda melhor, porque creio que o senhor está a ser um pouco ingénuo no meio disto tudo. Com certeza não sabe que um dos sócios dessa produtora, o senhor Luís Montez, foi o responsável pelo cancelamento do programa Hora Ípsilon, na sequência da crítica ao festival em questão. Diga-me com sinceridade, senhor provedor, que acha disto? Eu tenho a sensação de que o senhor Luís Montez concordaria consigo quando refere ser pouco curial um jornal enviar a um concerto ou a um festival um crítico que à partida não gosta da banda que é cabeça de cartaz. Pela sua ordem de ideias, por que não publicar apenas, numa crítica, as declarações dos fãs mais satisfeitos? Felizmente existem senhores como João Bonifácio, que é o único, repito, o único, a pôr em causa a cultura musical de massas. É por pessoas como João Bonifácio que eu compro este jornal. Não é para o ler a si nem a Nuno Pacheco.
2. O senhor leu a carta da direcção do Belenenses? É que se não leu, isso é muito grave. Mas se leu ainda é mais. Porque pura e simplesmente a ignora no seu texto de hoje. Eu li a carta, assim como li as caixas de comentários do PÚBLICO online. O senhor não leu? Repito-me então: se não leu é caso sério, porque alguém na sua posição não pode abrir a boca sem estar informado de todos os dados. Se leu, então o caso é ainda mais sério, e o senhor é ainda menos sério. Porque aquilo é arruaça: e da mais rasca. Além de um incitamento à violência.
3. Qual exactamente a passagem que o senhor considera ofensiva do bom nome do Belenenses no texto crítico de João Bonifácio? O senhor não esclarece este ponto, que me parece crucial e que desde o início me tem deixado perplexa.
Leio semanalmente cronistas como Rui Tavares e Pedro Mexia fazendo as mais inusitadas comparações, usando um registo sarcástico e sendo polémicos. É isso que os torna especiais. Mais: leio muitas vezes José Pacheco Pereira ou Vasco Pulido Valente, João Pereira Coutinho, Alberto Gonçalves ou Henrique Raposo. São em quase todos os seus textos com alguma agressividade e isso não os diminui em nada nem nenhuma direcção de jornal pede desculpas em seu nome.
Na minha opinião, João Bonifácio faz parte desta estirpe de pensadores livres. Querer silenciá-lo ofende profundamente o meu sentido democrático. Partindo do princípio que este jornal se move por princípios claros e não por achaques aleatórios ou pressões inomináveis, exijo um pedido de desculpas do senhor, assim como do senhor Nuno Pacheco, por ofensa à democracia e por me ofender enquanto leitora deste jornal. Caso contrário, deixarei de o ler.
Beatriz Coelho
NOTA DO PROVEDOR: O provedor actua com base nas queixas que lhe são dirigidas directamente, não tendo recebido qualquer queixa da direcção de Os Belenenses.
Nova carta da leitora Beatriz Coelho:
Agradeço-lhe a publicação da minha mensagem no seu blogue. Agradecer-lhe-ei ainda mais se publicar também esta.
A pobreza da resposta que me dá em rodapé deixa-me verdadeiramente consternada.
Volto a repetir: então o senhor acha mesmo que alguém na sua posição (de árbitro, parece-me a mim) se pode pronunciar tendo apenas em conta a informação que lhe é expressamente dirigida a si? O senhor acha que o mundo gira à sua volta? Desculpe, mas isso ou é autismo ou é cinismo, e em qualquer dos casos é deplorável, porque demonstra que o senhor está pouco habilitado para a função que assume.
O senhor é capaz de me dizer que os seus juizos são absolutamente independentes? O senhor é pago para exercer a função que exerce?
O senhor tinha ou não conhecimento da carta do Belenenses, repito, mesmo não lhe sendo esta expressamente dirigida a si? Se não tinha, o que é grave, agora já tem? E se não tem, pretende continuar a ignorá-la, recusando-se a pronunciar-se sobre o assunto, só porque a carta não lhe foi expressamente dirigida? É que esta carta foi um dos elementos que levaram ao lamentável pedido de desculpas de Nuno Pacheco, em editorial. E se tem, qual a sua posição em relação ao facto de a dita carta, que exige da direcção um pedido de desculpas, ser uma carta insultuosa e arruaceira?
A mesma questão se coloca relativamente às caixas de comentários. Parece-me que era sua obrigação tomar conhecimento do conteúdo dos mesmos.
Mas eu coloquei-lhe outras questões, entre as quais sublinho esta:
O senhor enganou-se de facto quanto ao tipo de evento sobre o qual João Bonifácio escreveu o texto crítico. Não achou relevante no seu texto especificar exactamente de que evento se tratava? E já nem digo referir que um dos organizadores tem negócios com o jornal PÚBLICO, porque isso seria esperar de mais.
Beatriz Coelho
NOTA DO PROVEDOR: As duas cartas da leitora implicam alguns esclarecimentos:
1. O provedor do leitor pronuncia-se sobre matéria editorial publicada pelo PÚBLICO, não sobre reacções de leitores ou visados por essa matéria editorial. Essas reacções em nada alteram as características intrínsecas das matérias a que dizem respeito: são elas, e só elas, que interessam ao provedor. Reacções insultuosas não tornam as respectivas matérias virtuosas, nem o contrário.
2. O provedor só hoje teve conhecimento, por e-mail, da carta de protesto enviada ao PÚBLICO (mas não ao provedor) pela direcção do Belenenses, embora soubesse da sua existência pela resposta que anteriormente recebera de João Bonifácio. Esse conhecimento em nada altera o exposto na crónica do provedor.
3. O provedor, pelas razões atrás apontadas, não leu os comentários no PUBLICO.PT ao texto de João Bonifácio, nem tinha que os ler. Quanto às características eventualmente insultuosas desses comentários, o provedor já em tempos alertou a direcção do PÚBLICO, em termos genéricos, para esse problema da sua edição online.
4. O provedor não actua apenas com base em participações que lhe são dirigidas, mas também com o contributo dos jornalistas responsáveis pelas matérias analisadas, dos editores e dos directores, ou ainda de qualquer outra pessoa ou instituição que entenda dever ouvir para esclarecimento das situações.
5. O provedor sabia que a actuação dos The Killers se inseria num festival de música, mas, por economia expositiva, entendeu dever concentrar o texto na actuação desse grupo, pois era sobretudo ela que estava em análise.
6. O provedor desconhece se um dos organizadores desse festival "tem negócios com o jornal PÚBLICO", mas não encontra qualquer relevância nesse facto relativamente ao que estava em causa na sua crónica.
7. O provedor, até ao momento de escrever a sua crónica, não recebeu qualquer carta a defender o texto de João Bonifácio, fosse do marido da leitora ou de outra pessoa qualquer.
8. O provedor não é um árbitro nem um juiz. É apenas alguém que a direcção do PÚBLICO convida para analisar e opinar sobre situações editoriais do jornal. O provedor tem toda a liberdade para emitir as suas opiniões e a direcção tem toda a liberdade para as considerar pertinentes ou não.
9. O provedor, na sua crónica, não criticou João Bonifácio, mas sim uma série de falhas editoriais relacionadas com a publicação do seu texto.
10. O provedor não pretende silenciar ninguém, mas apenas chamar a atenção para aspectos que contrariam o disposto no Livro de Estilo do PÚBLICO.
11. O provedor considera desnecessária, gratuita e de mau gosto a afirmação de que os apoiantes de determinado clube desportivo (no caso Os Belenenses) sejam apenas idosos (o que aliás João Bonifácio corrige na sua resposta), admitindo como normal que esses mesmos apoiantes se sintam insultados por tal asserção.
12. O provedor gosta de pensar que actua com total independência. Outros poderão ter opinião diferente.
13. O provedor é pago para exercer a função que exerce.
Novas cartas de leitores:
Uma das qualidades que mais admiro na profissão de jornalista é a verdade e a busca da verdade. É essencial para a democracia termos uma comunicação social rigorosa e verdadeira.
Quando o Sr. João Bonifácio volta a afirmar que o Restelo tem poucos espectadores está a mentir.
Nesta matéria da quantidade de espectadores, um estádio com capacidade para 5.000 pessoas que tenha 2.500 pessoas parece ter mais gente do que um estádio com capacidade para 30.000 e que só tenha 5.000. Todavia, na realidade, 5.000 são mais do que 2.500.
O Sr. João Bonifácio, enquanto jornalista, devia fundamentar as suas afirmações. Bastaria consultar os dados oficiais disponiveis no próprio site da LPFP para verificar que na época passada o Belenenses foi o sétimo clube com maior assistência no seu estádio. Continuar a fazer afirmações tendo por base a sua opinião pessoal e transformar a opinião pessoal numa verdade parece-me, novamente, uma forma incorrecta de exercer a sua profissão.
Mais grave é que o Sr. João Bonifácio repete essa inverdade apesar de estar consciente de que está a mentir, pois este assunto tem sido insistentemente repetido pelos adeptos do Belenenses. O Sr. João Bonifácio pode considerar, e tem todo o direito para o fazer, que, apesar de o Belenenses ter a sétima maior assistência, mesmo assim, tem pouca gente no estádio. O que não parece correcto é omitir que o Belenenses é o sétimo clube com maior número de espectadores!
Leitor que pede o anonimato
Dizer-me que o teor das reacções às matérias editoriais publicadas no jornal em nada altera as características intrínsecas das mesmas parece-me uma forma falsa de colocar a questão, se me permite. Porque o que se tem discutido neste caso, até agora, têm sido apenas as características extrínsecas de uma crítica a um festival de música. Se não vejamos:
1.º Jamais o provedor se teria pronunciado sobre este caso se não tivessem existido reacções. A sua atenção para potenciais ofensas foi apenas espolotada por reacções expressas em material escrito que não é material editorial do PÚBLICO.
2.º Essas mesmas reacções veiculam determinadas interpretações daquilo que foi escrito pelo crítico, que são absolutamente questionáveis (a uma dessas interpretações, o senhor vincula-se na resposta que me dá, embora o não tivesse feito, quanto a mim, de forma suficientemente clara na sua crónica: mas já voltarei à questão).
Uma das interpretações é assumir que o crítico chamou mansos aos adeptos do Belenenses, a outra, mais ridícula, que o crítico lhes quis chamar bois. O senhor pode até dizer-me que nem tomou em conta a qualidade destas interpretações.
Mas ignorar que houve todo um empolamento deste caso por causa dessas reacções, que foram massivas, é querer tomar-nos a todos por tontos. Foram muitas centenas de comentários na edição on-line, e aqui a quantidade teve como propósito, acima de tudo, fazer pressão para que tanto a direcção como o provedor se pronunciassem. E essa pressão funcionou.
É lamentável que a quantidade de reacções tenha sido o que contou, e não a sua qualidade, visto que o senhor, apesar de ser pago para exercer a sua função (e ainda bem que o é), nem se deu ao trabalho de avaliar devidamente o conteúdo das mesmas. Acha que não é sua obrigação: é consigo e com a sua consciência.
Passemos, agora, ao que o senhor considera a matéria da ofensa. Pode citar-nos a passagem em que o autor do texto crítico admite como normal que os apoiantes do clube se sintam insultados com a asserção de que estes apoiantes são todos velhinhos? O que me parece que ele diz é, sintetizando, que:
1. Usa uma figura de estilo para ilustrar uma situação: a calma que habitualmente reina no estádio do Restelo.
2. Chamar velhinho a alguém não é uma ofensa, antes, para o crítico, uma forma de tratamento carinhosa.
Diga-me, senhor provedor, acha mesmo que a expressão “velhinhos” é ofensiva?
O senhor pode acusar o crítico de ser pouco exacto e pode dizer-me que o que ele corrigiu na sua resposta foi essa ausência de exactidão. Mas não o facto de ter sido ofensivo. Ainda que haja pessoas que se possam sentir ofendidas. A maior parte das vezes as pessoas ofendem-se apenas porque não sabem ler e ouvir o que os outros dizem: ofendem-se, no fundo, porque querem ofender-se.
Diga-me agora, senhor provedor: o senhor acha que um texto de crítica não deve recorrer a figuras de estilo? Não deve recorrer à ironia? É que então eu tenho de lhe dizer que o senhor, apesar da sua eminente posição no jornalismo, onde se move há tantos anos, não compreendeu até hoje como funciona um dos seus géneros: o da crítica.
E todo este caso se torna ainda mais anedótico quando percebemos que se deveu, em grande medida, a uma certa falta de sofisticação de um dos directores do PÚBLICO, falta de sofisticação em que o senhor, infelizmente, o acompanhou.
Para terminar, eu sou leitora do PÚBLICO. E li o editorial assinado por Nuno Pacheco no passado dia 23 de Julho. E tenho a dizer-lhe, senhor provedor, senti-me ofendida. Sabe porquê, senhor provedor? É que Nuno Pacheco pede desculpas, mas nem se dá ao trabalho de explicar ao resto dos leitores do PÚBLICO (àqueles que não são adeptos do Belenenses: devem ser tão pouquinhos que Nuno Pacheco achou que não valia a pena tê-los em conta) qual a razão da ofensa. E eu acho isto uma falta de respeito para com a inteligência dos leitores. Reparou nisso, senhor provedor? Não acha estranho? Gostaria, muito sinceramente, que se pronunciasse sobre o assunto. Afinal, trata-se de material editorial publicado no PÚBLICO.
Beatriz Coelho
Começo por destacar que sempre apreciei bastante as suas crónicas (particularmente em comparação com as não-crónicas do provedor anterior) e que eram um ponto alto na secção de opinião de domingo. Como já deve ser evidente por esta altura da segunda oração, claramente deixaram de ser esse ponto alto. E deixaram de o ser devido a "Os 'velhinhos' do Restelo".
Noto com alguma curiosidade que várias são as pessoas ligadas ao jornalismo que partilham da sua opinião. Que, mesmo dentro dos parâmetros de uma crítica (ainda que não assinalada, por falha editorial/gráfica), o escriba se deve manter entre as margens do "bom gosto", para usar os seus próprios termos. Ressalto, porque acho merecedora e até deliciosa a passagem, a forma quase condescendente com que o Provedor indica que, após uma chamada de atenção do editor, "[n]a esmagadora maioria dos casos, o redactor cai em si, muda o que tiver de ser mudado e o texto cumpre na mesma a sua função." Não foi para ler coisas deste género que tirei o curso de jornalismo. Não foi para ler coisas deste género que estagiei no PÚBLICO. Entristece-me, profundamente, ler algo assim.
Sei que a minha opinião não tem qualquer peso nesta matéria, até porque deve estar a receber chorrilhos de mensagens mais ou menos ofensivas para si e para o jornal dos vários lados desta discussão. Ainda assim, permita-me que teça alguns comentários.
Entristece-me que um jornal não defenda os seus jornalistas. Pensava eu, ingenuamente claro está, que seria essa a prática normal, após discussão caso a caso. Não sei se o Nuno Pacheco é fã do Belenenses nem me interessa (também não sei se o José Manuel Fernandes é fã do Rui Tavares, mas também não me interessa). O que está aqui em causa não é isso. É toda uma perspectiva sobre o jornalismo. E o curioso são os mantos que se levantam quando o jornalismo em causa não é o tão nobre "jornalismo de investigação" ou outro "semelhante" (político, social, etc., qualquer um que lide com temas ditos "sérios"), mas o parente pobre destes mesmos. O jornalismo cultural, encarado de uma posição elevada pelos restantes elementos da profissão que pensam que 1) se faz da mesma forma, e que 2) como tal se rege pelas mesmas regras. Há verdades e meias-verdades nestas palavras. Far-se-á da mesma forma e é coberto pelas mesmas regras, mas jornalismo cultural sem uma maior flexibilidade não é jornalismo. É jornal gratuito. É um automatismo. E é o fim do jornalismo. Tiram-me do sério estes debates, quando o que está de facto em causa é isso mesmo: a sobrevivência dos jornais. Neste caso, de um jornal que já mal respira.
O que está em causa é o jornalismo como um todo, não como partes. Dizer que um jornalista que não gosta de uma banda não deve ir cobrir um concerto/outro-tipo-de-evento da mesma é estar a colocar o jornalismo numa jaula. Como um todo e não só o trabalho de um crítico, seja ele jornalista ou não. E se nenhum na redacção gostar? Que se faz? Cria-se uma pool de freelancers consoante o gosto? É estar a dizer aos jornalistas (deverei chamá-los funcionários? Trabalhadores? Proletários? Será mais fácil vê-los como autómatos enquadrados em categorias fáceis que não ofendam o olhar de quem possa pegar nas páginas do jornal?) o que pensar, estar a dizer-lhes o que fazer. Do que gostar. E que precedente é este que se cria? Será melhor se o jornalista esconder o gosto? "Don't ask, don't tell"? "Vais fazer o concerto de Leonard Cohen para a semana", diz um editor. "Não posso, não sou fã", responde o jornalista.
Qual é o problema se uma crítica a um concerto incluir uma passagem mais "desprimorosa" para um clube de futebol? Dentro em pouco será a "sagrada" reportagem que vai passar a ter este tipo de limitações e, mais tarde ou mais cedo, o Paulo Moura ultrapassará alguma "linha" (onde estão elas? Quem as traça? Aparentemente os fãs do Belenenses). E depois? Quem é que se insurge contra o "fim da liberdade de imprensa" aí?
Um jornal de informação deve basear-se em jornalismo. Ou estarei enganado? Deve comunicar com os leitores, claro, deve abrir portas a estes e saber ouvi-los e saber o que estes pretendem. Mas não pode, de modo algum, moldar-se à medida dos leitores. Não pode. Não pode. Correndo o risco de morrer. Rapidamente. Imaginemos o jornalismo como tendo um deus. E um jornal que meramente se molda à medida dos leitores e que não cumpre as funções básicas do deus do jornalismo só tem um caminho a seguir. Perdoe-me a metáfora e a brincadeira (num assunto totalmente sem piada), mas o caminho é o do inferno do jornalismo. E consequente desaparecimento no Letes.
"[O] PÚBLICO, que ambiciona claramente ter uma função federadora em relação à população portuguesa, deveria cuidar de não alienar os diversos grupos sociais com considerações gratuitas ou de mau gosto, eventualmente ofensivas".
É a segunda vez que lhe escrevo. Da primeira não recebi resposta. Compreendo, não é a sua obrigação responder a todas as mensagens que lhe chegam, nem a todas nem a nenhumas, mas sim às que entender. Peço-lhe, contudo, que me explique o que quer dizer com "uma função federadora". Nos dois dicionários onde procurei a palavra ela não existe (Priberam e Porto Editora). Portanto, não compreendo. Penso perceber a intenção, mas por "federador" costumo entender uma divisão, um acantonamento. Ou estarei enganado? É isso que o PÚBLICO pretende fazer?
O que o Sr. Provedor me parece estar a dizer é que o PÚBLICO deve atender ao "bom gosto" (se me responder à questão da "função federadora", peço-lhe que me explique o que é ter bom gosto) para evitar problemas e perda de leitores. Estou a ser simplista, concordo, mas não consigo retirar outra conclusão da sua frase. "Sejamos mansos".
Lamento que as coisas tenham chegado a este ponto. Entristeço-me regularmente com o PÚBLICO. E tenho pena que quem esteja à frente do jornal não seja capaz de ou dar um rumo ao que já foi uma grande publicação ou de se retirar.
Tiago Dias
NOTA DO PROVEDOR: "Federar, v. tr. (do lat. foederare). Unir ou unir-se em federação; confederar ou confederar-se. Unir ou unirem-se cidadãos do mesmo país para defenderem os seus mútuos direitos ou interesses". (Do Grande Dicionário da Língua Portuguesa, coordenação de José Pedro Machado, Amigos do Livro Editores, 1981).
É com atraso que vos dirijo esta carta admoestadora. No tempo que passou entre a decisão de a escrever e o acto propriamente dito, "malhar no PÚBLICO", particularmente no Sr. Nuno Pacheco e no Sr. Provedor Joaquim Vieira, tornou-se numa espécie de desporto com elevado número de praticantes nas cabeças mais oxigenadas da blogosfera. Não tenho blog, pelo que terão de me aturar assim.
Comecemos pelos factos:
Facto 1) João Bonifácio é crítico do PÚBLICO.
Facto 2) João Bonifácio fez o seu trabalho, com a verve que o caracteriza, a propósito de um festival de rock que não merecia mais do que uma nota de um amanuense (musicalmente falando, com excepção dos The Walkmen, o festival foi consensualmente fraco).
Facto 3) Passo a citar: "Toda a gente que segue futebol com um mínimo de regularidade conhece a constante nudez quinzenal do Estádio do Restelo. O Belenenses joga e há duas dezenas de velhinhos nas bancadas, nem uma palha bule, é um sossego."
Posso confirmar o terceiro facto, pois vai para um ano que moro nas imediações do referido estádio, e garanto que, muito por culpa da idade dos seus adeptos, se trata de vizinhança pacata, pouco dada ao ruído que habitualmente acompanha um jogo de futebol ou, digamos, um ser vivo.
Que o Sr. Pacheco veja fundamentados motivos de indignação nos urros analfabetos e boçais da direcção belenense, mas não encontre uma palavra para defender o seu jornalista dos insultos gratuitos que esta mesma lhe dirige, não me cabe a mim comentar. Trata-se de um assunto para ortopedistas, daqueles que nos endireitam a coluna vertebral.
Já o Sr. Provedor Vieira acha que um crítico musical não pode ter uma opinião negativa de um artista que vai criticar, o que sublinha o seu desconhecimento completo daquela prática e de como ela se faz, vamos lá, há uma mão cheia de séculos. Sobre a suposta "função federadora em relação à população portuguesa" do jornal a que alude no seu inefável texto, aconselho-o a juntar-se a um desses partidos da solidariedade ou coisa parecida. A boa crítica é feita por homens que não têm medo de dizer a sua opinião, com gozo e sentido estético, sem receio de grupos sociais ou outras abstracções que apenas servem para amordaçar coisas tão importantes como o livre pensamento ou uma boa piada.
Brindo a João Bonifácio por ter escrito o que escreveu e, sobretudo, por reinvindicar para si toda a razão nesta polémica. Calculo que o ambiente não lhe seja favorável no jornal. Mas aqui o eterno optimista acredita que não faltará muito para que o PÚBLICO perceba quem são os que o salvam desta morte assistida que temos acompanhado nos últimos anos e quem são os que o arrastam ainda mais para o lodaçal do jornalismo agachado, ao serviço de interesses menores.
Melhores cumprimentos do (ainda) vosso leitor,
Pedro Ferreira Marques
Depois do que escreveu no texto de 2 de Agosto («Os "Velhinhos" do Restelo»), que li na net, apetece dizer, como o vulgo indignado, que este PÚBLICO eu não compro mais. Não me leve a mal se lhe pedir para que releia o que escreveu, que volte a passar pelos textos que estão na origem da polémica (incluindo a crónica de Bonifácio, claro) e reflicta. Assim de repente, lembro-me de dois cronistas que nunca seriam publicados se a teoria da "função federadora" vingasse: José Júdice, e as suas deliciosas reportagens em congressos políticos a que era manifestamente avesso, e P. J. O'Rourke.
O seu texto, caro Provedor, teria cabimento se fosse um memorando para uma reunião da direcção ou da administração do jornal (a gente percebe que um jornal não queira perder leitores e que para isso alguns, coitados, cedam a teorias federadoras, etc.), mas eu pensei que não era essa a sua função.
Indignações do género destas que acabou a defender, que inquietantemente convergem com práticas de fundamentalistas religiosos, são aquilo que um jornal como o PÚBLICO devia combater. Já temos muitos a fazer o contrário, Provedor, precisamos de alternativas, não de mais media paternalistas e paninhos quentes com o gosto e a irreflexão populares. Não se entusiasmem demasiado com o Fórum TSF, por favor. Nem alienem ainda mais os leitores de facto de jornais. Seja nosso provedor, não do preconceito ou da mediocridade. O PÚBLICO já está fraco que chegue.
Rui Ângelo Araújo
domingo, 2 de agosto de 2009
Rescaldo do Restelo (actualizado em 8 de Agosto)
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18 comentários:
Comparar o João Bonifácio a um «pensador livre» é o mesmo que declarar não haver limites para a asneira publicável. Ver nas críticas ao(s) texto(s) do Bonifácio um ataque à «liberdade de imprensa» (sobretudo quando isso vem de gente que jamais clamou contra outros e mais flagrantes atentadods a essa mesma liberdade) só pode ser sinal de cretinice galopante. Boa sorte!
Caro Provedor,
Escrevo-lhe aqui à falta de melhor local, sem deixar de saudar cordialmente.
Sou leitor ocasional do público "on line" tal como o sou na versão papel e senti-me fortemente ofendido pelos escritos do sr Bonifácio.
Não se trata de censura ou nota absurda, mas certo é que o tal editorial em que se pedia desculpa aos Belenenses não foi aberto "on line", saiba-se lá porquê.
Quanto ao sr Bonifácio nem percebe de estética nem distingue o gosto da estética e isso é grave. Tem uma pseudo veia engraçada que só ele deve achar.
A continuar assim o sr Bonifácio poderá escrever alarvidades conotadas com o homem de Belém (presidente) a despropósito e sem que seja chamado à função e tudo estará bem. A estupidez tem limites.
Espero bem que o público não envie o sr Bonifácio ao próximo espectáculo dos Xutos e pontapés no Restelo, a bem da sua integridade física e da crit+tica do jornal.
De borla ofereco-me para elaborar a cobertura ou se quiserem escolher um jornalista especialista, recomendo o jornalista Luís do Ó cujo blog é "O outro lugar" pelo menos é um entendido em música e tem feito um excelente trabalho com os grupos nacionais.
O sr Bonifácio na sua inocêncianão distingue o bem do mal e bem comparado é um elefante numa loja de loiça, será difícil perceber que ele não entende de música nem de futebol?
Cordiais saudações.
João Pela
Pior do que comparar o João Bonifácio a um pensador livre, é achar que a primeira missão de um jornal é "pôr à vista os ataques ao pensamento divergente".
A primeira missão de um jornal é INFORMAR. Com rigor e exactidão.
Também é grave chamar autista ou ciníco ao provedor só porque este tem um entendimento divergente do de quem escreve. (Daí ser considerado incapaz para desempenhar as funções que exerce, por uma leitora)
Parece que os defensores de João Bonifácio não aceitam uma crítica, apesar de criticarem (violentamente) quem critica o seu trabalho.
A liberdade de imprensa é poder dizer que um festival foi mau, não é dizer que os fãs dos Killers, coitaditos, saltam e gritam num festival de rock, porque, coitaditos, foi isso que os killers lhes ensinaram, que os Mando Diao só fazem barulho, que a Brandi Carlile não gosta de música, gosta da hora de ponta da rádio comercial...
Já agora, porque é que alguém se congratula por haver alguém que luta contra a cultura musical de massas? Pink Floyd são de massas. São bons? E os Queen? E os U2? E o Sting? E o Caetano Veloso?
Agora só podemos gostar de Flor Caveira porque ninguém conhece? E quando forem conhecidos? Passam a ser maus?
Que é isso de se fazer boa ou má música? Quem o decide? O João Bonifácio? Eu? O Provedor? Haverá decretos-lei no futuro a determiná-lo?
A boa música não será aquela que, a mim, me soa bem? Não será a boa música um bem inalienável para cada um dos seus fãs?
Metallica são bons? Então e quem gosta de Nick Cave também tem de gostar de Metallica?
Tão pouco é liberdade de imprensa manipular a realidade (5 mil espectadores em média no Restelo) para os transformar em duas dezenas de velhinhos.
João Bonifácio tem total liberdade, e o provedor deixa-o bem claro, para dizer que uma banda foi má, que um festival não teve festa, ou que o Belenenses tem apenas 5 mil adeptos por jogo.
Não tem é liberdade para deturpar toda a realidade apenas por recurso estilístico.
Será assim tão difícil de entender?
No meu blogue eu posso brincar e dizer mal de todas as bandas, mas isso é porque tenho 5 leitores.
Quem escreve num jornal nacional tem outro nível de responsabilidades. E se quer ser engraçado, faça humor ou um blogue pessoal.
Agradeço ao provedor se publicar este comentário - é que há afirmações que me incomodam sobremaneira.
Já agora, deixo aqui à discussão outro pormenor.
Estará João Bonifácio habilitado a exercer funções de jornalista?
Eu não o encontro aqui
http://www.ccpj.pt/jornalistas/cpj_j.asp
(site da comissão da carteira profissional de jornalistas - penso que a lei é bem clara no que diz respeito à necessidade de se ter carteira profissional de jornalista para se escrever em jornais)
Bonifácio poderia ter escrito que tal como nos jogos do Belenenses, o estádio não encheu - seria verdade e ninguém ficaria melindrado.
Poderia, como jornalista, ter-se informado sobre o número de espectadores em vez de guiar-se pelo senso-comum (algo que um verdadeiro "pensador livre" não faz de modo algum - antes lê, se informa, roça o perfeccionismo, exagerando em muitos pontos), escusando de se referir aos adeptos do clube como duas dezenas de velhinhos - falta de rigor na informação.
Já agora, o que importa não é saber se 100, 200 ou 500 leitores do Público se manifestaram contra o artigo. Importa analisar, isso sim, se o artigo é intocável ou não. Humor ou não humor, tanto faz. Eu posso contar uma anedota sobre judeus e um grupo rir-se, mas já os Judeus não acharão piada nenhuma! Certo?
Parece-me que o leitor Nuno Proença está a confundir liberdade de dizer bem ou mal de actuações de bandas, com os comentários grosseiros do jornalista do Público.
Nada disso está em causa. Já agora: a crítica parcial é mais relevante do que a imparcial?
A mim sempre ensinaram o contrário.
Sugiro que o Sr. Provedor peça o contacto da Beatriz Coelho. Pela forma como escreve duvido que seja mulher e duvido que o apelido seja Coelho. Cumprimentos.
Eu tambem não gosto dos The Killers! Mas não me assumo ou ficam mandam mails ao meu chefe!
Uma vez presenciei o trabalho de João Bonifácio. Ele nem vai aos concertos, neste caso especifico, ficou no starbucks a aproveitar o facto de ter esvaziado com o festival. Bebeu um chocolate Machiato e comeu um bolo, esse não fixei. Mas comeu na esplanada para ouvir a música!
Depois vim-me embora. Mais tarde estava ele a beber cerveja, e fui dizer que admivarava muito o trabalho dele (arrependo-me muito hoje em dia visto a sua critica) visto ter lido o seu texto sobre o Cohen, que eu tambem aprecio. Depois nem estava de frente nos concertos, ignorando-os para ver as pessoas que urinavam. Esta pessoa é claramente paga com o NOSSO dinheiro, e para quê? Para mirar pilas urinadoras em espaços publicos.
Eu achei piada à coisa do belenenses, até porque eles nem fizeram grande época se fomos a ver, só ficaram na primeira por ajuda, e não sei se aquilo vai lá com o paulo bento junior.
Ah, o meu amigo Nuno pediu para a pessoa que anda a postar com o nome dele para usar o nome verdadeiro.
Abraços e paz,
Rui pera
O leitor Pedro Ferreira Marques escreve que a actuação (de 15 minutos) de The Walkmen foi a única coisa boa de um festival que, diz, foi "consensualmente" fraco.
Leia a crítica na Blit
http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=bz.stories/49022
leia os comentários também.
Diga-me onde está esse consenso.
E já agora: vejam todos como se faz reportagem sem ofender ninguém.
Sr. Provedor. Tenha paciência, que isto quando se coloca o dedo da ferida da pseudo-intelectualidade sobra sempre em "ataques" a quem o faz. Parabéns por não ter tido medo e por defender o bom-senso acima dos interesses dos jornalistas e seus amigos.
"Nada disso está em causa. Já agora: a crítica parcial é mais relevante do que a imparcial?
A mim sempre ensinaram o contrário."
O que é crítica imparcial a um concerto? O que é crítica imparcial?
Falo como alguém que lê sobre música há muitos anos. Nunca vi nada imparcial a que se pudesse chamar "crítica".
O que os comentários aqui revelam foi que:
- É muito bonita a liberdade, desde que não se escrevam "asneiras"
- O Bonifácio está lixado se voltar ao Restelo. A tal liberdade
Nuno Proença
Deparei-me há dias com esta polémica. Li tudo o que foi escrito e tenho a dizer o seguinte:
O jornalista do Público deve criticar um espectáculo e dizer se este foi bom ou mau. Deve fundamentar e explicar. Até aqui tudo bem. Mas concordo com quem acha que ele revelou falta de bom senso e, até, de educação nos exemplos apontados.
Acredito que tenham sido momentos de infelicidade - todos os temos - e acredito que isto tenha ido longe de mais.
No entanto, acho bem que lhe chamem a atenção para que não repita mais graçolas buçais e que ofendem parte dos seus leitores. Chama-se a isto viver em democracia: máxima liberdade, máxima responsabilidade.
Não me parece que o que se lê por este blog seja gente a querer que a liberdade de opinião seja abolida, obrigando jornalistas a dizerem bem de espectáculos de que não gostaram.
O que se defende é que digam mal, sim, se não tiverem gostado, mas sem usarem a) dados factualmente errados; b) expressões de mau gosto
Esta é, pelo menos, a leitura que faço da opinião do Provedor e de Nuno Pacheco.
Não li, também, ninguém a ameaçar o jornalista João Bonifácio, pelo que acredito que não esteja "lixado" se for ao Restelo nem a qualquer outra terra de Portugal.
Juntando-me ainda à discussão sobre parcialidade/imparcialidade, deixo apenas isto (do diccionário Priberam):
imparcial
adj. 2 gén.
adj. 2 gén.
1. Que não favorece um em detrimento de terceiro.
2. Que revela imparcialidade.
3. Que não tem partido.
4. Recto!Reto, justo.
5. Que julga como deve julgar entre interesses que se opõem
parcialidade
s. f.
1. Preferência injusta.
2. Partido; bando, facção!fação.
Aos 79 anos morreu um dos maiores actores portugueses de todos os tempos. Raul Solnado era sócio do Belenenses e habitual frequentador das bancadas do Restelo. Para João Bonifácio ele era apenas um "velhinho no Restelo". Pena que Solnado não esteja presente para dizer directamente a Bonifácio uma frase simples e singela que tantas vezes escutámos: "faz o favor de ser feliz". Quem escreve com ódio nas veias não merece pedradas, mas um pouco de compreensão e de carinho para que consiga, um dia, vir a ser feliz.
Joana:
"Espero bem que o público não envie o sr Bonifácio ao próximo espectáculo dos Xutos e pontapés no Restelo, a bem da sua integridade física e da crit+tica do jornal."
Acho q isto diz tudo. Quanto a preferências "injustas", não sei qual preferência foi injusta
Como duvido que a expressão dos velhinhos fosse aplicada depreciativamente para falar do Raúl Solnado. Não que isso impeça a cruzada, claro.
Gosto da velhinha que está na foto.
quanto ao rigor crítico de João Bonifácio, espero que esteja a milhas dos seus conhecimentos de francês, ou não foi ele o autor daquela magnífica tradução/ interpretação de Brel que recaiu sobre o "... ombro do teu cão"!! Pelos vistos o crítico continua sem revisão...
Beep Beep
Só mostrei o significado de parcialidade porque era aqui sugerido que a crítica deve ser parcial.
E eu só quis mostrar que a parcialidade é um erro.
O jornalista tem (tal como o crítico) de SEMPRE SER IMPARCIAL.
Quanto às supostas ameaças ao J. B. não são, claramente, para levar a sério.
Há gente que se excede nos comentários mas não faz mal a uma mosca.
Se assim fosse, já lhe tinham ido bater. Não esperavam que ele fosse visitá-los.
A crítica imparcial não é crítica. Não é uma opinião pessoal. Nem precisa de vir assinada. Nem sei como se escreve uma crítica imparcial.
Duvido muito que se a crítica dissesse "Os Killers mostraram que são uma banda pop de primeira água, dando um excelente concerto" houvesse tanta celeuma com parcialidades. 95% das críticas que se lê são positivas. Serão imparciais?
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