domingo, 2 de agosto de 2009

Os "velhinhos" do Restelo

Um jornal que ambiciona ter uma função federadora em relação à população dever cuidar de não alienar os diversos grupos sociais

Não é curial que o jornal envie para criticar um espectáculo quem a priori assume a sua aversão aos artistas


Nos últimos dias houve mosquitos por cordas devido ao texto “Um festival sem festa”, de João Bonifácio, publicado na pág. 8 do P2 de 20 de Julho (e na véspera no PUBLICO.PT). Tratava-se do relato crítico de um concerto do grupo norte-americano The Killers, dito de “rock alternativo”, realizado no Estádio do Restelo, em Lisboa, que é também o campo do clube de futebol Os Belenenses. O provedor recebeu uma revoada de críticas ao artigo, numa rara convergência colectiva de leitores contra um trabalho saído no PÚBLICO. As reclamações dividiam-se em duas categorias: as que discordavam das pouco abonatórias considerações de João Bonifácio sobre o espectáculo e as que se insurgiam contra o paralelismo que o autor fazia entre as actuações da equipa e da banda no local: “O Belenenses joga e há duas dezenas de velhinhos nas bancadas, nem uma palha bule, é um sossego. (...) O povo esteve manso. (...) Foi a festa possível e foi escassa como os fins de tarde futebolísticos no Restelo costumam ser”.

João Bonifácio é crítico musical do PÚBLICO. Embora não aparecesse apresentado como tal, este texto consistia na crítica ao espectáculo. Houve portanto um lapso que terá concorrido para alguns equívocos. O erro na correcta identificação do artigo foi já assumido, no editorial de 23 de Julho, por Nuno Pacheco, director adjunto do jornal. Fora essa questão, existe inteira liberdade de crítica no PÚBLICO, pelo que o provedor não se pronuncia (nem para tal possui competência) sobre as conclusões musicais extraídas por João Bonifácio, remetendo para o seu blogue tanto as queixas dos leitores nesse domínio como a resposta que entretanto o crítico entendeu dar-lhes.

Mas, a este respeito, é forçoso chamar a atenção para um pormenor (não tão pequeno como isso): João Bonifácio assume no seu artigo que não é apreciador da banda cuja actuação analisou (“Por muito que não gostemos dos Killers – e não gostamos nem um pouco –, ao menos têm um espectáculo tão bem ensaiado que, por um instante, quase acreditamos que estamos num festival de Verão”). Alguns leitores salientaram esse aspecto, como um apenas identificado como Francisco: “Trata-se de exercício fastidioso de quem por obrigação profissional teve de ir fazer a cobertura de um evento sem a mínima motivação (...). Qualquer dia arriscamo-nos a ter jornalistas vegetarianos a fazer crítica gastronómica a uma steakhouse... Claramente não pode dar bom resultado…”

Pelo contrário, João Bonifácio assume-se como “honesto” ao confessar a antipatia pelo grupo: “O leitor fica a saber que, apesar de não ter apreço estético pelo que ouvi, reconheço qualidade ao espectáculo, o que me parece elogio maior que o de quem já está convencido à partida. E escrevo ‘não gostamos’ (no plural) porque o livro de estilo não me permite escrever ‘não gosto’. Estou convencido de que o gosto e a honestidade do crítico são importantes numa crítica”.

Ao provedor, porém, não parece curial que o jornal envie para criticar um espectáculo quem a priori assume a sua aversão aos artistas. Não é crível que um crítico com tal parti pris consiga manter o mesmo tipo de abordagem e distanciamento que terá perante intérpretes que aprecie ou lhe sejam indiferentes. Tal atitude prejudica a igualdade de tratamento que o PÚBLICO deveria dar a todos os intervenientes nos eventos que cobre, como jornal cujo estatuto editorial defende o recurso aos “indispensáveis mecanismos da objectividade”.

Quanto às apreciações de João Bonifácio sobre o clube do Restelo e o seu público, os protestos foram mais violentos. “Os Belenenses não merecem estas palavras vindas de ninguém, muito menos de um jornal como o PÚBLICO”, escreve João Carlos Silva, que, feito sócio do clube há 28 anos, quando era um garoto, rejeita o epíteto “velhinho”. E diz José Manuel Anacleto, após anunciar ter deixado de ler o PÚBLICO por causa desta crítica: “A maneira como (...) se permitiram achincalhar um dos maiores clubes portugueses (...) e as suas largas de dezenas... de milhares de sócios e adeptos – nos quais me incluo –, não me permite olhar para o vosso jornal sem um sentimento de profunda repulsa”. Outro anónimo é ainda mais duro: “Nem mesmo com pedido de desculpas do PÚBLICO voltarei a comprar esse ‘jornal’, que permite ter jornalistas como João Bonifácio”. O sócio Tiago Pinho proclama: “Não pactuamos com desconstrutores da moral e exigimos que João Bonifácio se renda à clara e expressiva grandeza social e histórica da instituição que, infelizmente, ofendeu”. Finalmente, entre outros, um sócio antigo, Álvaro Lopes da Cruz: “Tenho 74 anos e devo ser um dos ‘velhinhos’ a quem de forma tão mal educada esse senhor se dirige. Seria boa ideia que respeitasse os mais idosos e conhecesse a história do grande Belenenses, clube com 90 anos e por onde têm passado milhares e milhares de crianças e jovens”.

Alguns destes protestos, incluindo um da própria direcção do clube, foram também enviados à direcção do jornal, e no editorial já referido Nuno Pacheco admitia que “o Belenenses, pela sua história, actividade e prestígio, merece um público e sincero pedido de desculpas”, reassalvando porém que “a independência da crítica, desde que assinalada como tal, continuará a ser respeitada no PÚBLICO”.

O assunto poderia ser aqui encerrado, mas entretanto João Bonifácio, na resposta à solicitação do provedor para se pronunciar sobre os protestos, reivindica para si toda a razão. Só essa resposta, bastante minuciosa, não caberia nesta página, e por isso a sua integralidade é remetida para o blogue do provedor, salientando-se aqui apenas os tópicos fundamentais: “Comparei o festival com o futebol do Belenenses pela razão óbvia: (...) os resultados do Belenenses nos últimos dois campeonatos foram fracos, e o festival que ali decorreu idem (na minha opinião). (...) Querer impedir que se façam comparações inesperadas num exercício crítico é querer impedir o humano de ser humano. (...) O Belenenses (...) é dos clubes com o estádio mais vazio. E é apenas a esse facto a que a frase ‘há duas dezenas de velhinhos nas bancadas’ se refere. (...) Não há nenhum insulto, antes uma brincadeira que eu diria mesmo carinhosa: o Belenenses é o meu segundo clube, desloco-me ao Restelo três ou quatro vezes por ano e na bancada central encontro sempre grande predominância de adeptos mais idosos. Se eu usasse a expressão coloquial ‘meia-dúzia de adeptos’ já não seria ofensivo? (...) Haverá a mínima possibilidade de me concederem que pessoalmente considero a expressão ‘velhinhos’ carinhosa (...)? Será que a idade é ofensiva? (...) É óbvio que não há apenas duas dezenas de velhinhos no Restelo, mas alguém, por um segundo, não percebe o sentido da frase? (...) Não é por se tratar de cultura massificada que devemos ser condescendentes, apesar de ser essa a prática corrente. (...) Qualificar de ofensa o meu texto é pelo menos abusar da interpretação. (...) Lamento que o meu texto tenha ofendido alguns leitores, porém parece-me que não só é preciso aceitar toda uma diversidade de opiniões diferentes como também toda uma diversidade de registos. (...) Ao pedir desculpas a uma instituição que me chamou, numa carta em que se treslê o que escrevi, ‘boi’ e ‘cobarde’, o PÚBLICO está a vincular-se a esses insultos?”

Como o provedor já considerou noutras ocasiões, o PÚBLICO, que ambiciona claramente ter uma função federadora em relação à população portuguesa, deveria cuidar de não alienar os diversos grupos sociais com considerações gratuitas ou de mau gosto, eventualmente ofensivas. A responsabilidade não é de João Bonifácio, mas de um editor que deveria ter feito a leitura prévia do texto e chamar-lhe a atenção para uma passagem mais desprimorosa para os adeptos de um clube. Na esmagadora maioria dos casos, o redactor cai em si, muda o que tiver de ser mudado e o texto cumpre na mesma a sua função.

CAIXA:

Uma foto perversa

O antetítulo da crónica de José Pacheco Pereira publicada na edição de 11 de Julho dizia que, “no actual estado de degradação das estruturas partidárias, os partidos são verdadeiras escolas de tráfico de influência”, enquanto o título inquiria: “Os partidos são responsáveis pelos crimes dos seus dirigentes?” O texto fazia alusão a diversos casos suspeitos de confirmar as teses do articulista, mas não comprovados: Freeport, BPN, abate ilegal de sobreiros, aquisição de submarinos, venda do prédio dos CTT de Coimbra. Como ilustração, era usada uma fotografia do Freeport de Alcochete. Reclamou o leitor José Alberto Tomé: “O caso parece-me grave e demonstrativo da falta de ética de quem terá sido responsável pela composição/edição da coluna. (...) A associação feita entre ‘crimes de dirigentes partidários’ e ‘Freeport’ é escandalosa, e julgo que passível de processo criminal (ou será que algum dirigente partidário – e todos sabemos a quem aquela associação título/foto se refere – já foi julgado e condenado sem que o PÚBLICO o tenha noticiado?)! (...) Não esperava tanta desfaçatez!”

Explicações de José Vítor Malheiros, editor responsável pela página: “Fui eu que pedi a foto que ilustra o texto, ainda que não a tenha visto antes da publicação (por ter chegado quando eu já tinha saído). Como o texto referia vários casos sob investigação – entre os quais o BPN e o Freeport –, pedi foto de uma dessas empresas (...). O comentário do leitor é compreensível, mas a foto, nestes casos, apenas pretende ilustrar o texto, e é natural que ‘fale’ daquilo que o texto ‘fala’. (...) Devido a problemas deste tipo (...) seria conveniente que os artigos de opinião não fossem ilustrados por fotografias, a exemplo aliás do que acontece em muitos outros jornais. A maquete dessas páginas no PÚBLICO, porém, obriga à sua inclusão”.

Na opinião do provedor, a maquete faz uma associação perversa entre o caso Freeport e os “crimes” de “dirigentes partidários” mencionados em título (sabendo-se que muitos leitores só lêem os títulos e vêem as imagens), pelo que, a bem da linha editorial do PÚBLICO, dever-se-ia ter encontrado outra solução gráfica, para mais quando estamos perante casos tão sensíveis na actual política portuguesa.

Publicada em 2 de Agosto de 2009

DOCUMENTAÇÃO COMPLEMENTAR:

Cartas de leitores sobre o texto de Josão Bonifácio “Um festival sem festa”

É com surpresa que leio o que li a respeito das palavras escritas do Sr. Bonifácio. É mau de mais para acreditar, gostava de entender o que levou esse senhor a escrever tais palavras. Quem tem algum dom para a escrita deve facilmente entender que existe algo de muito estranho na ideia do Sr. Bonifácio.

Os Belenenses não merecem estas palavras vindas de ninguém, muito menos de um jornal como o PÚBLICO. É uma mancha, uma nódoa dificil de retirar, mas sai... Lá diz o ditado "No melhor pano cai a nódoa".

Sobre o Festival ou a "Toirada dos mansos", não fazem qualquer sentido as críticas desse senhor, os jornais não são para desabafos infundados e tolos, são para gente séria que respeita o opinião dos outros. Não sei que idade tem este senhor, mas para escrever para um jornal desta forma devia ter a suficiente da do juizo.

Este País não precisa de gente como o Sr. João Bonifácio, dizer as verdades é uma coisa, dizer disparates e tolices é outra. Que cada palavra minha lhe doa na alma, porque as suas já me marcaram.

João Carlos Silva, sócio do CFB há 28 anos, tenho 38 não
sou velhinho, como pode notar

Venho por este meio, e usufruindo da "ferramenta" existente, apresentar o meu total desagrado e desalento pela noticia publicada no dia 20/07/2009 na edição digital do jornal, na área de Cultura, tendo como título "Super Bock Super Rock: Um festival sem festa", de João Bonifácio.

Devo, primeiramente, confessar que estive presente no evento e que de facto é notório que não foi o melhor ano para o festival Super Bock Super Rock. Contudo não é de factos que a notícia publicada trata, mas de mera expressão de uma opinião sem conteúdo e com pouco rigor.

Quando li a notícia senti-me ofendida e senti que não enquandrava no parâmetro informativo ao qual me habituei no PÚBLICO. Sempre equacionei o vosso rigor, a vossa capacidade informativa e também a vossa genialidade crítica. Contudo, o artigo/notícia escrito é uma anulação, uma discrepância face aos valores/padrões aos quais me habituaram.

Constato que a mesma se encontra pouco objectiva e sem qualidade de redação. Não percebemos o que se passou naquele festival naquela noite, porque o que o jornalista diz automaticamente desdiz: "Quase acreditamos que estamos num festival de Verão, em que a juventude se entrega ao hedonismo e ao exagero próprios da saúde que tem. (Apesar de isso não ter acontecido.)" Estavam cerca de 32 mil pessoas em que a maioria era jovens, grupos de jovens entusiamados, festivos e rendidos a mais um festival de Verão. "Ganham pontos extra por tentarem fazer barulho, por terem um trompete e por terem coristas. Perdem esses pontos por não terem canções."

Ao lermos uma notícia queremos saber o que aconteceu, onde, como, quando, porquê... Não espero nem procuro a opinião do jornalista: "Por muito que não gostemos dos Killers (e não gostamos nem um pouco)".

Se por outro lado lermos um artigo de opinião, uma crítica, queremos saber os aspectos negativos, mas também os positivos; queremos saber a realidade com adjectivos, mas nunca com acusações, ofensas ou metáforas ocas: "Todas as canções têm riffs óbvios que desaguam em refrões invariavelmente em crescendo, a base rítmica é sempre funk-deslavado ou disco-sound reciclado, todo o motivo melódico tem de ter um carácter épico e há sempre um sintetizador piroso para convencer os nostálgicos dos anos 80".

Para lá da falta de qualidade, da incorrecta escolha de palavras o jornalista "ofendeu", abordando temáticas desnecessárias, o clube, o local escolhido, inúmeras pessoas que trabalham e que se associam ao Beleneses: "O Belenenses joga e há duas dezenas de velhinhos nas bancadas, nem uma palha bule, é um sossego. Portanto a ideia de fazer um festival de música popular naquele mesmo estádio quase parece uma acção de beneficência."

Por tudo isto e por muito mais que poderia argumentar, demonstro o meu desagrado e produnda descrença neste trabalho editorial. O SBSR não foi noticiado no vosso jornal, foi antes criticado, completamente desvalorizado/desqualificado.

E, se a liberdade de expressão existe, há que fazer uso da mesma, há que expressar o que ocorre não manipulando nem degradando o trabalho dos outros. Assim, reitero tudo acima escrito e confirmo, novamente, o meu total desalento perante esta vossa opção.

Liliana Costa

Venho por este meio apresentar para análise a seguinte notícia:
Super Bock Super Rock: Um festival sem festa. 20.07.2009 - 09h31 João Bonifácio

Como leitor do PÚBLICO, impressiona-me que seja possível que uma reportagem possa ser totalmente preenchida com opinião do autor. Ao escrever sobre o festival, João Bonifácio não informou sobre o número de pessoas presentes, sobre os problemas que os "festivaleiros" tiveram, como por exemplo falta de casas de banho e filas de hora e meia para comer.

Pretendeu, apenas, usar as páginas do jornal onde escreve para dar uma opinião pessoal sobre o que viu e sobre o que não viu.

Que João Bonifácio não goste das bandas que tocaram no estádio do Restelo, que não goste do clube que joga no estádio do Restelo, nada contra. Que o transmita no texto que publica no jornal PÚBLICO já me surpreende mais. Não tanto por ser o senhor Bonifácio, sim por ser o PÚBLICO.

Refere-se aos adeptos do Belenenses como meia dúzia de "velhinhos" e ao ambiente do estádio como calmaria tal que "nem uma palha bule, é um sossego".

Conclui a ideia com esta barbaridade: "Portanto a ideia de fazer um festival de música popular naquele mesmo estádio quase parece uma acção de beneficência."

Deixando os velhinhos atrasadinhos mentais do Belenenses para trás, vamos então ofender os leitores. Afinal, pelo que leio no PÚBLICO, o comportamento de quem gosta de música rock num concerto é primário e culpa dos tempos de mudança, pelo menos na cabeça do sr. Bonifácio.

"Estavam entre mil a duas mil pessoas a vê-los, que gritavam quando as guitarras se levantavam. Mas bastava olhar para aquela juventude para notar ao que vinham: tinham t-shirts dos Killers, o nome The Killers desenhado nos braços, cartazes com a inscrição The Killers. Gritavam quando as guitarras explodiam porque foi isso que a música dos The Killers lhes ensinou: quando o volume explode, há que berrar".

Ou seja, os Killers ensinaram os burrinhos que ouvem rock há anos, que devem saltar e berrar (fazer, portanto, o festival que o senhor Bonifácio entende que não existiu - contraditório). Lamentável!

Mostrando falta de respeito pelo trabalho da cantora Brandi Carlile, Bonifácio distraiu-se e falou do concerto: "Brandi Carlile devia ter mais um ou dois pares de milhares de almas a assistir. Desde o Sudoeste de 2007, esta é a quarta vez que Carlile vem a Portugal, tudo graças a um trecho épico de uma canção num anúncio de cerveja. Carlile podia ter optado por tocar apenas esse trecho, mas preferiu fazer desfilar um sem-número de variações anódinas de rock adulto, em que invariavelmente a sua voz ia aos agudos com a fé dos devotos, assim estragando qualquer possibilidade de um final de tarde tranquilo. Fez uma data de versões, todas elas óbvias: dos Radiohead foi buscar "Creep"; de Cash "Folsom Prison Blues"; e de Cohen "Hallelujah". Carlile não gosta de música, gosta da hora de ponta da rádio FM".

Ah, espera. O fim do comentário tinha de ser jocoso e ofensivo - quer para Carlile quer para quem a ouve e, no caso, compra o PÚBLICO e fica a saber que não gosta de música, pela pena de um jornalista.

Segue-se outra banda. Mando Diao: "Mais uns milhares de almas depois, os Mando Diao subiram ao palco com guitarras barulhentas, um percussionista que também tocava trompete e duas coristas. Ganham pontos extra por tentarem fazer barulho, por terem um trompete e por terem coristas. Perdem esses pontos por não terem canções".

Pronto, os Mando Diao não têm canções. O que eu ouvi foi apenas barulho. Obrigado pela informação. Dizer que músicas os Mando Dia tocaram, partindo do princípio de que quem lê a notícia e compra o jornal tem interesse em saber o que aconteceu, isso o senhor Bonifácio não fez. Houve barulho. Nomes de canções tocadas é que não.

E agora a revelação do ano: músico que não anda nesta vida por causa da droga é caso raro. Pelo menos a julgar pelas palavras do sr. Bonifácio: "E assim se chegou a Duffy, que tem óptimas canções, mas poucas. Envergando um belo vestido com pintas pretas, ofereceu três quartos de hora de soul à antiga, a que só faltou uma secção de metais. A mais-valia desta moça de extraordinária voz é a sua crença pura: percebe-se que ela não está ali pelo cool ou pela droga. Ela gosta daquilo e enche as canções com uma alma rara. Fez muitas famílias e casalinhos felizes e merece a mesma felicidade ou mais ainda."

Curiosamente, o jornalista não referiu o facto de a maior parte dos espectadores estarem à hora deste concerto nas filas de hora e meia para comerem. Tão pouco noticiou (talvez não tenha reparado, ou até presenciado, já que podia/devia estar a jantar na tenda de imprensa/vip) que Duffy saiu de palco sem sequer se despedir do público.

O cabeça de cartaz, que colocou 30 mil aos saltos - algo que, já se viu antes, o sr. Bonifácio desaprova -, também teve direito a pérolas: "Às 23h30, os Killers subiram ao palco para espalhar o seu charme gongórico. Era basicamente por eles que a maior parte das pessoas ali estava, e fizeram sabê-lo reagindo entusiasticamente a cada movimentação de Brandon Flowers, o frontman"

Pelos vistos, as pessoas reagiram entusiasticamente a cada movimentação! Não quererá isso dizer... festa? (a tal que não houve no festival, segundo o título da notícia?)

"Por muito que não gostemos dos Killers (e não gostamos nem um pouco), ao menos têm um espectáculo tão bem ensaiado que, por um instante, quase acreditamos que estamos num festival de Verão, em que a juventude se entrega ao hedonismo e ao exagero próprios da saúde que tem. (Apesar de isso não ter acontecido.)"

Ou seja: o jornalista não gosta nem um pouco de Killers, mas reconhece que eles têm um espectáculo bem ensaiado. Depois, nesta frase desdiz a anterior. Se as pessoas reagiram entusiasticamente a cada movimentação, como raio é possivel dizer que não se entregaram ao hedonismo e ao exagero...?

Depois, uma análise à carreira dos Killers e não ao concerto. Menção a músicas tocadas? Mais uma vez... quase nada: "Todas as canções têm riffs óbvios que desaguam em refrões invariavelmente em crescendo, a base rítmica é sempre funk-deslavado ou disco-sound reciclado, todo o motivo melódico tem de ter um carácter épico e há sempre um sintetizador piroso para convencer os nostálgicos dos anos 80".

Mas... espera... afinal diz uma música. Para dizer mal, claro, e ainda para criar uma imagem agressiva e incómoda para o leitor - já para não referir o mau gosto: "A meio de 'All this things that I've done' (toalhas de órgãos berrantes, canto épico), ocorre-nos que eles estão a meio caminho entre os Def Leppard e o pior de Bruce Springsteen e quase ficamos à espera do momento em que vamos ouvir cantar uma versão fatela de 'Born in the USA' sob um fundo disco-sound enquanto a câmara foca um baterista com um só braço".

Depois de se rir com a imagem criada - e de, possivelmente, a ter divulgado rapidamente a todos os seus amigos, para que estes lhe tecessem loas -, a estocada final. Julgava, porventura, o sr. provedor que o sr. Bonifácio se tinha deixado de piadas de mau gosto ao CF os Belenenses? Pois então fique com esta, para analisar:
"Foi a festa possível e foi escassa como os fins de tarde futebolísticos no Restelo costumam ser".

Além do mau gosto, um fim de semana futebolístico não pode ser escasso. Pode ter escassa qualidade de jogo, pode até ter poucos jogos. Se queria insultar, é pena ter falhado o português. Mais: é pena que não saiba português, apesar de procurar palavras rebuscadas.

Nuno

Venho por este meio mostrar o meu desagrado pelo patético artigo que o senhor João Bonifácio teve a infelicidade de publicar.

Por momentos durante a leitura do artigo fiquei um pouco confusa... não sabia se aquilo fazia parte de um jornal ou do diário privado desse tal senhor. Que falta de ética.

Anónima

Venho por este meio manifestar a minha profunda indignação para com o artigo da autoria de João Bonifácio sobre o Festival Super Bock Super Rock, onde insulta directamente todo o universo de adeptos, associados (como eu) e clube em si (Clube de Futebol "Os Belenenses") directamente.

Não será a função do sr. jornalista relatar os factos de forma isenta e sem ofensa a ninguém? Se na sua opinião o tal festival não correspondeu às suas expectativas, tem todo o direito de o dizer, agora ofender de uma forma clara e indecorosa os adeptos de "Os Belenenses" é que não!

Assim gostaria de ver esse senhor a realizar um pedido de desculpas aos adeptos, associados e clube, bem como a direcção do seu jornal, tido como um dos melhores no panorama jornalístico português.

Anónimo

Fui durante cerca de 20 anos leitor quase diário do vosso jornal. Deixei de o ser ontem.

A maneira como num artigo que deram à estampa se permitiram "achincalhar" um dos maiores clubes portugueses, o Clube de Futebol "os Belenenses", e as suas largas de dezenas... de milhares de sócios e adeptos - nos quais me incluo -, não me permite olhar para o vosso jornal sem uma sentimento de profunda repulsa. Tal só mudará com um público pedido de desculpas e reposição da verdade, com o mesmo destaque que o artigo teve.

Como é grande a ignorância em tudo o que não diga respeito a três clubes, junto umas pequenas notas sobre os 90 anos de Belenenses, despedindo-me com cumprimentos que não podem ser especialmente cordiais, para ser sincero.

José Manuel Anacleto

Pode agradecer ao sr. João Bonifácio (artigo do Super Bock Super Rock) o facto de o PÚBLICO perder mais um cliente.

Nem mesmo com pedido de desculpas do PÚBLICO o voltarei a comprar esse "jornal", que permite ter jornalistas como o Bonifácio.

Anónimo

Em meu nome e em nome de toda a minha família, toda ela associada e adepta do C.F Os Belenenses, venho condenar de forma veemente as atoardas digitadas de forma irresponsável no PÚBLICO.

É de lamentar o teor ofensivo e desrespeitoso com que o senhor João Bonifácio confrontou e ofendeu toda a família belenense.

Assim, numa revolta geral suportada por quem ama a instituição CF os Belenenses, venho exigir da parte do jornal PÚBLICO, e em especial ao Sr. João Bonifácio, um sincero e arrependido pedido de desculpa.

Não pactuamos com desconstrutores da moral e exigimos que o Sr. Bonifácio se renda à clara e expressiva grandeza social e histórica da instituição que, infelizmente, ofendeu.

Tiago Pinho, sócio 3931 do Clube de Futebol "Os Belenenses"

Deixo um link para uma reportagem publicada em vosso site e deixo a vosso cargo uma interpretação, sem expressar nenhum outro comentário, pois tal nem é merecido.

É um "texto" digno de crónica, nada mais que isso. Como deixam tais coisas serem "publicadas"?

O leitor (cada vez menos) atento,
André Gonçalves

Venho demonstrar o meu desapontamento para com a notícia "Um festival sem festa". Chamar notícia àquele texto constitui por si só um elogio do mesmo, que não pretendo fazê-lo...

Trata-se de exercício fastidioso de quem por obrigação profissional teve de ir fazer a cobertura de um evento sem a mínima motivação para o fazer – frases como "Por muito que não gostemos dos Killers (e não gostamos nem um pouco)".

Um exercício de pseudo-intelectualismo, de crítica contra tudo e todos, que faz pensar a quem não foi que o que se passou no estádio foi algo de penoso. Talvez o único que penou tenha sido o jornalista João Bonifácio, que despejou a ira em consecutivos parágrafos de maledicência.

Com isto queria dizer que o jornalista deveria ter um mínimo de motivação para escrever um artigo, e deveria identificar-se minimamente com o mesmo, ou qualquer dia arriscamo-nos a ter jornalistas vegetarianos a fazer crítica gastronómica a uma steakhouse... Claramente não pode dar bom resultado… E vai dizaer que tudo era mau, péssimo, horrível…

Francisco

Venho por este meio demonstrar a minha indignação pelo que li no artigo sobre o festival Super Bock Super Rock, escrito pelo Sr. João Bonifácio, onde constatei que é feita uma observação ao Clube de Futebol Os Belenenses em termos indignos para com o clube.

Este é o inicio do artigo: “Toda a gente que segue futebol com um mínimo de regularidade conhece a constante nudez quinzenal do Estádio do Restelo. O Belenenses joga e há duas dezenas de velhinhos nas bancadas, nem uma palha bule, é um sossego. Portanto a ideia de fazer um festival de música popular naquele mesmo estádio quase parece uma acção de beneficência”. E este é o final: “Foi a festa possível e foi escassa como os fins de tarde futebolísticos no Restelo costumam ser”.

Até parece que o jornalista em causa precisou de recorrer a este grande clube para disfarçar a “nudez” de ideias para escrever sobre o que realmente deveria ter escrito. Não necessitava certamente era de maltratar o clube e consequentemente os simpatizantes e associados, aos quais tenho a honra de pertencer.

Belém até morrer

Manuel Gomes

Não queria acreditar quando o meu filho me indicou este artigo. É inadmissivel que o Clube de Futebol "Os Belenenses" seja ofendido desta maneira no texto assinado por João Bonifácio e dedicado a um espectáculo musical. Tenho 74 anos e devo ser um dos "velhinhos" a quem de forma tão mal educada esse senhor se dirige. Seria boa ideia que esse senhor respeitasse os mais idosos e que conhecesse a história do grande Belenenses, um clube com 90 anos e por onde têm passado milhares e milhares de crianças e de jovens. A ausência de respeito demonstrada pela instituição e pelos seus associados é inqualificável.

Álvaro Lopes da Cruz

Acho completamente descabidas as palavras do senhor jornalista (?) João Bonifácio na notícia publicada no dia 20/07/2009 sobre o festival Super Bock Super Rock.

Esse senhor como jornalista devia saber que regras gerem o jornalismo, bem como o seu código deontológico, que deveria ser cumprido por ele.

Esse senhor ofendeu os adeptos do Belenenses, clube que "emprestou" a sua casa para este festival. Ofende também todos os fãs das bandas que lá estiveram, incluindo os cabeças de cartaz, The Killers. Eu, como fã da banda, e como cidadão livre, venho repudiar todo o artigo de opinião (supostamente reportagem), sim, porque não é uma reportagem mas um desabafo de um senhor que não percebe daquilo que está a falar, bem como não tem decência jornalística, só falta de critério e conhecimento da realidade internacional e nacional.

As seguintes afirmações são uma falta de respeito para milhares de pessoas que lá estavam presentes, bem como todos os adeptos e simpatizantes do Belenenses. O gozo com que esse senhor escreve mostra a arrogância intelectual de alguém que não faz parte de uma sociedade com regras e actual, que tem todo o direito e liberdade de expressão sempre e quando não ofenda pessoas a título individual e grupos organizados ou não organizados, bem como os jovens, que têm o direito de passar a sua adolescência divertida, sendo fãs e devotos, já que todos nós passamos por isso, compreendemos isso:

"O Belenenses joga e há duas dezenas de velhinhos nas bancadas, nem uma palha bule, é um sossego."; "...apesar de ser um festival, de música e ainda por cima popular, o Super Bock Super Rock teve pouca festa, música que ai Jesus e o povo esteve manso."; "Mas bastava olhar para aquela juventude para notar ao que vinham: tinham t-shirts dos Killers, o nome The Killers desenhado nos braços, cartazes com a inscrição The Killers. Gritavam quando as guitarras explodiam porque foi isso que a música dos The Killers lhes ensinou: quando o volume explode, há que berrar. "; "Por muito que não gostemos dos Killers (e não gostamos nem um pouco), ao menos têm um espectáculo tão bem ensaiado que, por um instante, quase acreditamos que estamos num festival de Verão, em que a juventude se entrega ao hedonismo e ao exagero próprios da saúde que tem. (Apesar de isso não ter acontecido.)"

Esta última afirmação feita pelo jornalista do vosso jornal mostra toda a verborreia bem como a tomada de partido numa reportagem que mais parece um artigo de opinião. Isso não se faz, já que toma um decisão por parte de todos os que trabalham no vosso órgão de comunicação social.

Tal como diz o ponto 1 do Código Deontológico do Jornalista: "O jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público."

Gostaria de ver este caso exposto à chefia do PÚBLICO, já que é uma falta de respeito do pseudo-jornalista para uma imensidão de pessoas que acredita em e lê o vosso jornal, que cada vez mais perde qualidade, tornando-se um espaço de "novelas da vida real" feitas por alguns jornalistas que servem a vossa "casa".

Anónimo

Já fui um leitor assiduo do PÚBLICO. Por motivos que não têm a ver com o jornal, continuo a comprá-lo à sexta-feira e sigo com alguma tristeza as perdas de leitores que tem vindo a registar.

Fiquei triste com a saida de alguns jornalistas, tais como Miguel Sousa Tavares e Laurinda Alves, entre outros, mas contínuo a considerar o PÚBLICO um jornal de referência, e não o comparo com jornais que têm muito mais leitores.

Por isso considero de grande coragem a atitude da empresa SONAE, que nunca ganhou um cêntimo com o jornal mas contínua a achar que é importante haver opiniões de qualidade.

Sou adepto do Belenenses e fiquei deveras chocado com uma opinião de um vosso jornalista (?) que acerca de um concerto de rock teceu comentários grosseiros, em relação aos quais penso que a direcção do PÚBLICO até esta data não procedeu como devia.

Por isso gostaria de expor o seguinte:
- Alguns dos colaboradores do jornal que lhe davam qualidade foram dispensados, o jornal perde leitores todos os dias e um seu colaborador fala como se estívesse a falar de um jornal líder de audiências; por haver uma partidarização do desporto é que todos os outros clubes em Portugal são sufocados pelos três grandes clubes portugueses.
- Ficarei triste se um dia Portugal ficar apenas com dois ou três jornais e todos os outros ficarem pelo caminho.
- Acaso o dito Bonifácio, além de ler as revistas especializadas e escrever sobre esse tema, saberá quantos jovens o Belenenses movimenta em todas as suas modalidades? Certamente mais do que os leitores do dito.

Cada um é livre de dizer o que lhe apetece, ofender um clube condecorado com a medalha de mérito desportivo é que penso ser algo que não esperava num jornal dito de referência.

É bom que em Portugal continuem a existir clubes pequenos, médios e grandes, tal como é um bom haver jornais bons como o PÚBLICO.

Fico a aguardar uma reparação da direcção do jornal.

Anónimo

É lamentável o estado a que chega o vosso jornal, que já foi para mim uma referência. Os vossos jornalistas pensam que são cronistas de pacotilha, e num só texto conseguem ofender e muito uma instituição como o Clube de Futebol os Belenenses. É triste.

Lamentável a situação do jornal... Espero que muitos dos vossos bons profissionais não sofram as consequências anunciadas, e muito por culpa de Bonifácios que envergonham a classe.

Anónimo

Fiquei bastante admirado com o teor da introdução de uma notícia a respeito de um festival de música que teve lugar no Estádio do Restelo. Enquanto sócio com lugar cativo, sou testemunha de que o afirmado pelo sr. jornalista não corresponde à realidade. Porém, a minha indignação prende-se mais com as palavras escolhidas, as quais não me parecem ser muito felizes.

Deixo uma das frases que considero pouco elegantes: "O Belenenses joga e há duas dezenas de velhinhos nas bancadas, nem uma palha bule, é um sossego"

L.S.O.

É com enorme indignação que venho por este meio demonstrar o meu desagrado com o péssimo, creio eu, jornalismo exercido pelo sr. João Bonifácio na sua peça "Super Bock Super Rock: Um festival sem festa".

Uma peça que deveria ser informativa e relatar o que se passou num festival de música, não passou mais do que mera opinião pessoal do jornalista em causa, denegrindo inúmeras bandas bem como as pessoas que foram lá assistir, já para não falar da metáfora futebolística que o jornalista tentou colocar no seu texto, mas que, salvo melhor opinião, não teve muita piada.

Estou em crer que não fui o único que escreveu ao sr. provedor, e como é visivel na caixa dos comentários da "notícia" a estupefacção é geral.

Eu compreendo que alguém não goste de estar a trabalhar num sábado à noite, mas chegar ao ponto de debitar "ácido" em cada palavra colocada no seu texto é realmente constrangedor.

Esta peça é tudo menos uma peça jornalistica, talvez uma "peça blogueira", mais do que qualquer outro género.

Trinta mil pessoas estiveram erradas na noite de sábado... tudo porque o sr. Bonifácio assim o entendeu.

"Por muito que não gostemos dos Killers (e não gostamos nem um pouco)...": gostaria de saber por quem está a falar o jornalista! Pela redacção?! O sr. provedor também não gosta dos The Killers?!... Ficamos sem saber, mas para a notícia não creio que seja necessário saber que o PÚBLICO não gosta da banda nem um pouco.

Nuno Ferreira

Ao consultar a edição online do PÚBLICO verifiquei que no artigo "Um festival sem festa", da responsabilidade de João Bonifácio, existem referências ao Belenenses, ao seu estádio (onde se realizou o evento) e ao seu público habitual que são - no meu entender - absolutamente ofensivas relativamente a um clube que cumpre no próximo mês de Setembro 90 anos de vida, e que muito deu e dá ao desporto nacional.

Assim, como leitor diário do PÚBLICO (edições online e em papel), venho pedir a sua intervenção junto da direcção do jornal no sentido de serem evitadas situações semelhantes no futuro, sobretudo em peças jornalísticas que têm como objecto não o futebol do Belenenses nem o perfil dos assistentes aos seus jogos mas antes o evento cultural.

Penso que perante esta situação se impõe um pedido de desculpas formal ao Belenenses e aos seus associados.

Rui Vasco Silva

Explicações de João Bonifácio

O texto em questão é um artigo de opinião, de crítica. No PÚBLICO os concertos de música popular são alvo de crítica no P2, estando devidamente assinalados enquanto crítica. Devido à sua natureza, os festivais de Verão podem ser motivo não apenas de crítica mas também de reportagem, pelo que se opta por um modelo de reportagem & crítica. Isso não invalida que os textos dedicados a festivais sejam invariavelmente textos críticos.

O facto de estes textos de festivais não estarem encabeçados como “Crítica” pode de facto induzir em erro os leitores, visto um texto crítico (com ou sem pormenores de reportagem) ter uma amplitude de registos, recursos formais e uma vertente opinativa bastantes diferentes dos de uma reportagem. É este o caso. Presumo que isto responda a quem afirma que eu devia ter-me limitado a reportar factos.

Para que o que se passou fique claro e apenas a bem de uma leitura desprovida de interpretações avulsas, vou tentar demonstrar como o meu texto foi lido de forma não muito correcta. Apelo ao Provedor que leia os comentários online de fio a pavio para verificar que o tipo de comentários que menciono como pertencendo a fãs de Killers foram efectivamente feitos.

Os fãs dos Killers dizem que ao contrário do que reporto, foi um grande concerto. Reenvio o sr Provedor para o meu texto, onde se escreve “[Os The Killers] têm um espectáculo tão bem ensaiado que, por um instante, quase acreditamos que estamos num festival de Verão, em que a juventude se entrega ao hedonismo e ao exagero próprios da saúde que tem”.

Quanto às acusações de não ter transmitido o furor que se instalou com a chegada dos Killers, aconselho a leitura completa da seguinte frase: “Era basicamente por eles [The Killers] que a maior parte das pessoas ali estava e fizeram sabê-lo reagindo entusiasticamente a cada movimentação de Brandon Flowers, o frontman”. Presumo que o “reagiram entusiasticamente” seja suficientemente explícito.

Note-se que quem fez a legenda da foto que acompanha o texto não teve problemas em interpretar o meu texto, visto ter escrito, e passo a citar: “Nem Duffy serviu para enlouquecer as gentes e os Killers foram os únicos a entusiasmar o povo”.

É explícito que, ao contrário do que foi escrito centenas de vezes, critico positivamente o espectáculo dos Killers, para mais não gostando do reportório da banda em questão. Sendo um texto crítico, não vejo qualquer problema em analisar o reportório em questão, com recurso aos mais variados registos de escrita.

Para mais, sou honesto ao escrever “não gostamos nem um bocadinho [das canções dos Killers]”: o leitor fica a saber que apesar de não ter apreço estético pelo que ouvi, reconheço qualidade ao espectáculo oferecido, o que me parece elogio maior que o de quem já está convencido à partida. E escrevo “não gostamos” (no plural) porque o livro de estilo não me permite escrever “não gosto”. Estou convencido de que o gosto e a honestidade do crítico são importantes numa crítica.

Sou igualmente acusado de não reportar factos relativos ao festival, o que manifestamente não é verdade: as bandas presentes são mencionadas, a música que fazem é descrita, bem como a reacção que provocaram.

Isto serve apenas para demonstrar que há, da parte de muitos comentadores do online, descuidos de leitura.

Na carta que a direcção de Os Belenenses enviou ao jornal PÚBLICO e que insto o Provedor a ler para que verifique a forma como os ofendidos trataram esta questão, afirma-se que eu terei aludido a, e passo a citar, “'um “público manso' – sendo que, por tradição e convicção popular, o adjectivo 'manso' é normalmente aplicado aos bois”.

Não me cabe tentar perceber se o autor da carta interpretou mal o texto ou se quis deliberadamente manipulá-lo. (Note-se que no resto da carta o autor da mesma empenha-se em constantes trocadilhos com o meu nome, visando chamar-me “boi”. Igualmente me chamam “cobarde”. Relembro que foi em resposta a esta carta da instituição Os Belenenses que o PÚBLICO pediu desculpa.)

Mas insinuar que eu tentei insultar os presentes no mencionado festival ao dizer que “o povo esteve manso” é uma deturpação (deliberada ou não) do sentido do texto tão grande que não só atenta ao meu bom nome como também atropela a língua portuguesa. E que serve, para todos os efeitos, como mentira grosseira.

Manso significa quieto, brando, sossegado, tranquilo, sereno, plácido, etc. Basta ler o texto para se perceber que apenas estava a dizer que durante a maior parte do tempo a reacção do público foi, até ao concerto dos Killers, apenas moderada. A frase “o povo esteve manso” vem na sequência de toda uma introdução acerca da pacatez do festival, e que culmina em “o Super Bock Super Rock teve pouca festa (…)”.

Os adeptos de Os Belenenses sentem-se ofendidos com a comparação entre música e resultados futebolísticos, patente na frase “Foi a festa possível e foi escassa como os fins de tarde futebolísticos no Restelo costumam ser”.

Comparei o festival com o futebol do Belenenses pela razão óbvia: porque o festival decorreu no estádio onde o clube disputa os seus jogos de futebol, os resultados do Belenenses nos últimos dois campeonatos foram fracos, e o festival que ali decorreu idem (na minha opinião).

Como irei demonstrar, é da mais simples natureza do exercício analítico fazer comparações que usam elementos alheios à esfera do objecto visado, e querer impedir que se façam comparações inesperadas num exercício crítico é querer impedir o humano de ser humano.

Aliás, não é a primeira vez que os resultados futebolísticos do Belenenses são usados fora desse contexto em artigo de opinião publicado no PÚBLICO. A 6 de Maio de 2008, Rui Tavares começava assim uma crónica:

“Acho sempre um piadão quando ouço que é importante o PSD ultrapassar esta crise porque 'faz falta à democracia portuguesa'. Faz-me lembrar a descida do Belenenses à 2ª divisão do Campeonato Nacional: o clube não podia ser despromovido porque 'fazia falta ao futebol português'”.

Mais à frente Tavares escreve: “Quanto a Manuela Ferreira Leite, ouvi-a lamentar-se sobre 'a falta de respeito com que nos tratam'. Mas fiquei muito seriamente na dúvida de se ela está disposta a fazer o que é necessário para ganhar esse respeito, ou se quer simplesmente um tratamento à Belenenses quando está prestes a descer de divisão”.

Caso isto não seja suficiente para acabar com a questão, eu continuo.

Os adeptos também se sentem ofendidos por eu ter escrito – num artigo de opinião – que “O Belenenses joga e há duas dezenas de velhinhos nas bancadas”.

O Belenenses é o quinto clube com pior aproveitamento do estádio em termos de assistência na primeira divisão. Pode ser dos clubes que mais adeptos levam ao estádio em termos brutos, mas a média de aproveitamento é das mais baixas, o que significa que é dos clubes com o estádio mais vazio.

E é apenas a esse facto que a frase “O Belenenses joga e há duas dezenas de velhinhos nas bancadas” se refere: o facto de por norma aquele estádio estar quase vazio.

Não há nenhum insulto, antes uma brincadeira que eu diria mesmo carinhosa: o Belenenses é o meu segundo clube, desloco-me ao Restelo três ou quatro vezes por ano e na bancada central encontro sempre uma grande predominância de adeptos mais idosos.

Se eu usasse a expressão coloquial “meia-dúzia de adeptos”, já não seria ofensivo? É mais ofensivo por serem “velhinhos”? O que é que há de ofensivo na expressão “velhinhos”? Haverá a mínima possibilidade de me concederem que pessoalmente considero a expressão “velhinhos” carinhosa, ou o simples facto de haver umas centenas de adeptos a interpretarem mal a expressão automaticamente obriga-nos a todos a acatar essa forma curiosa de ler o meu texto? Será que a idade é ofensiva?

Aliás, isto faz parte da cultura popular: há uma velha piada que diz que “o maior estádio do mundo é o do Belenenses porque nunca enche”. Não posso ser acusado de humor infundado: é óbvio que não há apenas duas dezenas de velhinhos no Restelo, mas alguém por um segundo, não percebe o sentido da frase?

Leia-se o que escreveu Pacheco Pereira no seu blogue Abrupto a 28 de Janeiro de 2006: “(…) gente que acha (e bem) que na política há compadrio e favores passa rósea pelo mundo literato, que tem, face à política, muito menos escrutínio crítico, muito menos conhecimento dos meandros que se movem”.

Pacheco continua: “E não é só na literatura, mas no mundo 'cultural' no sentido lato, agora muito colado ao entretenimento, onde também há dadores de emprego, grupos de interesses, jogos de editoras, produtoras, programas de televisão, encomendas e serviços. Onde é que eu posso ler sobre isso? Em sítio nenhum. Só vejo exercícios de elogios mútuos, protecções de grupo, reputações que se sustentam em amigos e não em livros, trabalho, obra”.

A minha opinião é a mesma de Pacheco Pereira: é preciso estar atento à cultura de entretenimento. Não é por se tratar de cultura massificada que devemos ser condescendentes, apesar de ser essa a prática corrente. Pelo que julgo que qualificar de ofensa o meu texto é pelo menos abusar da interpretação.

Não sei o que se pretende fazer da crítica, mas julgo que um crítico tem direito a ser duro, corrosivo, e a estar isolado nas suas opiniões que isso não o obriga a pedir desculpas. Mais: desde que não ofenda o bom nome de outrem, desde que não levante falsos testemunhos, etc., a crítica pode ir onde muito bem quiser.

Por vezes a crítica usa mesmo do vernáculo. Exemplifico novamente com Pacheco Pereira: no seu texto de 11 de Maio de 2007 no Ípsilon sobre o livro Século Passado, de Jorge Silva Melo, Pacheco diz que o livro está impregnado de “memória, a forma agressiva da memória dos cultos, presa a mil e uma referências, mil e um olhares no écrã, no palco, absolutamente fundida pelos livros, apetece dizer, de forma grossa e completamente verdadeira, fodida pelos livros”.

Nunca, em mais nenhum texto, li Pacheco usar este tipo de termos, mas aqui há uma história da crítica literária que lhe permite usá-lo.

E portanto também numa crítica a um festival de Verão podemos levar a linguagem mais longe que numa notícia.

(Nota: não pretendo comparar a minha escassa mão proletária ao talento da voz dos cronistas mencionados, apenas demonstrar que há leituras erróneas do meu texto.)

Tanto quanto sei, ainda é possível usar humor numa crítica, como aliás qualquer outra instância humana. O humor, o sarcasmo e a ironia são tão necessários quanto a compaixão, a simpatia, etc. Dizer que uma crítica não é séria porque usa humor é recusar a amplitude das emoções humanas.

Lamento que o meu texto tenha ofendido alguns leitores, porém também me parece que não só é preciso aceitar toda uma diversidade de opiniões diferentes como também toda uma diversidade de registos.

Mas para aceitar é preciso não fazer interpretações abusivas. Ainda mais grave que as interpretações abusivas é tornar, por força de uma repetição massificada e incapaz de diálogo, essas mesmas interpretações erróneas numa espécie de versão de leitura oficial do meu texto, rasurando impiedosamente o que escrevi.

Pelo que pergunto ao Provedor: ao pedir desculpas a uma instituição que me chamou, numa carta em que se treslê o que escrevi, “boi” e “cobarde”, o PÚBLICO está a vincular-se a esses insultos? Está a aceitar essas leituras erradas independentemente do que escrevi?

João Bonifácio

Adenda:

acrescento aqui uma série de textos de intelectuais portugueses que não só defenderam o meu ponto de vista como foram um pouco mais longe nas conclusões:

Pedro Mexia e José Mário Silva;
Luís Miguel Oliveira, crítico de cinema do PÚBLICO;
Henrique Raposo, cronista de política do Expresso;
Francisco José Viegas;
Pedro Sales, assessor de imprensa do BE;
João Lisboa, crítico do Expresso;
Tiago Mota Saraiva;
Bruno Sena Martins.

Há muitos outros, mas não vale a pena ser exaustivo.

João Bonifácio

Carta do leitor José Alberto Tomé

Embora sendo leitor do PÚBLICO desde o primeiro momento, sempre mantive uma atitude crítica em relação à linha editorial do mesmo, o que me levou a escrever muitas "cartas ao director", a maioria das quais não publicada (por coincidência, sempre que punha de algum modo em questão aspectos relacionados com o próprio jornal ou com o seu director - lembro-me, a propósito, de uma impagável fotografia cuja legenda chamava a atenção para o grupo de "personalidades" nela retratado e de que fazia parte, para além do Engenheiro Belmiro, o próprio director do PÚBLICO!).

Desta vez, porém, o caso parece-me bem mais grave e demonstrativo da falta de ética de quem terá sido responsável pela composição/edição da coluna de Pacheco Pereira da semana passada! O título da coluna referia "Crimes de dirigentes partidários" e, acompanhando a coluna, havia uma bem visível foto do empreendimento "Freeport" com o nome bem destacado! Bem sei que na sua coluna o próprio Pacheco Pereira referia, misturados como pertencendo a um mesmo conjunto de processos desonestos, o Freeport, os submarinos, os sobreiros e o BPN, o que já denota uma falta de sentido ético do colunista (ou pelo menos falta de correção), uma vez que estes processos são bem diversos e estarão, juridicamente, em fases bem diferentes. Mas a associação feita entre "Crimes de dirigentes partidários" e "Freeport" é escandalosa e julgo que passível de processo criminal (ou será que algum dirigente partidário - e todos sabemos a quem a referida associação título/foto se refere - já foi julgado e condenado sem que o PÚBLICO o tenha noticiado?)!

Sinceramente não esperava tanta desfaçatez!

José Alberto Tomé

Explicações do editor José Vítor Malheiros

Fui eu que pedi a foto que ilustra o texto, ainda que não a tenha visto antes da publicação (por ter chegado quando eu já tinha saído). Como o texto referia vários casos sob investigação - entre os quais o BPN e o Freeport -, pedi uma fotografia de uma dessas empresas, que são dois dos casos de maior visibilidade dos referidos no artigo de Pacheco Pereira.

O texto ipsis verbis do meu pedido à fotografia foi: "BPN ou Freeport - (texto é sobre partidos envolvidos em casos judiciais) - PB" (PB significa "preto e branco"). Penso que a foto escolhida satisfaz o meu pedido.

O comentário do leitor é compreensível, mas a foto, nestes casos, apenas pretende ilustrar o texto e é natural que "fale" daquilo que o texto "fala". Penso que é isso que acontece neste caso. Como não seria possível fazer uma amálgama de várias imagens representativas dos vários casos referidos, naturalmente que se escolheu um deles.

Um comentário adicional: devido a problemas deste tipo (um texto que refere x casos, acompanhado por uma foto de apenas um deles, o que lhe confere maior visibilidade; fotos que convidam a ou permitem interpretações que não constam do texto; em casos-limite, fotos inadequadas e que introduzem informação que prejudica ou altera de forma sensível a leitura dos artigos, etc.), seria conveniente que os artigos de opinião não fossem ilustrados por fotografias, a exemplo aliás do que acontece em muitos outros jornais. A maquete dessas páginas no PÚBLICO, porém, obriga à sua inclusão.

José Vítor Malheiros

3 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

Não sei o que é uma função federadora mas sei que o crítico tem direito à subjectividade (aliás, como se sabe, a objectividade daria pano para mangas). Até percebo que o Belenenses se tivesse encanitado com o texto de João Bonifácio. O Público vir pedir desculpas e o provedor vir reforçá-las já me parece grave. No Meditação da Pastelaria um texto do crítico João Lisboa explica porquê.

Nuno disse...

Para mim, o que está em causa é que o crítico João Bonifácio (não tem carteira profissional, segundo o site da comissão) falou (e insiste na resposta ao Provedor do Público) sem se informar.

Fez piadas de mau gosto sobre o Belenenses (mas adiante) e deu informações falsas. Quanto à resposta de que o Belenenses tem má taxa de aproveitamento do estádio… patético! Ora, se o estádio é enorme, porque antigamente todos os eram e se a CML não deixou levar adiante o processo de reconversão, com diminuição da lotação, que erro há da parte do 7.º clube com mais assistências em Portugal?

Mais: uma das épocas que o crítico considera má teve uma participação do CFB na Taça UEFA, elogiada Europa fora, a fazer tremer o Bayern Munique (que ganhou 12-1 ao Sporting) e só não culminou com apuramento para a UEFA porque foram retirados seis pontos devido a um processo burocrático de inscrição de um jogador.

Por aqui se vê o rigor de João Bonifácio e pela sua resposta o quão cheio de razão acredita estar, superiormente iluminado por uma luz de intelectualite...

Obrigado ao Provedor por ter-se debruçado sobre tão polémico artigo. Continue o bom trabalho

João Lopes disse...

Gostaria de informar o jornal Público e o sr. Provedor que os dados estatisticos das assistências aos jogos da I Liga se encontram disponíveis no site da Liga Portuguesa de Futebol. O Belenenses tem a SÉTIMA maior assistência entre todos os clubes. Parece-me que além de ofender o Sr. Bonifácio incorre numa afirmação que não passa de uma mentira. Mais grave é ele saber que está a afirmar uma mentira e mesmo assim não ter qualquer inibição mental e moral para mentir. Enfim, é o fiel retrato de quem escreveu um texto destes e nem consciência tem sobre o que redigiu.