Insiste-se na correcção de pequenos erros que, de tanto se repetirem, afectam a imagem do PÚBLICO perante os leitores
A crónica de Pedro Mexia tem por título “Sinatra em 85”, mas fala do cantor em 1958
A qualidade do serviço que o PÚBLICO presta quotidianamente aos leitores afere-se não apenas pelas grandes opções editoriais mas também pelos pormenores que, à força da sua repetição, acabam por moldar a imagem do jornal. Apesar de o provedor já ter referido este aspecto em mais do que uma crónica, a contínua repetição de pequenos erros implica uma vigilância permanente e a insistência na sua periódica exposição, na expectativa de uma profilaxia que a redacção do PÚBLICO tarda em aplicar.
Falemos, por exemplo, da sintaxe, que nem sempre é a mais feliz, obscurecendo a narrativa e deixando o público na dúvida sobre o que se quer dizer. O leitor José Oliveira queixou-se pertinentemente do título principal da pág. 28 do PÚBLICO de 7 de Dezembro: “Académica volta a vencer três meses depois graças a golo a dois minutos do fim de Orlando”. Parafraseando Mark Twain, o “fim de Orlando” terá sido ligeiramente exagerado, e esse é o mote para a irónica reclamação: “Já vi morrer gente (incluindo a minha mãe), e sei que não é nada fácil, mas... que é isto comparado com os dois minutos finais do jogador Orlando?” Na verdade, como propõe o leitor, o título deveria ter sido redigido desta forma muito mais lógica, atendendo ao que se pretendia noticiar: “Académica volta a vencer três meses depois graças a golo de Orlando a dois minutos do fim”. E Orlando continuava vivo…
Idêntico mal-entendido surge nesta frase da crónica “A Minha TV” de 8 de Dezembro: “Tudo dependerá, basicamente, do à-vontade face às câmaras do anfitrião”. As câmaras não serão do anfitrião, mas o à-vontade sim, pelo que a ideia que o autor pretendia transmitir terá sido esta: “Tudo dependerá, basicamente, do à-vontade do anfitrião face às câmaras”. O mesmo problema surge na mesma crónica um mês depois, 8 de Janeiro: “Vítor Constâncio declarou que Portugal tinha entrado em recessão em todos os noticiários do dia”. Se Portugal estivesse em recessão só nos noticiários do dia, estávamos nós bem, mas é pouco provável que o governador do Banco de Portugal se preocupasse em anunciá-lo. O que se passou foi que “Vítor Constâncio declarou em todos os noticiários do dia que Portugal tinha entrado em recessão”, como se escreveria melhor.
Dizia-se na pág. 15 de 28 de Agosto último: “A polícia deteve Gorki Aguila, da banda Porno para Ricardo, cuja música rock com laivos punk circula de um modo semiclandestino, na sua casa em Havana”. Um relato claro imporia escrever antes que “a polícia deteve, na sua casa em Havana, Gorki Aguila, da banda Porno para Ricardo, cuja música rock com laivos punk circula de um modo semiclandestino”.
A questão é antiga. Ainda a propósito de sintaxe, atente-se no reparo de um leitor anónimo relativo à manchete de 3 de Março do ano transacto: “Onde se escreve ‘Parlamento vai passar a ter acesso e a fiscalizar os segredos de Estado’, devia ter-se escrito ‘Parlamento vai passar a ter acesso aos segredos de Estado e a fiscalizá-los’. Quando duas ou mais palavras têm o mesmo complemento regido de preposição, é necessário que esta convenha a cada uma das palavras consideradas separadamente. O erro do PÚBLICO é grave e está, infelizmente, generalizado”.
Apesar da reiterada denúncia pelo provedor daquilo que designou como “praga de Catual”(e que já se dispensa de definir), a epidemia teima em manter-se, como se vê por estas mais recentes manifestações, recolhidas da leitura ocasional do PÚBLICO: “Martim Cabral foi dos poucos que não gostou do discurso de Obama” (“O Inimigo Público”, 22 de Janeiro, pág. 8); “Tereza era uma daquelas pessoas que devia ter continuado a ser jornalista” (20 de Janeiro, pág. 43); “uma das coisas que me ‘atrai’ na política” (P2, 20 de Janeiro, pág. 2); “um dos aspectos que terá desagradado a uma boa parte do público” (P2, 20 de Janeiro, pág. 10); “uma dimensão hiperbólica da força é outro dos aspectos que lhe foi apontado” (idem); “O hotel da Quinta do Lago é um dos que está fechado com indicação de obras” (legenda de foto, 19de Janeiro, pág. 18); “A TAP foi uma das transportadoras que cancelou pedidos à Airbus (legenda de foto, 18 de Janeiro, pág. 38); “um dos comentários mais curiosos que tem vindo a lume” (P2, 16 de Janeiro, pág. 18); “A leitura dos jornais foi um dos itens que entrou na lista” (14 de Janeiro, pág. 10); “Era um dos nomes que certamente mais me ocorreria” (13 de Janeiro, pág. 9); “uma das séries mais curiosas que tem aparecido recentemente” (P2, 10 de Janeiro, pág. 16); “um dos países que tem sofrido com a crise do gás russo” (legenda de foto, 9 de Janeiro, pág. 1); “uma das marcas que, desde logo, distinguiu a sua abordagem” (“Ípsilon”, 9 de Janeiro, pág. 24); “É o único na Península Ibérica e um dos cinco que, a nível mundial, não recebe apoio de entidades privadas, autárquicas ou governamentais” (entrada de artigo, 4 de Janeiro, pág. 18); “Portugal está, nesse grupo, entre os que melhor paga aos professores” (P2, 13 de Dezembro, pág. 3) “Negócio do luxo é dos que menos sofre com a crise em Portugal” (12 de Dezembro, título principal da pág. 39); “Um dos pólos que deu voz a essa mesma ‘oposição consentida’” (8 de Dezembro, pág. 8); “foi um dos soldados israelitas que participou na invasão do Líbano em 1982” (P2, 5 de Dezembro, pág. 14); “um dos dinamarqueses que, com o seu enorme talento, colocou a Dinamarca no mapa do mundo durante o século XX” (1 de Dezembro, pág. 15); e "foi uma das maiores a ocorrer em Damasco" (28 de Setembro, pág. 13).
Mas também a falta de concordância em género ou número, outra pecha já aqui mencionada, continua a atacar em força: “Importância que, diz ele, foram pedidos por ‘um gabinete de advogados’ ao representante da Freeport” (P2, 25 de Janeiro, pág. 2); “Comemorações do fim do regime de Pol Pot junta milhares de pessoas nas ruas” (título, 8 de Janeiro, pág. 17); “O aumento dos custos de produção do jornal, especialmente do papel, que pode chegar aos 30 por cento em 2009, não nos permitiram outra alternativa” (5 de Janeiro, pág. 36); “Indignação e medo do frio flui na Ucrânia” (3 de Janeiro, pág. 12); “Aquelas organizações juvenis, nomeadamente a Juventude Hitleriana, foi mais do que um simples modelo inspirador” (“Ípsilon”, 2 de Janeiro, pág. 22); “Já a família Elias, com as suas três crianças, sonham com o dia em que serão auto-suficientes” (destaque de artigo, 27 de Dezembro, pág. 8); “Todos a quem falámos [da oferta do Governo português] ficou contente com a ideia” (17 de Dezembro, pág. 5); “O comentário às faltas injustificadas dos deputados dada pelo dr. Almeida Santos” (17 de Dezembro, pág. 38); “As entradas de novos investidores diminuiu drasticamente” (16 de Dezembro, pág. 2); “É preciso ficar provado em tribunal que o uso pelas empresas das designações light violam de facto as leis sobre publicidade enganadora” (16 de Dezembro, pág. 15); “Os motins que as autoridades gregas não são capazes de refrear e que põe em causa o Governo de Karamanlis” (10 de Dezembro, pág. 3); “Os riscos de haver carne de porco irlandesa contaminada com dioxinas é mínimo” (9 de Dezembro, pág. 1); "As dimensões da greve dos professores reforçou a sua posição" (destaque do editorial, 4 de Dezembro); “Rebelde Way, os Morangos com Açúcar da SIC, começaram ontem” (“A minha TV”, 26 de Agosto).
E depois há a proverbial dificuldade de alguns jornalistas em lidar com números, como nas frases “Só entraram no país 30 toneladas, seis já foram apreendidas, 26 seguiram para fábricas de transformação de enchidos [o que dá 32 toneladas e não 30]” (9 de Dezembro, pág. 1) ou “O ex-marido de Madonna, Guy Ritchie, deverá arrecadar 50 mil libras, mais de 55,7 milhões de euros [ele visa o segundo valor; ela gostaria de ficar pelo primeiro]” (16 de Dezembro, pág. 14).
Por vezes, numa só peça, adiantam-se números diferentes para a mesma coisa. Acerca da fraude de Bernard Madoff, diz-se em 16 de Dezembro (pág. 2) que as perdas totais ascendem a 37,5 mil milhões de euros, mas, como notou um leitor, no quadro de lesados em anexo só uma das “vítimas”, Walter M. Noel Jr., “perdeu 56 mil milhões de euros”. Na pág. 9 do P2 de 23 de Janeiro, fala-se de O Estranho Caso de Benjamin Button e das “suas 23 nomeações” para os Óscares, mas mais à frente refere-se outro filme com “10 nomeações, abaixo das 12 de O Estranho Caso de Benjamin Button”. O título de uma notícia de 11 de Janeiro na pág. 3 indica que “50 apoiam ‘nação eleita’ em Lisboa”, enquanto o início do texto refere: “Um grupo de 60 pessoas concentrou-se ontem frente à embaixada de Israel”. E o quadro de galardões ganhos por Portugal em Jogos Olímpicos publicado já em 22 de Agosto (pág. 2) especifica quatro medalhas de ouro (1984, 1988, 1996 e 2008), mas a soma final indica serem apenas três. Quanto à crónica de Pedro Mexia em 20 de Dezembro, tem por título “Sinatra em 85”, enquanto o texto narra as aventuras do cantor em 1958.
E qual a novidade do título “Hoje vão morrer sete pessoas na Colômbia” (13 de Dezembro, pág. 19)? Num país com quase 45 milhões de habitantes, seria aliás estranho morrerem só sete num dia. O que se queria noticiar era a estatística de vítimas da violência naquele país, mas esse aspecto deveria constar do título.
CAIXA:
Pérolas
Sentado a um computador numa sala de redacção, o jornalista tem hoje acesso a uma infinita rede de informações capaz de o impedir de cometer os erros de natureza enciclopédica que tanto irritam alguns leitores mais atentos. Mas eles continuam a acontecer. Escreve Alexandra Lucas Coelho, na sua crónica do “Ípsilon” de 9 de Janeiro: ”Não me lembro de alguma vez pensar nas Maurícias. (…) Mas mal entrei neste ‘Caçador de Tesouros’, as Maurícias começaram a aparecer no Tejo”. Não existe um arquipélago chamado Maurícias, mas uma ilha Maurícia (a confusão provém do nome inglês: Mauritius). Considera Pedro Mexia na sua coluna de 6 de Dezembro: “Messiaen explicou que o quarteto tinha oito movimentos”. Trata-se de um estrangeirismo: em português diz-se “andamentos”, não “movimentos”. Na notícia "[Anthony] Hopkins estreia-se como maestro", na secção ”Pessoas” de 22 de Outubro, falava-se do “actor norte-americano”, que é britânico (mais concretamente, galês). E não custaria nada converter em hectares ou ares os “acres” (medida não usada no continente europeu) mencionados na pág. 48 de 27 de Junho. “O dever de informar correctamente é mais do que traduzir directamente do inglês”, escreveu Filipe de Menezes, o leitor que reclamou.
Publicada em 8 de Fevereiro de 2009
domingo, 8 de fevereiro de 2009
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