Sendo praticamente impossível interagir com a página do Provedor de outra forma que não esta (o que também diz algo sobre a política editorial do PÚBLICO), queria aqui prestar homenagem ao verdadeiro acto de provedoria que hoje [18 de Janeiro] veio à estampa na página do PÚBLICO destinada ao Provedor. Em matérias de plágio (fala o prof.) só se perdem as que caem no chão, e quando o dito toca a jornalistas (fala o prof. do ofício) mais valera não se terem nunca dado à prosa, porque esta faz mossa grada em todos os sentidos e a sua responsabilidade nunca pode ser alienada.
Faltou apenas o Provedor confrontar o Director com as alegações finais do Jornalista, porque as responsabilidades também se fazem e assumem de tarimba e de escola. Mas de resto, tiro o chapéu.
Vítor Reia-Baptista
Universidade do Algarve
NOTA DO PROVEDOR:
Solicitado a esclarecer por que razão não houve resposta da direcção à queixa do jornalista que encontrou demasiadas semelhanças entre um texto seu e outro saído no PÚBLICO, o director, José Manuel Fernandes, enviou ao provedor a seguinte informação: "Recebi a queixa a 26 de Dezembro, dia em que não fui ao jornal. Reenviei-a para o editor do Ípsilon, com quem Vitor Belanciano mais trabalha, perguntando-lhe se sabia o que se passava. Respndeu-me dizendo que o texto saíra no P2, e já não estava nenhuma das editoras no jornal. Sábado [27 de Dezembro], dia em que estive a fechar o jornal, rebentou a guerra em Gaza. Nunca mais me lembrei do tema. Assumo essa falha. Quando o tema regressou ao meu mail já estava a queixa no Provedor. Foi só nessa altura que regressei ao tema e chamei o Vitor Belanciano. Na passada quinta-feira. O tema ainda não foi discutido pela Direcção Editorial, o que deverá suceder nos próximos dias".
Vítor Belanciano reage à crónica do provedor:
Não pretendo perpetuar esta questão. O provedor disse o que tinha a dizer. Eu também. Mas queria deixar estas considerações:
1. Como sabe, a única missiva, via email, que recebi sua foi esta: “Recebi a mensagem em baixo [carta do leitor] acerca da qual lhe pergunto se lhe oferece enviar-me algum comentário, incluindo confirmação de ter lido previamente o texto referido, de Hugo Gonçalves.” Nada mais.
Estou sempre à sua disposição. Estranho, por isso, que afirme que “desconhece” a quem eu possa estar a referir-me quando digo que “nunca fugi – nem ninguém deste jornal – a esta questão.” Evidentemente, não era ao provedor. Era, claro, a quem me acusou.
Bastava ter-me contactado para desfazer a dúvida, em vez de escrever “o provedor nada insinuou a esse respeito, apenas perguntou, no exercício normal de funções, pelo que desconhece a quem V.B. possa referir-se.”
2. Não percebo o enquadramento dado a este caso pelo provedor. “Terá a nova ecologia comunicacional do século XXI abolido a regra contra a apropriação do trabalho intelectual alheio?” Não entendo onde quer chegar. Não vejo qualquer relação entre esse enquadramento e este caso.
Caro provedor, não sou porta-voz seja do que for, ao contrário do que afirma quando interpreta – não sei porquê, já que não era isso que estava em causa – o conteúdo da crónica. Respondo apenas pelas minhas ideias.
Às tantas escreve: “Sendo certo que a nova ecologia comunicacional poderá obrigar a repensar o conceito de direito de autor, como alega em sua defesa V.B.” Alega em sua defesa? Mas qual era a acusação? Pediu-me apenas para “comentar” uma carta enviada por um leitor. Foi o que fiz.
“Repensar o conceito de direito de autor”? Quando quiser escrever sobre tal tema fá-lo-ei, de forma séria e com a complexidade que o tema exige, mas não foi de certeza no simples email que lhe enviei que isso aconteceu.
Limitei-me a enunciar que toda a criação é em segunda mão e hoje estamos, mais do que nunca, conscientes disso. Sempre houve, há e haverá plágio. A questão é definir as fronteiras, a forma, como se manifesta e definir o que é ou não do domínio público. No domingo, o provedor diz que fiz plágio. Tenho outra visão, mas respeito-a. Ontem, por curiosidade, o leitor que me acusou, colocou no seu blogue “vincada influência”.
Sendo estimável a menção à minha generosidade, a “ansiedade da influência”, para recuperar a expressão de Harold Bloom, não tem a ver com generosidade. É de inevitabilidade que se trata.
3. Às tantas escreve: “Por louvável que seja a franqueza de V.B. ao admitir influências do texto de H.G., é muito mais problemático que o encare como natural.” Mas não são as influências algo de perfeitamente “natural”? O que não é “natural” são aqueles que dizem não ter influências.
4. Não olho o que aconteceu com “aparente displicência”. Sei quais as regras do órgão para onde trabalho. Rejo-me por elas. Quando as infrinjo, assumo-o. Se o jornal entender que me deve punir, cumprirei. Mas nada disso me impede de ter a minha opinião e expressá-la livremente. E a minha opinião é, neste caso, sem dúvida nenhuma, diferente da sua.
5. Por mim, esta questão está encerrada.
Vítor Belanciano
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Um acto que faz mossa (actualizado)
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1 comentário:
E se fosse tudo matéria de educação?
www.atirateaomar.blogspot.com
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