Tréplica a propósito dos editoriais de José Manuel Fernandes sobre a guerra da faixa de Gaza:
Também eu desejo evitar polémicas com José Manuel Fernandes. A minha carta era sobre a insensibilidade ao sofrimento humano demonstrada pelo director do PÚBLICO. Essa parte passou completamente ao lado do alvo, já que José Manuel Fernandes insiste no argumento do "sim, foram muitos, mas comparado com outros é pouco". Pela mesma bitola matemática, o Hamas é uma associação de caridade, já que "só" matou 13 pessoas. Espero que pelo menos outros leitores tenham compreendido o meu sentimento.
O que não pode passar em claro é a argumentação de que o "número de vítimas civis [foi] muito reduzido se tomarmos como exemplo de referência o número de vítimas civis resultantes dos bombardeamentos da NATO durante a guerra do Kosovo".
Após a campanha da NATO no Kosovo, a Human Rights Watch (HRW) - desde o início bastante crítica em relação a este conflito - foi a única organização a enviar para o terreno uma missão encarregada de contabilizar as vítimas civis desta guerra. Essa missão documentou cerca de 500 mortos civis, em resultado de uma campanha militar que durou 10 semanas (ver aqui). Mesmo que se tomasse por correcto o número máximo aceite pela NATO, de 1500 civis mortos, andar-se-ia sempre muito longe dos níveis de mortalidade atingidos pelos ataques israelitas em apenas três semanas. Para quem queria provar o
"cuidado e precisão" relativos do exército israelita, saíu-lhe o tiro pela culatra.
Agradeço a José Manuel Fernandes, pela parte que me toca, a sua preocupação em nos "ajudar a fugir de alguns mitos muito presentes na opinião pública"; permito-me sugerir-lhe, no entanto, que comece por tentar fugir aos mitos presentes na sua cabeça.
Manuel Leal
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
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