O provedor arquiva aqui um caso que teve em mãos mas sobre o qual não julgou necessário pronunciar-se, após a resposta dada pelo jornalista à interpelação do leitor:
Carta do leitor Miguel Carvalho:
"Os mais pobres sofrem mais com a inflação." diz a 1ª pág. do PÚBLICO de 21 de Abril em letras gordas. Ainda na capa, "As famílias portuguesas com rendimentos mais baixos são as que mais estão a sentir os efeitos da inflação, conclui um relatório do INE."
Lá dentro, na secção de Economia (pág. 38), temos: "Cálculos feitos pelo PÚBLICO...". O facto de os dados usados serem baseados num relatório do INE não dá o direito ao PÚBLICO de dizer que as conclusões são do INE. Para lá desta inverdade, há ainda a questão de saber se o INE teria tantas certezas como o PÚBLICO parece ter.
Antes de mais um fenómeno paranormal nos resultados de Sérgio Aníbal, que lhe deveria ter saltado à vista. TODAS as classes de rendimento sofreram, segundo ele, inflações iguais ou acima da inflação! Ou seja teremos a média (feita sobre os rendimentos) acima da média. Algo como a média de 10, 9, 8, 7, 6 e 5 ser... 5! O que já mostra que as suas contas estão certamente erradas.
Apesar de ter que reconhecer que Sérgio Aníbal se deu ao trabalho de fazer algo que provavelmente poucos fariam, não se pode tirar as conclusões que ele tira. Mais uma vez, e bem, ele próprio reconhece isso, dizendo: "A análise feita pelo PÚBLICO não leva em conta esse nível de desagregação da despesa familiar..." Mas logo a seguir estraga tudo mostrando bem o seu facciosismo, quando diz: "Ainda poderia acentuar as disparidades do impacto da inflação sobre os diferentes tipos de famílias". Dou-lhe razão, mas não há razão nenhuma para acreditar que seja para cima ou para baixo. Por que será que não escreveu o oposto, que poderia diminuir e até inverter as disparidades do impacto da inflação? Não dava jeito. Como exemplo, posso indicar os legumes que desceram 15%, o que mostra o quão difícil é tirar o tipo de conclusões que Sérgio Aníbal quer tirar, com os poucos dados disponíveis que existem.
Outro aspecto que mostra o quão forçadas são as suas conclusões é o facto de ele chegar ao valor de 3,1% de inflação para as famílias ricas e 3,6% para as pobres. A diferença é ridiculamente baixa e insignificante, dados os problemas de agregação. Mais, esta pequeníssima diferença que foi medida em Março (0,5 pp) pode pura e simplesmente inverter-se em Abril, já que a inflação dentro de cada classe de produtos é altamente volátil (com variações de mais de 1 pp de mês para mês em termos anuais).
Por último, o texto atribui a culpa aos "bens essenciais", que têm subido acima da inflação. É preciso ter muito cuidado com o nível de agregação quando falamos em "bens essenciais" Primeiro - e como já disse - termos alimentação a subir pode dever-se aos caviares e às patas negras, logo é complicado chamar "bem essencial" à classe alimentação. Segundo, a este nível grande parte das classes são bens essenciais! Descontando cinco das 12 classes, temos Alimentação, Vestuário, Habitação, Produtos correntes para a Habitação, Saúde, Transportes, Educação, que julgo serem todos "bens essenciais". Pois bem, três delas estão abaixo da inflação. É sempre fácil pegar na que subiu mais destas sete (estatisticamente haverá uma acima da inflação, em 99,99999% dos casos) e em tom sensacionalista clamar bem alto que os "bens essenciais" sobem acima da inflação.
Miguel Carvalho
Resposta de Sérgio Aníbal:
"Os mais pobres sofrem mais com a inflação." diz a 1ª pág. do PÚBLICO de hoje em letras gordas. Ainda na capa "As famílias portuguesas com rendimentos mais baixos são as que mais estão a sentir os efeitos da inflação, conclui um relatório do INE." Lá dentro, na Secção de Economia, temos "Cálculos feitos pelo PÚBLICO...". O facto de os dados usados serem baseados num relatório do INE não dá o direito ao Público de dizer que as conclusões são do INE. Para lá desta inverdade, há ainda a questão de saber se o INE teria tantas certezas como o Público parece ter.
O leitor tem toda a razão. Na 1ª pág. nunca deveria ter sido escrito que as conclusões surgem num relatório do INE, é falso. No meu texto isso nunca é afirmado, os cálculos são meus, utilizando dados do INE.
Antes de mais um fenómeno paranormal nos resultados de Sérgio Aníbal, que lhe deveria ter saltado à vista. TODAS as classes de rendimento sofreram, segundo ele, inflações iguais ou acima da inflação! Ou seja teremos a média (feita sobre os rendimentos) acima da média. Algo com a média de 10, 9, 8, 7, 6 e 5 ser... 5! O que já mostra que as suas contas estão certamente erradas.
Não há qualquer fenómeno paranormal. Como é explicado no texto, o cálculo da inflação por classes de rendimento que é feito utiliza os pesos na despesa familiar obtidos no inquérito aos orçamentos das famílias 2005/2006. O INE utiliza ainda os pesos obtidos no inquérito de 2000. Por isso, como penso que é referido no texto, e como escrevi num anterior artigo meu, o valor da inflação global usando os orçamentos 2005/2006 é superior à taxa de inflação oficial declarada pelo INE.
Apesar de ter que reconhecer que Sérgio Aníbal se deu ao trabalho de fazer algo que provavelmente poucos fariam, não se pode tirar as conclusões que ele tira. Mais uma vez e bem, ele próprio reconhece isso dizendo: "A análise feita pelo PÚBLICO não leva em conta esse nível de desagregação da despesa familiar..." Mas logo a seguir
estraga tudo mostrando bem o seu facciosismo, quando diz: "Ainda poderia acentuar as disparidades do impacto da inflação sobre os diferentes tipos de famílias". Dou-lhe razão, mas não há razão nenhuma para acreditar que seja para cima ou para baixo. Por que será que não escreveu o oposto, que poderia diminuir e até inverter as disparidades do impacto da inflação? Não dava jeito. Como exemplo posso indicar os legumes, que desceram 15%, o que mostra o quão difícil é tirar o tipo de conclusões que o Sérgio quer tirar, com os poucos dados disponíveis que existem.
Eu estou convicto (foi por isso que escrevi e não por facciosismo, como diz o leitor mostrando como assume que qualquer jornalista está, por princípio, sempre pronto a ldrabar) que, mesmo desagregando, as famílias mais pobres poderiam sair mais prejudicadas. O leitor dá o exemplo dos legumes, mas a verdade é que as maiores subidas (pão, arroz, leite, ovos, massas) são tudo bens a que com toda a probabilidade as famílias mais pobres dão uma maior importância no seu orçamento. De qualquer forma, compreendo a crítica, deveria estar mais claro que é apenas uma convicção do jornalista. Esta questão tem, no entanto, pouca importância na conclusão principal do texto.
Outro aspecto que mostra o quão forçadas são as suas conclusões é o facto de ele chegar ao valor de 3,1% de inflação para as famílias ricas e 3,6% para as pobres. A diferença é ridiculamente baixa e insignificante dados os problemas de agregação. Mais, esta pequeníssima diferença que foi medida em Março (0.5 pp) pode pura e
simplesmente inverter-se em Abril, já que a inflação dentro de cada classe de produtos é altamente volátil (com variações de mais de 1 pp de mês para mês em termos anuais).
Não considero a diferença ridiculamente baixa e insignificante.
Por último, o texto atribui a culpa aos "bens essenciais" que têm subido acima da inflação. É preciso ter muito cuidado com o nível de agregação quando falamos em "bens essenciais". Primeiro - e como já disse - termos alimentação a subir pode dever-se aos caviares e às patas negras, logo é complicado chamar "bem essencial" à classe alimentação. Segundo, a este nível grande parte das classes são bens essenciais! Descontando cinco das 12 classes, temos Alimentação, Vestuário, Habitação, Produtos correntes para a Habitação, Saúde, Transportes, Educação, que julgo serem todos "bens essenciais". Pois bem, três delas estão abaixo da inflação. É sempre fácil pegar na que subiu mais destas sete (estatisticamente haverá uma acima da inflação, em 99,99999% dos casos) e em tom sensacionalista clamar bem alto que os "bens essenciais" sobem acima da inflação.
O objectivo principal do texto foi o de comparar qual a inflação registada para uma distribuição da despesa de uma família de baixo rendimento e de outra de elevado rendimento. Os números mostram que ela é maior para os mais pobres, precisamente porque estas famílias gastam proporcionalmente mais em alimentação e habitação, classes em que os preços têm subido mais. Há sempre limitações neste tipo de cálculos, mas penso que as conclusões são correctas e não contêm qualquer tipo de sensacionalismo, que nunca foi o objectivo do texto quando decidimos realizá-lo.
Sérgio Aníbal
domingo, 26 de outubro de 2008
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