Devo começar por dizer que não sou, por formação, adepto de uma certa "crítica" mais ou menos 'formalista' ou mesmo "marginalista" dessas que incidem, em (quase?) absoluta prioridade, sobre a 'forma das coisas' impressas. Uma gralha ou até mesmo uma ou outra ocasional "perturbação" de concordância e/ou sintaxe são "episódios" linguísticos e culturais aborrecidos mas seguramente não "fatais" relativamente aos conteúdos que se supõe serem por elas e através delas veiculados - os quais representam, esses sim, a essência verdadeiramente elementar do que está impresso.
Essência essa que vejo, porém, com preocupante frequência menosprezada (menos prezada) relativamente a uma espécie de "arianismo" ou "pureza racial" linguísticos cegos, uma linguística formal e "moral" que francamente, como tal, já "não se usam"...
É verdade que, no PÚBLICO, se repetem diariamente as disfunções e as "perturbações" desta natureza, mas eu continuo a pensar que, relativamente a OUTROS aspectos, esse configura um lado secundário que é, no mínimo (e sem prejuízo da conservação e da defesa do escrúpulo linguístico e cultural necessário - para alguma coisa a minha formação académica se situa na área da filologia e da linguística...), perspectivar e enquadrar no tal "outro", em todos os casos.
Constitui, todavia, uma discussão para manter noutro lado, essa que envolve as questões da "correcção" e da "in-correcção", chamemos-lhe assim, "dinâmicas" e "funcionais".
Relevante, sim (no mau sentido), é ver, por exemplo, como o PÚBLICO patrocinou a divulgação de uma colecção de sumaríssimas biografias de portugueses (cuja selecção é, aliás, em si mesma, muito discutível, mas enfim) onde se afirma expressamente (cf. o primeiro volume [distribuído com o PÚBLICO de 8 de Março], dedicado a Fernando Pessoa, pág. 25) que Edgar Poe e Whitman (Walt Whitman) são "poetas ingleses".
Não percebo, francamente, como uma 'gralha' merece "denúncia" acalorada mas um dislate destes parece deixar toda a gente impávida e serena, como se de um disparate imenso (que é importante corrigir, de imediato, já que ninguém se deu ao trabalho de, na revisão, evitá-lo) não se tratasse.
Aí, na tal essência das coisas, deve, a meu ver, incidir, sobretudo, a crítica, sendo todos os aspectos formais enquadráveis desta perspectiva informante.
Carlos Machado Acabado
sábado, 19 de julho de 2008
Como criticar o PÚBLICO
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