segunda-feira, 26 de maio de 2008

Questão pouco Clara

Este é um caso já antigo, mas que o provedor pretende não omitir. Começou com um carta do leitor Luís Manuel Lima, em 13 de Janeiro último:

“Desde que o primeiro número do PÚBLICO saiu para as bancas, tenho sido um leitor fiel. No entanto, de há alguns tempos para cá, começo a ter dúvidas sobre se valerá a pena continuar a comprar o jornal. O PÚBLICO cada vez mais me falha como fonte de informação correcta e isenta. Hoje, por exemplo, na pág. 21, escreve Fernando Sousa que a ex-refém das FARC Clara Rojas, ao ser interrogada ‘sobre se considera a guerrilha um grupo rebelde (...) ou terrorista’ disse: ‘Qualquer acção que permita (...) a troca humanitária é válida’. É fácil de entender que aquilo que o jornalista diz ter sido a resposta em nada responde à questão. Como tenho o hábito de ler mais do que um jornal, verifico que no Jornal de Notícias a resposta é totalmente diferente, tendo Clara Rojas considerado o dito grupo como um grupo terrorista. Fica-me a dúvida: qual dos jornalistas transcreveu, correctamente, a resposta de Clara Rojas? Por que razão chama o jornalista ‘guerrilha’, ‘grupo rebelde’, a quem é considerado pela UE um bando terrorista? Haverá aqui alguma desculpabilização, fruto de uma qualquer ‘contaminação’ ideológica?”

Colocada a questão a Fernando Sousa, o provedor recebeu a seguinte resposta:

“Não me parece que o leitor tenha razão. Resulta claramente do texto que quem está a falar é a ex-refém Consuelo González, a quem pertencem todas as afirmações constantes nos três últimos parágrafos da peça a que se refere, e não Clara Rojas, citada na primeira parte. Aliás, se o leitor tivesse lido o artigo principal da mesma página teria reparado na mesma declaração, aqui mais completa, da antiga congressista. É também claro que Consuelo, entrevistada pela rádio colombiana Caracol, está a responder a uma questão concreta, que passo a citar: ‘Interrogada sobre se considera a guerrilha um grupo rebelde, como propôs Caracas, ou terrorista, como quer Bogotá, disse: ‘Qualquer acção que permita (…) a troca humanitária é válida’’”.

O provedor não ficou satisfeito, pois, pondo de parte a questão da troca de nomes existente na carta do leitor, também lhe pareceu que aquela resposta da entrevistada não tinha a ver com a pergunta mencionada. Insistiu por isso junto do jornalista, pedindo-lhe ainda para se referir à questão da terminologia utilizada na notícia, a que ele não se referira no primeiro esclarecimento. Fernando Sousa respondeu da seguinte forma:

“Sobre a resposta da antiga congressista, esta, interrogada pela rádio Caracol sobre se considera as FARC um grupo rebelde, como propôs Caracas para amenizar o diálogo sobre a paz e a libertação dos reféns, ou terrorista, como a considera Bogotá, responde implicitamente que se a alteração de estatuto da guerrilha ajudar a mais resgates será bem-vinda. Para mim a frase fez sentido no contexto geral do tema e da própria página. Mas reconheço que não é clara, e neste caso peço desculpa ao leitor. Em relação à terminologia utilizada, ela não é minha - é de Caracas e Bogotá, retomada pela Caracol, e está devidamente atribuída. Enfim, perante a insinuação do nosso leitor de ‘contaminação ideológica’, não me pronuncio sequer.”

Em conclusão, o provedor entende que a passagem em questão partiu de um adquirido que para os leitores não era claro, pelo que deveria ter havido uma “descodificação”, para que tal passagem se tornasse minimamente clara e lógica. Quanto à terminologia, o repórter usa a expressão “grupo rebelde” para se referir às FARC. Se se pode considerar esta organização como terrorista, é também um facto que se trata de um grupo rebelde, pelo que a designação não é errada. Já que o epíteto “terrorista”, no contexto da notícia, é objecto de disputa, o jornalista fez bem em não utilizar o termo como classificativo das FARC, para não dar a ideia de estar a favorecer um dos lados dessa disputa.

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