quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

A propósito de sondagens

A propósito das sondagens [crónica do Provedor de 13/01/08], chamo a atenção para um caso actual e português, que bem pode estar na origem de um erro enorme. Para o ilustrar, vou também recordar um exemplo dos EUA. Refiro-me à famosa previsão feita em 1936 pela Literary Digest sobre a eleição presidencial norte-americana, exemplo de um erro enorme devido à formação deficiente da amostra. Apesar da grandeza desta, nada menos que 10 milhões de inquiridos, a previsão revelou-se totalmente falsa, por um lado, pelo facto de a amostra ter sido constituída a partir das listas telefónicas (o que estava longe de cobrir todas as camadas da população), por outro lado, pelo facto de terem sido subestimados todos os que se tinham recusado a responder (e que foram bastantes). Tenho chamado insistentemente a atenção para o facto de, entre nós, se repetirem as sondagens em que a amostra se forma a partir dos lares possuidores de telefone fixo. Ora o exame das listas telefónicas mostra com clareza que estas se têm reduzido de ano para ano, baixando nalguns casos para cerca de metade. Os lares possuidores de telefone fixo ou são de pessoas idosas ou, em regra, de camadas sociais com rendimentos mais altos. Pois as camadas mais humildes tendem a optar pelo telemóvel. De modo que as amostras constituídas a partir de lares com telefone fixo estão cada vez mais longe de corresponder ao universo eleitoral. As listas telefónicas podem poupar tempo e o método correspondente ficar mais barato às empresas de sondagens. Mas o erro, como se verá a seu tempo, deve ser enorme. Não me parece, pois, justo pôr em causa as sondagens em geral, quando o que está, de facto, mal pode bem ser a formação da amostra.

Álvaro Mateus

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