domingo, 14 de dezembro de 2008

Quem, como, onde, quando, porquê?


Quem, como, onde, quando e porquê? São estas as cinco regras elementares do jornalismo que vejo sistematicamente negligenciadas em grande entrevistas televisivas (onde apenas uma vez por programa é identificado o nome do especialista convidado a intervir sobre determinado assunto) e reportagens, entrevistas ou perfis de imprensa. Nas págs. 8-9 do suplemento P2 do PÚBLICO de 28 Setembro, no destaque dado por Teresa de Sousa a um senhor de bicicleta, a regra principal (quem era?) foi liminarmente empurrada para segundo plano: embora se tratasse de um perfil sério, não percebíamos nunca quem era o "ciclista" visado. Só ao 11º parágrafo, décimo-primeiro, meus senhores, Teresa de Sousa mencionava alguém chamado "David Cameron", líder do Partido Conservador Britânico. Que por acaso também anda de bicicleta.

Parte da culpa não é de Teresa de Sousa, mas da editoria. Percebe-se que, na opção do título mais sensacionalista ("Ele vai ter de provar que também é líder em termos de crise"), o nome de David Cameron possa ter sido sacrificado. O mesmo terá acontecido no lead de abertura, um súmula de frases constantes no próprio texto. Seja como for, a partir da primeira frase, a responsabilidade é de Teresa de Sousa, que, apesar da sua experiência, caiu na armadilha de pressupor que os seus leitores conheciam bem David Cameron (quem não conhece, bolas?), escrevendo um texto com frases como "o jovem de 39 anos", ou "o Tony Blair do Partido Conservador" sem nunca mencionar o nome do "ciclista" em questão. Note-se que, até ao final do extenso perfil, só quatro vezes é referido o nome de David Cameron. A penúltima frase é elucidativa: "Quem é afinal David Cameron?".

Miguel Somsen

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