Hoje (14 de Abril) lê-se em manchete: "Há cada vez MAIS divorciados e viúvos a casar-se pela segunda vez em Portugal". No estudo do ISCTE publicado pelo INE, que é usado na notícia, pode ler-se na conclusão: "...embora as taxas de recasamento de viúvos e divorciados tendam a DIMINUIR tanto em Portugal como nos outros países da Europa...".
O documento está disponível on-line e a citação foi retirada da página 56, primeira frase da conclusão do estudo.
Na realidade, há menos solteiros a casar e há mais divorciados em geral. Assim é bem possível que os divorciados casem menos, mas que o seu peso no número de casamentos aumente - tal como diz a conclusão do estudo.
Citando o estudo, e vou assumir que os autores percebem do assunto: "Esta análise quantitativa do recasamento aponta claramente para a sua afirmação enquanto prática conjugal dos portugueses, muito embora as taxas de recasamento de viúvos e divorciados tendam a diminuir tanto em Portugal como nos outros países da Europa, à semelhança do que acontece na sociedade norte-americana. Note-se que o aumento dos recasamentos decorre de efeitos de estrutura (composição), isto é, o aumento do divórcio faz crescer o número de divorciados e mesmo com uma diminuição das suas taxas de recasamento o crescimento desta subpopulação é suficiente para fazer aumentar o número de recasamentos."
Fazendo um paralelismo ao erro cometido pelo PÚBLICO, eu poderia dizer que "há cada vez mais negros a assaltar pessoas", induzindo os leitores em erro - não porque esta camada da população esteja mais criminosa, mas pura e simplesmente porque o número de imigrantes aumentou.
Miguel Carvalho
Explicações da jornalista autora da notícia:
O leitor tem carradas de razão, mas o título da manchete não foi feito por mim. Tive aliás a preocupação de explicar no texto: "E 'o aumento dos recasamentos decorre de efeitos de estrutura (composição), isto é, o aumento do divórcio faz crescer o número de divorciados e mesmo com uma diminuição das suas taxas de recasamento o crescimento desta subpopulação é suficiente para fazer aumentar o número de recasamentos', ressalva o estudo. Ou seja, o aumento da proporção de casamentos em que pelo menos um dos cônjuges já não era solteiro não traduz uma maior tendência para divorciados e viúvos voltarem a casar-se - as uniões de facto, enquanto 'modo alternativo de viver em conjugalidade a seguir a um divórcio' registam aliás um crescimento 'fortíssimo'."
Não é que os divorciados estejam a casar-se mais (por cada mil); o número de divorciados é que tem aumentado de tal maneira que acaba por ditar inevitavelmente alterações na composição do universo de pessoas que voltam a casar-se. (É exactamente como o exemplo que o leitor dá dos negros a assaltar pessoas).
Tudo isto (o aumento de divorciados) acontece num universo (o dos casamentos em geral) que é cada vez mais reduzido, o que também contribui para o aumento do peso proporcional dos que já não são solteiros quando se casam.
A manchete é da responsabilidade da direcção. Eu não estava na redacção no dia em que o trabalho foi publicado nem vi o jornal no dia seguinte, uma vez que me encontrava fora do país num trabalho.
Bárbara Simões
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Mais separados, menos casados
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