Li com redobrada atenção a sua última intervenção. E como esta alicia o leitor a concluir que o Grupo Espírito Santo (GES) ou eu, enquanto seu director de Comunicação e Imagem Corporativa e “curiosamente” ex-jornalista do Público tiveram interferência no sumiço de uma notícia do PÚBLICO.PT, atrevo-me a incomodá-lo com alguns elementos que talvez o ajudem a desvendar “O estranho caso da notícia desaparecida”.
No mínimo espero demonstrar-lhe que GES se pauta por uma conduta ética impecável no seu relacionamento com os meios de comunicação social.
1. Na manhã de 18 de Janeiro de 2008, o GES foi confrontado com uma notícia do Rádio Clube Português (RCP) onde se referia que a “família Espírito Santo é a maior proprietária dos terrenos onde vai ser construído o novo aeroporto” e que a mesma “já afirmou que o Estado terá de pagar os terrenos a preço de mercado”. Colados à informaçãom, podiam ouvir-se alguns comentários de “Miguel Espírito Santo”, seu proprietário.
2. Imediatamente procurei confirmar a veracidade da mesma, tendo sido informado que nem o GES nem os membros da família accionistas do Grupo tinham o quer que seja a ver com os tais terrenos, parte da Herdade do Vale Cobrão ou Infantado.
3. Quis saber mais. Quem era Miguel Espírito Santo e se tinha alguma ligação directa ou indirecta ao GES e à família.
4. Soube que o nome completo dos proprietários da Herdade do Vale Cobrão ou Infantado são Miguel Espírito Santo Silva de Mello e Luís Espírito Santo Silva de Mello e que não são accionistas do Grupo Espírito Santo nem integram os seus órgãos sociais e de gestão ou aí desempenham qualquer cargo, apesar de haver uma relação familiar. Para uns remota, para outros mais próxima.
5. Não contente com a informação obtida, contactei Miguel Espírito Santo Silva de Mello, que me assegurou ter fornecido ao jornalista do RCP o seu nome completo, manifestando-se perplexo, se não mesmo estupefacto, pela exclusão do “de Mello”, pela preferência pelo “Espírito Santo” e pelo empolamento à volta da notícia.
6. Disse-me, ainda, que para os que lhe são próximos ou o conhecem, é conhecido apenas e tão só por Miguel de Mello, nunca por Miguel Espírito Santo, como o RCP insistia em repetir. Convenhamos que a diferença é enorme e esta opção editorial cheira a esturro.
7. Todos sabemos como “Espírito Santo” faz manchetes nos jornais, rádios e televisões – ao contrário de “de Mello” –, para mais associada a negócios milionários com terrenos em Alcochete, novo aeroporto, etc. Basta ver a repercussão que a notícia estava a ter nos jornais online.
8. Como a omissão de alguns factos pelo RCP – como por exemplo o apelido completo dos proprietários e o uso abundante, para não dizer abusivo, de “família Espírito Santo” – estava a provocar interpretações impróprias e enviesadas e a prejudicar o bom nome do GES e da família sua accionista, surgiu a ideia de fazer sair um esclarecimento curto, seco e factual.
9. Acresce que se é verdade que em momento algum os jornalistas do RCP referiram o GES como accionista da Herdade do Vale Cobrão ou Infantado, ou que os seus proprietários fossem accionistas do GES, a meio da manhã o RCP colocou no ar declarações do empresário Henrique Neto (defensor da opção OTA) onde este abundantemente e de forma até injuriosa refere o GES, a família Espírito Santo, a Herdade da Comporta e o proveito deste conjunto em que o novo aeroporto fosse para Alcochete. Era a confusão generalizada, alimentada por alguém que debita opinião sobre tema de que é profundamente ignorante, misturando alhos com bugalhos.
10. Começou a ficar clara a necessidade de demarcação imediata da notícia do RCP e das declarações de Henrique Neto, procurando limitar-se os estragos que esta estava a provocar pela sua reprodução em diferentes órgãos de comunicação social. Rapidamente o PUBLICO.PT “canibalizou” a notícia do RCP, aliás como muitos outros órgãos de comunicação social.
11. Decidi então fazer um esclarecimento, e não um desmentido. O RCP, apesar dos meus contactos e dos do senhor Miguel de Mello, continuava a omitir parte do seu apelido e a cavalgar numa notícia com erros graves, da qual só por ingenuidade ou má-fé não se queria ver as consequências para terceiros, no caso o GES e os seus accionistas.
12. Escrevi então o esclarecimento que lhe envio e o aconselho a ler.
13. Nele se explica que o GES não tem nenhum interesse económico naquela propriedade e que as pessoas em causa têm apelido Espírito Santo mas também têm outros, supostamente tão, ou mais, importantes, uma vez que Espírito Santo não era o último apelido e normalmente chama-se as pessoas pelo primeiro e último nome.
14. O esclarecimento foi enviado para todos os órgãos de comunicação social que fazem parte da nossa lista. Nenhum foi privilegiado ou mereceu tratamento de excepção.
15. Nenhum contacto directo ou indirecto foi feito com o PUBLICO.PT visando “apagar” ou “despublicar” o texto online. A única iniciativa foi no sentido de confirmar a recepção do esclarecimento, prática normal e generalizada a todos os meios.
16. Após a saída do esclarecimento o RCP retirou a notícia e corrigiu o texto online. Ao contrário do que afirma em “O estranho caso da notícia desaparecida”, o RCP deu a mão à palmatória, deixando cair o uso generalizado de “família Espírito Santo”, Miguel Espirito Santo passou subitamente a Miguel Espírito Santo Silva de Mello e deixaram de se ouvir as insinuações sem nexo de Henrique Neto.
Posteriormente o PUBLICO.PT fez o mesmo.
17. Ignoro como o PUBLICO.PT funciona em termos de hierarquia.
18. Trabalhei no PÚBLICO, onde desempenhei as funções de grande repórter na secção de Economia, em meados da década de 90, de onde sai faz agora sensivelmente 10 anos.
Tenho estima pessoal e profissional pelo editor António Granado, mas nenhuma memória de relevo para além de nos termos cruzado sem ter dirigido qualquer palavra, certamente vezes sem conta, nas antigas instalações do jornal, na Quinta do Lambert. Admito que ele nem se lembre de mim.
19. Não conheço ninguém na redacção do PUBLICO.PT e não mantenho contacto formal ou informal com jornalistas do PUBLICO.PT.
20. A notícia do RCP “picada” integralmente pelo PUBLICO.PT não era “falsa” mas continha, na minha modesta opinião, falhas graves que suscitavam interpretações insidiosas, como as afirmações de Henrique Neto provam.
21. Resta-me afirmar que o GES não fez nem faz ameaças. Limitou-se a esclarecer através de um banalíssimo comunicado.
22. O GES é um grande grupo económico e financeiro, mas deve ser dos poucos que em Portugal não detêm, nem querem deter, participações accionistas em órgãos de comunicação social. Uma opção que demonstra quão fundamentalista é no respeito pela independência dos meios.
23. Espero tê-lo ajudado a perceber o que se passou deste lado e, repito, também espero ter afastado quaisquer dúvidas que tenha sobre a forma como o GES ou os seus profissionais se relacionam com os diferentes media.
24. Como é evidente, este email serve apenas para o esclarecer e não para alimentar qualquer polémica com o provedor do PÚBLICO, o jornal PÚBLICO, o PUBLICO.PT ou os seus honrados e excelentes profissionais.
Pedro Pinto Fernandes
Director de Comunicação e Imagem Corporativa
Espírito Santo Resources
COMUNICADO ENVIADO PELO DIRECTOR DE COMUNICAÇÂO E IMAGEM CORPORATIVA DO GES ÀS REDACÇÕES EM 18/01/08:
Esclarecimento
Face à notícia do Rádio Clube Português (RCP) onde se refere que a “família Espírito Santo é a maior proprietária dos terrenos onde vai ser construído o novo aeroporto” e que a mesma “já afirmou que o Estado terá de pagar os terrenos a preço de mercado” importa esclarecer:
1. O grupo financeiro e empresarial Espírito Santo (GES) não tem qualquer interesse económico directo ou indirecto nos referidos terrenos (Herdade do Infantado)
2. Os accionistas do GES não têm qualquer interesse económico ou financeiro directo ou indirecto na supradita propriedade.
3. Os proprietários da Herdade em causa, os senhores Miguel Espírito Santo Silva de Mello e Luís Espírito Santo Silva de Mello não são accionistas do Grupo Espírito Santo nem integram os seus órgãos sociais e de gestão ou ai desempenham qualquer cargo.
4. Devido ao Rádio Clube Português ter omitido parte do apelido dos proprietários da Herdade do Infantado produziram-se interpretações enviesadas.
A questão em causa não é do foro familiar da família Espírito Santo, vista no seu todo, mas é sim uma questão do mero foro particular
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Esclarecimento do director de comunicação do GES sobre a última crónica do provedor
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2 comentários:
Gosto muito das referências ao respeito que o GES tem pela independência dos meios e tudo o resto.
Esqueçamos, pois, o boicote feito pelo BES (pelo GES?) no seu papel de anunciante à Impresa aquando "daquela" notícia do Expresso.
Uma nota apenas, na participação que fiz ao provedor não ataquei o GES, apenas me limitei a constatar o desaparecimento de uma notícia. Relativamente ao Pedro Pinto Fernandes não acho, nem nunca achei que ele tivesse qualquer tipo de interferência, que sei que não teria.
Francisco Falé
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