domingo, 27 de abril de 2008

A voz dos leitores

A última crónica do provedor ("Os cronistas também se enganam", 27/04/08) suscitou diversas reacções de leitores:

Sou retornado... Daí que, ao ler a crónica do Dr. António Barreto, no PÚBLICO, tenha enviado para os meus amigos a dita crónica, com o texto que reproduzo:
"Eu sou retornado... Julgava ter ouvido tudo o que havia para contar sobre a dita 'Descolonização exemplar'... Afinal, o que é dito pelo cronista ultrapassa tudo o que de pior tinha imaginado e ouvido. Assim fomos tratados por quem era suposto garantir, pelo menos, a nossa integridade física... Inacreditável!"
Ao ler, hoje, o artigo do provedor, sinto, naturalmente, um certo desconforto... No entanto, deixe-me dizer-lhe o seguinte:
- Afinal, o tais "factos" são negados com base, apenas, na convicção do jornalista Artur Queiroz, "que vivia, à época, em Luanda". Ora, eu, à época, também lá vivia... Era quadro médio da Faculdade de Medicina de Luanda, e nunca ouvi dizer nada disto. Quanto aos retornados de "extrema-direita"..., bom, a esmagadora maioria dos retornados sabia lá o que era isso de extrema-direita, ou de esquerda...
- O Sr. jornalista Adelino Gomes, que teria tido conhecimento da tal carta, "tinha a ideia de que era falsa".
Portanto, acho que fico na mesma...
Lamentaria ser agente de propagação de mentiras, mas... naquele tempo passou-se muita coisa!
Apesar de tudo, depois de ler o seu artigo, desejaria que o tal documento fosse, realmente, falso.

Francisco Gonçalves
Barcelos

A propósito do artigo «Angola é nossa», de António Barreto, li na edição de hoje,27/04/2008, do PÚBLICO:
a) O seu artigo, com o título «Os cronistas também se enganam».
b) O (lacónico) pedido de desculpas de António Barreto, após algumas considerações plenas de banalidades sobre as comemorações do «25 de Abril», a crise no PSD e... o florescimento dos primeiros jacarandás!
Não estou convencido! Mesmo que a carta do almirante Rosa Coutinho seja falsa, o artigo «Angola é nossa» de António Barreto abordou outros aspectos que não podem ser esquecidos: o banho de sangue do «27 de Maio», responsabilidades criminais de intelectuais (presumo que do MPLA...) que já foram condecorados pelas autoridades portugueses e passeiam-se calmamente pelas ruas de Lisboa, negócios «interessantes» feitos por portugueses (dos dois quadrantes políticos, isto é, da direita e da esquerda...) com o «duvidoso» regime de Eduardo dos Santos...
António Barreto não é um cronista qualquer. E não vamos «reduzir» o seu artigo «Angola é nossa» à putativa carta de Rosa Coutinho, seja essa carta verdadeira ou falsa (como eu gostaria de ter a certeza de que é falsa...). Afinal, não será digno de um jornal de referência como o PÚBLICO preocupar-se com a violação dos direitos humanos no Tibete ou no Zimbabwe e «esquecer» as violações desses mesmos direitos humanos em Angola, cometidos agora, em 1977 ou em 1974...
Ou será que para o jornal de que é provedor é mesmo verdade que «Angola é nossa» e a voz dos negócios, principalmente em tempo de crise, é que fala mais alto, como muito bem denunciou António Barreto?

José Carlos Silva

Escreve o provedor do leitor que, "não sendo jornalista, António Barreto estava isento do dever profissional de verificar a autenticidade da carta atribuída a Rosa Coutinho". Permita-me manifestar a minha discordância enfática, sem prejuízo da grande consideração profissional que o provedor do leitor soube conquistar, há muito.
O colunista tem o dever de ser rigoroso relativamente aos factos que escolhe comentar e fundamentado relativamente às opiniões que sobre eles decida emitir.
O sr. António Barreto é um colunista convidado do jornal e as suas afirmações e opiniões, tal como as dos restantes colunistas, não vinculam o PÚBLICO e não têm de ser partilhadas pelo jornal.
A prática da generalidade dos órgãos de comunicação social, aliás, é a oposta – alertando os leitores para o facto, evidente, de não deverem ser responsabilizados por opiniões diversas próprias de um espaço plural.
A questão deontológica iluminada pelo texto do sr. António Barreto é a probidade intelectual e o rigor com que, por vezes, se emite opinião, bem como o domínio ou a ignorância das matérias relativamente às quais se opina.
O sr. António Barreto, a partir da publicação do livro em apreço sobre a descolonização em Angola, poderia ter decidido dar opinião sobre a utilização de cartas falsificadas para promover uma ideia errada da descolonização de Angola. Poderia ter optado por não o usar como material de trabalho para a sua colaboração com o PÚBLICO.
Não recai sobre o PÚBLICO nem sobre os seus editores o ónus da opção nem da argumentação do colunista. A responsabilidade do jornal coloca-se, exclusivamente, na hipotética opção de manter ou retirar ao colunista o convite para o ser. O problema para os leitores e, julgo, para a bom nome do jornal, é o da confiança que as colaborações transmitem semana a semana, relativamente à honestidade intelectual dos colaboradores.
O sr. António Barreto é investigador e professor universitário, responsável por utilizar uma fatia do dinheiro dos contribuintes em estudos sociológicos por ele realizados ou orientados, foi membro do governo de Portugal e, à partida, terá de ser considerado responsável e responsabilizável pelo que diz, quer sobre factos, quer sobre invenções.
No texto em apreço por ele subscrito, o sr. António Barreto escreveu num "Espaço Público", marcado pelo pluralismo e a divergência. Considerar que os editores devem ser responsáveis pelas afirmações dos colunistas seria, na verdade, um estímulo à infracção e um convite à irresponsabilidade dos autores, exonerando-os dos deveres de assumirem as suas responsabilidades de exigência, rigor e probidade, em geral, nas suas colaborações no PÚBLICO.
No plano prático, não é sempre possível definir, de forma incontroversa, onde acaba a matéria factual e onde começa a opinião (não me refiro à existência da carta em apreço), razão adicional pela qual não é exequível impor esse exercício a um editor de serviço.
O jornal convida os colunistas que entende por considerar que o seu prestígio ou autoridade valorizam o jornal e o tornam mais atractivo para os leitores. Dos colunistas espera-se, creio eu, que tenham um desempenho à altura da expectativa e confiança manifestadas.
As afirmações dos colunistas, bem como a sua eventual ignorância, ligeireza, irresponsabilidade ou vindicta ideológica devem ser assumidas em pleno pelos respectivos autores e não pelos editores de serviço.
Enquanto leitor, considero ser meu direito esperar que o sr. António Barreto assuma publicamente as suas responsabilidades como colunista.
Um exercício de humildade e rigor intelectual é exigível nesta circunstância. Esse exercício pode inclusivamente contribuir para minorar o descrédito que o presente episódio arrasta.
Na minha opinião de leitor, a ligeireza com que frequentemente o sr. António Barreto opina sobre a nossa vida política e social não deixa que o texto em apreço - mais clamorosamente reprovável - constitua uma surpresa.
Mas um exercício de honestidade e exigência intelectuais, desencadeado por este episódio lamentável, pode constituir uma oportunidade de redenção e ajudar a corrigir práticas não transparentes usadas para produzir colunas semanais de opinião, que nem sempre asseguram a consideração e o respeito devido aos leitores.
A opinião imponderada do sr. António Barreto não "validou" – neste caso concreto -uma carta falsificada, provavelmente fruto de uma operação de desinformação, velha de 23 anos, nem pôs em causa o rigor noticioso do PÚBLICO, que não publicou qualquer notícia sobre o assunto.
Na minha opinião, até prova em contrário, o sr. António Barreto pôs, sim, em causa os seus métodos de trabalho e o seu rigor na colaboração com o PÚBLICO. Como leitor, considero que o sr. António Barreto, enquanto colunista do PÚBLICO deve, antes de outras desculpas, um pedido de desculpas aos leitores do jornal e às pessoas que o convidaram para nele colaborar. Gostava de o ler sobre o assunto.

António M. Ramos André
Lisboa

Agora veio a saber-se tudo: António Barreto - na sua ânsia de anticomunismo primário que fica sempre bem a quem já por lá andou - resolveu nas suas croniquetas - já enfastiantes, diga-se de passagem - comentar um livro - Holocausto em Angola - como se o mesmo fosse um paradigma da história da nossa descolonização. (Eu fui dos que fizeram a guerra colonial, não sabia como ir para a Suíça).
Claro: meteu a pata na poça, e só se desdiz porque o "Almirante Rosa Coutinho acaba de negar na Visão a autoria da carta"!
Pelo que lemos do provedor - um louvor para a sua actuação na desmistificação quer de entidades quer do jornal que se julgam acima dos leitores, pobres mortais "analfabetos" -, o assunto era mais que sabido (até do director do Público). Mas os dois - José Manuel Fernandes e Barreto - têm algo em comum: muita pretensão e alguma desonestidade intelectual!

Sérgio Brito
Lisboa

Na sua edição de 27 de Abril p.p., o PÚBLICO andou muito bem.
O vosso colunista o académico António Barreto, que, nem sempre estando de acordo com o seu pensamento, muito considero, apresentou desculpas públicas ao Sr. Almirante Rosa Coutinho e aos leitores do PÚBLICO por ter utilizado um documento apócrifo como argumento...
É a ética na comunicação social - no seu melhor. Fico contente que assim seja e possa ser: sem dilaceramentos, sem dramas, sem animosidades. O 25 de Abril de 1974, que ainda festejámos, é pai/mãe desta Liberdade e das outras, correlativas.
O vosso provedor, Joaquim Vieira, em texto exaustivo, subordinado ao titulo "Os cronistas também de enganam", sustenta, entre muitíssimas outras coisas, e cito-o: "Entre eles, actos atribuídos ao almirante António Rosa Coutinho, alto-comissário para o território durante alguns meses após o 25 de Abril...".
Dois erros comete o vosso provedor:
1. À época, Rosa Coutinho era, não almirante, mas vice-almirante, que é patente operacional.
2. À época, Rosa Coutinho não podia ser alto-comissário, porque este "cargo" só foi criado depois dos Acordos de Alvor, em 15 de Janeiro de 1975, e o primeiro alto-comissário foi o general da Força Aérea Silva Cardoso e o último o vice-almirante Leonel Cardoso.
O vice-almirante Rosa Coutinho foi, de Julho de 1974 a Janeiro de 1975, presidente da Junta Governativa. Este era o cargo que então ocupava.

José António Soares de Albergaria
Loures

Os cronistas também se enganam

A publicação de um dado falso no texto de um colunista suscita questões sobre o conteúdo factual dos artigos de opinião

Holocausto em Angola não é um livro de história. É um testemunho. O seu autor viu tudo, soube de tudo”. Assim era introduzida a crónica de António Barreto editada no PÚBLICO de há duas semanas (13 de Abril). Sob o título “Angola é nossa!”, o cronista mostrava-se impressionado com a galeria de horrores relatada por Américo Cardoso Botelho no mencionado livro, há pouco publicado, sobre a transição para a independência e os primeiros tempos da governação do MPLA na antiga colónia portuguesa.

Barreto toma como inquestionáveis os factos relatados no livro, escrito sob a forma de depoimento pessoal. Entre eles, actos atribuídos ao almirante António Rosa Coutinho, alto-comissário para o território durante alguns meses após o 25 de Abril. “Terá sido mesmo um dos autores dos planos de intervenção, em Angola, de dezenas de milhares de militares cubanos e de quantidades imensas de armamento soviético”, considera o cronista. “O livro publica, em fac-simile, uma carta do Alto-Comissário (em papel timbrado do antigo gabinete do Governador-geral) dirigida, em Dezembro de 1974, ao então presidente do MPLA, Agostinho Neto, futuro presidente da República. Diz ele: ‘Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. […] Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela’.”

Impressionante, de facto, que o representante máximo em Angola da potência colonial (a querer deixar de o ser) tivesse escrito aquelas palavras. O problema é que a carta, que há muito circula em meios de extrema-direita e nos últimos tempos na internet, é – tudo o indica – uma falsificação de alto a baixo.

Alguns leitores não deixaram de reparar na estranha circunstância, reclamando ao provedor. “O colunista do jornal autenticou um texto falso, uma colagem manhosa, uma falsificação grosseira”, escreveu Artur Queiroz, um jornalista que, aliás, vivia à época em Luanda. “A tal carta nunca existiu. (…) Esta carta circulou em fotocópias todas ‘ratadas’ no ano de 1975 em Angola e na África do Sul, onde se refugiou grande parte dos agentes da PIDE. Um jornal sul-africano ligado aos retornados de extrema-direita chegou a publicá-la. Depois foi importada para Lisboa. No ano de 1976 ela andava de mão em mão no Rossio, entre os retornados que juravam ter visto Mário Soares pisar a Bandeira Nacional e afiançavam que o líder do PS tinha vendido as ex-colónias e com o dinheiro comprou palácios em Paris. Calúnias e mais calúnias contra as figuras que protagonizaram a descolonização. A carta, uma fotocópia de má qualidade para disfarçar uma colagem grosseira do timbre do Governo-Geral de Angola e da assinatura do alto-comissário Rosa Coutinho, foi analisada pelas autoridades competentes, que verificaram ser falsa”.

Queiroz desafia mesmo o autor do livro a apresentar provas da veracidade do documento: “Se ele o fizer e o jornal publicar esse original, eu no dia seguinte vou entregar a minha carteira profissional e abandono o jornalismo, profissão que exerço há 43 anos”.

Não sendo jornalista, António Barreto estava isento do dever profissional de verificar a autenticidade da carta atribuída a Rosa Coutinho (embora uma primeira leitura daquelas palavras levasse a desconfiar tratar-se de documento apócrifo, por muito exóticas que tenham sido parte das declarações e escritos políticos produzidos naquele período histórico). Mas ao validar o texto o cronista acaba por pôr em causa a credibilidade do jornal que o acolhe – e é com esse aspecto que o provedor deve preocupar-se.

Foi por isso colocado o problema ao director de PÚBLICO, José Manuel Fernandes (JMF), que começou por explicar que, no dia em que foi paginada a crónica de Barreto, não se encontrava no jornal: “Só vi o texto no dia seguinte. Admito que quem recebeu e editou o texto não conhecesse a história do documento. Eu próprio, quando o vi no livro, perguntei, a quem acompanhou melhor o processo e tinha dele memória, se o documento era verdadeiro ou falso. O [jornalista do PÚBLICO] Adelino [Gomes] disse-me que tinha a ideia de que era falso e, por isso, não o referi na crónica que escrevi no Ípsilon”. (Esclareça-se, com efeito, que JMF analisara este mesmo livro semanas antes no caderno cultural do jornal, estranhando o provedor que, tendo o director formado a suspeita de que a carta em questão era forjada, como reconhece, houvesse decidido omitir o facto em vez de tentar esclarecer um dado importante para avaliar o grau de seriedade e exactidão do autor de Holocausto em Angola).

Isto alerta para um problema, mais geral, que é o seguinte: não deverá o PÚBLICO proceder à prévia verificação factual dos textos dos seus colunistas (tal como os editores têm a obrigação da fazer em relação aos trabalhos dos jornalistas), para evitar a publicação de dados falsos ou distorcidos (involuntariamente, admita-se, o que não está em questão) afectando a imagem de rigor que é apanágio da marca editorial do jornal? “É muito difícil ter controlo editorial sobre os cronistas, a não ser quando os erros são flagrantes”, reconhece JMF, que nomeia como exemplo um ex-colunista do PÚBLICO “cujos erros eram, por vezes, grosseiros – e nem valia a pena tentar falar com ele”.

De qualquer modo, o método é errático e ocasional: “Com outros, quando noto alguma falha, tento telefonar-lhes, mas já me aconteceu não conseguir encontrá-los”. Especificando: “Por vezes, nenhum director lê os textos dos colunistas, que só vão a desk antes de serem paginados. Não é a regra, mas pode acontecer com textos dos colunistas fixos, que são considerados de confiança. Não sei se aconteceu isso [neste caso], mas suponho que não, pois quem estava a fechar costuma ler sempre a opinião. Mas admito que também ele, como Barreto, não soubesse que aquela informação do Rosa Coutinho era falsa. Eu não sabia, tive de perguntar. Com um texto de opinião de alguém como Barreto, muito provavelmente ele confiou”.

Em suma, o PÚBLICO está sujeito a que uma situação idêntica venha a repetir-se. A responsabilidade não será de quem escreve, mas de quem publica.

A propósito ainda do mesmo caso, o provedor estranha também que, passadas duas semanas sobre a publicação da crónica em causa, e após a repercussão havida (Ferreira Fernandes, na sua coluna quotidiana do Diário de Notícias, denunciou logo a seguir a falsidade da carta citada por Barreto), o PÚBLICO não se tenha preocupado, perante os seus leitores, em proceder à devida rectificação.

Recomendação do provedor. Os textos de opinião do PÚBLICO deveriam passar, antes de publicados, por um crivo de verificação factual idêntico ao que é aplicado às matérias de natureza jornalística.

CAIXA:

As melhores intenções

Uma das primeiras crónicas deste provedor (20 de Janeiro último) debruçava-se sobre situações onde não existiria uma distinção clara entre publicidade e matéria editorial ou em que a publicidade descaracterizaria graficamente zonas nobres do jornal, casos prevenidos pelo Livro de Estilo do PÚBLICO. Uma dessas ocorrências dera-se com edições que surgiram integralmente envoltas numa sobrecapa em papel couché com um anúncio a determinada marca e, na página da frente, dentro do próprio anúncio, o logotipo e os dizeres da primeira página do PÚBLICO, repetidos depois na “verdadeira” primeira página, só descoberta folheando a “capa”.

Não existindo indicação de que se tratava de publicidade (como a leitura do Livro de Estilo poderia aconselhar), e havendo outros diários que, ao publicarem os mesmos anúncios, o haviam feito, o provedor inquirira JMF acerca da regularidade da situação, tendo, neste ponto específico, obtido a seguinte resposta: “Considerando que as obrigações formais do Livro de Estilo no ponto 111 foram cumpridas, a comparação com os outros jornais saídos nesse dia permitiu verificar que uns fizeram imprimir na sobrecapa a palavra ‘PUBLICIDADE’ ou a sigla ‘PUB’ (casos do Diário de Notícias e Jornal de Notícias). Apesar de considerarmos que o leitor não era levado a confundir espaço editorial com espaço publicitário, a impressão dessa palavra será considerada da próxima vez que for feita ao PÚBLICO uma proposta comercial idêntica”.

Acontece que se voltou ao mesmo na edição do PÚBLICO de 15 deste mês, com um anúncio à abertura de um shopping encimado pelo título “As boas notícias chegaram!”, mais uma vez sem inserção da palavra “PUBLICIDADE” (por extenso ou abreviada). Dois dias depois, o provedor enviou a seguinte questão a JMF: “Quer isso dizer que a impressão da palavra ‘PUBLICIDADE’ foi ‘considerada’ mas rejeitada?” Não recebeu, porém, resposta até ao envio desta crónica para a redacção.

Publicada em 27 de Abril de 2008

domingo, 13 de abril de 2008

Um artigo que muda tudo

Foi com a maior estupefacção que li hoje o artigo do Frei Bento Domingues. Estranhei de tal modo as últimas palavras desta crónica que entrei, de imediato, em contacto com o Frei Bento, que logo me sossegou e esclareceu. Os senhores já têm apresentado gralhas, o que sendo lamentável pode ser desculpável. Na crónica de hoje, porém, não se trata de uma gralha. É algo de muito grave! Introduziram o artigo “a” na frase final: “Nós somos Igreja” [“Nós somos a Igreja”]!. Não perceberam que alteraram o sentido da frase? Se, por acaso, tivessem alguma dúvida, por que não esclarecê-la com o autor? Como podem fazer isso? Quem, entre os vossos colaboradores, se imagina na cabeça do autor a ponto de mudar o sentido dos seus textos?! Que credibilidade oferecem aos leitores?

No mínimo, o que podem fazer é apresentar uma rectificação já amanhã, alterar o texto na edição online e pedir desculpa ao autor com a maior urgência.

Mariana Mendes Pereira

Tradutore, traditore

Os meus parabéns pela qualidade do jornal de que tem a honra de ser provedor, que é uma referência no panorama cinzento da imprensa portuguesa.

Na edição do caderno Economia de 11 de Abril, o PÚBLICO publica em exclusivo o artigo de Robert Skidelsky "A vulnerabilidade moral dos mercados" (p. 15).

De um modo geral, esta tradução não responde a critérios mínimos de qualidade, nem de profissionalismo. A título de exemplo, permito-me chamar a atenção para o último parágrafo, a seis linhas do fim, no qual se apresenta uma versão em português que é precisamente o contrário da versão original, i.e., e passo a citar, «A publicidade é a forma mais simples de o conseguir» não traduz «The simplest way of doing this is to restrict advertising.» (conferir aqui).

Marques da Silva

Sensibilidade e bom senso

Não há fórmula mágica para o imprimatur a dar aos comentários online, mas deve-se admitir uma margem de expressão lata e abrangente

A notícia da edição electrónica do PÚBLICO tinha por título “Eventual corte de juros atenua quebras nas bolsas”, e o primeiro comentário enviado por um leitor, que assinava ZP, dizia o seguinte: ”Pois, é pena é que os bancos vergonhosamente estejam a esticar o spread. Parecem a Galp - aumentam o gás cada vez que há um tiro no Iraque, mas nunca o baixam mesmo se houver paz. O pessoal está a ficar farto disto e devia começar a pôr bombas nos balcões para ver se esta gente ordinária tem juízo e ganha alguma dignidade". Como interpretar esta opinião? Um desabafo emocional? Um apelo ao terrorismo? Uma figura de retórica? Contém ou não ela própria “dignidade” para ser publicada na internet em anexo à notícia? Questões como estas surgem todos os dias à equipa do PUBLICO.PT quando tem de decidir a publicação de certos comentários.

A possibilidade de somar reacções do público às notícias é uma das muitas características distintivas da informação online. Se um jornal em papel tem edição definitiva à saída da tipografia, o site do mesmo jornal é um mosaico em contínua metamorfose, com actualização ao segundo que inclui novas notícias, o desenvolvimento ou aperfeiçoamento das anteriores e até a opção de abrir cada uma delas aos comentários dos leitores, que depois lhe são agregados. E, ao contrário da edição em papel, o espaço no site é ilimitado: cabem todos os comentários enviados. Estes suscitam novos comentários, abrindo-se assim um forum de debate público e de participação cívica que constitui um dos fenómenos contemporâneos ligados ao advento da internet.

A participação no circuito da informação tornou-se numa das exigências dos internautas, que a vivem como um direito e que, por conseguinte, privilegiam a navegação por sites que a permitem, seja para lerem os comentários alheios (uma mais-valia da notícia), seja para também eles adiantarem opiniões.

A opção do PUBLICO.PT pela junção de comentários às suas notícias não podia estar mais em sintonia com este sinal dos tempos, e a prova está no seu próprio sucesso: 265 mil reacções já recebidas. Se até Novembro do ano passado a participação popular se manteve constante, com uma média de uns 8.200 comentários publicados em cada mês (270 por dia), a partir de então deu-se uma explosão: 12.021 em Dezembro, 21.642 em Janeiro, 24.140 em Fevereiro e 33.619 (quase 1.100 por dia) em Março.

Para lá da leitura sociológica a fazer deste sintoma, há um problema que não se pode ignorar: este novo espaço de liberdade implica também responsabilidade. A voz dos leitores, como tudo o que se difunde na internet, é abrangida pelas leis sobre liberdade de expressão e informação que protegem os direitos dos cidadãos (sobretudo na sua reputação e intimidade), pelo que é forçosa uma “moderação”, isto é, um crivo humano que decida se os comentários são publicáveis, não só no aspecto legal mas também na sua harmonia com o estatuto editorial da publicação hospedeira.

Assim acontece no PUBLICO.PT (pelo que a edição de comentários não é instantânea, dado o diferimento temporal para a sua aprovação). O site do jornal contém uma lista de “Critérios para publicação de comentários dos leitores” que estabelece as regras do jogo. O editor do PUBLICO.PT, António Granado (AG), por solicitação do provedor, calcula que “a taxa de rejeição de comentários estará na ordem dos 1 por cento ou inferior”.

Mas é claro que pode existir subjectivismo na decisão de publicar ou não um comentário. O do início desta crónica, datado de 22 de Janeiro, foi aprovado, e logo de seguida se publicou um de outro leitor: "Subscrevo ZP, poucas palavras para dizer tudo". Uma hora depois, a leitora M. Silva enviou ao provedor uma reclamação: “Já há quem vá atrás da ideia de pôr bombas nos balcões dos bancos, e o PÚBLICO continua a publicar. Incitação à violência é crime público que nada tem a ver com liberdade de expressão, pelo que espero que o PÚBLICO retire os referidos comentários e haja de futuro mais cuidado com o que se publica ou deixa publicar”.

Ouvido pelo provedor, AG começou por considerar: “Não me parece, sinceramente, que ZP tivesse como intenção desatar a pôr bombas em balcões de bancos, tratando-se apenas de uma expressão de forte indignação”. Mas logo a seguir conclui pela pertinência da reclamação: “Estamos de acordo, até porque o comentário viola os nossos próprios Critérios de Publicação. De futuro, evitaremos a publicação de comentários deste tipo, e agradecemos à leitora a chamada de atenção (...). O número de comentários no PÚBLICO online tem vindo a aumentar exponencialmente nos últimos meses, o que tem tornado mais difícil a sua filtragem”.

Ainda acerca do sector bancário (erigido como bête noire de muitos leitores), recentes notícias no PUBLICO.PT sobre o grupo Espírito Santo suscitaram dezenas de comentários que levaram o leitor Alberto de Oliveira a reagir: “Constato que muitos desses ‘comentários’ não cumprem, no todo ou em parte, as oito principais razões da não publicação de comentários. Localidades como Além-Inferno, por aí, sul, norte, algures no mundo, país de oportunistas, não existem. Também muitos desses comentários expressam linguagem grossseira, conteúdo ambíguo ou irrelevante, razões elencadas pelo PÚBLICO e que seriam suficientes para a sua não publicação”. Estaremos, em alguns desses casos, perante as tais figuras de retórica admissíveis como instrumentos de debate, mas, sem exemplos concretos, será difícil verificar a justeza da reclamação do leitor.

É porém necessário admitir, neste campo, uma margem de expressão suficientemente lata e abrangente. Uma coisa é a linguagem dos jornalistas, obrigada a critérios de rigor e objectividade, outra são os modos muitos variados pelos quais a generalidade do público se exprime, e que não fará sentido coarctar ou condicionar com uma formatação demasiado rígida ou limitada.

O leitor Paulo Veiga indignou-se com este comentário a uma notícia de 4 de Março sobre as eleições nos EUA: “Certo dia, numa corrida de atletismo, eu e o pequeno grupo que me acompanhava ultrapassámos um jovem preto. Como as pessoas ligadas ao atletismo sabem, os pretos, hoje em dia, principalmente os quenianos, ganham quase tudo. Foi então que um colega se saiu com esta: para ganhar não basta ser preto! Pois não, não basta ser preto a Obama para justificar a vitória, e eu acho que H. Clinton é melhor candidata (...)”. Escreveu o leitor: “É frequente ler nos comentários (...) expressões insultuosas e de mau gosto. Hoje calhou-me ter lido um comentário racista e fiquei logo mal disposto e indignado, não com o comentador mas sim com o PÚBLICO por tê-lo publicado”. Mas AG responde: “O leitor não gosta de ‘jovem preto’? Seria melhor ‘jovem negro’? Deveríamos ter corrigido para ‘jovem negro’, alterando a frase do leitor? Eu jamais escreveria ‘jovem preto’, porque não gosto da expressão. Mas não me parece que o facto de alguém dizer ‘jovem preto’ seja necessariamente racista. Proibir o comentário porque ele contém a expressão ‘jovem preto’ ou alterá-la para ‘jovem negro’ seria, no nosso entender, fazer censura. E isso não fazemos”.

O reclamante lamentou ainda, depois de ler os Critérios de Publicação: “O referido comentário cumpre os requisitos para ser publicado, porque não existe qualquer referência a comentários de teor racista”. Mas retorque o editor do PUBLICO.PT: “Os comentários racistas não são autorizados no site do PÚBLICO, pois violam o estipulado na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Dizem os nossos Critérios de Publicação que ‘não são publicados comentários que contenham acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira, incitações ao ódio ou à violência ou que preconizem violações dos direitos humanos.’ (...) Temos normalmente muito cuidado com tudo o que cheire a racista, e normalmente rejeitamos.

Entretanto, um outro leitor (não identificado) protestou contra a difusão, em 29 de Março, de um comentário à notícia intitulada “Deputado holandês divulga filme anti-islâmico na Internet”, no qual se faziam depreciativas considerações sobre o islamismo para se concluir: “Da mesma forma que os países muçulmanos são intolerantes com a liberdade de expressão das outras religiões, assim eles têm de ser tratados entre nós e nos outros países não muçulmanos”. (O provedor não recebeu de AG resposta à questão apresentada sobre este comentário, que lhe pareceu exceder os limites).

Em sentido contrário foi a queixa do leitor Hélder Peres em 6 de Março: enviou um comentário à política governativa de José Sócrates que não foi publicado (“Será por não concordar com determinadas atitudes deste governo do PS? Pensava que o PÚBLICO era um jornal independente; perante este facto, começo a duvidar”). Mas explica AG que o comentário em causa violava o critério sobre insultos e linguagem grosseira, adiantando que dos 31 comentários já enviados pelo leitor ao PUBLICO.PT este fora o único não aprovado. Lido o comentário, o provedor acha justificada a sua não difusão.

A maioria das reclamações sobre comentários recebidas pelo provedor são aliás do mesmo género, quase sempre denunciando uma suposta prática de censura no PUBLICO.PT, mas também quase sempre já publicados no momento da queixa, tendo sofrido apenas o lapso temporal para aprovação.

Não existe uma fórmula mágica para o imprimatur (se é permitida a analogia) a dar aos comentários. Mas, além da verificação dos Critérios de Publicação, sem dúvida que será necessária ainda alguma dose de ponderação, sensibilidade e bom senso.

Recomendação do provedor. O crescente volume de comentários não deve impedir a aplicação dos princípios de filtragem em vigor. Caso contrário, o PUBLICO.PT arrisca-se a ser vítima do seu próprio sucesso.

Desesperadamente à procura dos resultados da bola

Mensagem do leitor Ricardo Quitério às 23h14 de 3 de Abril: “É lamentável que, à hora em que escrevo este mail, ainda não esteja disponível no site do vosso jornal uma notícia sobre os jogos da UEFA desta noite. Tenho que me contentar em consultar o site dos jornais espanhóis onde, tanto em El País e El Mundo, para não falar no desportivo Marca, já estão publicadas notícias sobre esses jogos, inclusive de um clube de Portugal: Sporting (parece que jogou hoje). É uma pena e não dá para compreender por que não podemos fazer igual”. O PUBLICO.PT não é actualizado de madrugada (hora da Lisboa), mas não há de facto razão para este serviço não ser prestado aos leitores.

NOTA: Na próxima semana não haverá crónica do provedor.

Publicada em 13 de Abril de 2008

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Sobre a última crónica do provedor

Fico contente, antes de mais, por saber que há alguém que pensa do mesmo modo que eu(ou que eu penso do mesmo modo que ele, pois sou mais novo). Há três meses, quando decidi pela primeira vez escrever para o vosso jornal, fi-lo por me sentir triste com o país que os meus 23 anos têm vindo a ver...

O dia de hoje foi como que uma lufada de ar fresco, dando-me ânimo para continuar a discordar construtivamente daquilo que não acho que seja correcto nem moral. Viver em democracia não é fácil. Este sistema, excluindo a anarquia (que até hoje, salvo erro, nunca se tentou aplicar), é aquele que face às suas lacunas mais confia no bom senso das pessoas e na boa formação de cada um, uma vez que é fácil explorar lacunas como as que eu mencionei e com que o vosso jornal tem o prazer de pactuar.

De qualquer modo, não posso deixar de comentar o que escreveu, desta vez com um estado de espírito mais calmo, mas ainda indignado. Antes de começar, obrigado também pela explicação legislativa sobre o assunto.

As suas perguntas no artigo são deliciosas: "Verifica o PÚBLICO (...) o estatuto laboral desta gente antes de aceitar anúncios? E se por acaso algum deles não será imigrante ilegal? E se os classificados não são colocados por redes de prostituição?(...)". A questão é que realmente, se verificassem, por um lado tinham menos anúncios, por outro podiam ter investigações jornalisticas impossíveis de resolver, tipo caso Maddie...

O segundo ponto que merece destaque é a citação de José Manuel Fernandes (JMF). Mais uma vez a opinião dele me deixa feliz por um lado, triste por outro. Fico triste
por ele se desculpar dizendo que é uma questão de negócio [NOTA: a expressão é do provedor, não do director do PÚBLICO]. E o PÚBLICO não tem assim tantos?

Gostava de falar pessoalmente com JMF para lhe perguntar se um ladrão que rouba uma televisão não é igual a um que rouba uma televisão e por acaso vai até à cozinha da casa e leva também o microondas: "Nem sequer o PÚBLICO é 'especialista' no ramo, pois tem muito poucos desses anúncios comparando com outros jornais...."

O problema de JMF é mais grave: é a "síndrome da ovelha que segue o rebanho" (SOSR), típica em Portugal porque é o caminho mais fácil. Limita-se a seguir o que os outros fazem, fazendo uma "merda" mais pequena (assim, até se for católico parece que peca menos).

Relativamente ao carácter do gosto, que por isso não deve ser eliminado, eu também aturei quando ia para a escola os anúncios na rádio das sapatarias Charles, por exemplo. Cada matéria tem de ser tratada com delicadeza. Se é a favor da prostituição, diga-o, tenha a coragem de falar nisso no seu jornal, veja se é legalizada. Mais: como não lhe desejo mal e desejo é uma alta taxa de natalidade para Portugal, deixo-lhe a ideia de, se isso acontecer, criar um jornal só com este tema e estes anúncios, género de ocasião, mas só sobre prostituição e as tendências... Vai ser um sucesso. Mas não obrigue a ver este lixo, fruto de uma democracia oprimida constantemente pelos lobbies e grupos de pressão.

Por fim, fico feliz por saber que se JMF tem emprego eu certamente também irei ter.

António Matias (leitor cuja carta deu origem à crónica do provedor)

terça-feira, 8 de abril de 2008

"Mais" a mais

Eis que, a págs. 2 da edição do PÚBLICO de 8 de Abril, se relata o que ontem de véspera no Parlamento sobre o (des)Acordo Ortográfico ["Choque de titãs deixa deputados hesitantes face ao Acordo Ortográfico]. Assinado por mão de um mestre do jornalismo: Adelino Gomes.

...Mas eis que, tratando-se jornalisticamente de matéria de língua portuguesa, leio - esmagado - esta enormidade: "Vasco Graça Moura continua a ser um dos mais acérrimos detractores do Acordo Ortográfico em discussão."

Um superlativo absoluto sintético precedido por "um dos mais"?

Como se fosse: "Um dos mais lindíssimos textos"? "Uma das mais belíssimas pinturas"? Ou "uma das mais gravíssimas asneiras"?!

Sou admirador acérrimo da qualidade de Adelino Gomes. Mas esta falta merece um comentário... com a "mais máxima" brevidade!

Nuno de Abreu

NOTA DO PROVEDOR. Contactado o jornalista Adelino Gomes acerca desta questão (capaz de levar ao engano muitos jornalistas, de tal modo se incrustou na linguagem corrente), concluiu-se que a frase não foi da sua responsabilidade, mas sim do director-adjunto, Nuno Pacheco, responsável pelo fecho da página, como o próprio reconheceu em resposta enviada ao leitor: "O pequeno texto a que se refere (que serve, aliás, de 'legenda' a uma fotografia de Vasco Graça Moura) não foi escrito por Adelino Gomes mas sim por mim próprio, Nuno Pacheco. E tem toda a razão: está mal escrito. Tem um 'mais' a mais. Deveria ser, obviamente, 'Vasco Graça Moura continua a ser um dos acérrimos detractores do Acordo Ortográfico em discussão'. 'Acérrimo' não foi a primeira palavra que escolhi, e daí o erro. Escrevi, primeiro, 'um dos mais radicais'. Quando emendei mantive, inconscientemente, o 'mais'. Terrível desatenção, eu sei..."

Maneiras de ver

Na notícia com o título “Mais de metade dos novos trabalhadores admitidos com contratos a prazo”, na pg. 12 da edição do PÚBLICO de 26 de Janeiro, da autoria de Clara Viana, lê-se: "É uma tendência em alta que o Anuário Estatístico de 2006 (...) veio confirmar: a criação de emprego está a ser feita sobretudo via contratos a prazo...". Contudo, e olhando para o gráfico da própria notícia, conclui-se que o emprego a prazo teve decréscimos em 2003, 2004 e 2005, enquanto o emprego sem termo cresceu. É estranho portanto falar numa "tendência". Lê-se ainda "o acréscimo de emprego registado em 2006 - a primeira subida em três anos" e, mais uma vez, de acordo com o gráfico, conclui-se que o emprego cresceu em 2003, 2004, 2005 e 2006. Um pouco mais de rigor seria bem-vindo.

Miguel Carvalho

ESCLARECIMENTO DA JORNALISTA:
Não creio que exista falta de rigor, mas na verdade o quadro precisava de mais especificações para ser mais claro. Ou seja, os dados nele constantes não resultam directamente dos apresentados no texto. Uma leitura mais atenta da notícia esclareceria isso mesmo, mas continuaria por esclarecer em pormenor o que está patente no gráfico, que foi importado directamente do material divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística. Apesar da falta de tempo e de espaço, este complemento de informação deveria ter sido integrado. Ou então ter-se optado por outro gráfico, o que não aconteceu por se considerar que aquele que foi publicado constituía uma fonte de mais informação.

1 - Conforme se especificava no título do gráfico, este representa a taxa de variação anual do emprego por conta de outrem, segundo o tipo de contrato. Quer dizer que as linhas traduzem o aumento, queda ou estagnação face ao ano anterior - 1999 por comparação a 1998, 2000 por comparação a 1999 e por aí fora.

2 - Neste gráfico, o que está patente é a evolução do emprego por conta de outrem, e este cresceu, como aliás também se refere no artigo: “Em 2006, e pelo terceiro ano consecutivo, voltou a diminuir o número de trabalhadores por conta própria: o seu peso passou de 25 por cento em 2003 para 22,7 em 2006. Em contrapartida, o peso do contingente por conta de outrem, onde alinham os contratados a prazo, passou de 73 para 75,6 por cento.” Entre 2003 e 2006, a taxa de variação anual neste sector oscilou de 0,3 a 2,2 por cento.

3 - Lê-se ainda "o acréscimo de emprego registado em 2006 - a primeira
subida em três anos". O que se lê corresponde aos números do INE. Esta afirmação não se refere ao emprego por conta própria mas sim ao total do emprego (por conta própria, por conta de outrem e “outras situações”). E este, segundo os dados do INE, conheceu uma taxa negativa em 2003: -0,4 por cento, rondando depois os 0 por cento em 2004 e 2005. O que significa “estagnação”. E arrancando depois em 2006 para 0,7 por cento.

4 - Quanto à tendência em alta, o que se afirma, e é citado pelo leitor, é que “a criação de emprego está a ser feita sobretudo via contratos a prazo...". E mais uma vez essa é uma realidade patente nos dados do INE: dos 84,3 mil postos de trabalho criados em 2006, 58 mil corresponderam a contratos a prazo e 26,3 mil a contratos sem termo. Por comparação a 2002, o número de contratados a prazo diminuiu em 2003, 2004 e 2005 (passou de 805,4 mil para 768,5 mil, 750,5 mil e 743,3 mil, respectivamente) e voltou a subir em 2006: 801,3 mil. É a taxa dessa variação anual que está patente no gráfico. O que este quadro não traduz, porque não era essa a sua função, é a crescente importância dos contratos com termo no conjunto da força de trabalho (19,4 por cento em 2005; 20,6 em 2006) e nos novos empregos. E é nessa crescente subida de importância que se pode encontrar uma tendência, com aliás foi sublinhado ao PÚBLICO por uma economista e um sociólogo citados no mesmo artigo.

Uma visita ao site do INE (www.ine.pt) para consulta dos quadros que acompanham o Anuário Estatístico poderá, sem dúvida, ajudar o leitor a colectar mais informação.

Clara Viana

domingo, 6 de abril de 2008

Descubra as diferenças

O artigo “Mecenato político, porque não?”, publicado na edição do PÚBLICO de sábado, 5 do corrente, aborda o financiamento dos partidos, o que, nas palavras do seu autor, “é um assunto extremamente polémico”. Polémico ou não, ideias são sempre bem vindas. Já a re-publicação do artigo na edição de domingo, 24 horas depois, não pode ser bem vinda. O jornal deveria prestar mais atenção. O espaço de um periódico é precioso, e a paciência do leitor não o é menos. Façam com que ela não se esgote!

E ela pode esgotar-se mais depressa do que se julga quando parece que, afinal, não se trata de uma simples repetição. Na realidade, o título é algo diferente. Enquanto na edição de sábado ele era o que acima transcrevo, no domingo já era mais longo: “Financiamento partidário: mecenato político, porque não?”. Mas há mais: o destaque, seleccionado do texto possivelmente pela redacção, dizia na edição de sábado: “Sem partidos não há democracia e sem dinheiro não há partidos. Logo, sem dinheiro não há democracia.” O de domingo rezava a missa de outra forma: “Os partidos devem ser considerados como verdadeiras instituições de utilidade pública.”

O que se deve pensar de tudo isto?

Entretanto, ao provedor, que tem estado a agir como verdadeiro ombudsman, as minhas felicitações pelo trabalho desenvolvido.

J. M. Carvalho Oliveira
Lisboa

Actualização
EXPLICAÇÃO DO DIRECTOR EXECUTIVO DO PÚBLICO, JOSÉ VÍTOR MALHEIROS:
Tratou-se de um erro que assumimos e pelo qual pedimos desculpa aos leitores. A explicação de como a repetição ocorreu é simples: há uma pasta à qual a direcção tem acesso onde são colocados os artigos de opinião aprovados para publicação nos dias seguintes. Aconteceu que, após a primeira publicação, o artigo deveria ter sido deslocado para uma pasta de arquivo, e isso não foi feito. No dia seguinte, o artigo foi paginado de novo. Houve neste caso uma sequência de duas falhas - como acontece quase sempre que um erro chega às páginas do jornal: no primeiro dia, a falha no arquivamento do artigo, para evitar a sua republicação; no segundo dia, o facto de não se ter verificado se o artigo já tinha saído no dia anterior, para prevenir um erro que temos consciência que pode ocorrer.

As diferenças existentes nas duas publicações (edição do título e do antetítulo) devem-se ao facto de estas operações serem feitas após a paginação. Pessoas diferentes fizeram escolhas diferentes quer quanto ao título quer quanto à entrada. Diga-se que o título, antetítulo, entradas e destaques dos artigos de opinião são escolhas do jornal - ainda que sejam feitas no respeito escrupuloso pelo espírito do texto e, quando existam, seguindo as indicações dos autores.

Para evitar a repetição do erro vamos tentar tornar mais rigorosos os procedimentos de gestão dos artigos de opinião.

O provedor rectifica o provedor

O destaque da crónica do provedor hoje saída no PÚBLICO diz o contrário do que vem no texto. Assim, onde se lê "Como compaginar Khadafi com a recusa de anúncios 'cujas características sejam incompatíveis com a defesa de valores totalitários e antidemocráticos'?" deve ler-se "Como compaginar Khadafi com a recusa de anúncios que propaguem 'a defesa de valores totalitários e antidemocráticos'?" O disparate, que passou na revisão (se é que a houve), é da responsabilidade do próprio provedor.

A Adriana, a Bruna, a Sílvia, as duas princesas e o ditador

Dois casos de anúncios inseridos no PÚBLICO que exploram os limites dos seus critérios de aceitação de publicidade

Os anúncios dizem coisas como estas, terminando com um número de telemóvel: “A ADRIANA SENSUAL – Morenaça 1,70 Busto 40 Corpo Delirante Prazer Total Apart. Hotéis”; “A BRUNA TRINTONA – Simpática Meiga Sensual Descubra mais Apartamento Luxo Deslocação Hotéis”; “A SÍLVIA 38A SENSUAL DOCE – Discreta, simpática, meiga, agradável. Tb desl. Hotéis”; “LISBOA – Amigas, Loira e Morena, 21 Anos, Duas Princesas, 24 H À Tua Espera. Discretas, Hotéis”; “TRAVESTI GULOSA POTENTE – Amor sem pressas, dou-te todinha. Discreto. Chile” (da edição do PÚBLICO de quarta-feira passada, 2 de Abril).

Pelo menos um leitor, António Matias, está chocado com a reiterada publicação deste tipo de publicidade na secção de classificados do jornal, responsabilizando não os seus responsáveis editoriais mas o proprietário: “O Sr. Belmiro de Azevedo devia ter vergonha em permitir, também no seu jornal, as páginas de classificados conotados directamente com a prostituição. É um ultraje à nossa democracia que certos assuntos sejam explorados na ilegalidade com o aval legal de outros que publicitam o que é ilegal!”

É preciso que se esclareça que a prostituição em si (pois é disso que se trata nos anúncios em questão) não é um acto ilegal em Portugal, mas sim o lenocínio, ou seja, a exploração alheia de quem se prostitui. Isto é, nada obsta a que a “Adriana”, a “Bruna”, a “Sílvia”, as duas “princesas” e o seu colega travesti sejam empresários em nome individual, mas a lei já não permite que sejam trabalhadores por conta de outrem. Verifica o PÚBLICO, jornal que editorialmente denuncia quem se desvia da lei, o estatuto laboral desta gente antes de aceitar os anúncios? E se por acaso algum deles não será imigrante ilegal? E se os classificados não são colocados por redes de prostituição? E se essas redes não violam direitos humanos, matéria perante a qual, segundo o seu Livro de Estilo, o PÚBLICO não deve ser neutro?

Fora de moralismos, estamos no limiar da legalidade, zona de fronteira que porém não preocupa o director do PÚBLICO, solicitado pelo provedor a esclarecer a posição do jornal na matéria: “Independentemente do estatuto ilegal da prostituição, desconheço qualquer legislação que proíba o tipo de publicidade a que o leitor se refere. As autoridades que zelam pela conformidade da publicidade com a lei têm sido muito zelosas nos últimos tempos, e nunca fui informado de que tivesse sido levantado um processo ao jornal por causa desse tipo de anúncios. E o Livro de Estilo não os interdita nos seus pontos relativos à publicidade: ‘O PÚBLICO rejeita [...] toda a publicidade cujas características ideológicas e propagandísticas sejam incompatíveis com o estatuto editorial do jornal (apelos à violência; defesa de valores totalitários e antidemocráticos; intromissões na vida privada dos cidadãos; campanhas contra ou a favor de instituições e pessoas, desde que não sejam justificadas por indiscutíveis razões de natureza ética e cívica; referências obscenas; anúncios a produtos cuja nocividade esteja comprovada ou seja, pelo menos, fortemente suspeita; etc.).’ Só eventuais referências obscenas, que por regra esses anúncios evitam, pois transmitem a sua mensagem de forma subliminar, por vezes sugestiva mas sem linguagem que assim se possa considerar face aos padrões em vigor”.

O que não implica, ainda segundo José Manuel Fernandes (JMF), que o jornal aprecie publicidade do género, mas negócio é negócio: “Para ser sincero, o director não aprecia. Nem sequer o PÚBLICO é ‘especialista’ no ramo, pois tem muito poucos anúncios desses comparando com outros jornais. Mas há muitos outros anúncios que posso não apreciar mas que não devo eliminar em nome de uma política do gosto. Editorialmente, o PÚBLICO entende que a legalização ou não da prostituição é um tema a tratar (estamos a trabalhar nele), pois a discussão voltou à ordem do dia em alguns países (sugiro, por exemplo, o debate entre duas feministas na última Prospect, uma favor da ilegalização do sexo pago, outra contra)”.

Tendo o director invocado as normas do PÚBLICO para a rejeição da publicidade, vale a pena mencionar aqui outro caso que decerto terá surpreendido muitos leitores: a publicação pelo jornal de anúncios de página inteira propagandeando a política do coronel Muammar Khadafi, por ocasião da sua visita a Portugal, em Dezembro último. Recuperado pelos países ocidentais no contexto das peripécias ligadas à invasão do Iraque, tendo presumivelmente abandonado a prática terrorista de ordenar a destruição à bomba, em pleno voo, de aviões repletos de inocentes passageiros civis, nem por isso este homem deixou de ser o ditador que sempre foi para o povo líbio, desde que participou no golpe de Estado que o levou ao poder em Tripoli há quase 40 anos. Como compaginar isto com a recusa de publicidade “cujas características ideológicas e propagandísticas sejam incompatíveis com o estatuto editorial do jornal (apelos à violência; defesa de valores totalitários e antidemocráticos, [...])”?

Pelo menos, relata JMF ao provedor, o assunto transtornou a consciência do jornal:

“O tema foi objecto de uma discussão interna onde se revelaram várias sensibilidades. De resto, foi considerado tão sensível que a série de anúncios foi interrompida depois da publicação do primeiro [...], para permitir que a direcção voltasse a debruçar-se sobre o assunto. No final, prevaleceu o seguinte julgamento:

a) Nenhum ponto do Livro de Estilo impede a publicação de anúncios daquele tipo, pois [...] o seu conteúdo, mesmo que considerado detestável pela generalidade da equipa editorial do PÚBLICO, não viola os pontos [sobre publicidade]. A defesa de ideias contrárias às nossas [...] não devia pois ser banida por uma decisão discricionária. [...].

b) O único ponto susceptível de alguma discussão na leitura do Livro de Estilo é se os anúncios em causa eram de propaganda ao líder líbio ou de propaganda às ideias que defende. A leitura feita pela direcção editorial é que eram de propaganda às suas ideias, mesmo que neles surgisse a sua fotografia. Seguindo um critério diferente, teríamos de recusar no futuro, por exemplo, o anúncio aos produtos de uma empresa em que o seu dono aparecesse fotografado. Não nos pareceu razoável, antes um torcer do espírito da norma do Livro de Estilo.

c) O jornal já aceitou no passado e aceitará no futuro textos de opinião com cujas ideias se identifica tão pouco como com as do líder líbio. Fá-lo em nome da pluralidade de pontos de vista e acreditando na senioridade e inteligência dos seus leitores, que sabem raciocinar e pensar pela sua cabeça. E fá-lo em nome da liberdade [...].

d) Pesou ainda na nossa decisão a análise das práticas de grandes jornais internacionais, como o International Herald Tribune [IHT], onde anúncios semelhantes são publicados com alguma regularidade. Após consulta do livro de estilo do New York Times, proprietário do IHT, também verificámos que nele não se previa qualquer regra susceptível de nos levar a recusar aquele anúncio.” (Ler no blogue do provedor as explicações integrais de JMF).

A ideia de invocar o livro de estilo de outro jornal para justificar uma decisão sem cobertura no do PÚBLICO (ou de confundir textos de opinião com publicidade paga) parece ao provedor algo enviesada. E que tal promover uma alteração do Livro de Estilo do PÚBLICO, se ele se mostra prejudicial à prática comercial que se entende dever ser seguida (e que é a “de grandes jornais internacionais”)?

Novas incursões demoníacas

- O leitor Gabriel Silva chama a atenção para a bizarra ausência da Espanha dos quatro mapas com todos os países membros da NATO publicados na pg. 6 da edição de quarta-feira: “A Espanha é assinalada como não fazendo parte da dita organização. Já não digo que tal informação seja da cultura geral (de um jornalista deveria ser, mas pronto...); o que me espanta é que quem fez o mapa não consultou sequer o site da NATO”. É certo que a Espanha aderiu à NATO muito depois de Portugal (membro fundador), mas quando o PÚBLICO nasceu já o havia feito há quase uma década...

- O provedor sentiu um pequeno baque ao ler na pg. 14 da edição desta sexta-feira (4 de Abril) o título “Morreu o último preso da PIDE”. Tendo sido também preso da PIDE, e julgando-se ainda vivo (como muitos outros), pensou por momentos estar o ler o jornal do além-túmulo. O corpo da notícia esclarecia porém que se tratava do “último preso da PIDE a ser condenado em Tribunal Plenário com medidas de segurança”*, o que faz uma diferença. Parafraseando a muito citada reacção de Mark Twain ao ler na imprensa a notícia da sua própria morte, o título terá sido ligeiramente exagerado.

* ADENDA: Trata-se de Licínio Pereira da Silva, que o provedor conheceu aliás na prisão e a cuja memória, numa nota mais pessoal, deixa aqui o seu tributo.

Publicada em 6 de Abril de 2008

DOCUMENTAÇÃO COMPLEMENTAR

Explicações de JMF sobre os anúncios a Khadafi

O PÚBLICO aceitou vários anúncios colocados por Muammar Khadafi e o tema foi objecto de uma discussão interna onde se revelaram várias sensibilidades. De resto, o tema foi considerado tão sensível que a série de anúncios foi interrompida depois da publicação do primeiro de página inteira, para permitir que a direcção voltasse a debruçar-se sobre o assunto. No final prevaleceu o seguinte julgamento:

a) Nenhum ponto do Livro de Estilo impede a publicação de anúncios daquele tipo, pois estes só são interditos nos casos previsto no ponto 114: "O PÚBLICO rejeita também toda a publicidade cujas características ideológicas e propagandísticas sejam incompatíveis com o estatuto editorial do jornal (apelos à violência; defesa de valores totalitários e antidemocráticos; intromissões na vida privada dos cidadãos; campanhas contra ou a favor de instituições e pessoas, desde que não sejam justificadas por indiscutíveis razões de natureza ética e cívica; referências obscenas; anúncios a produtos cuja nocividade esteja comprovada ou seja, pelo menos, fortemente suspeita; etc.)”. O conteúdo daqueles anúncios, mesmo que considerado detestável pela generalidade da equipa editorial do PÚBLICO, não viola estes pontos. A defesa de ideias contrárias às nossas, mas não enquadráveis nos pontos anteriores, não devia pois ser banida por uma decisão discricionária. Da mesma forma que, por hipótese, se o sentimento da maioria da redacção do jornal e da sua direcção fosse contra o aborto isso não deveria autorizá-la, enquanto o PÚBLICO tiver o estatuto editorial que tem, a banir os anúncios às clínicas espanholas de “tratamento voluntário da gravidez”, mesmo depois de ter sido recebida no jornal uma petição com centenas de assinaturas para que o fizesse.

b) O único ponto susceptível de alguma discussão na leitura do Livro de Estilo é se os anúncios em causa eram de propaganda ao líder líbio ou de propaganda às ideias que defende. A leitura feita pela direcção editorial é que eram de propaganda às suas ideias, mesmo que neles surgisse a sua fotografia. Seguindo um critério diferente, teríamos de recusar no futuro, por exemplo, o anúncio aos produtos de uma empresa em que o seu dono aparecesse fotografado. Não nos pareceu razoável, antes um torcer do espírito da norma do Livro de Estilo.

c) O jornal já aceitou no passado e aceitará no futuro textos de opinião com cujas ideias se identifica tão pouco como com as do líder líbio. Fá-lo em nome da pluralidade de pontos de vista e acreditando na senioridade e inteligência dos seus leitores, que sabem raciocinar e pensar pela sua cabeça. E fá-lo em nome da liberdade, pois acreditamos que esta se defende melhor dando a palavra aos seus inimigos, e combatendo as suas ideias do que banindo-as de forma administrativa.

d) Pesou ainda na nossa decisão a análise das práticas de grandes jornais internacionais, como o International Herald Tribune, onde anúncios semelhantes são publicados com alguma regularidade. Após consulta do Livro de Estilo do New York Times, proprietário do IHT, também verificámos que nele não se previa qualquer regra susceptível de nos levar a recusar aquele anúncio.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Erro falado e escrito

Parece-me, no mínimo, pouco profissional que o jornal apresente na sua plataforma on-line um vídeo (e respectivo texto escrito) com um erro grave de português. Será mais um "detalhe", será mais "uma coisa do diabo". Mas fica tão mal...

Falo do vídeo "Cultura: O rapaz do YouTube que se tornou estrela de cinema" (link aqui), em que a narradora (jornalista?) utiliza "entretia" como sendo a conjugação do verbo "entreter" na terceira pessoa do singular no pretérito imperfeito.

Ora, como se sabe, a forma correcta teria sido "entretinha". Isso mesmo pode ser confirmado, por exemplo, numa entrada do site "Ciberdúvidas da Língua Portuguesa", situada aqui.

Albano Assunção

UEFA sem resultados

É lamentável que, à hora em que escrevo este mail [23h15], ainda não esteja disponível no site do PÚBLICO uma notícia sobre os jogos da UEFA desta noite [3 de Abril]. Tenho que me contentar em consultar o site dos jornais espanhóis onde, tanto em El País ou em El Mundo, para não falar no desportivo Marca, já estão publicadas notícias sobre esses jogos, inclusivé de um clube de Portugal: o Sporting (parece que jogou hoje). É uma pena e não dá para compreender por que não podemos fazer igual.

Ricardo Quitério

Um destaque absurdo

Hoje, a página online do PÚBLICO tem o seguinte destaque sobre a crónica de Vasco Púlido Valente: «Com o risco de repetir Constança Cunha e Sá, insisto no tema». Reconheça-se que não é grande «destaque»: não se indica o tema, indicia repetição de tema abordado e fica a suspeita de que quem seleccionou o destaque ou não encontrou nada de melhor (levando o leitor a não pretender ler tal coisa) ou então de todo não sabe identificar correctamente uma frase para destaque.

Gabriel Silva

NOTA DO PROVEDOR. Quem escolheu o destaque fê-lo da maneira mais preguiçosa: transcreveu o primeiro período da crónica. É, de facto, absurdo.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

De palmatória

Sou jornalista, ainda em estágio, leio assiduamente o PÚBLICO na versão online e reparei que de facto existe uma quantidade de erros gramaticais nos textos, tal como é explícito no blog do provedor...

Hoje encontrei mais um quando abri o homepage e no cabeçalho dizia assim: "Efeméride - A primeira chamada de telemóvel foi feita à 35 anos". Não seria "há"!?

Nós todos erramos, mas o vosso jornal é um exemplo a seguir face ao conteúdo rico em matéria jornalística, e penso que há um certo "desleixo" neste campo da escrita. Por favor, vejam os erros para não chegarem às bancas... o que é desencorajador para nós, jornalistas, e para os leitores.

Carla Sofia de Assuno

NOTA DO PROVEDOR. Outra leitora, Mónica Lemos, denunciou o mesmo erro. O provedor procurou-o mas já não o encontrou, estando no lugar da efémeride os 50 anos da esfregona. Que bem precisa é para limpar esta mancha.