sábado, 29 de agosto de 2009

Uma taça meio cheia ou meio vazia?


Gostaria de mostrar a minha indignação sobre a forma como são divulgadas as notícias dos feitos alcançados pelos atletas portugueses no estrangeiro em provas internacionais.

Esta notícia é um exemplo flagrante da mentalidade dos jornalistas portugueses. Pelos vistos, segundo os jornalistas do PÚBLICO, Telma Monteiro estava obrigada a ser campeã mundial. Menos que isso seria um falhanço!

Não consigo compreender a razão por que os jornalistas divulgam a conquista de medalhas de prata em Mundiais como um "falhanço" em atingir o ouro.

Por que não escrever a notícia como "Telma Monteiro vice-campeã mundial de judo"? Parece que só os jornalistas é que cobram aos atletas medalhas de ouro. Isto num país com os índices de desenvolvimento que conhecemos, com os problemas estruturais conhecidos e onde são poucos os que se destacam pelo mérito.

Gostaria de saber os critérios que levam à divulgação destas conquistas desportivas de uma forma depreciativa, mesmo que não intencional.

Pedro Rosmaninho

Títulos como este são lamentáveis, derrotistas e claramente evitáveis. Numa competição mundial, Telma Monteiro foi capaz de obter um prestigiante segundo lugar, provavelmente competindo com atletas com recursos superiores e orçamentos mensais a que os atletas portugueses não podem aceder. E o comentário que lhe é dado é este? "Sabor amargo"? É um total desrespeito, e seria de esperar um pouco menos de sobranceria por parte de elementos de uma equipa tão prestigiada.

Daniela Gonçalves

domingo, 16 de agosto de 2009

Quem pergunta quer resposta

Nas respostas aos jornal, deve prevalecer não o formalismo legal mas dar aos leitores esclarecimentos tão cabais quanto possível

O TGV é uma das principais polémicas que hoje agitam o país, e sempre foi apanágio do PÚBLICO dar o máximo de contributos aos debates cruciais

“Lista de perguntas a que era bom dar resposta” - assim se intitulava o editorial de José Manuel Fernandes saído no PÚBLICO de 17 de Junho, elencando uma série de questões a que “era bom que, ao menos, [o ministro das Obras Públicas] Mário Lino e a sua equipa pudessem responder (...) para esclarecer algumas das muitas dúvidas que o projecto do TGV levanta”. As perguntas básicas eram seis, mas, à maneira das bonecas russsas, casa uma encerrava outras, pelo que no total o director do PÚBLICO endereçava às autoridades governamentais 22 questões sobre os planos relativos ao comboio de alta velocidade.

No final, José Manuel Fernandes rematava: “Poder-se-ia continuar indefinidamente, multiplicando as questões a que não responde a muita papelada distribuída pela RAVE [Rede Ferroviária de Alta Velocidade, S.A., a empresa de capitais públicos à qual compete a implantação do TGV] e pelo ministério. Sendo assim, quem assina por baixo?”

Pelo menos uma pessoa resolveu assinar por baixo, o administrador da RAVE Carlos Fernandes, que dois dias depois remetia a José Manuel Fernandes uma carta onde respondia às 22 perguntas suscitadas. O jornal não tomou a iniciativa de publicar a carta, alegando que era demasiado longa (12.500 mil caracteres – sendo que a crónica desta página tem um tamanho médio de 10 mil caracteres), pelo que explicou José Manuel Fernandes ao provedor: “[Uma secretária da direcção do PÚBLICO] entrou em contacto com uma secretária da administração da RAVE, que a passou a alguém que não sabe identificar pela função, mas que presumo ser do departamento de comunicação. Colocou oralmente o problema de um artigo com aquela dimensão, para além de chegar em papel e não por mail, o que coloca problemas de composição (não temos ninguém para essas funções), ser impossível de paginar no P1. Indicou-lhe a dimensão ideal do texto e ele ficou de dizer qualquer coisa”.

O provedor não conseguiu apurar se o PÚBLICO recusou taxativamente a publicação da resposta. A regra que José Manuel Fernandes enunciou é o seguinte: “Habitualmente o que fazemos é sugerir que se reduza para o tamanho de um texto de opinião (que, com raras excepções, não deveriam ultrapassar os 5 mil caracteres)”.

“Recusa” ou “sugestão”, a verdade é que a empresa aceitou a atitude do jornal como imposição inapelável, e formulou nova carta, dentro do espaço exigido/sugerido, esclarecendo incluir apenas “as respostas aos três primeiros grupos de perguntas, sendo informados os leitores do PÚBLICO de que o conteúdo integral do esclarecimento às questões colocadas pelos jornal pode ser lido no site da RAVE: www.rave.pt”. Na carta, a RAVE historiava também o atribulado processo de resposta ao editorial de José Manuel Fernandes: “O senhor director do PÚBLICO entendeu que, para ser publicada, essa resposta não deveria exceder 5 mil caracteres. Obviamente, se o que se pretende é, acima de tudo, contribuir para um bom esclarecimento público, não é possível responder de forma minimamente completa e clara a 22 perguntas sobre temas complexos nesse espaço (...). Pelos vistos, não é esse o entendimento [de José Manuel Fernandes], vendo-se assim a RAVE limitada no seu legítimo direito de resposta às perguntas colocadas no referido editorial”.

A nova resposta foi publicada na secção “Cartas do Director” de 4 de Julho, mas com uma nota onde José Manuel Fernandes dizia: “Sugere-se nesta carta que o PÚBLICO teria limitado à RAVE o direito de esclarecer os nossos leitores. O PÚBLICO limitou-se a dizer que as dimensões da carta não permitiam que esta fosse publicada, na íntegra, na edição em papel, e deu como referência o tamanho do texto a que ela respondia, fazendo-o nos termos da lei. A RAVE preferiu ocupar quase um terço desse espaço a atacar a decisão do PÚBLICO em vez de responder a mais uma das 22 questões.”

A empresa entendeu então queixar-se ao provedor, em carta assinada pelo mesmo administrador, onde se concluía: “Pelas razões expostas, a RAVE reafirma que se considera limitada no seu legítimo direito de resposta às perguntas colocadas no editorial de 17 de Junho”.

A questão não escapou também ao leitor João Garcia, que reclamou junto do provedor: “Não posso deixar passar o que considero mais uma machadada no direito à informação dos leitores do PÚBLICO. (...) Afinal José Manuel Fernandes queria respostas às suas perguntas ou apenas levantar poeira para os olhos dos leitores? Afinal José Manuel Fernandes queria informar os leitores ou apenas formá-los em função das suas opções? Será que o PÚBLICO tem medo do contraditório? Sinceramente não tenho, ainda, uma opinião formada acerca da construção do TGV, pelo que estou aberto a toda a informação a favor ou contra. O PÚBLICO prestaria um bom serviço ao publicar toda a informação disponível. O argumento ridículo de que não tinha espaço para a publicação da resposta não faz qualquer sentido. Na mesma edição, são gastas oito páginas, com chamada a metade da 1ª página, com propostas utópicas para o Terreiro do Paço (...). Não estou contra esta iniciativa, mas remeter a discussão da linha de alta velocidade para uma mera ‘carta ao director’, como se de um assunto menor se tratasse, é não respeitar o direito à informação dos leitores. Mais grave, ainda, é a nota do director: criticar a RAVE por fazer um enquadramento da sua resposta e, portanto, não responder às suas 22 questões é, no mínimo, de uma petulância e um despudor que não vão bem com um jornal que se pretendia de referência”.

Respondeu José Manuel Fernandes à interpelação do provedor sobre este caso: “Se a RAVE fazia questão numa explicação mais detalhada podia ter feito o mesmo que nós fizemos: pegar no telefone e propor, por exemplo, a publicação em duas partes, ou na internet. Alguém teria falado comigo ou com alguém da direcção, como sucedeu dezenas de vezes no passado tendo-se chegado à melhor solução (e atenção que esse tipo de negociações até já envolveu textos de ex-Presidentes da República, por exemplo). A RAVE não disse mais nada e voltou a enviar a resposta por carta, que teve de ser passada para computador por uma secretária. Face a esta resposta à nossa sugestão oral, demos o assunto por encerrado e publicámos a carta mais curta”.

O provedor entende dever criticar a atitude do PÚBLICO. Evidentemente que a RAVE “fazia questão numa explicação mais detalhada”, se não não teria enviado a primeira carta. É sabido de que uma resposta, em regra, é mais longa do que a pergunta que a motiva. Se o provedor perguntar qual é a receita do bacalhau à Gomes de Sá, não espera obviamente que lhe respondam com o mesmo número de palavras com que se designa o prato. E quem pergunta de boa fé quer obter uma resposta. Logo, o jornal deveria não só congratular-se pela resposta da RAVE às 22 questões de José Manuel Fernandes como procurar maneira de a acomodar na sua edição em papel. Isto é, deveria ter uma atitude pró-activa, propondo à RAVE a solução que o director acha que competia à empresa.

Para mais, está-se perante uma das principais polémicas que hoje agitam a sociedade portuguesa, e sempre foi apanágio editorial do PÚBLICO dar o máximo de contributos aos debates cruciais para o país, não varrê-los para debaixo da carpete.

Argumentos como o PÚBLICO não ter pessoal para teclar as cartas da RAVE são de mau pagador e nem deviam ser invocados. Se não tem, que arranje (até arranjou). O provedor também passa ao computador as cartas de leitores que lhe chegam em papel (felizmente poucas), e não pede suplemento de honorários por isso. Aliás, no caso da RAVE, bastou-lhe pedir à empresa que enviasse por e-mail toda a longa correspondência antes recebida por carta, o que logo foi feito, pelo que a alegação de José Manuel Fernandes não possui qualquer razoabilidade e evidencia até alguma má vontade perante quem reclama.

Também não colhe invocar “os termos da lei” para rejeitar a publicação da primeira carta da RAVE, como fez o director na resposta à segunda. A questão não se colocava na circunstância, porque a RAVE não havia respondido ao abrigo do direito de resposta, e o provedor entende que em situações idênticas o que deve prevalecer não são os formalismos legais mas sim fornecer aos leitores esclarecimentos tão cabais quanto possível. Aliás, José Manuel Fernandes nem deveria ter comentado a forma como a RAVE geriu o seu “direito” aos 5 mil caracteres, já que a empresa é inteiramente livre de o fazer.

RAVE andou bem neste caso, o PÚBLICO não.

CAIXA:

A fasquia dos 20 por cento

"Pela primeira vez em Portugal, a 7 de Junho os partidos à esquerda do PS obtiveram juntos mais de 20 por cento dos votos” – assim iniciava São José Almeida a sua crónica semanal da passada sexta-feira, intitulada “Os nós da esquerda”. “O pior é que muitos comentadores, editorialistas e redactores de notícias têm escrito semelhante falsidade, como se não fosse essencial, quando se escreve uma coisa, verificar se ela é verdadeira perante os factos”, comenta o leitor João Carlos Lopes. “Quem se habituou à exigência de rigor do PÚBLICO não entende como os seus jornalistas não se põem a coberto de erros desta natureza. Acontece que nas eleições de 1975, os partidos à esquerda do PS obtiveram 20,59% dos votos. Nas legislativas de 1979, o seu peso eleitoral ascendeu a 23,5% (só a APU [coligação comunista] teve 18,8%). No ano seguinte, 1980, tiveram 21,2%., com a APU a fixar-se, sozinha, nos 16,8. Não vale a pena procurar mais casos. Somam-se, nestas contas, os votos de todos os pequenos partidos, os de extrema-esquerda. Mas são partidos. E São José Almeida fala de partidos. (...) Convinha que o PÚBLICO não deixasse de ser um jornal com memória, isto é, que legitimasse o que nele se escreve em argumentos sólidos de respeito pela verdade”.

Explica a jornalista: “O que o leitor diz é verdade e é rigoroso, mas o que eu digo também é verdade e rigoroso. Como é percebido por quem ler o texto, trata-se de partidos com expressão parlamentar. Eu não falo do MEP ou do MRPP e dos outros partidos que concorrem às eleições. E cito os valores percentuais em causa do PCP e do BE, o que torna claro do que estou a falar”.

O provedor lamenta desiludir São José Almeida, mas só um dos dois é rigoroso, e trata-se do leitor: em 1979, os votos da APU e da UDP (que elegeu um deputado) totalizaram 21%.

Publicada em 16 de Agosto de 2009

DOCUMENTAÇÃO COMPLEMENTAR:

Carta do administrador da RAVE Carlos Fernandes ao director do PÚBLICO, em 19 de Junho de 2009

Li com atenção o seu editorial intitulado “Lista de perguntas a que era bom dar resposta”, publicado no passado dia 17 de Junho. Nesse editorial, após formular seis questões sobre o projecto de Alta Velocidade em Portugal, afirma: “Poder-se-ia continuar indefinidamente, multiplicando as questões a que não responde a muita papelada distribuída pela RAVE e pelo ministério. Sendo assim, quem assina por baixo?”

Em primeiro lugar devo assinalar que as questões colocadas versam matérias já amplamente esclarecidas e debatidas em múltiplas ocasiões. Não obstante, com o objectivo do esclarecimento público em mente, solicito a divulgação integral da resposta da RAVE a cada uma das seis questões colocadas por V. Exa.

Aproveito para esclarecer que as informações que agora se transmitem constam todas da “muita papelada”, como o Senhor Director lhe chama, disponível no website e na documentação da RAVE, facilmente consultáveis por quem tenha interesse em aprofundar o conhecimento sobre o projecto, e para lhe lembrar que a RAVE, na sequência de um outro editorial assinado por si sobre o projecto de Alta Velocidade (AV), lhe endereçou um convite em 21 de Novembro de 2007 para uma sessão de trabalho com vista ao esclarecimento de questões técnicas ou outras que considerasse de interesse sobre o projecto português, convite esse que se mantém.

Primeira pergunta: a linha será mesmo de alta velocidade (350 km/h), como se anuncia, ou apenas de velocidade alta (menos de 300 km/h)? É que, no plano espanhol, esta linha surge como linha mista destinada a passageiros e mercadorias por falta de tráfego, e colocar mercadorias numa linha de alta velocidade encarece imenso o projecto.

Resposta:
· A linha Lisboa–Madrid, quer em Portugal quer em Espanha, está a ser projectada e construída para tráfego misto e de modo a viabilizar o tempo de percurso de 2h45m na ligação directa entre as duas capitais, acordado na Cimeira Ibérica da Figueira da Foz, realizada em Novembro de 2003;
· Para respeitar esse compromisso assumido entre os dois Governos, do lado português, atendendo à orografia e demais condicionantes presentes, a linha está concebida para velocidades de projecto até 200 km/h, entre Lisboa e a Moita, e de 350 km/h, entre Moita e a fronteira, o que assegura o cumprimento de um tempo de percurso de 45 minutos em território português;
· Espanha tem já em construção cerca de 76 km de linha de alta velocidade do Eixo Lisboa-Madrid. A linha em território espanhol está concebida para uma velocidade de projecto de 350 Km/h, assegurando o cumprimento do objectivo de tempo de percurso acordado.

Segunda pergunta: do lado espanhol a linha está a ser construída com três carris de forma a permitir a circulação de comboios de bitola ibérica e bitola europeia, mas o concurso português para a ligação Poceirão-Caia prevê três linhas, duas para a alta velocidade em bitola europeia e uma, dita convencional, entre Évora e Caia, em bitola ibérica. Alguém pode explicar estas diferentes opções entre Portugal e Espanha? Alguém pode garantir que a nossa "alta velocidade" não passa a "velocidade alta" de Badajoz até Madrid?

Resposta:
· Do lado espanhol não está a ser construída uma linha com três carris, mas sim uma linha dupla de alta velocidade, em bitola UIC, e outra linha simples, em bitola ibérica, tal como do lado português;
· A coerência e total compatibilidade das opções técnicas estão asseguradas, não só pelo acordo entre os dois países relativo aos principais requisitos técnicos, como pela elaboração conjunta, através do AVEP – agrupamento europeu de interesse económico constituído por Portugal e Espanha – dos estudos relativos aos troços transfronteiriços.

Terceira pergunta: ao colocar a linha a passar pelo Poceirão, o projecto português obriga ou não a que se faça um ramal para o novo aeroporto de Lisboa (NAL)? Faz sentido uma linha de passageiros passar por um centro logístico de mercadorias e não por um grande aeroporto? Como se fará a ligação ao aeroporto? Sai-se do comboio com as malas e vai-se num shuttle? Muda-se de comboio?

Resposta:
· A ligação ferroviária ao Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) é concretizada através de uma ligação dedicada, tipo by-pass, entre a linha principal do Eixo Lisboa-Madrid, na zona do Poceirão, e o terminal aeroportuário;
· A rede ferroviária prevista permitirá serviços directos (sem necessidade de mudança de comboio), do tipo “shuttle”, entre a estação do Oriente e o terminal aeroportuário, de elevada frequência e com um tempo de percurso na ordem dos 22 minutos;
· Será também possível estabelecer serviços de continuidade entre o Eixo Lisboa-Porto e o NAL. Quer isto dizer que será possível a criação de serviços directos entre Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria e Oeste até ao NAL, com paragem em Lisboa mas sem necessidade de mudança de comboio;
· Está também prevista a ligação da rede convencional ao NAL, o que permitirá estabelecer serviços suburbanos ao resto da rede da área metropolitana, como sejam às linhas de Sintra, de Cascais, da Azambuja, de Almada-Pinhal Novo ou de Setúbal;
· Os únicos serviços que não terão acesso directo ao aeroporto, obrigando à mudança de comboio na futura estação do Poceirão, são as ligações à Extremadura espanhola e ao Algarve, representando apenas cerca de dois por cento de toda a procura do Novo Aeroporto de Lisboa. Contudo, até esta necessidade de mudança de comboio desaparecerá após a construção da ligação para nascente do NAL ao Eixo Lisboa-Madrid, a qual ocorrerá assim que os níveis de procura o exigirem.

Quarta pergunta: uma vez que a RAVE e o Governo insistem que o TGV deve entrar em Lisboa pela margem norte e não pela margem sul, depois de passar pelo aeroporto, quanto tempo a mais gastarão os passageiros que vierem do Norte e centro do país a chegar ao NAL? E se a linha obrigar ao transvase de todos os passageiros que vierem do Sul e do Leste (incluindo de Badajoz, Mérida e Cáceres) estes não perderão demasiado tempo e não considerarão preferível ir apanhar o avião a Madrid? Que impactos poderão ter estas escolhas na rentabilidade do futuro aeroporto?

Resposta:
· Na solução em desenvolvimento, correspondente ao traçado pela margem direita do Tejo (entrada em Lisboa, de quem vem do Porto, por Norte), o tempo adicional de percurso nos trajectos de Norte (Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria e Oeste) para o NAL é equivalente ao tempo adicional de percurso que a solução pela margem esquerda do Tejo impõe aos trajectos de Norte para Lisboa. Ora, correspondendo a procura para o NAL a menos de cinco por cento da procura total, seria absurdo adoptar um traçado (pela margem esquerda) que, para beneficiar essa pequena franja de passageiros, prejudicasse, na mesma medida, mais de 95 por cento da procura;
· Na prática, o traçado pela margem esquerda colocaria Lisboa numa situação de fim de linha, inviabilizando a criação de serviços de continuidade (por exemplo, Aveiro-Coimbra-Leiria-Lisboa-Évora);
· A solução pela margem esquerda possui ainda maiores limitações de capacidade, por concentrar no mesmo troço (entre Lisboa e o Poceirão) todos os comboios de Lisboa para o Porto, de Lisboa para Madrid, de Lisboa para o Algarve e shuttles;
· Acresce que o traçado pela margem esquerda não apresenta vantagens em termos financeiros que compensem as desvantagens assinaladas, pelo contrário, quando contabilizados devidamente não só os custos de construção mas também os custos de manutenção e operação e as receitas, a equação financeira é desfavorável para esta opção;
· Quanto à ligação do NAL para Leste (Évora e Extremadura espanhola), está previsto o prolongamento da ligação ferroviária à linha principal de alta velocidade também nesse sentido quando a procura o justificar, o que permitirá estabelecer serviços ao NAL sem necessidade de mudança de comboio. Mas, enquanto essa ligação não estiver concretizada, o acesso ferroviário ao NAL a partir de Leste será assegurado através de um único transbordo na zona do Poceirão, o que garantirá sempre uma maior competitividade, em termos de distância, face ao aeroporto de Madrid.

Quinta pergunta: é ou não verdade que o projecto escolhido para a terceira travessia do Tejo podia ser mais barato, se a ponte fosse só ferroviária e o trânsito automóvel fosse desviado para um túnel que fechasse o anel da CRIL, ligando Algés à Ponte Vasco da Gama, em vez de descarregar mais automóveis na Segunda Circular, em Lisboa? E têm ou não razão os operadores portuários quando dizem que essa travessia vai limitar gravemente a possibilidade de utilizar o mar da Palha para as operações portuárias? Alguém fez contas ao que isso pode representar?

Resposta:
· A construção de uma ponte rodo-ferroviária acarreta, necessariamente, maiores custos do que uma ponte exclusivamente ferroviária. Mas importa referir que não existe em lado algum do mundo qualquer ponte de dimensão comparável que seja exclusivamente ferroviária – em todos os casos optou-se por associar à componente ferroviária a componente rodoviária;
· Com efeito, a associação do modo rodoviário à travessia ferroviária permite alcançar sinergias importantes, quer em termos de custo quer de impactes, que criam a oportunidade, não desperdiçável, para o estabelecimento de uma ligação manifestamente em falta na área metropolitana de Lisboa e assim corrigir uma grave assimetria regional hoje bem patente;
· É preciso também não esquecer que o modo rodoviário gera um volume de receitas significativo, que permite compensar uma parte substancial dos custos adicionais que introduz;
· Quanto à travessia Algés-Trafaria, trata-se de uma infra-estrutura que serve diferentes funções e populações, pelo que não pode ser encarada como alternativa em termos funcionais. Por outro lado, tem subjacente um modelo de desenvolvimento territorial bem distinto, que contraria frontalmente o consagrado no Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa (PROT-AML);
· No que respeita aos impactos na navegabilidade e actividade portuária, as características da ponte foram estabelecidas em articulação com a Administração do Porto de Lisboa, tendo também sido realizados contactos com outras entidades interessadas. Nesse âmbito, procurou-se fugir às abordagens empíricas, optando-se por suportar as decisões em estudos rigorosos que se socorreram das ferramentas de análise mais avançadas e apropriadas, de que são exemplo o desenvolvimento de um modelo de hidrodinâmica estuarina e a utilização do potente simulador de navegação da Escola Náutica Infante D. Henrique. De todo esse extenso trabalho resultou a definição de características geométricas da ponte que asseguram uma convivência adequada com a actividade portuária e que, naturalmente, não inviabilizam a navegação para montante.

Sexta pergunta: na construção da linha do TGV qual é a percentagem de incorporação de materiais construídos em Portugal? Os carris têm de ser importados? E o material circulante? Uma só linha dá para criar uma indústria? Ou será que nos vamos endividar ao estrangeiro, sobretudo para comprar equipamentos a empresas estrangeiras? Onde está a nossa Siderurgia? E a Sorefame desaparecida? E teriam elas capacidade para estas encomendas?

Resposta:
· A esmagadora maioria do investimento na rede ferroviária de alta velocidade está associado a sectores económicos em que as empresas portuguesas têm capacidade e experiência reconhecidas. Isso mesmo foi concluído no estudo “Potencial de participação da indústria nacional no projecto de Alta Velocidade”, desenvolvido em Maio de 2005 pelo ISCTE;
· Com efeito, mais de 65 por cento do investimento corresponde a trabalhos de obra civil, relativamente aos quais o potencial de participação nacional é muito alto (superior a 95 por cento). Em termos globais, o potencial de participação nacional na implementação da rede ferroviária de alta velocidade poderá situar-se entre 80 e 85 por cento;
· Por outro lado, o projecto da rede AV reúne condições para impulsionar o sector ferroviário nacional e permitir às empresas portuguesas ganharem dimensão e competências para abraçarem novos desafios fora de Portugal.

As perguntas colocadas são substantivas e em número elevado, pelo que as respostas teriam necessariamente que ser devidamente fundamentadas e, por isso, um pouco extensas.

Dado que foi o Senhor Director que solicitou a resposta às perguntas que formulou no seu editorial, e tendo em vista o bom esclarecimento público, insistimos na publicação integral da nossa resposta.

Esperamos desta forma ter respondido às questões colocadas e mantemo-nos ao dispor para eventuais esclarecimentos adicionais que entenda pertinentes.

O Vogal do Conselho de Administração
Carlos Fernandes

Segunda carta do administrador da RAVE Carlos Fernandes ao director do PÚBLICO, em 26 de Junho de 2009

Na sequência da indicação do Vosso jornal, da passada sexta-feira, dia 26 de Junho, de que a publicação do esclarecimento da RAVE às questões colocadas estaria limitada a um máximo de 5 mil caracteres (incluindo espaços), e considerando a complexidade da matéria e a necessidade de repetição das perguntas para a percepção das respostas, não será possível proceder à respectiva síntese de forma adequada.

Assim, solicita-se a publicação da informação anexa, que inclui as respostas aos três primeiros grupos de perguntas, sendo informados os leitores do PÚBLICO de que o conteúdo integral do esclarecimento às questões colocadas pelo jornal pode ser lido no site da RAVE: www.rave.pt.

Alta Velocidade – Resposta da RAVE a uma Lista de Perguntas.

No editorial intitulado “Lista de perguntas a que era bom dar resposta”, publicado no passado dia 17 de Junho, após formular um conjunto de perguntas sobre o projecto de Alta Velocidade em Portugal, o Senhor Director do PÚBLICO termina dizendo: “Poder-se-ia continuar indefinidamente, multiplicando as questões a que não responde a muita papelada distribuída pela RAVE e pelo ministério. Sendo assim, quem assina por baixo?”

A RAVE respondeu a essas perguntas em carta enviada ao PÚBLICO em 19 de Junho passado, com pedido de publicação – sendo as perguntas substantivas e em número elevado (6 grupos de questões totalizando 22 perguntas), as respostas teriam necessariamente que ser devidamente fundamentadas e, por isso, um pouco extensas.

O Senhor Director do PÚBLICO entendeu que, para ser publicada, essa resposta não deveria exceder 5 mil caracteres.

Obviamente, se o que se pretende é, acima de tudo, contribuir para um bom esclarecimento público, não é possível responder de forma minimamente completa e clara a 22 perguntas sobre temas complexos nesse espaço de 5 mil caracteres.

Pelos vistos, não é esse o entendimento do Senhor Director do PÚBLICO, vendo-se assim a RAVE limitada no seu legítimo direito de resposta às perguntas colocadas no referido editorial.

Por esse motivo, a RAVE solicita a publicação das suas respostas aos três primeiros grupos de perguntas e informa os leitores do PÚBLICO que o conteúdo integral do seu esclarecimento pode ser lido no site da RAVE: www.rave.pt

Primeira pergunta: a linha será mesmo de alta velocidade (350 km/h), como se anuncia, ou apenas de velocidade alta (menos de 300 km/h)? É que, no plano espanhol, esta linha surge como linha mista destinada a passageiros e mercadorias por falta de tráfego, e colocar mercadorias numa linha de alta velocidade encarece imenso o projecto.

Resposta:
· A linha Lisboa–Madrid, quer em Portugal quer em Espanha, está a ser projectada e construída para tráfego misto e de modo a viabilizar o tempo de percurso de 2h45m na ligação directa entre as duas capitais, acordado na Cimeira Ibérica da Figueira da Foz, realizada em Novembro de 2003;
· Para respeitar esse compromisso assumido entre os dois Governos, do lado português, atendendo à orografia e demais condicionantes presentes, a linha está concebida para velocidades de projecto até 200 km/h, entre Lisboa e a Moita, e de 350 km/h, entre Moita e a fronteira, o que assegura o cumprimento de um tempo de percurso de 45 minutos em território português;
· Espanha tem já em construção cerca de 76 km de linha de alta velocidade do Eixo Lisboa-Madrid. A linha em território espanhol está concebida para uma velocidade de projecto de 350 Km/h, assegurando o cumprimento do objectivo de tempo de percurso acordado.

Segunda pergunta: do lado espanhol a linha está a ser construída com três carris de forma a permitir a circulação de comboios de bitola ibérica e bitola europeia, mas o concurso português para a ligação Poceirão-Caia prevê três linhas, duas para a alta velocidade em bitola europeia e uma, dita convencional, entre Évora e Caia, em bitola ibérica. Alguém pode explicar estas diferentes opções entre Portugal e Espanha? Alguém pode garantir que a nossa "alta velocidade" não passa a "velocidade alta" de Badajoz até Madrid?

Resposta:
· Do lado espanhol não está a ser construída uma linha com três carris, mas sim uma linha dupla de alta velocidade, em bitola UIC, e outra linha simples, em bitola ibérica, tal como do lado português;
· A coerência e total compatibilidade das opções técnicas estão asseguradas, não só pelo acordo entre os dois países relativo aos principais requisitos técnicos, como pela elaboração conjunta, através do AVEP – agrupamento europeu de interesse económico constituído por Portugal e Espanha – dos estudos relativos aos troços transfronteiriços.

Terceira pergunta: ao colocar a linha a passar pelo Poceirão, o projecto português obriga ou não a que se faça um ramal para o novo aeroporto de Lisboa (NAL)? Faz sentido uma linha de passageiros passar por um centro logístico de mercadorias e não por um grande aeroporto? Como se fará a ligação ao aeroporto? Sai-se do comboio com as malas e vai-se num shuttle? Muda-se de comboio?

Resposta:
· A ligação ferroviária ao Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) é concretizada através de uma ligação dedicada, tipo by-pass, entre a linha principal do Eixo Lisboa-Madrid, na zona do Poceirão, e o terminal aeroportuário;
· A rede ferroviária prevista permitirá serviços directos (sem necessidade de mudança de comboio), do tipo “shuttle”, entre a estação do Oriente e o terminal aeroportuário, de elevada frequência e com um tempo de percurso na ordem dos 22 minutos;
· Será também possível estabelecer serviços de continuidade entre o Eixo Lisboa-Porto e o NAL. Quer isto dizer que será possível a criação de serviços directos entre Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria e Oeste até ao NAL, com paragem em Lisboa mas sem necessidade de mudança de comboio;
· Está também prevista a ligação da rede convencional ao NAL, o que permitirá estabelecer serviços suburbanos ao resto da rede da área metropolitana, como sejam às linhas de Sintra, de Cascais, da Azambuja, de Almada-Pinhal Novo ou de Setúbal;
· Os únicos serviços que não terão acesso directo ao aeroporto, obrigando à mudança de comboio na futura estação do Poceirão, são as ligações à Extremadura espanhola e ao Algarve, representando apenas cerca de dois por cento de toda a procura do Novo Aeroporto de Lisboa. Contudo, até esta necessidade de mudança de comboio desaparecerá após a construção da ligação para nascente do NAL ao Eixo Lisboa-Madrid, a qual ocorrerá assim que os níveis de procura o exigirem.

A resposta às restantes perguntas pode ser lida no site da RAVE: www.rave.pt.

O Vogal do Conselho de Administração
Carlos Fernandes

Carta do administrador da RAVE Carlos Fernandes ao provedor, em 10 de Julho de 2009

Publicou o PÚBLICO no dia 17 de Junho um Editorial intitulado “Lista de perguntas a que era bom dar resposta”, assinado pelo director do jornal, José Manuel Fernandes, que continha um conjunto de questões sobre o projecto de Alta Velocidade em Portugal.

Nesse Editorial afirma-se, nomeadamente:

- “Há demasiadas perguntas sem resposta cabal e sustentada para que mesmo os defensores do TGV possam assinar por baixo o projecto que o Governo pôs a concurso”;

- “Poder-se-ia continuar indefinidamente, multiplicando as questões a que não responde a muita papelada distribuída pela RAVE e pelo ministério. Sendo assim, quem assina por baixo?”;

- “Por isso era bom que, ao menos, Mário Lino e a sua equipa pudessem responder às seguintes questões para esclarecer algumas das muitas dúvidas que o projecto do TGV levanta”.

Sendo a RAVE, entidade tutelada pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, responsável pelo lançamento do projecto de Alta Velocidade em Portugal, e com o objectivo do esclarecimento público em mente, solicitei, em carta enviada ao jornal a 19 de Junho, a divulgação integral da resposta da RAVE a cada uma das perguntas formuladas no dito Editorial, resposta que tinha cerca de 12.700 caracteres (incluindo espaços).

No dia 26 de Junho, a Direcção do jornal informou a RAVE que a publicação do esclarecimento estava limitada a um máximo de 5.000 caracteres (incluindo espaços).

Assim, a RAVE enviou a 29 de Junho uma nova resposta ao PÚBLICO, divulgada na edição de 4 de Julho, explicando, em carta anexa, que – devido à complexidade da matéria e à necessidade de repetição das perguntas (seis grupos de questões totalizando 22 perguntas, com cerca de 2.700 caracteres, incluindo espaços) para a percepção das respostas – não era possível proceder a uma síntese de forma adequada, pelo que solicitava a publicação das respostas “aos três primeiros grupos de perguntas, sendo informados os leitores do PÚBLICO de que o conteúdo integral do esclarecimento às questões colocadas pelo jornal pode ser lido no site da RAVE: www.rave.pt.”

No final da resposta da RAVE publicada a 4 de Julho, José Manuel Fernandes escreve em Nota da Direcção:

“Sugere-se nesta carta que o PÚBLICO teria limitado à RAVE o direito de esclarecer os nossos leitores. O PÚBLICO limitou-se a dizer que as dimensões da carta não permitiam que esta fosse publicada, na íntegra, na edição em papel, e deu como referência o tamanho do texto a que ela respondia, fazendo-o nos termos da lei. A RAVE preferiu ocupar quase um terço desse espaço a atacar a decisão do PÚBLICO em vez de responder a mais uma das 22 questões.”

A RAVE reafirma que, sendo as perguntas formuladas substantivas e totalizando 22 questões, as respostas teriam que ser devidamente fundamentadas, pelo que – tendo a RAVE por objectivo contribuir para o esclarecimento público – não era possível responder, de forma minimamente completa e clara, a 22 perguntas sobre temas complexos no espaço de 5.000 caracteres determinado pela Direcção do jornal.

Pelas razões expostas, a RAVE reafirma que se considera limitada no seu legítimo direito de resposta às perguntas colocadas no Editorial de 17 de Junho, assunto que coloca à consideração de V. Exa.

O Vogal do Conselho de Administração
Carlos Fernandes

Carta do leitor João Garcia

Como leitor fiel deste jornal, desde há muitos anos, não posso deixar passar o que considero mais uma machadada no direito à informação dos leitores do PÚBLICO. Refiro-me à "resposta da RAVE a uma lista de perguntas" publicada na rúbrica "Cartas ao Director". Afinal JMF queria respostas às suas perguntas ou apenas levantar poeira para os olhos dos leitores? Afinal JMF queria informar os leitores ou apenas formá-los em função das suas opções? Será que o PÚBLICO tem medo do contraditório? Sinceramente não tenho, ainda, uma opinião formada àcerca da construção do TGV, pelo que estou aberto a toda a informação a favor ou contra. O PÚBLICO prestaria um bom serviço ao publicar toda a informação disponível. O argumento ridículo de que não tinha espaço para a publicação da resposta não faz qualquer sentido. Neste mesmo jornal são gastas oito páginas, com chamada de metade da 1ª página, com propostas utópicas para o Terreiro do Paço algumas das quais poderão ter dado muito gozo aos seus autores, mas pouco contribuem para o debate acerca da renovação da Praça. Não estou contra esta iniciativa, mas remeter a discussão da linha de alta velocidade para uma mera "carta ao director", como se de um assunto menor se tratasse, é não respeitar o direito à informação dos leitores. Mais grave, ainda, é a N.D. (Nota do Director?). Criticar a RAVE por fazer um enquadramento da sua resposta e, portanto, não responder às suas 22 questões é, no mínimo, de uma petulância e um despudor que não vão bem com um jornal que se pretendia de referência.

João Garcia

Explicações do director do PÚBLICO

A carta inicial tinha quase 13 mil caracteres e, como não foi enviada por computador, parecia ter mais. Treze mil caracteres no Espaço Público é ingerível, pois corresponderia a pelo menos página e meia, e não há formato para tal. Para além disso a extensão do texto, em papel, tirar-lhe-ia toda a eficácia.

Habitualmente o que fazemos é sugerir que se reduza para o tamanho de um texto de opinião (que, com raras excepções, não deveriam ultrapassar os 5 mil caracteres).

Não houve qualquer carta nossa [à RAVE] porque o texto inicial não vinha ao abrigo do direito de resposta. Quando foi recebida [a priemira carta da RAVE] a Madalena [secretária da direcção do PÚBLICO] entrou em contacto com uma secretária da administração da RAVE que a passou a alguém que não sabe identificar pela função, mas que presumo ser do departamento de comunicação. Colocou oralmente o problema de um artigo com aquela dimensão, para além de chegar em papel e não por mail, o que coloca problemas de composição (não temos ninguém para essas funções), ser impossível de paginar no P1. Indicou-lhe a dimensão ideal do texto e ele ficou de dizer qualquer coisa. A resposta chegou na versão reduzida, boa parte da qual ocupada não a responder às questões mas a queixar-se de não ter sido publicada a versão integral.

Se a RAVE fazia questão numa explicação mais detalhada podia ter feito o mesmo que nós fizemos: pegar no telefone e propor, por exemplo, a publicação em duas partes, ou na Internet. Alguém teria falado comigo ou com alguém da direcção, como sucedeu dezenas de vezes no passado tendo-se chegado à melhor solução (e atenção que esse tipo de negociações até já envolveram textos de ex-Presidentes da República, por exemplo).

A RAVE não disse mais nada e voltou a enviar a resposta por carta, que teve de ser passada para computador por uma secretária.

Face a esta resposta à nossa sugestão oral, demos o assunto por encerrado e publicámos a carta mais curta, até porque no vai e vem já tinham passado umas duas semanas.

José Manuel Fernandes

Mensagem do provedor para o director

Presumo que a resposta é negativa, mas de qualquer modo sou obrigado a perguntar-te se antes de escreveres o editorial o PÚBLICO fez alguma das seis perguntas à RAVE.

Joaquim Vieira

Resposta do director

Especificamente para o Editorial não, mas temos dezenas de artigos do Carlos Cipriano em que os diferentes temas eram abordados.

As questões levantadas no Editorial resultam muito da leitura de
documentos e estudos da RAVE, da interpretação sobre a insuficiência
das respostas que tem dado em inúmeros debates públicos e do que
também publicámos.

Utilizar a fórmula das perguntas é uma técnica de retórica habitual
num texto de opinião que reflecte sobre a insuficiência do
esclarecimento público de opções políticas.

José Manuel Fernandes

Carta do leitor João Carlos Lopes

"Pela primeira vez em Portugal, a 7 de Junho os partidos à esquerda do PS obtiveram juntos mais de 20 por cento dos votos", escreve São José Almeida na edição de 14 de Agosto. O pior é que muitos comentadores, editorialistas e redactores de notícias têm escrito semelhante falsidade, como se não fosse essencial, quando se escreve uma coisa, verificar se ela é verdadeira perante os factos. Que isto apareça escrito e dito noutros órgãos de informação, não se estranha, mas quem se habituou à exigência de rigor do PÚBLICO não entende como os seus jornalistas não se põem a coberto de erros desta natureza. Acontece que nas eleições de 1975, os partidos à esquerda do PS obtiveram 20,59% dos votos. Nas legislativas de 1979, o seu peso eleitoral ascendeu a 23,5% (só a APU teve 18,8%). No ano seguinte, 1980, tiveram 21,2%, com a APU a fixar-se, sozinha, nos 16,8. Não vale a pena procurar mais casos. Somam-se, nestas contas, os votos de todos os pequenos partidos, os de extrema-esquerda. Mas são partidos. E São José Almeida fala de partidos. E politicamente isso não se pode pôr debaixo do tapete, atendendo até à grande quantidade de comentadores que hoje tratam o PCP e o BE como “partidos de extrema-esquerda”. Convinha, portanto, que o PÚBLICO colocasse as coisas no seu devido lugar, a bem da verdade e de um respeito mínimo pelos factos e pela História. Mas convinha mais que o PÚBLICO não deixasse de ser um jornal com memória, isto é, que legitimasse o que nele se escreve em argumentos sólidos de respeito pela verdade, por irrelevantes que eles possam parecer. E, nesta questão, parece-me que há muito de relevante, perante uma afirmação que tem tanto de categórica como de falsa.

João Carlos Lopes

Explicações de São José Almeida

O que o leitor diz é verdade e é rigoroso, mas o que eu digo também é verdade e rigoroso. Como é percebido por quem ler o texto, trata-se de partidos com expressão parlamentar. Eu não falo do MEP ou do MRPP e dos outros partidos que concorrem às eleições. E cito os valores percentuais em causa do PCP e do BE, o que torna claro do que estou a falar. Por outro lado, fica explicito no texto que falo da eventual quebra da tendência para o crescimento dos partidos do centro iniciada em 1987, fenómeno que, aliás, está estudado em Portugal por diversos especialistas em eleições e em sistemas políticos. Mais um esclarecimento: eu não classifico o PCP e o BE como extrema-esquerda nesse texto nem em nenhum outro que alguma vez tenha escrito, o que eu digo no texto é que há um deslizamento do PS para a direita.

São José Almeida

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Território e nacionalidade



Teorica-
mente Obama podia ter nascido fora dos EUA e ter a nacionali-
dade norte-americana




Na pág. 4 do P2 de hoje, 14 de Agosto de 2009, [no artigo "A última teoria de conspiração que vem da América"], repete-se a afirmação de que para se ser presidente dos EUA tem que se ter nascido no país ["um dos requisitos constitucionais para se ser Presidente dos EUA é ter nascido no país"]. É triste que os jornalistas/editores/revisores/directores do PÚBLICO não saibam distinguir entre “nascer no país” e “ser cidadão de origem”.

Pois acham que se deve negar o direito de ser presidente dos EUA por exemplo ao filho ou filha do embaixador americano em Moscovo? A mulher desse embaixador tem de viajar para os EUA para que o filho seja americano? E se der à luz prematuramente, esse filho de um alto funcionário do governo americano ficará, por um acaso do destino, privado à nascença desse direito?

O governador da Califórnia [Arnold Schwarzenegger] não pode concorrer ao cargo de presidente do país porque adquiriu a nacionalidade aos trinta e tal anos, por isso não é americano de origem. O meu filho nasceu em Maputo e é português de origem, acontece simplesmente que a naturalidade não foi em território português. Poderá ser presidente de Portugal (a lei é igual à americana).

CONSTITUIÇÃO AMERICANA:
Article II - The Executive Branch Note
Section 1 - The President
No person except a natural born Citizen, or a Citizen of the United States, at the time of the Adoption of this Constitution, shall be eligible to the Office of President; neither shall any Person be eligible to that Office who shall not have attained to the Age of thirty-five Years, and been fourteen Years a Resident within the United States.

PS: Ando desiludido com o PÚBLICO, pois tem cada vez mais erros.

Jorge Santos

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Erro persistente


Leitor diário do jornal de referência absoluta no nosso país, ainda no tempo do anterior provedor Rui Araújo tomei a liberdade de apontar a incorrecção relativamente à forma como a região italiana da Toscana era referida. Pensando que o erro estaria definitivamente erradicado, qual não foi o meu espanto quando na edição de hoje, 12 de Agosto, mais concretamente na pág. 14, e a propósito da condenação de um comandante nazi na Alemanha, ela é de novo mencionada, erroneamente, como "Toscânia".

Volto, então, a questionar quem de direito se um editor com um mínimo de conhecimentos não poderia ter corrigido esta inadmissível falha?

João Chambers

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Mais espaço aos leitores

O srº director, José Manuel Fernandes, deveria somente escrever editoriais (por vezes são muito extensos, o que não quer dizer que alguns não sejam particularmente notáveis) à sexta, sábado e domingo. (...) Com esta “história" dos extensos editoriais, é penalizada uma das secções mais interessantes e vivas do PÚBLICO, que são as “Cartas ao Director”, visto os textos dos leitores estarem condicionados e “espartilhados” pelo espaço dos editoriais.

Já há uns meses chamei a atenção do srº provedor para a necessidade de se alargar o espaço concedido às cartas e/ou textos dos leitores, e recordo-me de o srº provedor fazer uma recomendação nesse sentido ao director do PÚBLICO. Não surtiu efeito, continua tudo na mesma...

A opinião dos leitores representa o pulsar e a dinâmica da sociedade, aí se dando conta dos atropelos, das injustiças, das indignações, das contestações, dos repúdios, das denúncias e, outrossim, das ideias e dos pontos de vista dos leitores sobre os mais variados temas, mesmo que encerrem polémica. A polémica é salutar e alguns textos-cartas não ficarão atrás das opiniões das designadas (e incensadas )figuras públicas... Ou da opinião publicada dos mesmos.

António Cândido Miguéis

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

É atroz

Venho apontar um erro que ocorre várias vezes no PÚBLICO, mas que hoje ultrapassa as marcas (as minhas pelo menos) na notí­cia do PUBLICO.PT "Este Verão está menos quente, mas o paí­s aqueceu e tornou-se menos chuvoso".

Quero focar três frases nos dois parágrafos de abertura que começam com "E". Sempre me ensinaram que não se começa frases com uma coordenada, a não ser em construções enfáticas. Deverá uma notí­cia utilizar repetidamente a mesma conjunção em dois paragrafos?

Gostaria também de declarar que o tí­tulo da notí­cia é extremamente confuso e que não consigo perceber o uso de "contudo" no parágrafo 3.

Eu acredito que haja imensa pressão nos jornalistas, editores, etc., mas não há paciência. Hoje reclamei, mas estes erros são extremamente frequentes, e muitos, tal como o "E" no iní­cio de frase, o "chuvovo" do título durantes algumas horas hoje e outras gralhas são facilmente identificados em processadores de texto. É atroz.

Teresa Pedroso

domingo, 9 de agosto de 2009

O P2 requentado

"Todo o feedback que recebemos dos leitores foi positivo", escreve o director do PUBLICO sobre o P2 requentado.

Passando ao lado do famigerado "feedback", fiquem então também com esta minha opinião (que pensei em feedbeckar antes, não tivesse a preguiça vencido a vontade): acho uma esperteza saloia esta de se vender aquilo que já me foi vendido anteriormente, sob a roupagem de se dar ao leitor ocasional a hipótese de ler o que não leu.

Não leu? Lesse. Tivesse comprado o jornal na altura. Fosse leitor fiel, daqueles que como eu (quiçá maníaco-compulsivo) ficam inquietos em dia em que, por qualquer razão, não compram o vosso jornal.

Mas, por favor, não repitam a gracinha.

Paulo Alexandre Monteiro

Agradecia que informasse o director do jornal (fraquíssima a sua argumentação quanto à publicação do best of do P2) que há mais um leitor, para além daquele que se queixou ao Provedor, que tem uma opinião negativa quanto àquela decisão. Já somos dois...

Rui Farinas

Moscas por arames

No PÚBLICO não parece um principio válido impedir que a verdade estrague numa boa metáfora

O Belenenses só mobiliza
“duas dezenas de velhinhos” ou é “dos clubes que mais adeptos levam ao estádio”?


O provedor iniciava a sua última crónica, “Os ‘velhinhos’ do Restelo”, mencionando mosquitos por cordas devido ao texto “Um festival sem festa”, do crítico e colaborador do PÚBLICO João Bonifácio, saído no P2 de 20 de Julho. Pois com a crónica do provedor houve mosquitos por cordas e moscas por arames.

O debate estendeu-se por cartas de leitores, artigos de opinião e a blogosfera (incluindo o blogue do provedor), e em discordância com as ideias defendidas na crónica alegou-se estar ameaçada a liberdade de expressão, haver sinais de nova tendência censória e assistir-se ao “fim da crítica tal como a conhecemos”. João Bonifácio foi mesmo tido como uma espécie de papa da crítica, porventura infalível, em todo o caso insusceptível de, ele próprio, ser sujeito a crítica (embora as observações do provedor se dirigissem sobretudo às opções editoriais do PÚBLICO – ou à falta delas).

O provedor congratula-se com a saudável polémica desencadeada, mas, dado o rumo hiperbólico dos argumentos, gostaria de descer um pouco à Terra, já que não antevê qualquer catástrofe ou sequer a mudança de seja que paradigma for – e, à maneira de Mark Twain, acha o anúncio da morte da crítica levemente exagerado.

É forçoso esclarecer que a sua actuação se enquadra num conjunto de referências escritas das quais a essencial é o Livro de Estilo do PÚBLICO. As conclusões a que chegou decorreram, tão só e apenas, da interpretação que fez das normas contidas nesse documento, ao qual se obrigam todos os jornalistas e colaboradores regulares do jornal, como é o caso de João Bonifácio.

Uma das principais regras impõe uma separação crucial: “Informação e opinião têm espaços claramente demarcados no PÚBLICO”, diz-se no capítulo do Livro de Estilo sobre “Critérios, géneros e técnicas”, para logo depois se reiterar: “A diferenciação entre textos noticiosos e textos de opinião tem de ser clara aos olhos dos leitores”.

Sucede que o texto de João Bonifácio, sobre um festival de música rock realizado no Estádio do Restelo, em Lisboa, era apresentado não como artigo de opinião mas como matéria noticiosa, consistindo porém num híbrido de reportagem, crónica e crítica à actuação dos músicos. Esta circunstância criou equívocos e acabou por baralhar alguns leitores, que reclamaram dizendo que o autor devia ater-se ao relato do sucedido e não a apreciações pessoais.

Admite-se um lapso na apresentação de um texto, o que para o provedor não é dramático desde que o jornal o venha a corrigir. O director adjunto Nuno Pacheco fê-lo duas vezes em editorial, a 23 de Julho e quarta-feira última, invocando “um erro de paginação” do trabalho em causa. Mas, com a resposta recebida de João Bonifácio na semana passada, pareceu ao provedor que a ambiguidade fora premeditada, logo contrária ao estabelecido no Livro de Estilo. Explicou o autor: “Devido à sua natureza, os festivais de Verão podem ser motivo não apenas de crítica mas também de reportagem, pelo que se opta por um modelo de reportagem e crítica. Isso não invalida que os textos dedicados a festivais sejam invariavelmente textos críticos. O facto de (...) não estarem encabeçados como ‘Crítica’ pode de facto induzir em erro os leitores, visto um texto crítico (...) ter uma amplitude de registos, recursos formais e uma vertente opinativa bastante diferentes dos de reportagem. É este o caso. Presumo que isto responda a quem afirma que eu devia ter-me limitado a reportar factos.”

Ora, assumir-se num texto assim apresentado que se gosta ou não do grupo sobre o qual se escreve, como aconteceu com João Bonifácio, não é muito diferente de um jornalista político declarar as suas preferências partidárias numa reportagem de campanha eleitoral. O próprio João Bonifácio tinha consciência dessa limitação, ao reconhecer na resposta ao provedor: “O Livro de Estilo não me permite escrever ‘não gosto’”. Mas foi pior a emenda do que o soneto, pois, sobre as canções do grupo The Killers, que actuou no Restelo, acabou por escrever no colectivo: “Não gostamos nem um bocadinho”. Tal declaração podia ser lida como a posição do próprio PÚBLICO sobre a banda, em violação da regra do distanciamento dos factos preconizada no Livro de Estilo. Explicou João Bonifácio ao provedor que se tratava apenas do recurso alternativo ao plural majestático – o que, convenhamos, pode adequar-se a um papa da crítica mas não contorna a limitação que o próprio encontrara no Livro de Estilo.

Na polémica havida, os textos de opinião a publicar na imprensa foram defendidos como matéria sacrossanta e inviolável, como se qualquer interferência constituísse um atentado à liberdade de expressão. Este é um mito que não encontra aplicação em nenhuma parte do mundo. As regras do bom funcionamento de uma publicação implicam a leitura prévia, pelos seus responsáveis, de todo o tipo de artigos, para prevenir situações de natureza penal ou cível (sobretudo quanto à reputação de pessoas e instituições e à intimidade da vida privada), de incorrecção factual ou mesmo, eventualmente, de incompatibilidade com o estilo do periódico. O próprio Livro de Estilo do PÚBLICO alarga a norma aos textos de opinião, com a lógica concordância dos autores: “Os textos de opinião estão também sujeitos ao respeito pela linguagem não insultuosa e não panfletária a que se obriga o PÚBLICO. (...) Em qualquer caso, toda a intervenção do jornal num texto de opinião só é admissível com prévia autorização do autor”.

Estando a situação prevista no regulamento do jornal, o provedor não percebe a indignação causada pela sua sugestão de que os editores procurassem, em articulação com João Bonifácio, alterar uma passagem do seu texto que os adeptos do Belenenses (o clube de futebol que joga no Restelo) poderiam considerar insultuosa – para mais tratando-se de questão formal, sem nada a ver com a essência da crítica. Afinal foi essa frase (“O Belenenses joga e há duas dezenas de velhinhos nas bancadas, nem uma palha bule, é um sossego”) que deu origem a toda a controvérsia.

Não que seja ofensa grave (se é que é ofensa, o que só um tribunal decidiria), mas nenhuma falange de apoio a um clube desportivo, cuja natureza reside no culto do vigor físico, aceitará de ânimo leve tão redutora descrição. Para mais, tratou-se, ao que tudo indica, de erro factual: João Bonifácio admitiu ao provedor que o Belenenses “pode ser dos clubes que mais adeptos levam ao estádio em termos brutos”, nem todos pertencendo certamente ao mesmo escalão etário. Para um jornal como o PÚBLICO, não parece um principio válido impedir que a verdade se intrometa numa boa metáfora.

Houve quem reclamasse por o provedor não levar em linha de conta o carácter eventualmente insultuoso das reacções de muitos adeptos do Belenenses, assim como da sua própria direcção em carta enviada ao PÚBLICO. Poder-se-ia responder que um insulto postal não possui o carácter de outro difundido num meio de comunicação de massas, ou até que um insulto em reacção a outro não torna este virtuoso – mas o ponto não é esse. O provedor é o defensor dos leitores do PÚBLICO, não dos seus jornalistas e colaboradores, pelo que a forma como os cidadãos usam a palavra para reagir às matérias publicadas pelo jornal é absolutamente indiferente ao exercício do seu múnus.

Este é o normativo que enforma a acção do provedor. Poderiam ser outras as regras? Evidentemente. Para felicidade de todos nós, que vivemos em liberdade de imprensa, há publicações de toda a forma e feitio – e para mais todos podem hoje publicar na internet tudo o que lhes vier à cabeça. Mas para isso o PÚBLICO deveria possuir outro estatuto editorial, outro Livro de Estilo e outro contrato com os leitores – e, já agora, outro provedor.

CAIXA:

Não há artigos grátis

“Compro o PÚBLICO diariamente desde que foi lançado”, escreve a leitora Maria Pires. “Durante muitos anos, por o considerar um óptimo jornal. No últimos, infelizmente, já apenas por o considerar o menos mau dos jornais portugueses. [Na edição de] sábado 1 de Agosto, com chamada à primeira página e indicação de ‘Grátis em Agosto’, vem ‘O Melhor das nossas reportagens’ do caderno P2. Acho indecente a repetição das reportagens (que só faria sentido num carderno especial) e inacreditável a ‘lata’ do ‘grátis’. (...) Para quem compra o jornal diariamente, em vez de grátis, é pagar duplamente pela mesma coisa. E vou deixar de adquirir o PÚBLICO de sábado durante Agosto, pois sinto-me defraudada (...) com um caderno que, em vez de novos artigos e reportagens, traz reportagens que eu já li em edições anteriores”.

Sobre esta operação de reciclagem de matérias, explica o director do PÚBLICO: “A decisão de publicar um best off (...) surgiu na sequência da solicitação de muitos leitores, que mesmo tendo lido um ou outro texto não os tinham guardado. Outros não tinham lido, pois a maioria (...) não lê o jornal todos os dias. Ao reeditarmos esses textos num papel melhor e com melhor qualidade de impressão, oferecendo esse bónus sem cobrar mais pela edição de sábado (apesar dos custos acrescidos), sentimos que não era excessivo falar de oferta ‘grátis’, até porque recompilações deste tipo, habituais em jornais um pouco por todo o mundo, costumam ser vendidas à parte”.

O provedor considera pertinente a reclamação, já que esta opção editorial despreza os leitores mais leais ao PÚBLICO, que pagam duas vezes pelo que já leram e em contrapartida não têm direito a novos conteúdos no P2. Poder-se-ia falar em “bónus” se o prato de comida requentada se somasse a outro acabado de confeccionar. Mas, ao substituí-lo e exigir aos leitores o mesmo dinheiro, não há nada de grátis neste almoço espiritual (sendo a maioria indiferente à qualidade do papel e impressão).

Não se estará por isso a dar menos com a ilusão de que se dá mais? José Manuel Fernandes responde: “Não se está a dar menos, pois dão-se mais páginas. É verdade que alguns leitores, ou mesmo muitos, terão lido já parte daqueles conteúdos, mas para a esmagadora maioria não é ‘menos’. Sendo que há no P2 especial conteúdos novos, os das páginas fixas [passatempos e listas de programas de TV, espectáculos e farmácias de serviço]. Mas a razão essencial é que, com os recursos que temos num mês como Agosto, produzir dois P2 num mesmo dia não era possível humana e financeiramente. Na melhor das hipóteses faríamos um misto de P2 normal e P2 especial, (...) nem carne, nem peixe. (...) Todo o feedback que recebemos dos leitores foi positivo, (...) à excepção dessa mensagem que foi só para o provedor”.

Publicada em 9 de Agosto de 2009

DOCUMENTAÇÂO COMPLEMENTAR:

[Ler aqui as explicações de João Bonifácio enviadas na semana passada ao provedor]

Carta da leitora Maria Pires

Compro o PÚBLICO diariamente desde que foi lançado. Inicialmente, e durante muitos anos, por o considerar um óptimo jornal. No últimos anos, infelizmente, já apenas por o considerar o menos mau dos jornais portugueses, pois, em minha opinião, o jornal tem vindo a piorar em quase todos os aspectos.

Mas esta minha comunicação refere-se concretamente ao jornal de sábado 1 de Agosto de 2009. Com chamada à primeira página e indicação de “Grátis em Agosto” vem “O Melhor das nossas reportagens” do caderno P2.

Acho indecente a repetição das reportagens (que só faria sentido num carderno especial) e inacreditável a “lata” do “grátis”. Talvez seja “grátis” para quem só compra o jornal em Agosto... Para quem compra o jornal diariamente em vez de grátis é pagar duplamente pela mesma coisa.

E vou deixar de adquirir o PÚBLICO de sábado durante o mês de Agosto, pois sinto-me defraudada ao adquirir o jornal com um caderno que, em vez de novos artigos e reportagens, traz reportagens que eu já li em edições anteriores.

Maria Pires

Explicação do director do PÚBLICO

É um ponto de vista, que respeitamos, mas a decisão de publicar um best off, impresso num papel de melhor qualidade, surgiu na sequência da solicitação de muitos leitores, que mesmo tendo lido um ou outro texto não os tinham guardado. Outros não tinham lido, pois a maioria dos leitores de diários (e o PÚBLICO não é excepção) não lêem o jornal todos os dias.

Ao reeditarmos esses textos num papel melhor e com melhor qualidade de impressão, oferecendo esse bónus sem cobrar mais pela edição de sábado (apesar dos custos acrescidos), sentimos que não era excessivo falar de oferta "grátis", até porque recompilações deste tipo, habituais em jornais um pouco por todo o mundo, costumam ser vendidas à parte.

José Manuel Fernandes

Segunda resposta do director

Não se está a dar menos, pois dão-se mais páginas. É verdade que alguns leitores, ou mesmo muitos leitores, terão lido já parte daqueles conteúdos, mas para a esmagadora maioria não é "menos". Sendo que há no P2 especial conteúdos novos, os das páginas fixas.

Mas a razão essencial é que, com os recursos que temos num mês como Agosto, produzir dois P2 num mesmo dia não era possível humana e financeiramente. Na melhor das hipóteses, faríamos um misto de P2 normal e P2 especial, solução que nos pareceu que não seria nem carne, nem peixe.

Entre um compromisso "estranho" e a troca em cinco sábados do P2 normal por uma edição best of, optámos pela segunda.

Todo o feedback que recebemos dos leitores foi positivo, pelo menos que eu saiba, à excepção dessa mensagem que foi só para o provedor.

José Manuel Fernandes

sábado, 8 de agosto de 2009

Boatos e fontes anónimas

Que pensa o provedor da maneira como jornalistas do PÚBLICO (Andreia Sanches, José Bento Amaro) editaram este boato em forma de notícia: "Apesar de ainda se desconhecerem os resultados das peritagens em curso — e, em consequência, o teor do relatório a elaborar pelos inspectores da secção de homicídios da PJ —, existe a convicção de que este caso poderá ter ocorrido devido a negligência hospitalar. A informação é avançada por fonte policial que pediu o anonimato..."?

H. Carmona da Mota

RESPOSTA DO PROVEDOR: Uma fonte policial, mesmo sob o anonimato, é coisa muito diferente de um boato. A origem da informação está aí perfeitamente identificada.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O exercício do actual mandato

Sendo mais que evidente que nada tenho contra si, nem razões para isso tenho, penso que, como Provedor, algo está a não ir tão bem, como com todos os anteriores.

Sendo evidente que o Provedor segue a linha que bem entende, e não tem necessacariamente que entrar em choque com os outros colaboradores do PÚBLICO, porém está-me a parecer, por certo erradamente, que optou por ser mais um colaborador, que faz comentários sobre o que todos os outros colaboradores do PÚBLICO escrevem e pouco mais do que isso.

Quanto aos anteriores, chegaram a gerar-se problemas e a continuidade de ano para ano nunca estava garantida, dado que “criavam mal-estar”.

No seu caso, a continuidade está mais que garantida, a não ser que o não queira! Ou seja, faz parte dos colaboradores, ou seja, não cria problemas com os “colegas”.

Levanta uns problemas, deixa umas leves recomendações, que por norma nem são seguidas, e pouco mais.

Por certo facilmente já terá entendido que esta é a minha opinião em anteriores missivas que lhe enviei, e até uma ou mais estão no seu blogue.

Evidentemente que a minha opinião vale o que vale, é igual a nada. Mas penso que deveria dizê-lo abertamente ao próprio. Sei que tudo vai ficar na mesma, mas uma vez mais na vida disse e escrevi o que penso – o que nem sempre me tem sido vantajoso! - , o que muitos não fazem. E são importantes, mas adapatam-se!

Augusto Küttner de Magalhães

NOTA DO PROVEDOR: O mandato do actual provedor termina em 31 de Dezembro deste ano e não é renovável.

domingo, 2 de agosto de 2009

Rescaldo do Restelo (actualizado em 8 de Agosto)

[AS NOVAS ENTRADAS ESTÃO NO FIM]



O provedor descobriu na net um dos "velhinhos" habituais frequentadores do Restelo

Algumas reacções à última crónica do provedor:

O fim da crítica tal como a conhecemos. Aconselho a leitura deste texto a propósito do caso João Bonifácio vs. Os Belenenses.

André Gomes

É com muita pena que noto a cedência, por parte do provedor do Público, perante os que não aceitam que a crítica musical, tal como todos os artigos de opinião publicados no PÚBLICO e restantes media, necessita de uma componante opinativa e parcial para ser verdadeiramente honesta e relevante.

A única coisa que o crítico João Bonifácio fez, no seu texto, foi confessar que não gostava dos Killers. E no entanto isto não o impediu de admitir que tinham dado um bom espectáculo. Pergunto, agora, qual será a política do PÚBLICO no futuro. Garantir que o crítico gosta da banda a priori? Recrutar alguém de fora caso não se encontre ninguém dentro de portas? Não enviar ninguém? Fazer reportagens "objectivas", que digam apenas que a banda tocou a música A e B, a quantidade de pessoas presente, e o ruído dos aplausos? Como amante devoto de música que sou, e como leitor atento de crítica musical há 18 anos, será com muita pena que verei isso acontecer. Espero que a sua menção de "necessária objectividade" não venha pôr em causa tudo aquilo que torna uma crítica interessante para quem aprecia o acto de exprimir a paixão pela música por palavras, para quem, mais do que uma opinião que corrobore a sua, quer ver uma opinião pessoal bem expressada e fundamentada.

Desejo, sinceramente, que o PÚBLICO não ceda aos interesses mesquinhos e mentes fechadas de muitos, abrindo um precedente perigosíssimo que poria em causa toda a liberdade de opinião que tanto parece defendida pelo sub-director Nuno Pacheco, em casos onde a sua defesa é mais que justificada.

Nuno Proença

Venho por este meio manifestar o meu desagrado e indignação com a posição oficial do jornal PÚBLICO perante toda a situação despoletada pelo artigo do jornalista João Bonifácio sobre o festival Super Bock Super Rock no Estádio do Restelo.

Mais do que a reverência ao poder que o futebol exerce no nosso país, mais do que a falta de lealdade ao não defender o vosso jornalista quando o Belenenses o insulta taxativamente, indigna-me sobremaneira o modo como o PÚBLICO se vergou a um ataque à liberdade de imprensa daquela forma tão quadrada e curta de vistas.

Se a falta de sentido de humor ou a falta de aptidão para ler um texto para além do seu significado literal são capacidades que o PÚBLICO evidentemente não controla nos seus leitores, a atitude que demonstra em reacção às acções que estas despoletam já estão sob o seu domínio. E é entristecedor e ultrajante que o jornal se obrigue a apresentar um pedido de desculpas a um clube de futebol por pura exigência do mesmo - exigência essa em modos grosseiros e insultuosos - com base num artigo sobre música que menciona, de nenhuma forma ofensiva, o clube e a fraca audiência do seu estádio.

Fiquei muito e desagradavelmente surpreendido por esta atitude por parte do PÚBLICO, tanto que - como no caso das gravuras de Maomé ou dos interesses obscuros de Mário Soares em Macau - sempre vi no jornal opções que considerei correctas e com as quais me identifiquei.

Espero que esta pequena reclamação seja entendida como uma crítica construtiva, e que o PÚBLICO coloque os valores de liberdade de imprensa e expressão acima dos poderes instalados na sociedade portuguesa, com informação isenta e críticas e opiniões mordazes que fujam da visão quadrada tão comummente divulgada.

Miguel Veríssimo

Algo vai muito mal quando é uma parte do público (leitores) a ter de pressionar um jornal para não se deixar arrastar pelo instituído lado aceitável da força.

Sem pensamento divergente arrasa-se com qualquer arremedo de pensamento crítico, no fundo de qualquer capacidade para pensar. Essa deveria ser a primeira função do jornal, pôr à vista os ataques ao pensamento divergente, dos mais explícitos aos mais insidiosos. O contrário é autofágico.

Não admira que andem como tontos, mundo fora, a tentar descobrir como regular a net, essa espécie de último reduto sem editores que recuam face ao cheiro da mínima turbulência.

Paulo Azevedo

Ao ler o seu texto no PÚBLICO de hoje fiquei muito admirada por o senhor mencionar as cartas que alguns sócios do Belenenses escreveram a atacar o crítico João Bonifácio, e não mencionar, por exemplo, a carta que o meu marido (aliás sócio do Belém) e outros nossos conhecidos enviaram, a defendê-lo dos ignóbeis ataques a que foi sujeito.

O senhor não acha que um provedor, tendo como função arbitrar determinado conflito — cumprindo pois a função de uma espécie de juiz — deveria ser absolutamente exacto quando dita o seu veredicto, relativamente aos factos na origem da contenda?
Supondo que não é abusivo da minha parte depreender que a sua resposta é afirmativa, passarei a expor-lhe algumas das minhas dúvidas:

1. Como se explica que o seu texto se inicie logo com uma inexactidão, ao dizer que o episódio decorreu da crítica a um concerto de uma banda ao invés de especificar que se tratava de um festival em que participaram várias bandas. Esse festival, caso o senhor não tenha estado atento, é conhecido como Super Bock Super Rock e é organizado por uma produtora chamada Música no Coração. Vou esclarecê-lo ainda melhor, porque creio que o senhor está a ser um pouco ingénuo no meio disto tudo. Com certeza não sabe que um dos sócios dessa produtora, o senhor Luís Montez, foi o responsável pelo cancelamento do programa Hora Ípsilon, na sequência da crítica ao festival em questão. Diga-me com sinceridade, senhor provedor, que acha disto? Eu tenho a sensação de que o senhor Luís Montez concordaria consigo quando refere ser pouco curial um jornal enviar a um concerto ou a um festival um crítico que à partida não gosta da banda que é cabeça de cartaz. Pela sua ordem de ideias, por que não publicar apenas, numa crítica, as declarações dos fãs mais satisfeitos? Felizmente existem senhores como João Bonifácio, que é o único, repito, o único, a pôr em causa a cultura musical de massas. É por pessoas como João Bonifácio que eu compro este jornal. Não é para o ler a si nem a Nuno Pacheco.

2. O senhor leu a carta da direcção do Belenenses? É que se não leu, isso é muito grave. Mas se leu ainda é mais. Porque pura e simplesmente a ignora no seu texto de hoje. Eu li a carta, assim como li as caixas de comentários do PÚBLICO online. O senhor não leu? Repito-me então: se não leu é caso sério, porque alguém na sua posição não pode abrir a boca sem estar informado de todos os dados. Se leu, então o caso é ainda mais sério, e o senhor é ainda menos sério. Porque aquilo é arruaça: e da mais rasca. Além de um incitamento à violência.

3. Qual exactamente a passagem que o senhor considera ofensiva do bom nome do Belenenses no texto crítico de João Bonifácio? O senhor não esclarece este ponto, que me parece crucial e que desde o início me tem deixado perplexa.

Leio semanalmente cronistas como Rui Tavares e Pedro Mexia fazendo as mais inusitadas comparações, usando um registo sarcástico e sendo polémicos. É isso que os torna especiais. Mais: leio muitas vezes José Pacheco Pereira ou Vasco Pulido Valente, João Pereira Coutinho, Alberto Gonçalves ou Henrique Raposo. São em quase todos os seus textos com alguma agressividade e isso não os diminui em nada nem nenhuma direcção de jornal pede desculpas em seu nome.

Na minha opinião, João Bonifácio faz parte desta estirpe de pensadores livres. Querer silenciá-lo ofende profundamente o meu sentido democrático. Partindo do princípio que este jornal se move por princípios claros e não por achaques aleatórios ou pressões inomináveis, exijo um pedido de desculpas do senhor, assim como do senhor Nuno Pacheco, por ofensa à democracia e por me ofender enquanto leitora deste jornal. Caso contrário, deixarei de o ler.

Beatriz Coelho

NOTA DO PROVEDOR: O provedor actua com base nas queixas que lhe são dirigidas directamente, não tendo recebido qualquer queixa da direcção de Os Belenenses.

Nova carta da leitora Beatriz Coelho:

Agradeço-lhe a publicação da minha mensagem no seu blogue. Agradecer-lhe-ei ainda mais se publicar também esta.

A pobreza da resposta que me dá em rodapé deixa-me verdadeiramente consternada.
Volto a repetir: então o senhor acha mesmo que alguém na sua posição (de árbitro, parece-me a mim) se pode pronunciar tendo apenas em conta a informação que lhe é expressamente dirigida a si? O senhor acha que o mundo gira à sua volta? Desculpe, mas isso ou é autismo ou é cinismo, e em qualquer dos casos é deplorável, porque demonstra que o senhor está pouco habilitado para a função que assume.

O senhor é capaz de me dizer que os seus juizos são absolutamente independentes? O senhor é pago para exercer a função que exerce?

O senhor tinha ou não conhecimento da carta do Belenenses, repito, mesmo não lhe sendo esta expressamente dirigida a si? Se não tinha, o que é grave, agora já tem? E se não tem, pretende continuar a ignorá-la, recusando-se a pronunciar-se sobre o assunto, só porque a carta não lhe foi expressamente dirigida? É que esta carta foi um dos elementos que levaram ao lamentável pedido de desculpas de Nuno Pacheco, em editorial. E se tem, qual a sua posição em relação ao facto de a dita carta, que exige da direcção um pedido de desculpas, ser uma carta insultuosa e arruaceira?
A mesma questão se coloca relativamente às caixas de comentários. Parece-me que era sua obrigação tomar conhecimento do conteúdo dos mesmos.

Mas eu coloquei-lhe outras questões, entre as quais sublinho esta:

O senhor enganou-se de facto quanto ao tipo de evento sobre o qual João Bonifácio escreveu o texto crítico. Não achou relevante no seu texto especificar exactamente de que evento se tratava? E já nem digo referir que um dos organizadores tem negócios com o jornal PÚBLICO, porque isso seria esperar de mais.

Beatriz Coelho

NOTA DO PROVEDOR: As duas cartas da leitora implicam alguns esclarecimentos:

1. O provedor do leitor pronuncia-se sobre matéria editorial publicada pelo PÚBLICO, não sobre reacções de leitores ou visados por essa matéria editorial. Essas reacções em nada alteram as características intrínsecas das matérias a que dizem respeito: são elas, e só elas, que interessam ao provedor. Reacções insultuosas não tornam as respectivas matérias virtuosas, nem o contrário.

2. O provedor só hoje teve conhecimento, por e-mail, da carta de protesto enviada ao PÚBLICO (mas não ao provedor) pela direcção do Belenenses, embora soubesse da sua existência pela resposta que anteriormente recebera de João Bonifácio. Esse conhecimento em nada altera o exposto na crónica do provedor.

3. O provedor, pelas razões atrás apontadas, não leu os comentários no PUBLICO.PT ao texto de João Bonifácio, nem tinha que os ler. Quanto às características eventualmente insultuosas desses comentários, o provedor já em tempos alertou a direcção do PÚBLICO, em termos genéricos, para esse problema da sua edição online.

4. O provedor não actua apenas com base em participações que lhe são dirigidas, mas também com o contributo dos jornalistas responsáveis pelas matérias analisadas, dos editores e dos directores, ou ainda de qualquer outra pessoa ou instituição que entenda dever ouvir para esclarecimento das situações.

5. O provedor sabia que a actuação dos The Killers se inseria num festival de música, mas, por economia expositiva, entendeu dever concentrar o texto na actuação desse grupo, pois era sobretudo ela que estava em análise.

6. O provedor desconhece se um dos organizadores desse festival "tem negócios com o jornal PÚBLICO", mas não encontra qualquer relevância nesse facto relativamente ao que estava em causa na sua crónica.

7. O provedor, até ao momento de escrever a sua crónica, não recebeu qualquer carta a defender o texto de João Bonifácio, fosse do marido da leitora ou de outra pessoa qualquer.

8. O provedor não é um árbitro nem um juiz. É apenas alguém que a direcção do PÚBLICO convida para analisar e opinar sobre situações editoriais do jornal. O provedor tem toda a liberdade para emitir as suas opiniões e a direcção tem toda a liberdade para as considerar pertinentes ou não.

9. O provedor, na sua crónica, não criticou João Bonifácio, mas sim uma série de falhas editoriais relacionadas com a publicação do seu texto.

10. O provedor não pretende silenciar ninguém, mas apenas chamar a atenção para aspectos que contrariam o disposto no Livro de Estilo do PÚBLICO.

11. O provedor considera desnecessária, gratuita e de mau gosto a afirmação de que os apoiantes de determinado clube desportivo (no caso Os Belenenses) sejam apenas idosos (o que aliás João Bonifácio corrige na sua resposta), admitindo como normal que esses mesmos apoiantes se sintam insultados por tal asserção.

12. O provedor gosta de pensar que actua com total independência. Outros poderão ter opinião diferente.

13. O provedor é pago para exercer a função que exerce.

Novas cartas de leitores:

Uma das qualidades que mais admiro na profissão de jornalista é a verdade e a busca da verdade. É essencial para a democracia termos uma comunicação social rigorosa e verdadeira.

Quando o Sr. João Bonifácio volta a afirmar que o Restelo tem poucos espectadores está a mentir.

Nesta matéria da quantidade de espectadores, um estádio com capacidade para 5.000 pessoas que tenha 2.500 pessoas parece ter mais gente do que um estádio com capacidade para 30.000 e que só tenha 5.000. Todavia, na realidade, 5.000 são mais do que 2.500.

O Sr. João Bonifácio, enquanto jornalista, devia fundamentar as suas afirmações. Bastaria consultar os dados oficiais disponiveis no próprio site da LPFP para verificar que na época passada o Belenenses foi o sétimo clube com maior assistência no seu estádio. Continuar a fazer afirmações tendo por base a sua opinião pessoal e transformar a opinião pessoal numa verdade parece-me, novamente, uma forma incorrecta de exercer a sua profissão.

Mais grave é que o Sr. João Bonifácio repete essa inverdade apesar de estar consciente de que está a mentir, pois este assunto tem sido insistentemente repetido pelos adeptos do Belenenses. O Sr. João Bonifácio pode considerar, e tem todo o direito para o fazer, que, apesar de o Belenenses ter a sétima maior assistência, mesmo assim, tem pouca gente no estádio. O que não parece correcto é omitir que o Belenenses é o sétimo clube com maior número de espectadores!

Leitor que pede o anonimato

Dizer-me que o teor das reacções às matérias editoriais publicadas no jornal em nada altera as características intrínsecas das mesmas parece-me uma forma falsa de colocar a questão, se me permite. Porque o que se tem discutido neste caso, até agora, têm sido apenas as características extrínsecas de uma crítica a um festival de música. Se não vejamos:

1.º Jamais o provedor se teria pronunciado sobre este caso se não tivessem existido reacções. A sua atenção para potenciais ofensas foi apenas espolotada por reacções expressas em material escrito que não é material editorial do PÚBLICO.

2.º Essas mesmas reacções veiculam determinadas interpretações daquilo que foi escrito pelo crítico, que são absolutamente questionáveis (a uma dessas interpretações, o senhor vincula-se na resposta que me dá, embora o não tivesse feito, quanto a mim, de forma suficientemente clara na sua crónica: mas já voltarei à questão).
Uma das interpretações é assumir que o crítico chamou mansos aos adeptos do Belenenses, a outra, mais ridícula, que o crítico lhes quis chamar bois. O senhor pode até dizer-me que nem tomou em conta a qualidade destas interpretações.
Mas ignorar que houve todo um empolamento deste caso por causa dessas reacções, que foram massivas, é querer tomar-nos a todos por tontos. Foram muitas centenas de comentários na edição on-line, e aqui a quantidade teve como propósito, acima de tudo, fazer pressão para que tanto a direcção como o provedor se pronunciassem. E essa pressão funcionou.
É lamentável que a quantidade de reacções tenha sido o que contou, e não a sua qualidade, visto que o senhor, apesar de ser pago para exercer a sua função (e ainda bem que o é), nem se deu ao trabalho de avaliar devidamente o conteúdo das mesmas. Acha que não é sua obrigação: é consigo e com a sua consciência.

Passemos, agora, ao que o senhor considera a matéria da ofensa. Pode citar-nos a passagem em que o autor do texto crítico admite como normal que os apoiantes do clube se sintam insultados com a asserção de que estes apoiantes são todos velhinhos? O que me parece que ele diz é, sintetizando, que:
1. Usa uma figura de estilo para ilustrar uma situação: a calma que habitualmente reina no estádio do Restelo.
2. Chamar velhinho a alguém não é uma ofensa, antes, para o crítico, uma forma de tratamento carinhosa.
Diga-me, senhor provedor, acha mesmo que a expressão “velhinhos” é ofensiva?
O senhor pode acusar o crítico de ser pouco exacto e pode dizer-me que o que ele corrigiu na sua resposta foi essa ausência de exactidão. Mas não o facto de ter sido ofensivo. Ainda que haja pessoas que se possam sentir ofendidas. A maior parte das vezes as pessoas ofendem-se apenas porque não sabem ler e ouvir o que os outros dizem: ofendem-se, no fundo, porque querem ofender-se.

Diga-me agora, senhor provedor: o senhor acha que um texto de crítica não deve recorrer a figuras de estilo? Não deve recorrer à ironia? É que então eu tenho de lhe dizer que o senhor, apesar da sua eminente posição no jornalismo, onde se move há tantos anos, não compreendeu até hoje como funciona um dos seus géneros: o da crítica.
E todo este caso se torna ainda mais anedótico quando percebemos que se deveu, em grande medida, a uma certa falta de sofisticação de um dos directores do PÚBLICO, falta de sofisticação em que o senhor, infelizmente, o acompanhou.

Para terminar, eu sou leitora do PÚBLICO. E li o editorial assinado por Nuno Pacheco no passado dia 23 de Julho. E tenho a dizer-lhe, senhor provedor, senti-me ofendida. Sabe porquê, senhor provedor? É que Nuno Pacheco pede desculpas, mas nem se dá ao trabalho de explicar ao resto dos leitores do PÚBLICO (àqueles que não são adeptos do Belenenses: devem ser tão pouquinhos que Nuno Pacheco achou que não valia a pena tê-los em conta) qual a razão da ofensa. E eu acho isto uma falta de respeito para com a inteligência dos leitores. Reparou nisso, senhor provedor? Não acha estranho? Gostaria, muito sinceramente, que se pronunciasse sobre o assunto. Afinal, trata-se de material editorial publicado no PÚBLICO.

Beatriz Coelho

Começo por destacar que sempre apreciei bastante as suas crónicas (particularmente em comparação com as não-crónicas do provedor anterior) e que eram um ponto alto na secção de opinião de domingo. Como já deve ser evidente por esta altura da segunda oração, claramente deixaram de ser esse ponto alto. E deixaram de o ser devido a "Os 'velhinhos' do Restelo".

Noto com alguma curiosidade que várias são as pessoas ligadas ao jornalismo que partilham da sua opinião. Que, mesmo dentro dos parâmetros de uma crítica (ainda que não assinalada, por falha editorial/gráfica), o escriba se deve manter entre as margens do "bom gosto", para usar os seus próprios termos. Ressalto, porque acho merecedora e até deliciosa a passagem, a forma quase condescendente com que o Provedor indica que, após uma chamada de atenção do editor, "[n]a esmagadora maioria dos casos, o redactor cai em si, muda o que tiver de ser mudado e o texto cumpre na mesma a sua função." Não foi para ler coisas deste género que tirei o curso de jornalismo. Não foi para ler coisas deste género que estagiei no PÚBLICO. Entristece-me, profundamente, ler algo assim.

Sei que a minha opinião não tem qualquer peso nesta matéria, até porque deve estar a receber chorrilhos de mensagens mais ou menos ofensivas para si e para o jornal dos vários lados desta discussão. Ainda assim, permita-me que teça alguns comentários.

Entristece-me que um jornal não defenda os seus jornalistas. Pensava eu, ingenuamente claro está, que seria essa a prática normal, após discussão caso a caso. Não sei se o Nuno Pacheco é fã do Belenenses nem me interessa (também não sei se o José Manuel Fernandes é fã do Rui Tavares, mas também não me interessa). O que está aqui em causa não é isso. É toda uma perspectiva sobre o jornalismo. E o curioso são os mantos que se levantam quando o jornalismo em causa não é o tão nobre "jornalismo de investigação" ou outro "semelhante" (político, social, etc., qualquer um que lide com temas ditos "sérios"), mas o parente pobre destes mesmos. O jornalismo cultural, encarado de uma posição elevada pelos restantes elementos da profissão que pensam que 1) se faz da mesma forma, e que 2) como tal se rege pelas mesmas regras. Há verdades e meias-verdades nestas palavras. Far-se-á da mesma forma e é coberto pelas mesmas regras, mas jornalismo cultural sem uma maior flexibilidade não é jornalismo. É jornal gratuito. É um automatismo. E é o fim do jornalismo. Tiram-me do sério estes debates, quando o que está de facto em causa é isso mesmo: a sobrevivência dos jornais. Neste caso, de um jornal que já mal respira.

O que está em causa é o jornalismo como um todo, não como partes. Dizer que um jornalista que não gosta de uma banda não deve ir cobrir um concerto/outro-tipo-de-evento da mesma é estar a colocar o jornalismo numa jaula. Como um todo e não só o trabalho de um crítico, seja ele jornalista ou não. E se nenhum na redacção gostar? Que se faz? Cria-se uma pool de freelancers consoante o gosto? É estar a dizer aos jornalistas (deverei chamá-los funcionários? Trabalhadores? Proletários? Será mais fácil vê-los como autómatos enquadrados em categorias fáceis que não ofendam o olhar de quem possa pegar nas páginas do jornal?) o que pensar, estar a dizer-lhes o que fazer. Do que gostar. E que precedente é este que se cria? Será melhor se o jornalista esconder o gosto? "Don't ask, don't tell"? "Vais fazer o concerto de Leonard Cohen para a semana", diz um editor. "Não posso, não sou fã", responde o jornalista.

Qual é o problema se uma crítica a um concerto incluir uma passagem mais "desprimorosa" para um clube de futebol? Dentro em pouco será a "sagrada" reportagem que vai passar a ter este tipo de limitações e, mais tarde ou mais cedo, o Paulo Moura ultrapassará alguma "linha" (onde estão elas? Quem as traça? Aparentemente os fãs do Belenenses). E depois? Quem é que se insurge contra o "fim da liberdade de imprensa" aí?

Um jornal de informação deve basear-se em jornalismo. Ou estarei enganado? Deve comunicar com os leitores, claro, deve abrir portas a estes e saber ouvi-los e saber o que estes pretendem. Mas não pode, de modo algum, moldar-se à medida dos leitores. Não pode. Não pode. Correndo o risco de morrer. Rapidamente. Imaginemos o jornalismo como tendo um deus. E um jornal que meramente se molda à medida dos leitores e que não cumpre as funções básicas do deus do jornalismo só tem um caminho a seguir. Perdoe-me a metáfora e a brincadeira (num assunto totalmente sem piada), mas o caminho é o do inferno do jornalismo. E consequente desaparecimento no Letes.

"[O] PÚBLICO, que ambiciona claramente ter uma função federadora em relação à população portuguesa, deveria cuidar de não alienar os diversos grupos sociais com considerações gratuitas ou de mau gosto, eventualmente ofensivas".

É a segunda vez que lhe escrevo. Da primeira não recebi resposta. Compreendo, não é a sua obrigação responder a todas as mensagens que lhe chegam, nem a todas nem a nenhumas, mas sim às que entender. Peço-lhe, contudo, que me explique o que quer dizer com "uma função federadora". Nos dois dicionários onde procurei a palavra ela não existe (Priberam e Porto Editora). Portanto, não compreendo. Penso perceber a intenção, mas por "federador" costumo entender uma divisão, um acantonamento. Ou estarei enganado? É isso que o PÚBLICO pretende fazer?

O que o Sr. Provedor me parece estar a dizer é que o PÚBLICO deve atender ao "bom gosto" (se me responder à questão da "função federadora", peço-lhe que me explique o que é ter bom gosto) para evitar problemas e perda de leitores. Estou a ser simplista, concordo, mas não consigo retirar outra conclusão da sua frase. "Sejamos mansos".

Lamento que as coisas tenham chegado a este ponto. Entristeço-me regularmente com o PÚBLICO. E tenho pena que quem esteja à frente do jornal não seja capaz de ou dar um rumo ao que já foi uma grande publicação ou de se retirar.

Tiago Dias

NOTA DO PROVEDOR: "Federar, v. tr. (do lat. foederare). Unir ou unir-se em federação; confederar ou confederar-se. Unir ou unirem-se cidadãos do mesmo país para defenderem os seus mútuos direitos ou interesses". (Do Grande Dicionário da Língua Portuguesa, coordenação de José Pedro Machado, Amigos do Livro Editores, 1981).


É com atraso que vos dirijo esta carta admoestadora. No tempo que passou entre a decisão de a escrever e o acto propriamente dito, "malhar no PÚBLICO", particularmente no Sr. Nuno Pacheco e no Sr. Provedor Joaquim Vieira, tornou-se numa espécie de desporto com elevado número de praticantes nas cabeças mais oxigenadas da blogosfera. Não tenho blog, pelo que terão de me aturar assim.

Comecemos pelos factos:

Facto 1) João Bonifácio é crítico do PÚBLICO.

Facto 2) João Bonifácio fez o seu trabalho, com a verve que o caracteriza, a propósito de um festival de rock que não merecia mais do que uma nota de um amanuense (musicalmente falando, com excepção dos The Walkmen, o festival foi consensualmente fraco).

Facto 3) Passo a citar: "Toda a gente que segue futebol com um mínimo de regularidade conhece a constante nudez quinzenal do Estádio do Restelo. O Belenenses joga e há duas dezenas de velhinhos nas bancadas, nem uma palha bule, é um sossego."

Posso confirmar o terceiro facto, pois vai para um ano que moro nas imediações do referido estádio, e garanto que, muito por culpa da idade dos seus adeptos, se trata de vizinhança pacata, pouco dada ao ruído que habitualmente acompanha um jogo de futebol ou, digamos, um ser vivo.

Que o Sr. Pacheco veja fundamentados motivos de indignação nos urros analfabetos e boçais da direcção belenense, mas não encontre uma palavra para defender o seu jornalista dos insultos gratuitos que esta mesma lhe dirige, não me cabe a mim comentar. Trata-se de um assunto para ortopedistas, daqueles que nos endireitam a coluna vertebral.

Já o Sr. Provedor Vieira acha que um crítico musical não pode ter uma opinião negativa de um artista que vai criticar, o que sublinha o seu desconhecimento completo daquela prática e de como ela se faz, vamos lá, há uma mão cheia de séculos. Sobre a suposta "função federadora em relação à população portuguesa" do jornal a que alude no seu inefável texto, aconselho-o a juntar-se a um desses partidos da solidariedade ou coisa parecida. A boa crítica é feita por homens que não têm medo de dizer a sua opinião, com gozo e sentido estético, sem receio de grupos sociais ou outras abstracções que apenas servem para amordaçar coisas tão importantes como o livre pensamento ou uma boa piada.

Brindo a João Bonifácio por ter escrito o que escreveu e, sobretudo, por reinvindicar para si toda a razão nesta polémica. Calculo que o ambiente não lhe seja favorável no jornal. Mas aqui o eterno optimista acredita que não faltará muito para que o PÚBLICO perceba quem são os que o salvam desta morte assistida que temos acompanhado nos últimos anos e quem são os que o arrastam ainda mais para o lodaçal do jornalismo agachado, ao serviço de interesses menores.

Melhores cumprimentos do (ainda) vosso leitor,

Pedro Ferreira Marques

Depois do que escreveu no texto de 2 de Agosto («Os "Velhinhos" do Restelo»), que li na net, apetece dizer, como o vulgo indignado, que este PÚBLICO eu não compro mais. Não me leve a mal se lhe pedir para que releia o que escreveu, que volte a passar pelos textos que estão na origem da polémica (incluindo a crónica de Bonifácio, claro) e reflicta. Assim de repente, lembro-me de dois cronistas que nunca seriam publicados se a teoria da "função federadora" vingasse: José Júdice, e as suas deliciosas reportagens em congressos políticos a que era manifestamente avesso, e P. J. O'Rourke.

O seu texto, caro Provedor, teria cabimento se fosse um memorando para uma reunião da direcção ou da administração do jornal (a gente percebe que um jornal não queira perder leitores e que para isso alguns, coitados, cedam a teorias federadoras, etc.), mas eu pensei que não era essa a sua função.

Indignações do género destas que acabou a defender, que inquietantemente convergem com práticas de fundamentalistas religiosos, são aquilo que um jornal como o PÚBLICO devia combater. Já temos muitos a fazer o contrário, Provedor, precisamos de alternativas, não de mais media paternalistas e paninhos quentes com o gosto e a irreflexão populares. Não se entusiasmem demasiado com o Fórum TSF, por favor. Nem alienem ainda mais os leitores de facto de jornais. Seja nosso provedor, não do preconceito ou da mediocridade. O PÚBLICO já está fraco que chegue.

Rui Ângelo Araújo