domingo, 31 de maio de 2009

Cronistas-candidatos

O provedor surpreende-se por o PÚBLICO não ter uma posição consistente sobre os colunistas que concorrem a eleições











Nas crónicas mais recentes, Vital e Tavares puxam a brasa à sua sardinha eleitoral

Dois cronistas do PÚBLICO concorrem a eurodeputados no escrutínio do próximo domingo: Vital Moreira, que escreve às terças-feiras, encabeça a lista do PS; Rui Tavares, que ocupa a última página às segundas e quartas, é terceiro na lista do BE. A situação não tem sido do agrado de todos os leitores.

“Estranho que os comentadores com interesses eleitorais que habitualmente escrevem crónicas no jornal mantenham ainda essa colaboração”, comenta Silvino Oliveira. “Na realidade, a campanha está aí, e, por uma questão de ética, os cronistas deveriam ser os primeiros a suspender a colaboração. A manter-se a situação, a imagem que passa é que alguns candidatos têm um espaço privilegiado em relação a outros, o que não concorda com o Livro de Estilo do jornal”.

“Considera correcto que em período de pré-campanha eleitoral Vital Moreira, cabeça de lista de um partido, continue a perorar nas páginas do PÚBLICO, servindo-se do ‘meu jornal’ para pura propaganda eleitoral e para atacar outro(s) partido(s)?”, inquiriu por seu turno Guido Rodrigues junto do director, José Manuel Fernandes. “Não será isto um abuso inadmissível que urge terminar?”

Por outro lado, uma leitora apenas identificada como Luísa considera: “A crónica de 25 de Maio de Rui Tavares (‘Caro eleitor, você está enganado’) transcende a meu ver o que se espera do espaço de crónica e entra pela campanha eleitoral de forma que me parece pouco apropriada. Termina mesmo com um apelo ao voto no cronista. Apesar de apreciar por norma o trabalho do colunista em questão, gostaria de não deixar passar esta ‘falta’ em branco, porque põe em causa a imagem de isenção e rigor do jornal”.

Em contrapartida, uma terceira cronista também candidata, Laurinda Alves, cabeça de lista pelo Movimento Esperança Portugal, foi entretanto dispensada pela direcção do PÚBLICO, quando já havia nas ruas cartazes de publicidade à sua candidatura. Na última crónica, publicada em 24 de Abril, Laurinda Alves disse ter-lhe José Manuel Fernandes anunciado que era afastada devido a “contenção de custos”.

Esclareça-se que o Livro de Estilo do PÚBLICO é omisso quanto a este assunto e, pelo que o provedor averiguou, não existe nenhuma norma interna a seu respeito – o que aliás se estranha num jornal que apregoa a sua independência e possui quase duas décadas de prática de jornalismo político.

Mas a questão é relevante, pois o Estatuto Editorial do PÚBLICO rejeita “qualquer dependência de ordem ideológica” e fala de uma “relação [com os leitores] rigorosa e transparente, autónoma do poder político e independente de poderes particulares”. É verdade que, antes de serem candidatos, os cronistas em causa já escreviam nestas páginas. Mas é também um facto que a sua entrada numa corrida eleitoral alterou os pressupostos que presidiram ao convite para colaborarem no jornal, improvável caso estivessem na política activa. Importa avaliar se não se quebra aqui a tradição de equidistância cultivada pelo PÚBLICO, uma vez que não garante oportunidades equivalentes a outras candidaturas ao Parlamento Europeu.

Uma vez que não constituiu imperativo ético dos dois cronistas-candidatos suspenderem a colaboração no PÚBLICO a partir do momento em que anunciaram a sua entrada na campanha eleitoral, restou ao provedor perguntar a José Manuel Fernandes como lida a direcção do jornal com esta circunstância. Começa por esclarecer o director: “Primeiro que tudo, referir uma regra básica: ao escolher os seus colunistas, o PÚBLICO tem como preocupação que, mesmo quando são filiados em partidos, tenham um pensamento independente. Nunca advogámos o princípio das quotas em que cada força política fica com uma espécie de cantinho onde acaba por repetir os mesmos argumentos que ouvimos todos os dias nos diferentes serviços informativos. No passado houve ocasiões em que uma grande colagem de alguns colunistas a este ou àquele partido levou-nos a retirar-lhes o convite para escreverem, o que nem sempre foi pacífico ou, porventura, justo”.

O PÚBLICO possui apenas uma orientação genérica na matéria, segundo José Manuel Fernandes: “Por regra, sobretudo em período de campanha eleitoral, pedimos para que não utilizem os seus espaços como prolongamentos dos tempos de antena, por assim dizer. E, por regra, esse acordo de cavalheiros nunca deixou de ser cumprido”. E no caso concreto de Vital Moreira e Rui Tavares? Esclarece o director: “Falei com ambos e ambos tomaram a iniciativa de informar que não tencionavam fazer campanha eleitoral nas suas colunas”.

É difícil, se não impossível, traçar uma fronteira entre o que é ou não campanha eleitoral nas intervenções de um candidato no espaço público. Mas é fácil verificar que, nas suas crónicas mais recentes, estes dois candidatos têm, por assim dizer, puxado a brasa à sua sardinha, e o que escrevem pode claramente ser levado à conta de campanha: Vital Moreira, no seu último texto, na passada terça-feira, pugnava pela posição que tem defendido acerca dos fundos do QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), um dos cavalos de batalha da campanha para o Parlamento Europeu; Rui Tavares, por sua vez, fez de facto, na crónica da passada segunda-feira, e conforme mencionou a leitora Luísa, um apelo ao voto em si próprio, se bem que a contrario sensu.

Outro problema tem a ver com a chamada declaração de interesses, em concordância aliás com o disposto no Livro de Estilo: “Quando escreverem sobre matérias em que têm interesses directos ou indirectos de ordem material ou outra, os colaboradores deverão disso dar conta aos leitores”. O que aconteceu apenas uma vez para cada um dos dois cronistas-candidatos, e já após o início oficial da campanha. Justifica José Manuel Fernandes: “Deveríamos passar ou não a identificá-los também como candidatos? As escolhas foram realizadas com bastante antecedência, a campanha vinha longe, eram dois independentes, pelo que optámos por manter a forma como vinham identificados até ao início da campanha eleitoral. A campanha começou esta semana, e ambos passaram a ser identificados como candidatos ao Parlamento Europeu pelo PS e pelo BE”.

Quanto a Laurinda Alves, o director explica que, “por motivos que em nada se ligam à sua candidatura, cessou entretanto a sua colaboração no jornal”, mas é preciso que se diga que o calendário não terá sido o mais indicado, pelo equívoco que inevitavelmente se gera.

José Manuel Fernandes resume assim a posição do jornal: “Os leitores têm o direito de saber que os colunistas são candidatos (pode-se discutir a partir de que momento essa indicação deve ser clara), mas o facto de serem candidatos, para mais independentes, não os torna cronistas menos interessantes, tal como não entendemos ser necessário criar um sistema especial de quotas fora ou dentro dos períodos eleitorais”.

Não é uma linha de orientação definitiva, já que o director admite a sua revisão posterior: “No final faremos naturalmente um balanço desta experiência para verificar se a identificação devia ter surgido mais cedo e se os compromissos foram cumpridos. Desse balanço retiraremos as lições necessárias para casos futuros”.

O provedor surpreende-se por o PÚBLICO não ter até hoje elaborado uma posição mais consistente sobre o assunto, e recomenda que o faça. Se bem que seja também contra o sistema de quotas, constata que a redacção faz uma cobertura equilibrada das campanhas eleitorais, procurando ouvir as várias correntes em disputa (pelo menos as que se calcula poderem eleger representantes), e que tal desequilíbrio desaparece nas páginas de opinião, pelo que a questão dos cronistas-candidatos carece de ser repensada. E que interesse terão os leitores em que o jornal pague a colaboradores para fazerem uso de uma tribuna onde provavelmente repisarão argumentos que esses leitores acabaram de os ouvir defender pela televisão?


CAIXA:

Gripe jornalística

A praga de Catual, que o provedor já apresentou aos leitores, alastra nas páginas do PÚBLICO como o vírus H1N1: “Um dos soldados que matou Victor Jara” (28/05, pág. 24); “Um dos jovens realizadores que, opina Vilaverde, o faz pensar” (P2, 26/05, p. 6); “Um dos fenómenos que é visível” (P2, 23/05, p. 18); “Uma daquelas sequelas que é melhor do que o original” (destaque, Ípsilon, 22/05, p. 42); “um dos que aparece na mensagem” (05/05, p. 14); “um dos aspectos da vida na África do Sul que só é discutido em privado” (04/05, p. 5); “um dos jornais que deixou de se publicar” (legenda, 03/05, p. 16); “um desses topoi literários que conserva uma enorme força metafórica” (Ípsilon, 01/05, p. 8); “um dos temas que mais me obceca” (P2, 22/04, p. 3); “Um dos últimos entretenimentos que resta à direita” (22/04, p. 32); “um dos que se manifestou contra a ideia” (21/04, p. 19); “É uma das coisas que me faz mais confusão” (P2, 21/04, p. 10); “um dos processos que consta das 2827 pastas do arquivo” (18/04, p. 4); “um dos poucos dirigentes socialistas que, à época da cimeira dos Açores, teve coragem política” (P2, 11/04, p. 12); “Uma das coisas que me agrada sobremaneira ver” (P2, 22/03, p. 22); “um dos factores do imobilismo insanável que impede o progresso económico do país” (P2, 21/03, p. 3); “um dos professores que critica a banalização daquele grau honorífico” (26/03, p. 34); “uma das obras da artista plástica Joana Vasconcelos que mais tem corrido mundo” (Ípsilon, 20/03, p. 3); “um dos agrupamentos que mais se tem distinguido” (legenda, Ípsilon, 13/03, p. 41); “uma das hipóteses que pode baralhar um cenário de expectativa” (04/03, p. 10); “Esta é daquelas que vem para nos demonstrar que os fundamentos da nossa realidade estavam errados” (02/03, p. 32); “um dos países do Leste que já teve de pedir ajuda ao FMI” (legenda, 01/03, p. 4); “um dos que a viu em segredo” (P2, 01/03, p. 14); “um dos que logo nos primeiros dias após o desaparecimento do português andou pela cidade” (P2, 27/02, p. 5); “um dos factores que melhor explica o crescimento das forças à sua esquerda” (antetítulo, 16/02, p. 33); “uma das que atrai mais ne[o]nazis” (15/02, p. 14); “um dos países do mundo que mais julga – e condena – os torcionários da sua antiga ditadura” (12/02, p. 17).

Publicada em 31 de Maio de 2009

sábado, 30 de maio de 2009

A saída de Laurinda Alves

Tenho admiração pela Laurinda Alves, como pessoa e como jornalista, e assumo que com o PÚBLICO fez um excelente trabalho na e com a revista "Xis", que ainda hoje penso que não deveria ter acabado. Era um projecto semanal muito bem elaborado, que fazia a todos pensar, e que tinha contributos vários de muita qualidade! Pena ter tido que acabar! Quanto às crónicas da Laurinda Alves na P2 ["Coisas da vida", que terminou em 24 de Abril], já tenho opinião diferente. Sempre gostei de as ler, sempre as li, mas desde que a Laurinda Alves, e muito bem, quis criar o seu blogue e o publicitou nas próprias crónicas, acho que o blogue, que se dedica a assuntos humanos, sociais, com uma grande abertura, ficou com o seu espaço (e não partidário)! Ou seja um espaço entrou pelo outro, logo os dois não tinham necessidade de coexistir. Assim o fim das crónicas da Laurinda Alves no PÚBLICO, o meu jornal diário de preferência, não me choca. O fim da "Xis", é diferente, ainda hoje penso que existe espaço para a "Xis", porventura face aos problemas humanos, sociais, financeiros e económicos, ainda com mais intensidade do que quando acabou. Penso também que estas alterações, devem ser explicadas aos leitores do PÚBLICO, mesmo que muito resumidamente, pelo director ou por alguém em quem este delegue. Perde-se tempo e espaço por vezes com minudências, apesar de por norma não ser esta a condura do PÚBLICO, mas estas explicações não devem ser dadas só por quem sai, mas antes por quem fica.

Augusto Küttner de Magalhães

domingo, 24 de maio de 2009

O PÚBLICO corrigido pelos leitores

Os jornalistas deveriam prestar mais atenção às correcções que o público, generosamente, vai enviando à redacção


Tendo D. Carlos sido morto em 1908, não poderia ter o carro no Palace de Vidago, aberto em 1910

De Mesquita Alves: “Foi noticiado que um tribunal retirou uma criança a uma família de acolhimento. Família de acolhimento não é sinónimo de pais adoptivos. Estes só o são após concluído um processo legal de adopção. Não foi o caso. Assim há um gravíssimo erro na primeira página do PÚBLICO de 19 de Maio [onde se lê: ‘A despedida da criança de Braga dos seus pais adoptivos foi dramática’], e por tabela outro erro no ‘Sobe e desce’ [Idália Moniz, secretária de Estado adjunta e da Reabilitação, com seta para o lado]”.

De J.M. Oliveira Antunes: “Na primeira página de 13 de Maio, titula-se: ‘Há fortes indícios de pressões no caso Freeport’. Na segunda página, titula-se ‘Indícios de fortes pressões levam a processo disciplinar’. Os dois títulos referem-se a realidades completamente diferentes. Dizer que há ‘fortes indícios’ ou há ‘fortes pressões’ é tudo menos a mesma coisa. O jornalista ou não sabe português, e isso é preocupante, ou, se quis mesmo escrever ambos os títulos com consciência, o jornal deve esclarecer qual das situações corresponde à verdade que pretendia noticiar”.

De José Manuel Pereira Bastos: “Não há aí ninguém que ensine aos jornalistas que os títulos não podem contrariar os conteúdos respectivos? O primo de Sócrates ‘garante’ ou tem ‘tem a impressão’ [PUBLICO.PT, 16 de Maio]?”
Nota do provedor: O título da notícia (com o respectivo conteúdo) foi entretanto corrigido para “Freeport: primo ‘acha que’ José Sócrates conhecia Charles Smith”.

De Maria José Costa: “Os educadores de infância também são docentes, pelo que não é rigoroso dizer, como o PÚBLICO disse, ‘educadores de infância e docentes’ [‘Professores apelam ao apoio da opinião pública para a sua luta’, 24 de Abril, pág. 11]. Refiro ainda que os educadores de infância são docentes licenciados, profissionalizados e com habilitação própria para a docência que exercem, neste caso o ensino pré-escolar”.

De Miguel Direito: “Sou leitor assíduo do (excelente) PÚBLICO, pelo que sinto o dever de alertar para um pequeno erro que constatei na secção online de desporto de 22 de Abril [“O filme repetiu-se em Los Angeles, mas desta vez o herói veio de Denver”]. Ao descrever um jogo da NBA entre a equipa de Los Angeles e a de Denver, escreveu o jornalista que esta última estaria sediada no estado do Texas, o que é evidente erro. Denver é a maior cidade do Colorado...! Pormenores... Mas sinto-se menos tentado a acreditar num texto com erros reveladores de falta de cultura geral por parte de quem o escreve”.
Nota do provedor: após alerta deste leitor, a notícia foi corrigida online, aparecendo também já sem o erro na edição de ontem em papel.

De A. Serôdio: “No Local (pág. 20) da edição Porto de 29 de Março, pode ler-se: ‘Dos veículos em exposição destaca-se um Minervete, de 1904, propriedade do rei D. Carlos, que o tinha estacionado em Vidago, para quando visitava o Palace Hotel’. O Palace Hotel só foi inaugurado em 1910, pelo que o rei D. Carlos, assassinado em 1908, não podia ter o automóvel aí estacionado. Talvez nas Pedras Salgadas ou outro, mas nunca no Palace. Importa pesquisar com algum cuidado, o que no caso presente nem é difícil”.
Nota do provedor: Poderá ter-se tratado do Grande Hotel de Vidago, inaugurado em 1874, onde costumavam instalar-se membros da realeza.

De João Regueira: “Brasília foi inaugurada em 1960 e não em 1961 [secção ‘No passado’, P2, 21 de Abril]. O erro parece grosseiro, visto estarem em curso os preparativos da comemoração do cinquentenário no próximo ano!”

De Miguel Silva Machado: “A jornalista Teresa de Sousa escreveu em 21 de Fevereiro [‘Comando de Lisboa sobe na hierarquia da NATO e fica ao nível de Nápoles’, pág. 14] que ‘Portugal, que neste momento apenas mantém no Afeganistão duas equipas de formação e treino das forças de segurança locais e um hospital de campanha’. Como é possível este erro? Basta ir ao site do Estado-Maior General das Forças Armadas para ver que Portugal neste momento tem no Afeganistão uma equipa de formação e treino, nada mais. Irá (não foi dito quando) enviar outra equipa destas. O Ministério da Defesa disse também que se enviaria 15 militares de saúde para prestarem serviço num hospital de campanha no aeroporto de Cabul, o que é muito diferente de ter lá um hospital de campanha. (...) Por outro lado, lendo-se o que a própria NATO diz do seu comando em Oeiras, é muito estranha a afirmação de Severiano Teixeira, ministro da Defesa, de que vamos subir de nível. Para a NATO já subimos... (...) Que o ministro se tenha enganado, até posso compreender, porque pretende dar a ideia de que estamos a melhorar qualquer coisa. Já mais difícil de compreender é que o jornal não o tenha confrontado – na ocasião ou mais tarde –, passando-se assim para a opinião pública uma informação errada”.

De Carlos Machado Acabado: “Na notícia intitulada ‘Bloco de Esquerda questiona Governo sobre futuro do mouchão da Póvoa’ (23 de Abril, pág. 17), escreve-se que a ‘empresa Ilha – Indústria Agrícola, SA, (...) admite que colocou o espaço HÁ venda”. Ora, parece-me (até porque pouco antes a expressão utilizada mais de uma vez – correctamente, aliás – pelo jornalista, no contexto, era ‘à venda’) poder supor-se que, perante a (óbvia!) dificuldade experimentada por alguns jornalistas do PÚBLICO em distinguir entre ‘à’ e ‘há’, a 'estratégia' destes terá passado a ser a de diversificar 'democraticamente' o uso das várias formas possíveis, quem sabe se seguindo o curioso ‘princípio’ de que, pondo-as todas, alguma há-de (ou... ‘à-de’?, já nem sei ao certo...) estar correcta. Estou em crer que este tipo de disfunção morfológica, infelizmente muito comum entre os estratos mais jovens da sociedade portuguesa medianamente escolarizada, é o resultado inevitável de décadas de consistente substituição de um ensino desejavelmente orgânico do português por um outro erradamente chamado de ‘estrutural’ (e, no caso específico da didáctica do inglês, de ‘funcional’, ou ‘functional’)”.

De António Manuel de Paula Saraiva: “Na última página da edição de 7 de Maio, Miguel Gaspar refere que o jornal Boston Globe recebeu um prémio Pulitzer ‘por ter denunciado o escândalo dos abusos sexuais da Igreja Católica nos EUA’. Ora os escândalos não podem ser atribuídos à Igreja Católica, mas apenas a alguns dos seus membros (embora vários deles em posições de destaque). Tais escândalos só poderiam ser atribuídos à Igreja americana se ela os tivesse tentado desculpar do ponto de vista doutrinário, o que não foi o caso. Em resumo, a frase correcta seria ‘o escândalo dos abusos sexuais que envolveu membros proeminentes da Igreja Católica’, ou semelhante”.
Nota do provedor: A Igreja Católica aceitou nos EUA pagar pesadas indemnizações às vítimas dos abusos sexuais, sinal de assunção, por parte da sua hierarquia, de pelo menos parte de responsabilidade da instituição.

De José Maria Pereira da Rocha: “Será que a jornalista Graça Franco me leva muito a mal se eu lhe disser (...) que o ordinal de 300 (...) é ‘tricentésimo’ e não o que ela escreveu [‘trigésimo’] (‘Bem-vindos a 2010!’, 2 de Janeiro, pág. 31)? A lógica não deixa aliás juntar, em sucessão, dois nomes numerais da mesma ordem (dezenas), pelo que ‘trigésimo sexagésimo’ só por distracção… Acontece!”

Do mesmo leitor: “Quando eu andava em Coimbra, (...) o CITAC era o ‘Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra’. Era a vertente modernista do TEUC [Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra], este mais dedicado ao clássico. Mas ambos sob a direcção do saudoso prof. Paulo Quintela. Será que mudou de nome para, em 1969, ser ‘Centro Internacional de Teatro da Academia de Coimbra’? (‘Há 40 anos em Coimbra ‘bebia-se e amava-se despudoradamente’’, 19 de Abril, pág. 11). Por outro lado, na crónica ‘Faux gauche’ [em francês, ‘faux’ para ‘falso’ e ‘gauche’ para ‘esquerda’], de Desidério Murcho, no P2 de 21 de Abril, se o artigo definido usado no texto cinco vezes é feminino (‘a’) e o substantivo é ‘gauche’, também feminino (vd. dicionário Larousse), o adjectivo não devia ser ‘fausse’ [‘falsa’]?”
Nota do provedor: Em nova crónica, a 28 de Abril, o autor já escreveu acertadamente “fausse gauche”.

De M. Fátima Antunes: “Já tinha sido mau encontrar a palavra ‘transacções’ transformada em ‘transações’ texto fora. Agora, no mesmo dia, descobrir que afinal tivemos ‘um rei adolescente desaparecido em Ceuta’, que nos EUA houve um tal de Presidente ‘Buch’ ou que há uns tipos designados de ‘Monty Phyton’ também já é abuso... Não há pelo ‘Ípsilon’ [13 de Março] ninguém a rever textos? Já agora, não é ‘auto-depreciarmos’, mas ‘autodepreciarmos’.”

Conclusões: a participação dos leitores permite fazer um PÚBLICO melhor; os jornalistas devem corrigir os erros assim que deles tiverem conhecimento.


CAIXA:

Números impossíveis

Na crónica “A minha TV” no P2 de 13 de Maio escreve-se: “O especial de Clara de Sousa foi o melhor da noite da SIC (11,2 de share e 25,8 de rating), a retransmissão da entrevista de Oprah logo a seguir teve 5,8 de share e 13,5 de rating”. É matematicamente impossível que, nas audiências televisivas, os números de rating (audiência média) sejam superiores aos de share (quota de mercado). Tratar-se-á de um lapso, mas nota-se que o autor, Jorge Mourinha, conforme o provedor já alertou há meses, tem dificuldade em interpretar correctamente as tabelas de audiências televisivas, o que não parece normal num crítico de TV, para mais quando baseia (como é o caso) grande parte dos seus textos na leitura desses números. Com efeito, é costume o autor aferir do sucesso ou fracasso dos programas através da invocação em abstracto do rating que obtêm, quando, para avaliar da capacidade de atracção de público, é o share que é determinante (o rating varia em função do horário de emissão e não apenas da quantidade de telespectadores). Dado que o aviso do provedor foi ignorado, aqui fica o conselho aos leitores para lerem “A minha TV” com algum relativismo, sobretudo quando fala de audiéncias.

Publicada em 24 de Maio de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

Contrapoder ou antipoder?

Na conclusão da análise à secção “Sobe e desce”, algumas recomendações para o futuro da secção


O jornal parece ter passado de uma posição de isenção para um pendor anti-governa-mental


“Eu nunca tinha ligado muito ao ‘Sobe e desce’, até ao dia em que, para surpresa minha, Mário Nogueira, da Fenprof, teve uma referência negativa por ter ganho as eleições na respectiva organização!” – assim começa a mensagem de um leitor não identificado acerca da secção da última página do PÚBLICO. “Isso foi, bem entendido, antes da ‘Cruzada’. E quando, recentemente, a luta dos professores saltou para a ribalta, foi ver a cotação de Mário Nogueira a subir aos olhos do PÚBLICO, que não lhe regateou apoio, explícito ou implícito, para combater o ‘Mal’. (...) Feitas as contas, o ‘Sobe e desce’ está para o jornalismo de referência como o Tarot da Maya está para a ciência: destas quatro personagens, do segundo já só resta o infografismo nas páginas do PÚBLICO”.

Esta carta situa o principal problema do “Sobe e desce”, que o provedor tem vindo a analisar nas últimas crónicas: a possibilidade de a secção assumir encapotadamente um espírito de campanha, o qual não está previsto no estatuto editorial do jornal. O líder da Fenprof, com efeito, obtém um balanço positivo (quatro setas para cima e três para baixo) nas apreciações que o “Sobe e desce” lhe fez desde que este provedor iniciou funções (1 de Janeiro de 2008), enquanto a ministra de Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, sofre de um conjunto de referências absolutamente demolidor: 22 notas desfavoráveis, contra apenas duas positivas.

Aliás, José Sócrates e os seus 16 ministros são globalmente atingidos, no mesmo período, com 195 setas descendentes e 52 em sentido inverso. É algo em que os leitores acabam por reparar: “Que o PÚBLICO tem uma posição ultracrítica em relação ao actual Governo e, muito particularmente, em relação ao primeiro-ministro, já não oferece dúvidas”, escrevia um deles, Adérito Tavares, ao provedor há dois meses. É certo que o PÚBLICO tem o direito, e até o dever, de assumir uma atitude de contrapoder, mas neste caso parece estar reunida a massa crítica para se considerar que o jornal passou de uma posição de isenção para um pendor claramente antigovernamental. Verifique-se, por exemplo, que Cavaco Silva apresenta um saldo de 16 notas a favor contra sete negativas e que a principal figura da oposição, Manuela Ferreira Leite, apesar de um balanço negativo (nove a favor e 12 contra), é objecto de uma apreciação muito mais equilibrada, como se, aos olhos dos directores deste jornal (a cargo de quem costuma estar a secção), a líder dos sociais-democratas fosse, mesmo assim, preferível a Sócrates à frente do governo.

Não viria daqui mal ao mundo, não fora o facto de o PÚBLICO nunca se ter assumido editorialmente como oposição ao governo, contrariando assim o princípio da “relação rigorosa e transparente” com os leitores que é enunciado no seu estatuto editorial. Estes números mostram que entre os responsáveis da redacção se estabeleceu como politicamente correcto deitar abaixo o executivo, e que uma opinião diferente terá muito mais dificuldade em ver a luz do dia. O provedor não diria que existe uma intenção deliberada nesse sentido, mas que se pode ter instalado um espírito que desemboca nessa consequência.

Temos de convir que muitas vezes as figuras públicas põem-se a jeito para as críticas de que são alvo, não fazendo sentido os jornalistas inventarem avaliações artificiais só para darem equilíbrio ao conjunto de matérias que o jornal publica. Por exemplo, o contraste entre as notas atribuídas no “Sobe e desce” a George W. Bush (duas a favor e 21 contra) e a Barack Obama (34 a favor e cinco contra) é compreensível em termos retrospectivos, na medida em que o primeiro foi derrotado num processo histórico de que o segundo acabou por sair largamente vitorioso. Não seria pois aceitável de forma alguma que alguém se preocupasse em distribuir notas avulsas pelos dois de modo a atingir-se alguma espécie de equivalência entre ambos – que seria seguramente uma falsa equivalência, sem correspondência na realidade.

Esse é o método a que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social quer sujeitar a RTP (e, se a deixarem, todos os restantes órgãos de informação): uma distribuição noticiosa proporcional ao peso eleitoral dos partidos. Mas isso seria uma deturpação da actualidade, que não é equilibrada e carece de uma cobertura jornalística que reflicta esse desequilíbrio. A imposição de quotas é um atentado à liberdade do jornalismo, e de forma nenhuma o provedor pretende que no “Sobe e desce” haja qualquer coisa do género. Mas as tendências que se detectam nas notas atribuídas na secção sugerem a possível existência de uma agenda oculta na redacção do PÚBLICO e que, a bem do contrato do jornal com os leitores, seria bom que se clarificasse. Bastará que não se deixe escapar nenhum deslize e que, em contrapartida, se ignore os aspectos positivos na carreira de uma figura pública para lhe criar uma imagem desfavorável (e deturpada) – aquilo que se designa como “ter má imprensa”. Para trás, ficam os padrões de objectividade que muitos órgãos da informação fazem questão, mesmo assim, de continuar a apregoar.

Nota-se claramente a existência de uma lista de “bons” e de “maus” no “Sobe e desce” em política interna, mas também no palco internacional. Ninguém se incomoda certamente por ditadores como Mugabe, Kim Jong Il, Hu Jintao, Mahmud Ahmedinejad ou Omar al-Bashir liderarem a lista de notas negativas, por vezes até sem nenhuma seta para cima (sendo as apreciações feitas frequentemente na base de uma condenação moral e não do que de positivo ou negativo sucede nos seus objectivos de manutenção do poder – o que suscita o problema da incoerêcia de critérios na elaboração da secção). Mas mais bizarro há-de parecer que na Europa haja tanto contraste entre, por exemplo, um Silvio Berlusconi (15 setas descendentes e apenas uma a subir) e um José Luis Zapatero (sete para cima e quatro para baixo). É que nem a Itália está em pior situação do que a Espanha nem o seu primeiro-ministro está mais debilitado do que o seu homólogo de Madrid; antes pelo contrário.

Curiosamente, no domínio do futebol, que em parte motivou a investigação do provedor ao “Sobe e desce”, as coisas aparecem muito mais conformes à realidade. Cristiano Ronaldo e José Mourinho fazem jus ao talento e à fama, e entre os treinadores da I Liga Jesualdo surge com o balanço mais favorável, seguido de Paulo Bento, enquanto Quique Flores só esta semana desceu a negativos (7-8), já muito depois de o seu carro, para usar uma expressão dele, ter avariado à vista da meta. Mesmo Jorge Nuno Pinto da Costa, com todos os problemas judiciais que tem atravessado, apresenta um saldo positivo (6-4), contrariando a ideia transmitida pelos leitores que reclamaram acerca no seu tratamento na secção.

Um jornalista do PÚBLICO enviou há tempos ao provedor numa lista de dez aspectos que não abonariam a favor do “Sobe e desce” (diversidade de critérios, maniqueísmo e simplificação de factos, personalização de temas, enganadoras relações causa-efeito, análise parcial da actualidade, incidência constante nas mesmas figuras, diferentes gradações de apreciação, obrigatoriedade de manter o mesmo número de tópicos por edição, simplificação na escolha de protagonistas, desproporção do impacto junto da opinião pública) e apenas um que beneficia a secção – e, aparentemente, sobreleva todos os restantes: os leitores gostam.

O provedor apenas gostaria de recomendar a adopção de alguns parâmetros para o futuro do “Sobe e desce”: coerência de critérios, ponderação, equilíbrio, objectividade, isenção e distanciamento.


CAIXA:

Arroubo patriótico

A manchete da passada quinta-feira, 15 de Maio, “A Madeira pode ser independente?”, causou pelo menos uma reacção emocionada. ”Vi-me forçado a enfiar o PÚBLICO num saco para que ninguém me visse com a vergonhosa e reles capa deste periódico”, escreveu o leitor que se identifica como Sérgio Faial sobre o que classifica de “acto inqualificável e irresponsável sem paralelo na história deste jonal, (...) dum teor incendiário que nunca associei ao periódico”. Outro Sérgio, assinando Costa e com um endereço electrónico diferente mas numa linguagem com similitudes em relação ao anterior, reenviou ao provedor uma carta de protesto que escreveu ao director do PÚBLICO, considerando: “A bem da credibilidade do jornal, espero que os acontecimentos da edição deste dia não passem impunes. O PÚBLICO não merece acabar assim, transformado num tablóide sensacionalista”.

O provedor considera que um jornal como o PÚBLICO não deve ter temas tabu, para mais relativamente a uma questão que periodiocamente é agitada como forma de pressão sobre as autoridades centrais, até pelo chefe do governo regional da Madeira. Os jornalistas apenas procuraram avaliar se tal hipótese teria alguma viabilidade prática ou não passa de mero bluff. Nada a apontar, portanto.

Há porém um aspecto em que a reclamação de Sérgio (seja ele quem for) é pertinente. Trata-se do título da capa do P2 (onde foi publicado o artigo), escrito sob o mapa do arquipélago da Madeira: “Eles podem viver sem nós?”. “Eles quem?”, pergunta o leitor Faial. “Os madeirenses? E nós quem? Os continentais? Sempre pensei que o PÚBLICO fosse um jornal nacional, equivoquei-me. Segundo a redacção deste diário, Portugal é o rectângulo, as ilhas são os outros, os de fora... Lamentável... Que leva um jornal que se propõe, segundo o seu director, ser uma das partes dos checks and balances [equilíbrios e contrapesos] da democracia a agredir uma parte do país? Quem será a próxima vítima? Os meus Açores?”

De facto, com este título os jornalistas tomaram a iniciativa de excluir a Madeira de Portugal. Provocatório, mas infeliz.

Publicada em 17 de Maio de 2009

sábado, 16 de maio de 2009

Faltou a poesia

Compare o corpo da notícia com a descrição do golo no YouTube. Lamentável a dissemelhança e a incapacidade do jornalista para descrever um momento tão belo!

Luís Soares

domingo, 10 de maio de 2009

"Sobe e desce" e Tarot da Maya


Eu nunca tinha ligado muito ao "Sobe e desce", até ao dia em que, para surpresa minha, o Mário Nogueira, da Fenprof, teve uma referência negativa por ter ganho as eleições na respectiva organização! Isso foi, bem entendido, antes da "Cruzada". E quando, recentemente, a luta dos professores saltou para a ribalta, foi ver a cotação do Mário Nogueira a subir aos olhos do PÚBLICO, que não lhe regateou apoio, explí­cito ou implí­cito, para combater o "Mal".

Enfim, isto é só um apontamento, vale o que vale. Feitas as contas, o "Sobe e desce" está para o jornalismo de referência como o Tarot da Maya está para a ciência: destas quatro personagens, do segundo já só resta o infografismo nas páginas do PÚBLICO.

VMSDA

Heróis e vilões

Prossegue a análise da secção “Sobe e desce”, ficando as conclusões para apresentar em próxima crónica



O PÚBLICO mudou de herói: Obama teve 34 setas ascendentes e só quatro negativas, enquanto Bush perdeu por 2-21

Se este jornal já em tempos foi conhecido por incensar George W. Bush, essa época há muito terminou, com a sua queda em desgraça (do Iraque). É o que mostra o balanço de notas da secção “Sobe e desce” desde que este provedor assumiu funções (início de 2008): ao anterior presidente dos EUA foram atribuídas, nos últimos 16 meses, 21 setas para baixo e apenas duas para cima (e duas neutras). O PÚBLICO mudou de herói americano, que agora se chama Barack Obama: o sucessor de Bush obteve no mesmo período 34 setas ascendentes e apenas quatro negativas (mais duas laterais). A onda democrata que varreu a América alastrou à secção com mais três referências positivas ao vice-presidente de Obama, Joe Biden, e duas a Nancy Pelosi, a speaker da Casa dos Representantes (ambos sem negativas). Hillary Clinton, a rival democrata de Obama nas primárias e sua secretária de Estado, teve seis setas a favor e cinco contra, enquanto o possível culpado de tudo, o ex-vice-presidente Dick Cheney, apenas sofreu uma nota negativa (vantagem das eminências pardas). Do massacre livraram-se o candidato republicano batido por Obama, John McCain (sete a favor e três contra) e a ex-secretária de Estado Condoleezza Rice (3-1), mas não a candidata a vice com McCain, Sarah Palin (1-5). Até a nova primeira dama, Michelle, já subiu uma vez, enquanto o actual secretário do Tesouro, Timothy Geithner, apesar de uma actuação nada auspiciosa, está a beneficiar do efeito Obama, ganhando por 2-1.

No “Sobe e desce”, cuja análise o provedor iniciou na crónica anterior, importa também verificar como são vistos os protagonistas europeus. Aquele que obtém mais notoriedade é Nicholas Sarkozy, com 28 notas, mas 13 delas são negativas, só nove lhe sendo favoráveis. Também perdem no balanço Gordon Brown (8 setas para cima e 9 para baixo), Angela Merkel (2-3), Bertie Ahern (0-2), Costas Karamanlis (0-1) e sobretudo Silvio Berlusconi (1-13). Bem visto, só José Luis Zapatero (7-4).

Curiosamente, o primeiro-ministro cessante da República Checa, Mirek Topolánek, apesar da actual desastrada presidência da União Europeia, teve balanço positivo (1-0) (o ónus ficou para Vaclav Klaus, o presidente do país: 0-1). Quanto ao grande vizinho do leste, as suspeitas são enormes: Vladimir Putin perde por 2-7 e Dmitri Medvedev por 0-8. E os vizinhos não se portam melhor, sejam Mikhail Saakashvili, da Geórgia (0-5), Viktor Iuschenko, da Ucrânia (0-3) ou Alexander Lukachenko, da Bielorússia (0-1).

A secção não aprecia particularmente ditadores, chamem-se eles Robert Mugabe (o pior, com 19 notas negativas, mais uma para a mulher, Grace, e nenhuma positiva, conseguindo o líder da oposição no Zimbabwe, Morgan Tsvangirai, três postivas), Hu Jintao (três positivas e 10 negativas), Kim Jong Il (0-8), Mahmud Ahmedinejad (1-6), Omar al-Bashir (0-4), Than Shwe (0-2), Muammar Kadhafi (0-2) ou Fidel Castro (0-2). Porém, o irmão deste, Raul, tem sido visto com melhores olhos desde que lhe sucedeu: 4-0.

No Médio Oriente, Ehud Olmert, o primeiro-ministro israelita há pouco afastado, era mesmo o mau da fita (0-9), mas do sucessor, Benjamin Netanyahu, não cuidou o “Sobe e desce”, optando antes por se pronunciar – negativamente – sobre o seu ministro do Negócios Estrangeiros, Avigdor Lieberman (0-2), e – positivamente – sobre a líder da oposição, Tzipi Livni (2-0). Do lado palestiniano, má nota para os rivais Mahmoud Abbas, primeiro-ministro, e Ismail Haniyah, do Hamas, ambos com uma seta para baixo, mas boa para a organização deste último (uma para cima) (a propósito de organizações violentas, as FARC, com uma negativa, e a ETA, com duas, não são apreciadas).

Nem o turco Recip Erdogan (1-2), nem o anterior presidente paquistanês, Pervez Musharraf (0-5), nem o afegão Hamid Karzai (0-2) são bem vistos, só se aproveitando o iraquiano Nouri al-Maliki (1-0).

Na América Latina, Lula da Silva (4-2) fica muito melhor do que Evo Morales (0-3), Cristina Kirchner (0-4) ou Hugo Chávez (2-5). E, em África, José Eduardo dos Santos (0-5) andou em baixa com Thabo Mbeki (0-3), mas o sucessor deste, Jacob Zuma, entrou com o pé direito (1-0).

Figura que não se ousa pôr em causa é o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon (4-0). O Papa Bento XVI obtém 8-3 e o Dalai Lama 1-0. No campo da Igreja Católica, apenas o integrista Richard Williamson, que ousou desafiar o Vaticano, foi alvo de setas negativas (0-2). Os prelados portugueses também têm classificação cima da linha de água: José Policarpo (1-0), Carlos Azevedo (idem) e sobretudo Manuel Clemente (3-0).

Em Portugal, a maioria dos protagonistas dos casos de justiça recebem apreciações negativas, sejam eles magistrados como Pinto Monteiro (1-4), Souto de Moura (0-1), Cândida de Almeida (0-1) ou Maria José Morgado (0-1), polícias como Orlando Romano (0-1), Alípio Ribeiro (0-1), Almeida Rodrigues (0-1) ou Gonçalo Amaral (0-1) ou ainda os grandes suspeitos disto ou daquilo: José Oliveira e Costa (0-6), João Rendeiro (0-5), Manuel Dias Loureiro (0-6), Fátima Felgueiras (0-4), Avelino Ferreira Torres (0-3), Isaltino Morais (0-2), Valentim Loureiro (0-4), João Vale e Azevedo (0-3) ou António Preto (0-1). Se o pai de Maddie, Gerry McCann, também teve nota baixa (0-1), o casal McCann obteve uma referência positiva. Para Lopes da Mota, o magistrado suspeito de pressões na investigação do caso Freeport, apenas um seta para o lado, mas o actual bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, tem sofrido má apreciação (0-5). A própria justiça portuguesa como instituição tem também sido alvo de setas: seis, e todas a descer. Pode-se dizer que no sector só resiste Nascimento Rodrigues (3-0), que parece condenado à pena perpétua de Provedor de Justiça.

Na área económica e financeira, só um banqueiro, Ricardo Salgado (4-0), tem boa nota, destacando-se os maus resultados de Faria de Oliveira (1-4), Jardim Gonçalves (0-2), Filipe Pinhal (0-2) e Horácio Roque (0-1), e ficando Fernando Ulrich e Santos Ferreira em posição neutra (2-2 para cada). O mesmo sucede com certos empresários e gestores: sim para Américo Amorim (1-0), Alexandre Soares dos Santos (1-0), Almerindo Marques (1-0) e Zeinal Bava (1-0), não para António Mexia (0-4), Cardoso dos Reis (0-3), Fernando Pinto (2-3), Guilherme Costa (0-1), Joe Berardo (0-2), Mário Assis Ferreira (0-2) e Stanley Ho (0-1) (Pais do Amaral fica neutro: 2-2). Manuel Sebastião, o responsável pela Autoridade da Concorrência, é mal visto (1-4); o contrário sucede com Guilherme Oliveira Martins, presidente do Tribunal de Contas (3-0).

No domínio da cultura, a secção não é muito assídua, limitando-se a assinalar nota positiva a quem recebe um prémio, estreia um filme, lança um livro, abre uma exposição ou vai a um certame internacional. A excepção foi Carlos Fragateiro, que devido aos casos relacionados com a sua anterior gestão do Teatro Nacional D. Maria II sofreu duas setas descendentes.

O mesmo sucede nas modalidades desportivas, assinalando-se sobretudo quem ganhou – e mais raramente quem perdeu. Os mais assíduos foram Michael Phelps (6-0), Michelle de Brito, Sébastien Loeb e Lewis Hamilton (5-0), Frederico Gil (5-1), Rafael Nadal e Naide Gomes (4-0).

O futebol é um caso à parte, dominando a secção juntamente com a política. O herói chama-se Cristiano Ronaldo (17-2), enquanto José Mourinho pode ganhar este ano o campeonato italiano, mas só está em 4-1. Dos treinadores das principais equipas nacionais, Jesualdo Ferreira é justificadamente o mais bem classificado (20-4), seguindo-se Paulo Bento (14-10), Jorge Jesus (4-0) e José Mota (2-0). Quanto a Quique Flores, está empatado (7-7), muito acima das expectativas para a sua equipa (tendo o antecessor, José Antonio Camacho, ficado em 1-2). O estado de Carlos Queiroz (2-3) está mais de acordo com o estado da selecção nacional (e Scolari, que não foi feliz em Londres, ficou em 2-6). Entre os jogadores da I Liga, Liedson (3-0) é o mais considerado. Quanto aos dirigentes desportivos, Luís Filipe Vieira disputa a notoriedade a Pinto da Costa, mas enquanto o presidente do Benfica apresenta um desastroso score de 0-8, o do FC Porto tem um balanço positivo de 6-4. Soares Franco, esse, fica a um nível inferior (1-2).

Na próxima crónica o provedor tirará as suas ilações destes números.

NOTA: Sob o título “Camilo, um naufrágio, uma cozinheira e uma paixão”, publicou o provedor na crónica anterior uma rectificação de um leitor, na presunção de que o jornal não o havia feito. Ora, o director adjunto Manuel Carvalho informou o provedor de que tal rectificação saiu sim, mas apenas na secção Local da Edição Porto. Solução lógica, uma vez que o texto original fora também publicado nessa secção. O provedor, que vive na capital e lê habitualmente a Edição Lisboa, errou e penitencia-se do facto.

CAIXA:

Princípio a nunca esquecer

A propósito da notícia “Moradores da Bela Vista apedrejam esquadra e PSP dispara para ‘acalmar os ânimos’”, inserida na pág. 10 do PÚBLICO de 8 de Maio, escreve o leitor Walter Correia: “A abrir, uma classificação estonteante: ‘Depois do funeral do assaltante de 20 anos...’. Assaltante? Quem disse? Condenado em que processo de que tribunal? Julgo que falta esta informação para esclarecer o leitor. Qualquer coisa do género ‘O assaltante, condenado no ano tal pelo crime de tal’. Mas não. Porque, continua a jornalista, o assaltante foi morto a tiro durante uma perseguição policial. Os populares que apedrejaram a esquadra ‘levavam camisolas com o nome do rapaz - Toninho - que participou num assalto a uma caixa multibanco do Hospital Particular do Algarve’, continua a prosa. Pobre Toninho que já não está entre nós para ensinar aos jornalistas que se é inocente até prova em contrário e que essa prova deve ser feita em tribunal”.

O princípio está na Constituição da República e no Código Deontológico dos Jornalistas – e o Livro de Estilo deste jornal enuncia-o assim: “O direito ao bom nome e a presunção da inocência até condenação em tribunal são escrupulosamente garantidos nas páginas do PÚBLICO”. É algo que os jornalistas por vezes têm tendência para ignorar (como neste caso), mas que tinham a obrigação de ter sempre presente, mesmo quando, aparentemente, se está perante situações de flagrante delito.

Publicada em 10 de Maio de 2009

DOCUMENTAÇÃO COMPLEMENTAR

Carta do leitor Walter Correia

Escrevo-lhe um tanto ou quanto indignado com a notícia "Moradores da Bela Vista apedrejam esquadra e PSP dispara para 'acalmar os ânimos'", na página 10 do PÚBLICO de hoje, dia 8 de Maio.

A abrir a notícia, uma classificação estonteante: "Depois do funeral do assaltante de 20 anos...". Assaltante? Quem disse? Condenado em que processo de que tribunal? Julgo que falta esta informação para esclarecer o leitor. Qualquer coisa do género "O assaltante, condenado no ano tal pelo crime de tal". Mas não. Porque, continua a jornalista, o assaltante foi morto a tiro durante uma perseguição policial. Os populares que apedrejaram a esquadra "levavam camisolas com o nome do rapaz - Toninho - que participou num assalto a uma caixa multibanco do Hospital Particular do Algarve", continua a prosa. Pobre Toninho, que já não está entre nós para ensinar aos jornalistas que se é inocente até prova em contrário e que essa prova deve ser feita em tribunal.

E pobre Toninho, que devia ser mesmo pobre, porque se fosse rico seria alvo de "denúncia" e teria direito ao "alegadamente" e ao uso dos verbos no futuro do presente, como aliás acontece com Joãozinho, mais conhecido por João Rendeiro, na mesma edição do PÚBLICO, página 34. Embora o título seja afirmativo "Rendeiro pagou despesas suas com dinheiro de offshore do BPP", o ínício da notícia não o chama de ladrão, como a outra chamou assaltante ao Toninho, e o primeiro parágrafo usa devidamente o "terá pago despesas pessoais"... segundo uma denúncia da Deloitte.
Talvez a informação sobre o Toninho ter participado num assalto devesse ser acompanhada da frase "segundo a denúncia da polícia".

Talvez seja uma questão de este ou aquele jornalista ter ou não mais presente a deontologia ou talvez seja puro e simples facilitismo: o Toninho não vai processar o PÚBLICO. A família do Toninho provavelmente não lê o PÚBLICO. O Joãozinho, sim, provavelmente lê o PÚBLICO.

Mas o que se pede ao PÚBLICO também é simples: respeito!

Walter Correia

domingo, 3 de maio de 2009

Escada acima, escada abaixo

Será o “Sobe e desce” uma manifestação do subsconsciente do PÚBLICO, ou a imposição do “politicamente correcto”?


No jogo das setas, Cavaco apresenta um saldo de 10 referências favoráveis, enquanto Sócrates tem uma diferença de 16 negativas

Como qualquer secção do género, o “Sobe e desce” diário da última página do PÚBLICO obedece a critérios discricionários, ao sabor das notícias do momento e da apreciação subjectiva de quem selecciona e escreve sobre os visados. Mas o exercício causa irritação em alguns leitores, que levam a peito essas avaliações e exigem um equilíbrio que, do seu ponto de vista, julgam não existir na secção.

Aproveitando algumas queixas ainda não analisadas, o provedor decidiu também fazer a sua avaliação do “Sobe e desce”. Um leitor que cita o FC Porto como o seu “clube de paixão”, Edmundo Jorge Moreira, escreveu por exemplo várias vezes contra o que acha um tratamento discriminatório do seu presidente, Jorge Nuno Pinto da Costa, a propósito dos recentes casos judiciais em que este tem estado enredado, já que veria mais setas para baixo (quando vai a tribunal) do que para cima (quando acaba ilibado). Ao mesmo tempo, um outro, o benfiquista José Damião, queixou-se em tempos de uma “persistente pressão do PÚBLICO” sobre o seu clube, reflectida no facto de certa vez o treinador Sven-Goran Eriksson ter aparecido na secção a descer após uma pesada derrota sofrida pela sua equipa no campeonato inglês, o que o leitor atribuía à iminência do regresso (não concretizado) do sueco à Luz. Mas grande parte das reclamações incidem na área política, em especial sobre a atribuição de notas negativas a José Sócrates. Foi o caso de Amílcar Gomes da Silva, que viu numa seta para baixo, a propósito de previsões sobre a actividade económica em Portugal, “a vontade cega de querer desancar no primeiro-ministro”.

Haverá alguns preconceitos na elaboração do “Sobe e desce”? Será que quem o faz (em regra, membros da direcção) obedece às imposições do “politicamente correcto” no meio jornalístico ou na redacção do jornal? Revelará o estudo dos nomes escolhidos e dos critérios usados algumas tendências não confessadas existentes no interior do jornal? Será a secção uma manifestação do subsconsciente do PÚBLICO?

Para o saber, o provedor recenseou as quase duas mil notas publicadas no “Sobe e desce” desde que iniciou funções, em 1 de Janeiro de 2008, até ontem (exceptuando – por se tratar de alguém exterior à redacção – as do dia de aniversário do PÚBLICO no ano passado, em que José Pacheco Pereira, convidado para dirigir a edição, escreveu também a secção).

Deve dizer-se em primeiro lugar que, sem surpresa, o campeonato da notoriedade é ganho claramente por Sócrates (50 referências – recorde absoluto) e pelos seus ministros (entre os quais Teixeira dos Santos, em segundo lugar com 42 notas). Mas isto não quer dizer que sejam alvo de uma apreciação globalmente positiva, quando na realidade é o contrário que acontece – este governo tem sido arrasado na secção sem apelo nem agravo: qual S. Sebastião, o primeiro-ministro foi atingido com 28 setas para baixo e apenas beneficiou de 12 para cima (mais 10 para o lado, das que não aquecem nem arrefecem); o titular das Finanças apareceu a descer 26 vezes contra apenas sete a subir; Maria de Lurdes Rodrigues teve 22 avaliações negativas (as mesmas de Alberto Costa) e apenas duas positivas (contra quatro para o ministro da Justiça); Ana Jorge, apesar de ter entrado a meio do campeonato, já levou com 13 setas para baixo e oito para cima (melhor média, mesmo assim, que o seu antecessor, com três para baixo sem qualquer uma noutro sentido, ou que o director-geral da Saúde, Francisco George, com apenas quatro negativas); Manuel Pinho ficou 14 vezes na mó de baixo e uma na de cima; e Mário Lino 11, também com uma vez apenas em cima, mesmo assim melhor que Jaime Silva igualmente com 11 em baixo mas nenhuma em cima, que por sua vez se situou acima de Rui Pereira, com 15 em baixo sem nenhuma em cima; Nunes Correia teve oito setas para baixo e lá conseguiu uma em sentido contrário, tal como Mariano Gago, que “apenas” teve cinco para baixo; Augusto Santos Silva sofreu nove para baixo, mas obteve duas a subir; Vieira da Silva quase equilibrou as suas seis negativas com quatro positivas; e até Pedro Silva Pereira teve má nota, com uma negativa isolada. Na Cultura, José António Pinto Ribeiro, também entrado a meio, já leva três negativas contra duas favoráveis (e a sua antecessora, Isabel Pires de Lima, não fizera melhor, com duas negativas apenas). Alguns secretários de Estado não alteram a tendência, como os da ministra da Educação – Jorge Pedreira teve quatro negativas no total e Valter Lemos duas, contra uma positiva –, do ministro do Ambiente – Humberto Rosa sofreu duas negativas, sem mais – ou do ministro da Administração Interna – José Magalhães ficou em 0-1. Até António Nunes, que o governo escolheu para liderar a ASAE, foi atingido com 11 setas para baixo sem nenhuma contrária – será que a inspecção económica nada teve de meritório ao longo deste período? O melhor que um ministro conseguiu foi um empate: Luís Amado com cinco para cada lado e Severiano Teixeira com uma. Para encontrar no actual executivo alguém com apreciação positiva, é preciso ir à pontuação de Laurentino Dias: três setas para cima e uma para baixo (outros secretários de Estado com balanço positivo foram Ana Paula Vitorino – 2-1 –, Fernando Serrasqueiro – idem – e João Gomes Cravinho – 1-0). Terá sido o secretário de Estado da Juventude e Desporto o melhor membro deste governo?

Mesmo figuras conotadas com a actual maioria parlamentar não ficam mais bem favorecidas no retrato. Jaime Gama perde por 2-4, Alberto Martins por 1-6, Carlos César por 1-3, António Costa por 2-5, Vitalino Canas, José Lello, João Soares, Freitas do Amaral e João Proença por 0-1 (a propósito do líder da UGT, compare-se o seu resultado com os positivos 3-0 de Manuel Carvalho da Silva, da CGTP). Salvam-se do massacre Vítor Constâncio (à justa, por 7-6), o colunista do PÚBLICO Vital Moreira (1-0), Jorge Coelho (1-0) e os ex-presidentes Mário Soares e Jorge Sampaio (ambos com 2-0, enquanto o outro antigo ocupante de Belém em democracia, Ramalho Eanes, obtém 1-0). Curiosamente, elementos desafectos à actual liderança socialista obtêm melhores notas, como Manuel Alegre (4-1), António José Seguro (2-0), João Cravinho e Paulo Pedroso (ambos com 1-0).

Os líderes da oposição, embora nem sempre com resultados positivos, portam-se melhor para os responsáveis do “Sobe e desce”. Nesse grupo, a corrida da notoriedade foi ganha, como seria natural, por Manuela Ferreira Leite, com 27 referências, sendo nove positivas e 12 negativas e – uma muito melhor proporção do que a de Sócrates. Paulo Portas (2-5) e Jerónimo de Sousa (2-3) também são castigados de forma mais branda, apenas se poupando Francisco Louçã (3-3).

Os ex-líderes sociais-democratas Pedro Santana Lopes (2-10) e Luís Filipe Menezes (1-10), assim como o braço direito deste, Ribau Esteves (0-6), são vistos sob um olhar muito mais severo, que no entanto poupa Luís Marques Mendes (1-0). Durão Barroso tem um saldo positivo de 7-2, mas é sabido que há muito mudou de campeonato. Outras figuras do PSD castigadas são Alberto João Jardim (1-11), Pedro Duarte (0-3) ou Rui Rio (0-2). Mas Paulo Rangel sai favorecido (2-0), assim como o oposicionista interno Pedro Passos Coelho (3-0).

E um dos dados que mais interessam é a comparação entre os números de Sócrates e os de Cavaco Silva, sobretudo tendo em vista o recente descarrilamento da “cooperação estratégica”. Pois bem, Cavaco Silva tem um balanço positivo de 16-6 (em 29 referências no total). Em resumo: Sócrates apresenta um saldo de 16 referências negativas, enquanto o saldo de Cavaco é de 10 notas favoráveis. Será equilibrada esta apreciação das duas mais destacadas figuras actuais do Estado português?

Muito haverá ainda a dizer sobre o assunto, pelo que o provedor tenciona voltar a ele em nova crónica. Faltam as avaliações em política internacional, no desporto e noutras áreas de actividade, além das conclusões a tirar de tudo isto. Adivinhe o leitor que números tiveram George W. Bush e Barack Obama. Ou Jesualdo Ferreira, Quique Flores e Paulo Bento (além de Pinto da Costa, um dos pretextos deste estudo). Voltaremos a falar no próximo domingo.

CAIXA:

Camilo, um naufrágio, uma cozinheira e uma paixão

Reclamou o leitor Carlos Cal Brandão acerca de uma reportagem da autoria de João Pedro Barros sobre a Rua da Fábrica, no Porto, publicada no “Local” da Edição Porto em 12 de Abril: “Afirma o autor, pelo menos, três coisas verdadeiramente espantosas: 1. Que Camilo Castelo Branco viajava no rabelo que naufragou em 12 de Maio de 1861 e de que resultou a morte de Barão de Forrester: ‘D. Gertrudes morreria dois anos depois, no naufrágio que também vitimou o barão de Forrester, no Cachão da Valeira, e do qual Camilo e D. Antónia, a Ferreirinha, se salvaram.’ 2. Que a tal D. Gertrudes era a cozinheira do Grande Hotel. Tivesse o autor lido O vinho do Porto - processo de uma bestialidade inglesa e saberia que assim não é. Que o visitava ali, e que passou a cozinhar para ele, assim o livrando da morte. 3. Que Camilo manteve com a tal D. Gertrudes uma relação amorosa. Não sei onde foi o autor colher tão espantosa quanto, creio, inédita afirmação. Bastará ler a citada obra para perceber que não era desse tipo a relação que tinha com a Gertrudes (...)”.

Por solicitação do provedor, Manuel Carvalho, director adjunto do PÚBLICO responsável pela redacção do Porto, reconhece que o jornal errou. Mas, como não foi feita nenhuma rectificação na secção habitual, aqui fica, para que conste.

Publicada em 3 de Maio de 2009